Capítulo 29 - Delírios de um Jovem Mestre.
As nuvens se abriram, como se os céus reconhecessem a chegada de existências que transcendem o comum.
Duas carruagens espirituais cortavam os ventos celestes como fênix douradas. Cada uma carregava um Santo Marcial.
Go Yun-Seong, o Santo Marcial da Espada, desceu primeiro. Seus olhos frios como o ferro encararam a cidade ao longe. Ele era alto, com cabelos longos presos em um laço simples. Trajava um manto cinza com uma espada fina nas costas, mas seu olhar era o que realmente cortava: silencioso, mas afiado.
Go Hwa-Rin, a Santa Marcial das Flores de Ameixa, caminhava ao seu lado. Seu vestido rubro esvoaçava com a brisa, e seu leque florido parecia dançar em sincronia com cada passo. Sua beleza etérea era comparada apenas à do Qi que fluía livremente por seu corpo.
Os dois pararam na entrada da Cidade Tianlong.
Baek Jin os aguardava.
Ele estava diferente. Os cabelos longos quase negros desciam até a cintura. Um cavanhaque negro bem aparado lhe conferia um ar maduro, mas era nos olhos que residia o abismo: olhos que haviam visto o nascimento e a queda de mundos.
Vestia um manto escuro com insígnias prateadas, uma símbolo ancestral da torre celestial. Ao seu lado, o pergaminho do sistema estava selado, oculto dos olhos dos outros.
Yun-Seong parou a cinco passos.
— Baek Jin, presumo. A lâmina silenciosa do norte.
— E vocês são os gênios do Clã Go. A espada e a flor. Sejam bem-vindos à Tianlong.
Hwa-Rin fechou seu leque.
— Essa energia… o ar aqui parece mais espesso. Como se cada respiração alimentasse diretamente o dantian.
Baek Jin sorriu.
— Essa é apenas a superfície. Me acompanhem.
Eles caminharam por plataformas flutuantes que levavam ao centro da cidade. Discípulos cultivavam em pavilhões, anciãos meditavam diante do lago espiritual, e ao fundo, construía-se algo colosal: a base de uma torre.
Quando chegaram ao centro do Lago Espiritual, uma onda de energia varreu o local.
Yun-Seong franziu o cenho. Suas pálpebras tremeram.
— Isto é…
Hwa-Rin arfou, levemente.
— Se eu cultivar aqui por um ano… talvez eu rompa.
Baek Jin os observou.
— Vocês poderiam, sim, chegar ao nível de Semi-Deus. Mas não é por isso que chamei vocês.
Ele levantou o olhar, sério.
— Há um perigo oculto. Algo se move nas sombras deste mundo. O continente mergulhará em caos. E apenas um exército com bases firmes resistirá.
Os dois santos se entreolharam.
— Você quer… unir os cinco clãs? — perguntou Yun-Seong.
Baek Jin assentiu.
— Cada clã enviará um grupo de anciãos, seus melhores discípulos e guardas. Aqui, na Cidade Celestial, nós os treinaremos. Juntos, criaremos o maior exército da história.
Hwa-Rin sorriu.
— E em troca…
Baek Jin gesticulou ao redor.
— Em troca, cultivem aqui. Cresçam. Alcancem o que sozinhos jamais alcançariam.
Os dois se calaram. Então, Yun-Seong deu um passo à frente.
— Acordo selado.
Hwa-Rin o seguiu, tocando a borda da água do lago.
— Nós voltaremos com nossos representantes.
Enquanto eles partiam, Baek Jin permaneceu em silêncio, com as mãos atrás das costas. O pergaminho espiritual apareceu em suas mãos, desdobrando-se lentamente.
Andares: Ilimitados (em expansão)
Energia Espiritual por andar: +350% superior ao anterior
Energia do Âmago: Pura Essência Celestial (em formação)
Andar Final: Exclusivo para ascensão divina.
Baek Jin estreitou os olhos.
“Eles nem imaginam… que isso aqui é apenas o começo.”
…
Seita do Céu Aberto.
A brisa da manhã era suave, dançando lentamente pelas montanhas verdes de um território neutro entre o Continente Central e os territórios ao norte. O céu, claro como jade polido, refletia a harmonia aparente daquele dia. No entanto, para Ji-hoon, herdeiro da renomada Seita do Céu Aberto, havia apenas um pensamento que o consumia por completo. Seus olhos, de um tom dourado vívido, estavam fixos no horizonte enquanto montava sua grua espiritual.
Ele segurava entre os dedos uma mecha de prata.
Não era real, apenas um fio de seda que comprara de um artesão nas Terras Orientais. Mas para ele, aquilo simbolizava a perfeição que havia contemplado com seus próprios olhos.
— “Aquela mulher… Capitã Qian Xue da Liga da Lâmina Celestial…” — murmurou, apertando o punho. — “Ela será minha.”
