Capítulo 28 – Bem-vindo ao Sistema da Criação NOVA. 

A caverna pulsava com energia primordial. 

O som abafado da terra respirando, as vibrações sutis que percorriam as rochas, e o calor tênue que emanava da veia de dragão criavam um ambiente quase sagrado. Baek Jin permanecia em pé, sua silhueta envolta pela penumbra dourada que refletia suavemente das paredes vivas ao redor. 

Seus longos cabelos, quase negros, balançavam levemente, mesmo que o ar ali estivesse imóvel. Sua figura firme, marcada pelo cavanhaque perfeitamente alinhado e o olhar penetrante, transmitia uma calma absoluta — o tipo de serenidade que somente alguém que já havia vivido duas vidas poderia carregar. 

— …Isso não é uma veia comum. — murmurou ele, sua voz ecoando suavemente na câmara. 

À sua frente, o lago cristalino recém-formado reluzia com uma beleza sobrenatural. A água era translúcida, quase viva, com leves ondulações que pareciam dançar ao som de uma melodia antiga e esquecida. No fundo, a veia de dragão de ferro negro se entrelaçava como uma serpente mística, irradiando pulsos de energia como se tivesse um coração próprio. 

Baek Jin deu um passo à frente, cauteloso. 

No instante em que a sola de sua bota tocou a beira do lago, um som cortante ecoou em sua mente — não um som real, mas uma vibração espiritual tão intensa que o obrigou a cerrar os olhos. Subitamente, uma voz fria e metálica reverberou dentro de sua consciência: 

— O quê…? — Baek Jin arregalou os olhos, surpreso. 

A água do lago brilhou em um turbilhão de luz dourada, e de seu centro, um pergaminho antigo surgiu flutuando, envolto por uma aura sagrada. Suas bordas estavam marcadas com runas arcanas que apenas ele, um cultivador com conhecimento ancestral, poderia compreender. 

Sem hesitar, ele estendeu a mão. O pergaminho flutuou até seus dedos como se o reconhecesse. No instante em que ele o abriu, as palavras escritas em ouro puro brilharam com intensidade absurda: 

— Sistema…? — ele murmurou, a voz quase falhando. — Não pode ser… 

Seus olhos tremeram por um breve instante. Seu coração, sempre firme como uma espada, deu um leve solavanco. 

— Isso é… o Sistema…? — ele sussurrou, quase como uma oração, seus dedos apertando o pergaminho. — Eu conheço isso… conheço bem demais… 

O Sistema. 

O poder supremo dos reencarnados. O milagre que transformava homens comuns em governantes de mundos. Armas, técnicas, reinos… todos moldados à vontade de seu usuário. Ele lera sobre isso em incontáveis novels e manuais de sua vida anterior na Terra moderna. 

E agora… um sistema havia escolhido ele. 

— Quem é você…? — perguntou em voz baixa, olhando para as palavras douradas do pergaminho. — Quem… é NOVA? 

A resposta não veio. 

Mas naquele instante, uma descarga de energia desceu sobre ele, como se o lago o tivesse aceitado. Sua alma foi tocada. O Qi dentro de seu dantian estremeceu e se condensou. Seus meridianos se aqueceram. As células de seu corpo pareciam receber novo fôlego. Era como se os céus tivessem o abençoado. 

A última linha calou Baek Jin por completo. 

Ele sabia o que aquilo significava. 

— …Alguém… ou algo… se sacrificou para me entregar isso. — ele fechou os olhos por um instante. — Por quê? Por que justo eu…? 

O lago brilhou levemente mais uma vez. Ele ajoelhou-se à beira, passando os dedos pela água, sentindo a calma absurda que ela oferecia. Uma paz tão antiga e pura, que até mesmo sua alma reencarnada sentiu vontade de chorar. 

Uma imagem fraca cruzou sua mente — a silhueta de uma jovem de cabelos curtos, olhando para ele com um leve sorriso… antes de se dissolver. 

— Quem era você…? — ele murmurou. — Qual era o seu propósito…? Por que me escolheu? 

Não houve resposta. 

Apenas o suave murmúrio da água. 

E então, a interface do sistema projetou uma nova tela em sua mente: 

Baek Jin respirou fundo. O ar dentro da caverna parecia mais leve. 

Ele se ergueu. 

Seus olhos, antes calmos, agora estavam tomados por chamas negras de determinação. 

— Sim. 

E naquele instante, o som de sinos distantes, como sinos celestiais tocando em coro, ecoou dentro da veia de dragão. O lago brilhou, e o mundo… mudou mais uma vez. 

… 

No coração das montanhas do Norte, onde o sopro dos ventos cortava as pedras como lâminas e o céu tingia-se de azul profundo durante o dia e prata durante as noites estreladas, a Veia do Dragão de Ferro Negro dormia sob a terra, envolta agora por águas que cintilavam como vidro celestial. 

