Índice de Capítulo

    O sol poente espalhava reflexos dourados sobre os telhados de jade da Cidade Celestial Tianlong, criando uma dança suave entre sombras e luz nas calçadas pavimentadas em pedras espirituais. Baek Jin, com seu manto negro com detalhes prateados, caminhava com passos serenos pelas vias principais. Seu olhar contemplava a cidade em desenvolvimento, mas sua mente estava focada em outro assunto. 

    “A Diretora Jisoo… da Forja do Martelo Divino… já passou da hora de trazê-la oficialmente para dentro da Liga. A forja dela tem talento demais para permanecer apenas como aliada externa.” — murmurou para si mesmo. 

    Ao se aproximar do pátio externo da Forja do Martelo Divino, sentiu um leve estremecer no ar. Uma ondulação sutil, quase imperceptível, mas carregada de um peso antigo. Seus olhos negros com reflexos azulados se estreitaram enquanto seus sentidos espirituais se expandiam. 

    Ali, encostado em uma das pilastras da forja, um homem alto, cerca de 1,82 metros, trajando roupas simples mas de corte estrangeiro, bebia calmamente de uma cabaça dupla. Seus cabelos longos e negros com mechas prateadas caíam até os ombros. Uma cicatriz profunda cortava o olho esquerdo, e mesmo com um chapéu de palha torto sobre a cabeça, sua presença parecia dobrar a atmosfera. 

    Baek Jin parou. 

    “Esse homem… não é um cultivador comum.” 

    Com um movimento sutil, ele cancelou sua ocultação espiritual. A aura de um Semi-Deus varreu a área como uma onda silenciosa, fazendo as chamas das forjas ao redor oscilarem em respeito. E ainda assim… o homem nem se mexeu. Apenas continuou bebendo. 

    “Você bebe num lugar sagrado como esse com tamanha naturalidade. Isso é ousadia ou desespero disfarçado?” 

    O homem sorriu por trás da cabaça. Sua voz veio rouca, mas firme, como o eco de tambores antigos. 

    “Nenhum dos dois. Eu apenas vivo. E a bebida ajuda a esquecer o que não posso consertar.” 

    Baek Jin se aproximou lentamente, ficando a apenas alguns passos de distância. 

    “Seu rosto não me é familiar. Mas seu Qi… é estranho. Denso, sim, mas caótico. Não é espiritual, não é demoníaco… é quase ancestral.” 

    O homem olhou diretamente para Baek Jin. Mesmo com o chapéu de palha cobrindo parcialmente o rosto, seus olhos, antes adormecidos, agora brilhavam como lâminas afiadas. 

    “Já ouvi falar de você… Baek Jin. A Lâmina Silenciosa. O Santo Marcial que se ergueu das cinzas de um clã à beira do esquecimento. O mundo fala muito sobre seus feitos.” 

    “E você?” — Baek Jin retrucou com calma. — “Você não está nos registros. O Sistema não consegue sondar seu passado. Isso me intriga… e me incomoda.” 

    Por um instante, o ar ficou mais denso. Mas o homem apenas soltou uma risada breve, cansada. 

    “Talvez porque meu passado esteja morto. Assim como meu nome.” 

    Baek Jin franziu a testa. A curiosidade o corroía por dentro, mas ele manteve a postura firme. 

    “Diga. Quem é você, e o que busca neste continente?” 

    O homem olhou para o céu avermelhado, como se seus pensamentos vagassem por terras distantes. 

    “Chamavam-me de Nero. Nero Vento-Bravo Von De Bloodfallen. Antigo Imperador Venerável do Ocidente. Senhor da Capital Imperial Vento-Bravo. No auge da glória, governava sobre bilhões. Meu poder, na época, estava no nível do Profundo Tirano — uma classificação de lá… comparável aos Semi-Deuses deste mundo.” 

    Baek Jin permaneceu em silêncio. Aquilo era inesperado. 

    Nero continuou, agora com a voz mais grave: 

    “Mas então… eles vieram.” 

    “Eles?” 

    “O Rei da Noite Eterna. O Senhor do Abismo. E seus malditos Filhos das Trevas.” 

    A forja atrás deles pareceu estremecer com a menção daqueles nomes. 

    “Eles emergiram de portões sombrios que não deveriam existir. Com seu Qi corrosivo, dissolveram muralhas, queimaram florestas e apagaram cidades inteiras em uma noite. Nem as minhas forças imperiais — compostas por milhares de cultivadores de elite — puderam resistir. Nem mesmo eu.” 