Ji-hoon era um jovem de beleza refinada, os cabelos longos e dourados caindo sobre as vestes luxuosas de um azul celeste vibrante. Sua pele era alva, o sorriso arrogante estampado em seu rosto como uma máscara constante. Filho único do Mestre da Seita, ele havia crescido sem jamais conhecer a palavra “não”. Sempre que desejava algo, bastava apontar — e logo o mundo lhe entregava de joelhos.
Porém, ao avistar Qian Xue pela primeira vez em uma das cerimônias diplomáticas entre as seitas, sentiu seu coração saltar no peito como nunca antes. Era como se uma flecha espiritual tivesse perfurado sua alma.
— “Ela é uma Deusa…” — sussurrou em desespero apaixonado. — “Aquela frieza no olhar, o jeito que ela comanda… os cabelos… os olhos… Tudo nela é perfeito.”
Ele passou noites sem dormir. Sonhando com Qian Xue. Imaginando-a ao seu lado. Em sua cama. Em seu trono. Como sua esposa. Sua Imperatriz. Sua.
A cada dia, a obsessão aumentava. E por fim, não suportando mais, decidiu tomar uma decisão drástica. Entrou na sala ancestral de seu pai, o Mestre Ji-Yeon, um Santo Marcial no auge de seu poder.
A sala estava envolta em névoas eternas, uma aura divina ondulava no ar como serpentes de luz. Ji-Yeon era um homem severo, de olhos profundos como abismos, e cabelos tão longos quanto a história de sua seita. Ele olhou para o filho com frieza quando este entrou.
— “O que deseja, Ji-hoon?” — sua voz soava como trovão abafado.
— “Pai… eu encontrei a mulher que quero me casar.” — Ji-hoon não pestanejou. — “Capitã Qian Xue, da Liga da Lâmina Celestial.”
— “Hm… uma mulher do clã Baek?” — Ji-Yeon arqueou uma sobrancelha. — “Você sabe o que significa uma aliança dessas?”
Ji-hoon sorriu, convencido.
— “Se ela recusar, será um insulto à Seita do Céu Aberto. Um desprezo imperdoável.”
O Mestre Ji-Yeon permaneceu em silêncio por um momento.
— “Você tem certeza disso?” — perguntou com seriedade.
— “Sim. Envie a proposta. Exija o casamento. E caso não aceitem… poderemos considerar isso como uma afronta aberta. Uma razão legítima para reivindicação formal.”
Ji-Yeon soltou um longo suspiro.
— “Você herdou a arrogância do seu avô. Ele o estragou demais.”
— “O avô me entende, ele aprovaria essa união.”
E assim foi feito.
Três dias depois, no coração da recém-construída Cidade Celestial Tianlong, Baek Jin, a Lâmina Silenciosa, estava reunido com os mestres do sistema, organizando os esquemas para o segundo andar da Torre dos Deuses, quando um mensageiro chegou. Suas vestes tremiam de medo, e suas mãos carregavam um pergaminho selado com a insígnia dourada da Seita do Céu Aberto — uma estrela dividida por um raio celeste.
Baek Jin tomou o pergaminho em silêncio.
Os olhos negros, escondidos pelas longas mechas que pendiam de seu rosto, tornaram-se frios como o abismo. Ele rompeu o selo e começou a ler.
As palavras escorriam pela página como veneno:
As mãos de Baek Jin tremeram.
Sua aura, até então contida, explodiu como uma tempestade silenciosa. Os cristais ao redor da sala tremeram, rachaduras se espalharam pelas paredes encantadas, e o ar ficou denso, como se o céu estivesse prestes a cair sobre todos os presentes.
— “Eles ousam…” — disse ele, num sussurro gélido.
A imagem de Qian Xue veio à sua mente. Ele a lembrava jovem, ainda assustada quando chegou ao Clã Baek, carregando o peso do passado, dos pais assassinados, da seita exterminada, das lágrimas que ela só derramava quando estava sozinha, achando que ninguém via.
— “Essa mulher… jurou lealdade a mim. A esta cidade. E a seus próprios sonhos de vingança.”
O pergaminho queimou em sua mão, reduzido a cinzas negras.
— “Eles ousam tratá-la como mercadoria.”
Baek Jin se ergueu, seu manto escuro ondulando como sombra viva.
— “Muito bem, Seita do Céu Aberto.” — sua voz ressoou fria, afiada como a lâmina que lhe dera nome. — “Querem considerar isso uma ofensa? Então lhes darei algo digno de ódio.”
Ele virou-se para o sistema, invocando o pergaminho espiritual.
— “Sistema, registre novo decreto: a Liga da Lâmina Celestial considera qualquer tentativa de casamento forçado, união forçada ou coação sobre seus membros como um ato de guerra.”
O sistema respondeu com voz neutra:
Baek Jin fechou os olhos por um instante. Sua mente agora estava voltada para o que viria a seguir.
Uma guerra de vontades. Uma possível colisão de seitas. E ele não pretendia recuar.
Enquanto isso, a notícia da carta se espalhava em silêncio entre os anciãos.
E Ji-hoon, em sua arrogância apaixonada, não imaginava que havia acabado de tocar a lâmina de um homem que nunca perdoava.
(…)
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