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    O céu acima do Clã Baek estava coberto por nuvens espessas, prenunciando a tempestade que se aproximava — não apenas no céu, mas também no destino dos homens. Em meio à tensão crescente provocada pela guerra iminente contra o Clã Yan, o discípulo de Baek Jin, Yoo Tae-Min, se encontrava em meio ao pátio de treinamento. Seus olhos estavam fechados, e o suor escorria por sua testa enquanto golpeava uma silhueta de madeira com precisão incessante, como se cada movimento buscasse alcançar um ideal impossível. 

    Baek Jin observava de longe, os braços cruzados, encostado sob uma cerejeira florida mesmo fora de estação. Seus olhos — de um tom cinza profundo, como aço antigo — acompanhavam cada movimento de seu discípulo com atenção inabalável. Tae-Min, embora ainda jovem, já possuía em seu olhar a mesma firmeza dos guerreiros veteranos, e isso agradava profundamente seu mestre. 

    — Seu punho ainda hesita no momento da execução final — disse Baek Jin, quebrando o silêncio. Sua voz, profunda como um trovão contido, reverberava com autoridade natural. 

    Tae-Min parou, ofegante. Sua respiração estava pesada, mas ele não recuou. Virou-se com seriedade e fez uma leve reverência. 

    — Sim, mestre. Eu sinto isso também. Na hora do golpe decisivo… eu hesito. Ainda ouço os gritos do passado, vejo rostos que não posso esquecer… 

    Baek Jin se aproximou lentamente, sua presença solene e imponente. Com seus longos cabelos cinza-negrumes amarrados em um nó baixo e um cavanhaque preto bem aparado, ele parecia mais um general antigo reencarnado do que um mero cultivador. Cada passo seu soava como uma batida de tambor no coração de Tae-Min. 

    — O passado é uma lâmina de dois gumes, Tae-Min. Se você a empunha com firmeza, ela te fortalece. Se a segura com medo, ela corta sua própria mão. 

    — Eu… quero ser forte, Mestre. Forte o suficiente para que nunca mais ninguém passe pelo que minha vila passou. Que nenhuma criança veja o que eu vi. 

    Os olhos de Tae-Min brilharam com uma intensidade dolorosa. Baek Jin parou diante dele e, num gesto incomum, repousou a mão sobre o ombro do discípulo. O contato era firme, mas ao mesmo tempo carregado de uma estranha ternura. 

    — Então, escute bem. A guerra está se aproximando. Clãs inteiros cairão. E o seu nome será escrito entre aqueles que sobreviveram — ou morreram tentando. Não seja apenas uma espada… torne-se a tempestade. 

    Tae-Min assentiu, os olhos ardendo com determinação renovada. Baek Jin então tirou do manto um pequeno pergaminho, selado com um símbolo dourado. 

    — Esta é a primeira técnica de cultivo avançada que você receberá de mim. Eu mesmo a criei, baseada em antigos registros e minha experiência pessoal. Ela se chama “Lâmina Silenciosa da Aniquilação”. Domine-a, e você será capaz de cortar até mesmo o qi de um oponente mais forte. 

    O jovem arregalou os olhos ao pegar o pergaminho com as mãos trêmulas. Ele sentia o peso daquela confiança. Não era apenas um presente — era o selo de que havia sido reconhecido como herdeiro legítimo do legado de Baek Jin. 

    Naquela mesma noite, enquanto os anciãos discutiam estratégias de guerra no salão principal do Clã Baek, Tae-Min se recolheu à câmara de meditação subterrânea. O silêncio ali era absoluto, e o ar denso de energia espiritual parecia dançar ao redor de seu corpo. 

    Com o pergaminho aberto diante de si, ele começou a praticar os primeiros traços da “Lâmina Silenciosa da Aniquilação”. A técnica exigia concentração absoluta, pois envolvia manipular a energia do coração ao ponto de quase parar sua circulação por um breve instante, formando uma lâmina de qi condensado capaz de atravessar armaduras espirituais. 

    Horas se passaram. No mundo acima, raios cortavam o céu e trovões rugiam, como se os próprios céus assistissem à ascensão de uma nova lenda. 

    — “Lâmina… da Aniquilação… Silenciosa!” — gritou ele, ao liberar seu primeiro golpe completo. 

    Uma rachadura profunda cortou a pedra à sua frente. Não era apenas força bruta. Era precisão, era qi moldado pela dor, pela disciplina e pelo desejo de proteger. 

    No mesmo instante, Baek Jin, no alto de um terraço ao longe, abriu os olhos. 

    — O primeiro passo foi dado… Agora resta ver se ele sobreviverá ao segundo. 

    Mas nem tudo eram treinos e preparação. No dia seguinte, uma carta foi deixada discretamente na porta da residência de Baek Jin. Ao abri-la, seus olhos se estreitaram. 

    Era um desafio. 

    Um jovem cultivador do Clã Yan, conhecido como Yan Luo, havia descoberto que Tae-Min era o discípulo da lendária Lâmina Silenciosa. Arrogante, desejava “quebrar a moral do inimigo” derrotando seu discípulo em combate público. 

    Tae-Min leu a carta ao lado do mestre, a mandíbula travada, os punhos cerrados. 

    — Eu aceito o desafio — disse ele, o olhar tão firme quanto a rocha. 

    Baek Jin nada disse por um instante. Depois, caminhou até ele, e murmurou: 

    — Então mostre a ele o que significa tocar na sombra de um verdadeiro cultivador. 