    Os olhos de Nero, agora sombrios, brilharam em luto. 

    “Eles não vieram apenas para conquistar. Vieram para aniquilar. Crianças, mulheres, idosos… não sobrou ninguém. O Ocidente, outrora um mar de reinos e seitas, agora… é deserto e cinzas.” 

    Baek Jin, mesmo sendo um Semi-Deus, sentiu um frio na espinha. 

    “E por que veio aqui?” 

    “Porque você está construindo algo… algo que pode resistir. Uma Liga. Uma Cidade Espiritual. Uma Torre… uma Biblioteca.” 

    Nero virou-se, agora encarando diretamente Baek Jin com um olhar sério e firme. 

    “Estou aqui não como inimigo. Mas como o último eco de um mundo que caiu. Eu vi o que virá. E estou aqui… para adverti-lo.” 

    “Eles virão para cá também.” 

    O silêncio que se seguiu parecia eterno. 

    Baek Jin, com seu rosto inexpressivo, apenas apertou os punhos. A raiva contida fervia como lava sob uma crosta fria. 

    “O sistema me avisou sobre a aproximação de algo sombrio… Mas não imaginei que tivesse essa origem.” 

    “Você não tem muito tempo.” — Nero disse. — “Construa mais. Fortaleça seu exército. Unifique os clãs. Se quiser ter uma chance, sua cidade deve se tornar uma muralha divina.” 

    “E você?” — perguntou Baek Jin. — “Vai ficar bebendo cabaças enquanto isso?” 

    Nero sorriu. Pela primeira vez, com um brilho de propósito nos olhos. 

    “Não. Ainda não. Mas quando a guerra chegar… cortarei a garganta de um dos Filhos das Trevas com minhas próprias mãos. Isso é uma promessa.” 

    Baek Jin assentiu lentamente. Com um gesto simples, seus longos cabelos balançaram. 

    “Então seja bem-vindo à Cidade Celestial Tianlong, Imperador Venerável Nero. De hoje em diante, você é um hóspede da Lâmina Silenciosa.” 

    Nero não respondeu de imediato. Apenas ergueu sua cabaça e brindou ao céu. 

    “Ao novo fogo. Que não sejamos apagados como os antigos.” 

    E assim, dois monstros de mundos diferentes se encontraram no coração de uma cidade celestial. Não como rivais, mas como aliados forjados pelas cicatrizes da destruição. 

    O crepúsculo chegou. Mas logo… o verdadeiro inverno viria. 

    … 

    O céu estava limpo naquela tarde. 

    As nuvens flutuavam lentamente sobre a Cidade Celestial Tianlong, lançando sombras suaves sobre os telhados espelhados em prata e jade. Pássaros espirituais sobrevoavam os pinheiros esculpidos ao longo do jardim da Sede da Liga da Lâmina Celestial, enquanto o som calmo da água correndo nas fontes espirituais completava o cenário harmonioso de paz. 

    Ali, sob um caramanchão coberto por trepadeiras floridas, dois homens bebiam juntos. 

    Um, de cabelos longos negros com reflexos azuis, olhos de negro profundo com brilho oceânico, usava um manto cerimonial prateado com bordados negros: Baek Jin, a Lâmina Silenciosa, o patrono da Cidade Celestial e atual Semi-Deus. 

    O outro, mais alto, 1,82 metros, cabelos negros com mechas prateadas, cicatriz profunda no olho esquerdo, trajava vestes simples, uma cabaça dupla presa ao cinto, e um chapéu de palha torto descansava ao lado da mesa: era Nero, o estrangeiro do Oeste, um homem com ar errante, mas cuja presença fazia o mundo ao redor silenciar. 

    “A bebida aqui não é ruim.” — disse Nero, tomando mais um gole da cabaça. — “Quase me lembra a que eu tomava no Festival da Aurora no meu antigo Império.” 

    Baek Jin sorriu de leve, recostado em sua cadeira de madeira espiritual. 

    “Se você me disser que prefere aquela bebida fraca com gás de milho chamada soda, vou te expulsar da minha cidade.” 

    Nero arregalou os olhos por um segundo, e então soltou uma gargalhada alta. 

    “Você também é da Terra.” 

    O silêncio que se seguiu foi breve. Baek Jin apenas assentiu com a cabeça, e completou: 

    “Morrendo aos trinta e dois. Assassinado por valentões no meio de uma briga, após tentar salvar alguém, mal consigo me lembrar desse evento do passado.” 

