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    As horas se estendiam como eternidades no campo de batalha marcado por chamas e poeira, onde dois gigantes do mundo marcial — o Santo Hwan Yeong e o Lorde Demônio Wei Long — duelavam como deuses encarnados. O céu parecia hesitante em continuar observando. Cada golpe desferido gerava ondas de choque que rasgavam o ar e estremeciam o solo, árvores inteiras sendo reduzidas a pó com uma simples troca de movimentos. 

    As espadas de energia e feixes espirituais cruzavam o campo em formas grandiosas, cada um carregando a intenção assassina de seus portadores. Hwan Yeong suava em profusão, seu rosto marcado por cortes e hematomas profundos, e a luz de seu qi oscilava como uma vela prestes a se apagar. Do outro lado, Wei Long, com suas vestes negras manchadas de sangue e seus olhos ainda ardendo com a chama demoníaca, mostrava sinais visíveis de cansaço. 

    Respirações pesadas, movimentos cada vez mais lentos. Ambos os santos, guerreiros reverenciados por suas seitas e temidos por seus inimigos, finalmente sentiam o peso do tempo e do qi perdido. 

    Wei Long deu um passo atrás, tossindo sangue escuro. Seus olhos se estreitaram ao encarar Hwan Yeong, que também cambaleava, mantendo-se de pé apenas pela força de sua vontade. 

    — Ainda não é a hora de levar a cabeça de um velho — declarou Wei Long com voz fria, mas carregada de desprezo. — Da próxima vez, Santo Hwan, sua cabeça será um troféu. Irei pendurá-la sobre os portões do Paraíso-Crepúsculo. 

    Com um gesto de mão, uma onda de qi demoníaco varreu o campo, e suas figuras começaram a recuar junto aos mestres encapuzados da Seita Demoníaca. Mas antes que desaparecessem por completo, Hwan Yeong deu um último rugido de fúria e lançou sua espada envolta em energia celestial. 

    Ela cortou o ar com precisão mortal, mas ao atingir o corpo de Wei Long… tudo o que restou foi uma imagem ilusória, um traço espiritual que se desfez em fumaça escura. 

    O Santo Marcial paralisou, olhos arregalados. Então, como se todo o peso de seu corpo finalmente desabasse, um dos joelhos cedeu, tocando o solo encharcado de sangue. 

    — Ele… escapou — murmurou entre dentes cerrados. 

    Baek Jin e Tae-Min atravessaram os destroços do campo de batalha, se aproximando com pressa. O garoto ainda tremia com a magnitude da luta que presenciara, seus olhos arregalados como se tivesse vislumbrado uma batalha entre divindades. 

    — Mestre Yeong — chamou Baek Jin, ajoelhando-se ao lado do Santo. Rapidamente retirou de suas vestes uma pílula de recuperação brilhante, envolta por selos dourados. — Tome isto. Pode não curar tudo, mas estabilizará seu fluxo de qi. 

    O velho guerreiro segurou a pílula por um momento, depois a engoliu sem questionar. Um leve brilho percorreu suas veias e ele soltou um suspiro profundo. 

    — Não é suficiente, Jin. Ferimentos desse nível… — ele tossiu sangue novamente — …não se curam com facilidade. Mas obrigado… 

    Baek Jin suspirou em pesar, olhando para o campo devastado. Em seus olhos havia respeito, mas também reflexão. A imagem do Lorde Demônio ainda viva em sua mente. 

    — A guerra está apenas começando — disse ele, em tom sombrio. 

    Atrás deles, Tae-Min ainda olhava em volta, tentando absorver tudo o que havia presenciado. Baek Jin pousou a mão sobre o ombro de seu discípulo. 

    — Lembre-se disso, Tae-Min. Guarde cada movimento. Um dia, você também estará nesse nível. E quando esse dia chegar… não hesite. 

    O garoto assentiu com os olhos brilhando de determinação e reverência. As nuvens se moviam pesadamente sobre o campo de batalha. Ainda restava um longo caminho pela frente. Mas para Baek Jin, aquele momento era claro: ele havia se tornado uma peça central no jogo entre luz e escuridão. 

    E ele estava pronto para jogar até o fim. 

    … 

    O céu azul acima do Continente Central parecia mais vasto naquele dia. Ventos suaves cruzavam as montanhas e vales, enquanto cultivadores de diversas partes do mundo trocavam informações, especulações e temores. Os rumores tinham se espalhado como fogo em mato seco. Não era mais segredo para ninguém — a Lâmina Silenciosa, Baek Jin, havia emergido das sombras do anonimato para se tornar um nome temido e respeitado em todas as seitas, academias, clãs e tavernas do mundo marcial. 

    Baek Jin. Um homem de aparência jovem, cerca de trinta e poucos anos, longos cabelos cinzas quase negros, uma barba cerrada em cavanhaque negro e olhos que pareciam fitar além da carne, além da alma. Seu poder não era apenas físico — era espiritual, inquebrantável. Os que o enfrentaram disseram que lutar com ele era como encarar o abismo, e o abismo sussurrava de volta. 

    Dentro de uma taverna simples em uma cidade fortificada da Região Norte, uma dúzia de cultivadores errantes e mercenários se reuniam, espalhados em torno de mesas de madeira rústica. O aroma de vinho apimentado e carne assada preenchia o ambiente, mas nada abafava a voz dos rumores. 