Baek Jin, de pé sobre a encosta elevada de uma colina rochosa, observava o vale abaixo com olhos serenos e calculistas. O vento agitava seus longos cabelos escuros, e o cavanhaque curto em seu queixo reforçava sua imagem de mestre venerável, ainda que jovem. O lago espiritual, que havia se formado dias antes, permanecia estático, como se aguardasse silenciosamente o início de uma nova era. 

Em suas mãos, o pergaminho sagrado apareceu com um lampejo dourado, surgindo do nada, como se o próprio mundo respondesse ao seu chamado. 

— Sistema da Criação NOVA, invocar. — disse com voz firme. 

O pergaminho brilhou em resposta, flutuando à frente de seu peito. As letras arcanas brilharam como sóis em miniatura, revelando a interface viva do sistema. 

Os olhos de Baek Jin brilharam com um foco intenso. 

— Então até o sistema entende que essa será uma cidade… digna das eras. 

Levantando as mãos, ele deu o primeiro comando: 

— Comece a construção das fundações. Base de Formação Espiritual em padrão hexagonal, oito pilares de condução ao redor da veia, alinhados com as estrelas do norte. Que a veia seja o coração, o lago o sangue e a montanha a couraça da cidade. 

A terra tremeu levemente. Do próprio solo, colunas de rocha negras e verdes começaram a se erguer, moldadas por mãos invisíveis. Como se os céus respondessem, nuvens se dissiparam, revelando o sol em seu ápice. 

Duas horas depois, Baek Jin voltou ao Clã Baek. 

A residência central ainda mantinha sua forma tradicional: telhados curvados, pilares antigos, aroma de madeira envernizada com séculos de história. Mas Baek Jin sabia que aquilo… não seria o suficiente para sustentar o futuro. 

Caminhou com passos pesados até o salão principal. Lá dentro, o Patriarca Baek Mu-Hwan — homem de porte nobre, cabelos grisalhos atados em coque alto e roupas cerimoniais púrpura — o esperava com semblante sério. 

— Ancião Jin… ouvi rumores. Dizem que você deseja fundar uma cidade? Em cima da veia que encontrou? 

— Não apenas uma cidade. — disse Baek Jin, ajoelhando-se respeitosamente. — Uma Cidade Celestial. 

O silêncio caiu como um véu entre os dois. 

Baek Mu-Hwan franziu o cenho. 

— Você está cortejando os céus? Fundar uma cidade espiritual requer não só energia, mas alma, linhagem, destino! Somos o segundo clã mais poderoso atualmente, sim, mas se tentarmos dar um passo maior do que a perna… 

— Você avançará ao Reino Santo Marcial, Patriarca. — disse Baek Jin, firme, sem vacilar. — E o Clã Baek nunca mais terá que se ajoelhar perante ninguém. 

Mu-Hwan encarou-o longamente. 

— Você fala com a certeza de um homem que já viu o futuro. 

Baek Jin sorriu levemente. 

— Talvez eu tenha visto. 

O Patriarca se levantou. Seus olhos estavam cheios de emoção contida — desconfiança, medo, esperança. 

— Se você falhar… mancharemos nosso nome por gerações. Mas se for verdade… — seus olhos tremeram — então os céus realmente têm olhos. 

Ele deu um passo à frente. 

— Baek Jin, eu, como Patriarca, te dou permissão total. Traga a era dourada para nosso clã. Eu me encarrego de manter os Anciãos sob controle. 

Baek Jin abaixou a cabeça em respeito. 

— Prometo que não se arrependerá, Patriarca. 

Três dias se passaram. 

A região da veia transformou-se por completo. O lago havia sido integrado à fundação da cidade, agora um espelho circular no centro de uma plataforma hexagonal gigante. O solo fora alisado com formação de jade verde, absorvendo e canalizando o Qi para cada canto da fundação. 

Os oito pilares negros, do tamanho de torres, erguiam-se ao redor, alinhados com precisão astronômica. Estavam entalhados com runas que brilhavam com uma luz fria e celestial. E acima deles, formações flutuavam no ar como véus dourados, formando uma barreira espiritual que impedia até mesmo o vento de passar sem ser purificado. 

Baek Jin observava tudo de uma plataforma suspensa. 

O sistema se ativou. 

Baek Jin olhou o horizonte e então murmurou: 

— Tianlong, a Cidade Celestial do Dragão. 

O nome foi aceito. Um trovão ecoou nos céus, mesmo sem nuvens. No instante seguinte, todos os cultivadores do Clã Baek sentiram o ar ao redor se transformar. 

O Patriarca, sentado em meditação naquele exato momento, estremeceu. O Qi espiritual fluiu para ele como um rio furioso, e sua alma, que antes estava estagnada há décadas no nível “Quase-Santo”, deu um salto avassalador. 

— I-Isso é… o… — ele apertou os olhos. — Estou rompendo… para o Santo Marcial…?! 

E em toda a região norte, os demais clãs olharam em choque para o céu quando um Pilar Celestial de energia desceu dos céus sobre a Cidade Tianlong. 

— O Clã Baek… está ascendendo novamente! 

** 

Mas nas sombras distantes… olhos se abriram. 

E antigos rivais começaram a se mover. 