    Nero olhou para o céu, pensativo. 

    “Eu tinha dezessete. Estava no segundo ano do ensino médio. Um caminhão fora de controle vinha em direção a uma garotinha no cruzamento. Não pensei. Só corri.” 

    Houve uma pausa longa. O som da água da fonte preencheu o vazio da lembrança. 

    “Reencarnei no Continente Ocidental… como um mero Profundo Iniciado, o equivalente ao seu Reino Marcial. Na época, não entendi nada… pensei que fosse um jogo, ou um delírio pós-morte.” 

    Baek Jin o encarava com atenção, os olhos silenciosos como um lago profundo. 

    Nero continuou: 

    “Mas fui evoluindo. Eu não tinha um sistema como você. Não havia voz na minha mente, nem pergaminhos mágicos aparecendo. Mas… herdei algo. Uma taxa de regeneração absurda. Capacidade de reconstruir meus meridianos em pouco tempo. E uma compreensão quase instintiva de combate.” 

    Ele fechou os olhos por um momento, como se revivesse cada passo da escalada. 

    “Fui crescendo. Me tornei um Lorde, depois um Rei. Um Império nasceu sob meus pés. Casei. Tive filhos. E então…” 

    As palavras morreram. 

    “Eles chegaram.” — completou Baek Jin em tom baixo. 

    “Sim. O Rei da Noite Eterna. O Senhor do Abismo. E um dos Filhos das Trevas… aquele que sorriu enquanto arrancava a cabeça do meu filho com as mãos.” 

    O silêncio que veio depois foi pesado. Baek Jin apertou os punhos, não em raiva, mas em compreensão. Ele sabia o que era perder. Sabia o gosto amargo da impotência. 

    “Eu jurei que o mataria.” — disse Nero, com a voz embargada. — “Mesmo que me custe a alma. Ele está vivo em algum lugar… e eu sei que esse mundo ainda não viu o fim da escuridão.” 

    Baek Jin se levantou, pegou a cabaça de Nero, tomou um gole e devolveu. 

    “Então nós o mataremos. Juntos.” 

    Nero soltou uma risada seca. 

    “Você diz isso como se fosse simples.” 

    “Nada que vale a pena é simples.” 

    Ambos ficaram em silêncio por um instante, antes de Nero mudar o tom da conversa. 

    “Sabe… algo me intriga. O Qi que vocês do Oriente cultivam é diferente. Equilibrado. Refinado. Como um lago cristalino. No Ocidente, cultivamos o Qi Celestial — mais instável, mais explosivo. Um soco nosso pode destruir montanhas, mas vocês preferem cortar a alma em vez disso.” 

    Baek Jin assentiu. 

    “O Qi Interno é pura harmonia. Força e controle. O Qi Celestial parece com o caminho do relâmpago: poder imediato, sem freio.” 

    “E ainda assim…” — Nero sorriu. — “Em combate justo, eu teria vantagem.” 

    Baek Jin arqueou uma sobrancelha. 

    “É mesmo?” 

    “A diferença entre nós, por enquanto, é técnica. Você tem o sistema. Eu tenho a dor. E a dor me ensinou rápido.” 

    Ambos se entreolharam. Não como rivais. Mas como iguais. Dois reencarnados. Dois sobreviventes. Duas espadas prontas para cortar o destino. 

    “Baek Jin.” 

    “Sim?” 

    “Agora você tem minha confiança. Pela primeira vez desde que cheguei aqui… sinto que posso respirar.” 

    O cultivador do Oriente apenas deu um leve sorriso. Sua mão tocou o pergaminho espiritual, e o Sistema NOVA projetou brevemente uma notificação em sua mente: 

    📜 Vínculo estabelecido: Aliado do Destino – Nero, Imperador Venerável do Extinto Império Bloodfallen

    ⚠️ Recompensa liberada: Projeto Especial – Torre dos Destinos Cruzados 
    (Permite treinamento combinado de múltiplos estilos de Qi para integração de habilidades Ocidentais e Orientais.)

    Baek Jin olhou para Nero, que já havia voltado a beber em silêncio. 

    “Prepare-se.” — disse calmamente. — “Ainda temos muito o que construir. E um inimigo muito maior para derrotar.” 

    Nero não respondeu. Apenas sorriu. 

    E o sol se pôs, mais uma vez, sobre a cidade que se tornava a última muralha contra as Trevas Vindouras. 

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