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    O Vale da Lua Partida, cenário ancestral de disputas e sangue, estava mergulhado em um silêncio fúnebre. As montanhas ao redor se erguiam como espectadores de pedra, e as nuvens espessas se acumulavam sobre o céu, escuras como presságio. No centro do vale, dois jovens cultivadores se encaravam, separados por poucos passos — mas por um abismo de intenções. 

    De um lado, Tae-Min, o discípulo de Baek Jin. As vestes simples escondiam um corpo marcado por treinamento incessante. Seus olhos, antes vibrantes de juventude, agora ardiam com o brilho calmo de quem conhecia o peso da morte. Seu qi era silencioso, contido, mas imensamente denso — como um lago profundo que esconde bestas adormecidas. 

    Do outro, Yan Luo. Armado com uma lança dupla negra como carvão e decorada com inscrições do Clã Yan, o jovem carregava o orgulho da linhagem mais cruel do mundo murim. Seus cabelos longos estavam presos num coque de guerra, e seus olhos vermelhos faiscavam com arrogância e malícia. 

    — Eu vou esmagar seus ossos até virarem pó! — rugiu Yan Luo. — E entregarei sua cabeça ao meu avô, para que ele a use como adorno de trono! 

    Tae-Min não respondeu. Apenas cerrou os punhos e respirou fundo. 

    O combate começou como o uivo de uma tempestade. 

    Yan Luo avançou primeiro, seus passos gerando fissuras no chão. Sua lança cortava o ar com velocidade demoníaca, deixando rastros de qi negro por onde passava. Tae-Min desviava com dificuldade — o inimigo era mais rápido do que qualquer oponente que enfrentara até então. Cada investida era acompanhada por um grito de guerra, e cada bloqueio de Tae-Min custava parte de sua energia. 

    A luta se estendeu por minutos que pareceram eternidades. Chão partido. Árvores destruídas. O vale inteiro tremia. 

    Tae-Min sangrava. 

    Um corte profundo atravessava seu ombro esquerdo, e sua respiração estava irregular. Sua perna esquerda tremia — a lança de Yan Luo havia perfurado sua coxa minutos antes. E mesmo assim, ele se mantinha de pé. 

    — Isso é tudo o que você tem? — zombou Yan Luo, cuspindo no chão. — Seu mestre deve estar decepcionado. 

    Tae-Min abaixou os olhos. 

    “Não posso usar essa técnica levianamente…”, pensou. “Mas se não o fizer… morrerei aqui.” 

    Ele se lembrou das palavras de Baek Jin. 

    “A técnica suprema não é para vanglória. É para a sobrevivência. Use-a quando o mundo deixar de lhe dar escolha.” 

    Tae-Min firmou os pés no chão. 

    — Mestre… perdoe-me. — murmurou em silêncio. 

    Seu qi, até então contido, explodiu em ondas invisíveis. O ar tremeu. As pedras flutuaram. A poeira parou no ar. 

    E então… ele executou o selo com as mãos. 

    — Primeira Forma da Aniquilação Silenciosa… Golpe do Vazio Incompleto! 

    O mundo parou. 

    Num instante, Tae-Min desapareceu. 

    Yan Luo arregalou os olhos, sentindo algo gelado tocar sua nuca. Girou o corpo, tentou erguer a lança. 

    Mas já era tarde. 

    Uma lâmina invisível — feita de puro qi — atravessou seu peito de lado a lado. A força do golpe esmagou seus órgãos internos e fragmentou seu núcleo espiritual. 

    — Impossível… — murmurou Yan Luo, cuspindo sangue. 

    Caiu de joelhos. E então, para trás. Os olhos abertos, mortos. Um sorriso de desdém ainda estampado em seus lábios congelados. 

    Silêncio absoluto. 

    Mas esse silêncio foi quebrado por gritos de fúria. 

    — Yan Luo foi morto! 

    — Isso é um insulto! Um crime de guerra! 

    — Os Baek pagaram com sangue! 

    Guerreiros do Clã Yan surgiam das bordas do vale, como sombras se desdobrando da floresta. Homens e mulheres em armaduras negras, cultivadores de diversas idades, todos armados até os dentes. 

    No alto de uma colina próxima, Yan Xian observava a cena com frieza. 

    — Esse é o motivo de que precisávamos. — murmurou, seus olhos brilhando com crueldade. 

    Ao seu lado, Yan Wu Heng sorria com escárnio. 