… 

As notícias correram como fogo em um campo seco. Em menos de uma semana, o nome “Clã Baek” deixara de ser apenas respeitado — agora era temido, venerado… e observado. 

Na vastidão do Continente Central, onde cinco grandes clãs dominavam as terras, as famílias ancestrais se entreolhavam com expressões de espanto e inquietação. Por eras, o equilíbrio entre os clãs era estático. O Clã Go reinava no topo, seguido de perto pelos demais. Mas agora… um rugido diferente ecoava dos confins do norte. 

— O Patriarca Baek Mu-Hwan… rompeu. — murmurou Ancião Yu Gu San do Clã Yu, sentado diante de um mapa espiritual. Sua barba longa e dourada se movia com o Qi que exalava de seus poros. — Um novo Santo Marcial. E não é só isso… seus discípulos estão rompendo em sequência, como se os céus estivessem favorecendo apenas aquele solo! 

— O que foi que fizeram?! — exclamou a Senhora Yeong Mei Lin do Clã Yeong, franzindo o cenho. Ela apertava um leque entre os dedos. — Em toda a história de nosso continente, nenhuma veia espiritual causou tamanha reação! 

Gu San rangeu os dentes. 

— É mais do que uma veia. É uma cidade… uma Cidade Celestial. 

Todos os Anciões no salão da Aliança dos Cinco Clãs se entreolharam. 

— Quem está por trás disso? O Patriarca Mu-Hwan não tem capacidade de planejar algo tão ambicioso. — disse o velho Jin Roh, do Clã Jin. 

— Não é ele. — disse uma voz calma. 

Todos se viraram. 

Era Go Yun-Seong, o Santo Marcial da Espada do lendário Clã Go. Alto, de cabelos negros caídos nos ombros, usava um manto cinza simples, mas que carregava um peso espiritual esmagador. Seus olhos eram como lâminas, sempre atentos. 

— O nome dele é Baek Jin. — disse ele, sem alterar o tom. — Um jovem ancião com olhos mais frios que o norte, e a sabedoria de um velho cultivador milenar. 

Ao seu lado, Go Hwa-Rin, a Santa Marcial das Flores de Ameixa, de beleza etérea e olhos melancólicos, completou: 

— Dizem que ele surgiu do nada, sem histórico nas competições dos discípulos, mas agora… todos os dias um novo Guerreiro do Clã Baek rompe para Mestre Marcial. O número de Mestres no clã dobrou. Triplicou. E eles ainda nem começaram a expandir. 

— Isso é uma calamidade. — disse Jin Roh, alarmado. — Se isso continuar por mais um ano, o Clã Baek nos ultrapassará a todos. E isso é considerando que apenas um Santo Marcial nasceu ali… E se mais surgirem? 

Hwa-Rin tocou seu leque bordado com ameixeiras. 

— Devemos ir até lá. Conversar. Entender. Ou… 

Yun-Seong virou o rosto lentamente. 

— Ou preparar as espadas. 

Silêncio caiu sobre todos. 

Enquanto isso, na recém-construída Cidade Tianlong, o céu permanecia sempre claro. A fundação espiritual da cidade vibrava com energia abundante. O Qi era denso como névoa e doce como o orvalho da manhã, e os discípulos do Clã Baek já haviam montado pequenos pavilhões de cultivo ao redor do lago central. 

Todos os dias, os gritos de avanço rompiam o silêncio das montanhas. 

— Eu… eu consegui! Terceira Circulação! — exclamava um jovem discípulo, de olhos marejados. 

— Que os céus me perdoem… outro Guerreiro Marcial rompeu de novo? 

— Esse é o décimo sétimo só hoje! 

Baek Jin, sentado na borda de uma plataforma de meditação no topo da Torre Central, olhava tudo com calma. Seus olhos negros observavam o fluxo espiritual como um estrategista vê peças no tabuleiro de guerra. 

Com um leve gesto, invocou o sistema. 

Baek Jin sorriu de leve. 

— Então… a cidade está pronta para sua próxima evolução. 

…

No clã Go, Go Yun-Seong olhava a flor de ameixa no centro do pátio do palácio principal. 

— Hwa-Rin, o que acha? 

— A energia que emana daquela cidade é… como a de um cultivador que não pertence a esse mundo. — disse ela, enquanto pétalas caíam ao seu redor. — Você conhece esse tipo de aura, irmão. 

— Não. — disse Yun-Seong com um olhar afiado. — Mas ele tem uma nova forma de poder que não conhecemos. 

A Santa Marcial franziu os lábios. 

— Isso significa que o destino favorece o Clã Baek agora. E se quisermos manter nosso lugar, teremos que fazer mais do que simplesmente observar. 

Ele se virou, encarando o norte. 

— Prepare a carruagem celestial. Visitaremos pessoalmente a Cidade Tianlong. 

— Vamos com diplomacia? — perguntou ela, já imaginando as pétalas de ameixa dançando no ar. 

Yun-Seong sorriu, frio como uma lâmina desembainhada. 

— Vamos com nossas espadas.