    — Vocês ouviram? — disse um homem robusto com uma cicatriz cruzando o rosto, erguendo seu copo de cerâmica. — Dizem que Baek Jin matou Wei Donghae, o braço direito do próprio Lorde Demônio, com um único golpe! Um único golpe! 

    — Isso é exagero — murmurou um jovem com um chapéu de palha cobrindo metade do rosto. — Ninguém mata alguém como Wei Donghae com facilidade… a não ser que tenha se tornado um Santo Marcial absoluto. Mesmo assim… 

    — Mesmo assim o quê? — rebateu outro, um cultivador de olhar afiado. — Ele não apenas matou Donghae. Ele aniquilou o Clã Yan, inteiramente, deixando apenas uma sobrevivente. A antiga Lâmina Silenciosa agora é sua… serva. Isso sim é um feito que só os céus podem explicar. 

    — E isso mesmo é certo? — retrucou uma mulher de cabelo roxo preso em tranças duplas, sua voz cortante como gelo. — Um homem que diz seguir o caminho ortodoxo, mas age com tamanha crueldade? Não matou apenas os líderes do Clã Yan, ele eliminou discípulos, anciãos, até mesmo guardas. Ele é mais demoníaco do que o próprio Lorde Wei Long! 

    Um silêncio incômodo tomou a mesa por alguns segundos. O vinho foi esquecido. Cada um ponderava à sua maneira. 

    — Os fortes têm a palavra final — disse, por fim, um velho de túnica marrom, sem sequer erguer os olhos da tigela de arroz. Sua voz era baixa, mas carregava o peso da experiência. — No mundo do cultivo, certo e errado mudam conforme o poder. O Clã Yan declarou guerra, foram avisados… e ignoraram. Agora enfrentaram a espada final. Que culpem seus próprios céus. 

    — Eu vi Baek Jin em pessoa uma vez — disse o jovem de chapéu de palha, revelando olhos atentos e vivos. — Foi antes dele abrir seu terceiro portão, anos atrás. Ele era calmo. Silencioso. O tipo de cultivador que anda por entre os tigres e dragões e não levanta poeira. Agora ele é como um mar tempestuoso… calmo por fora, mas mortal por dentro. 

    Outra voz surgiu, de um velho homem encostado na parede, envolto em um manto negro. Seus olhos estavam cerrados, mas sua audição estava atenta. 

    — Dizem que ele criou sua própria técnica… uma técnica de três formas, que pode matar, devastar, e proteger. E dizem também que essa técnica cresce com ele, com seus portões abertos. Algo que rivaliza até mesmo com os segredos ancestrais da Seita do Céu Carmesim… 

    — Isso são só lendas, avô — respondeu o mercenário ao lado. 

    — São lendas agora — retrucou o velho, abrindo um olho cinzento. — Mas o que são as lendas, se não o que chamamos de realidade amanhã? 

    Enquanto os boatos fervilhavam nas tavernas, os próprios líderes dos grandes clãs e seitas discutiam o nome Baek Jin em suas assembleias. No Salão da Névoa Violeta, no topo da Montanha Chamas Eternas, três Anciãos Espirituais se reuniam. 

    — Baek Jin… esse nome agora aparece em todos os pergaminhos de inteligência — disse a anciã do cabelo branco. — Não é apenas sua força. É sua audácia. Ele enfrentou o Lorde Demônio e sobreviveu. Ele assassinou um Clã dos Cinco Supremos. E agora caminha entre os Mestres como se fosse um deles. 

    — Os céus têm olhos… — murmurou o segundo ancião, ajustando os longos bigodes. — Talvez ele seja o presságio de algo maior. O início de uma nova era? 

    — Ou o início do nosso fim — respondeu o terceiro, olhos ocultos sob um véu prateado. — Um cultivador que já não distingue o bem do mal, justiça ou punição. Alguém como ele… pode abençoar ou destruir o mundo. 

    Em outra ponta do continente, na Seita do Dragão Mudo, um jovem discípulo ajoelhava-se diante de seu mestre. 

    — Mestre… posso… posso ser como Baek Jin algum dia? 

    O mestre apenas olhou para o céu, como se buscasse uma resposta nos ventos. 

    — Você pode tentar, garoto. Mas lembre-se… estrelas muito brilhantes sempre caem rápido. 

    Enquanto isso, no interior da residência de Baek Jin, Tae-Min observava seu mestre em silêncio. A figura de Baek Jin estava sentada sobre uma pedra negra, meditando. A energia ao seu redor ondulava como um redemoinho invisível. Yan Mei-Ling, com seus meridianos ainda selados, permanecia de pé em um canto da sala, sem dizer palavra, apenas observando em silêncio. 

    Tae-Min não conseguia evitar o pensamento: 
    — “Quantos mais irão tremer com o nome de meu mestre… e quantos mais irão tentar detê-lo?” 

    O mundo girava. As correntes do destino se agitavam. E Baek Jin, a Lâmina Silenciosa, agora era mais do que um homem. 

    Ele era um símbolo. 

    E símbolos não morrem facilmente. 

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