    — Os céus têm olhos. Agora, ninguém poderá nos impedir. 

    O Patriarca do Clã Yan ergueu uma mão, e dezenas de bandeiras de guerra se ergueram em resposta. O chão do mundo murim tremia com a marcha da guerra. 

    No entanto… antes que os primeiros cultivadores do Clã Yan se movessem em direção ao campo, uma aura colossal atravessou o ar como um trovão. 

    Baek Jin apareceu. 

    Vestes cinzentas ondulando com o vento. Barba longa, olhos serenos como montanhas milenares. Ele se colocou diante de Tae-Min com tranquilidade absoluta, enquanto seu discípulo, ferido, caía de joelhos atrás dele. 

    Ele olhou para todos os guerreiros do Clã Yan. 

    E então… sorriu. 

    — Quanta hipocrisia. — sua voz era suave, mas ressoava como um trovão. — Estavam sedentos por guerra, e agora usam a morte de um jovem arrogante como desculpa? 

    Yan Xian avançou alguns passos, com olhos semicerrados. 

    — Ele matou o herdeiro do meu clã. 

    — Em legítima defesa. — Baek Jin rebateu, calmo. — O próprio Yan Luo declarou que arrancaria a cabeça de meu discípulo. Vocês criaram esse monstro. E agora se fazem de vítimas? 

    As auras começaram a se agitar. Mas antes que qualquer lado avançasse, uma figura feminina surgiu dos céus, descendo como uma sombra. 

    Yan Mei-Ling. 

    Ela desceu silenciosamente diante de Tae-Min, seu olhar inexpressivo fixo no garoto ajoelhado. 

    — Você o matou… — murmurou, com olhos avermelhados. 

    — Ele iria me matar. — Tae-Min respondeu, com dificuldade. 

    — Ainda assim, você não é digno de viver. 

    Ela ergueu a mão. Um qi cortante como uma lâmina de vento começou a se formar ao redor de seus dedos. 

    Mas antes que pudesse atacar, uma palma interceptou sua aura. 

    Era Baek Jin. 

    Ele se colocou entre ela e Tae-Min, sem dizer uma palavra. 

    O mundo parou outra vez. 

    Yan Mei-Ling encarou o velho, e Baek Jin a encarou de volta. Duas forças opostas — uma como a noite, outra como o abismo. 

    Ambos ativaram seu qi. 

    Uma pressão espiritual insana se formou, cobrindo todo o campo de batalha. 

    Soldados do Clã Yan e do Clã Baek caíram de joelhos, sufocados. 

    As árvores ao redor murcharam. As pedras se partiram. O céu escureceu. 

    Duas lendas se encontravam. 

    Duas Lâminas Silenciosas. 

    — Não vou deixá-la tocar em meu discípulo. — disse Baek Jin, por fim. 

    — E eu… não consigo esquecer. — murmurou Mei-Ling, sua voz quase um sussurro. 

    E então, pela primeira vez em muitos anos, as sombras do passado voltaram a se mover. 

    … 

    O silêncio era absoluto. 

    O vento parou. A floresta, até então viva com o som das folhas e animais, cessou sua sinfonia. Até os pássaros pareciam ter fugido, sentindo o peso esmagador de duas presenças que dominavam o céu. 

    No centro do campo de batalha, frente a frente, estavam Baek Jin e Yan Mei-Ling. 

    Ela, a assassina lendária do Clã Yan, conhecida como a Lâmina da Sombra. Uma mulher de rara beleza e letalidade. Seus cabelos escuros flutuavam com a energia ao redor. Seus olhos, como dois cristais cinzentos, carregavam frieza absoluta. Suas vestes negras justas, bordadas com símbolos arcanos do Clã Yan, ondulavam com o qi que crescia ao seu redor. 

    Ele, o velho invisível do Clã Baek, que por décadas se ocultou sob a máscara de inutilidade. Barba longa e branca, roupas simples e pés descalços. Mas agora, a máscara havia caído. A aura de Baek Jin se erguia como uma parede de montanha que jamais tombou — inabalável, imperturbável, e mortalmente silenciosa. 

    As auras colidiram. 

    BOOM! 

    A terra se partiu sob seus pés, criando uma cratera. Os dois avançaram no mesmo instante, como dois relâmpagos de força pura. A batalha não duraria minutos. Nem mesmo segundos. Era um duelo entre mestres, onde o destino era decidido em poucas respirações

    Primeira respiração. 