    O duelo estava marcado para o nascer do sol, no Vale da Lua Partida. 

    E quando o sol surgisse no horizonte… os Dragões Escondidos e Tigres Agachados do mundo murim perceberiam que uma nova estrela começava a ascender. 

    … 

    O céu sobre o Vale da Lua Partida estava encoberto por uma névoa fina. O ar, pesado com a antecipação do combate, parecia vibrar com uma energia invisível que se acumulava a cada instante. O duelo entre o discípulo de Baek Jin e o jovem prodígio Yan Luo atrairia muitos olhares, mas entre os observadores silenciosos que surgiam nas sombras das montanhas, um nome começava a ser sussurrado. 

    — A Lâmina Silenciosa… não era apenas uma. 

    Entre os cultivadores mais antigos e os estudiosos das eras passadas, havia uma história esquecida — quase como uma lenda. Uma história sobre duas sombras que surgiram ao mesmo tempo no mundo murim, dois guerreiros sem nome, conhecidos apenas por seus feitos. Um deles era Baek Jin. O outro… era uma mulher. 

    Seu nome era Yan Mei-Ling. 

    •  

    Dizem que há dezoito anos, quando os Céus se agitaram e o Clã Yan vivia um momento de decadência, uma jovem de olhos escarlates e cabelos negros como tinta emergiu das profundezas da Seita do Pavilhão Sangrento. Ninguém sabia de onde ela viera — alguns diziam que fora criada por fantasmas no Pico do Abismo. Outros murmuravam que era filha de um espírito demoníaco. 

    Yan Mei-Ling nunca confirmou nada. 

    O que era certo, no entanto, era que ela cultivava em silêncio. Nunca pedia instruções. Nunca fazia perguntas. E ainda assim, em apenas três anos, derrotou todos os discípulos internos de sua geração. Quando tinha dezessete anos, foi enviada em missão ao Clã Wu e retornou trazendo, sozinha, a cabeça do Patriarca Wu Heng. 

    Ela ganhou o título de “Lâmina Silenciosa” pelo modo como matava — sem um som, sem hesitação, como se o próprio vento cortasse a carne. A lâmina dela era uma sombra. Seu qi era frio como gelo lunar. Aqueles que a enfrentavam diziam que era como encarar a Morte com olhos humanos. 

    Porém, tão rápido quanto surgiu, ela desapareceu. Não houve notícia de sua morte. Não havia túmulo. Nenhum sinal de traição. Apenas silêncio. 

    Por muitos anos acreditou-se que tivesse morrido em uma missão suicida ordenada pelo antigo Patriarca do Clã Yan. Mas agora, os rumores diziam outra coisa. 

    — Yan Mei-Ling retornou — sussurravam os informantes nos becos das cidades, nas tavernas frequentadas por cultivadores errantes. — Ela está viva… e seguiu o mesmo caminho de Baek Jin. 

    •  

    No salão secreto do Clã Yan, as brasas de incenso queimavam lentamente, e os olhos profundos de Yan Xian, o novo Patriarca, fitavam a figura ajoelhada à sua frente. 

    — Mei-Ling — disse ele, com voz rouca e imponente. — Finalmente está entre nós novamente. 

    A mulher diante dele ergueu o rosto. Tinha olhos vermelhos como brasas, mas frios como a nevasca do Norte. Seu cabelo negro estava preso em um coque simples, e sua túnica preta e prata se ajustava ao corpo como uma segunda pele. Em suas costas, duas espadas curvadas em forma de meia-lua cruzavam-se em uma bainha dupla. 

    — O Clã precisa de você — continuou Yan Xian. — E eu preciso que você me traga a cabeça de Baek Jin. 

    Ela não respondeu de imediato. Seus olhos se perderam no vazio por um instante. 

    — Ele ainda é como antes? — perguntou, com voz baixa e suave, quase sem emoção. 

    Yan Wu Heng, o braço direito do Patriarca, cruzou os braços e respondeu com desprezo: 

    — Um velho esquisito. Age como se estivesse acima de todos, treinando discípulos inúteis. Não é digno de você. 

    — Está enganado — ela retrucou, sem alterar o tom. — Baek Jin não é alguém que se pode medir com palavras comuns. Ele… foi o único que viu através de mim. 

    O salão ficou em silêncio. Yan Xian sorriu com uma malícia oculta. 

    — Então é pessoal? 

    Ela não respondeu. 

    •  

    No Vale da Lua Partida, enquanto o sol nascia lentamente atrás das colinas, Tae-Min se posicionava no centro da arena natural, o coração pulsando com o ritmo dos tambores invisíveis da guerra que se aproximava. Yan Luo já o aguardava, arrogante, o rosto pintado com linhas negras de batalha. Ele empunhava uma lança dupla, e seus olhos brilhavam com a confiança cruel de alguém que jamais perdeu. 

    Mas entre as sombras da floresta que circundava o vale, dois olhos vermelhos observavam com intensidade o jovem discípulo. 

    — Então esse… é o discípulo dele — murmurou Yan Mei-Ling. 

    Ela não estava ali por ordens. Não estava ali por vingança. 

    Estava ali por respostas. 

    •  

    No coração da guerra, dois nomes se erguiam como lâminas silenciosas. 

    Baek Jin e Yan Mei-Ling. 

    Antigos fantasmas. Sombras esquecidas. E agora, em lados opostos da maior guerra do mundo murim. 

    Mas nem mesmo os céus podiam prever o que aconteceria quando essas duas sombras finalmente se cruzassem de novo… 

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