    Mei-Ling moveu-se como uma sombra viva. Sua técnica era sutil, como se o espaço à sua volta tivesse sido engolido pela escuridão. Uma dezena de lâminas de qi surgiram ao redor de Baek Jin, perfurando de todos os lados — uma dança de morte feita para assassinar santos em silêncio. 

    Baek Jin, no entanto, não recuou. Seus pés afundaram no solo. Uma única palma. Simples. Direta. Frontal. O ar ao redor foi quebrado. As lâminas de Mei-Ling explodiram em partículas espirituais. 

    — Técnicas fantasiosas não cortam uma vontade verdadeira. — disse Baek Jin, com serenidade. 

    Segunda respiração. 

    Mei-Ling avançou com as mãos nuas. Cada golpe seu atingia com precisão milimétrica os pontos de pressão, tentando inutilizar o corpo de Baek Jin. Seu estilo era assassino — e antigo. Ela mirava os meridianos, os tendões, o pescoço. Mas ele… era como um rio que escapa por entre os dedos. 

    Baek Jin desviava por meros milímetros, seus movimentos simples, mas perfeitos. Com um giro de pulso, prendeu o braço de Mei-Ling. Ela sorriu. 

    — Eu te ensinei isso, Baek Jin. 

    — Por isso sei como quebrar. 

    Com um giro brutal, ele a lançou contra o chão, criando uma cratera. Mas antes que pudesse finalizar, ela desapareceu como neblina. 

    Terceira respiração. 

    Ela ressurgiu atrás dele, cortando o ar com a palma envolta em qi sombrio. Era a técnica secreta do Clã Yan — Punho do Esquecimento Sem Nome. Um ataque que dissolvia o qi inimigo ao contato. 

    Baek Jin foi atingido no peito. 

    Sangue escorreu de sua boca. 

    Por um instante… parecia que havia perdido. 

    Mas então, sua mão segurou o punho de Mei-Ling. 

    — O Quarto Portão… já não me é suficiente. — murmurou, com os olhos ardendo. 

    E o mundo tremeu

    O Quinto Portão Interno se rompeu. 

    Um som ensurdecedor ecoou dentro de seu corpo, como uma represa espiritual se quebrando. O fluxo de qi explodiu de seus meridianos como rios libertos de suas margens. Sua pele brilhou com luz dourada. Seus olhos… tornaram-se duas brasas intensas. 

    E com isso, sua presença mudou. 

    Baek Jin havia rompido o limite mortal. 

    Alcançara o status de Santo Marcial

    O ar tremeu. Os céus chiaram. Até os anciãos que observavam à distância perderam o fôlego. 

    Mei-Ling recuou de um salto, sangue escorrendo de sua mão direita, queimada pela energia transbordante de Baek Jin. Ela o encarou — e, por um instante, seus olhos vacilaram. 

    — Então… você quebrou a promessa. — murmurou ela, voz baixa como uma brisa. 

    — Eu quebrei as correntes. — respondeu Baek Jin. — O mundo nos traiu, Mei-Ling. Só nos resta cortar o destino com nossas próprias mãos. 

    E então, ele avançou pela última vez. 

    Quarta respiração. 

    Baek Jin apareceu diante dela como um raio prateado. A palma desceu, não como um golpe físico, mas como uma manifestação da própria vontade. Uma força que pressionava corpo, alma e destino. 

    Mei-Ling tentou resistir, mas seu qi se desfez. 

    A palma acertou seu esterno. Não a matou. Mas silenciou todos os seus meridianos, paralisando-a por completo. Ela caiu de joelhos, ainda com os olhos abertos, mas incapaz de mover um músculo sequer. 

    A poeira assentou. 

    O campo de batalha permaneceu em silêncio. 

    O Clã Yan assistia em silêncio absoluto. Ninguém se atreveu a dar um passo. Os mais fracos… já haviam caído inconscientes, apenas por sentirem a pressão espiritual de Baek Jin. 

    Ele permaneceu de pé, ofegante. Seus olhos se voltaram para os céus, onde nuvens negras se reuniam. 

    — Os céus têm olhos… — murmurou. — Então vejam o que fizeram. Empurraram este mundo à beira do abismo. Agora, eu empurrarei de volta. 

    A guerra não acabara. 

    Mas todos sabiam… naquele instante, um novo soberano havia surgido no mundo murim. 

    Baek Jin, o Santo Marcial do clã Baek.

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