Capítulo 37 – A esperança está nas mãos de um garoto. 

Na Ala de Cura Principal da Cidade Celestial Tianlong, o silêncio era quase sagrado. 

Luzes espirituais flutuavam suavemente no ar, ondulando como chamas silenciosas, lançando tons dourados e esverdeados sobre os pilares de jade e as runas brilhantes cravadas nas paredes de mármore branco. A cápsula central — a Inteligente 1.0, uma maravilha tecnológica nascida da união entre o Departamento Médico, de Forja Espiritual e de Alquimia — repousava no centro da sala. Feita de vidro encantado e metal etéreo, mantinha o corpo de Tae-Min suspenso, envolto em um líquido espiritual purificador, brilhante como prata viva. 

Mas, naquele instante… algo começou a mudar. 

Uma onda de calor invisível percorreu o recinto. Runas de proteção começaram a piscar em tom alaranjado, sinalizando atividade espiritual intensa. A água dentro da cápsula começou a borbulhar, o nível de energia se elevando drasticamente. 

— “Capitã Qian Xue! Há uma anomalia na cápsula!” — gritou uma das curandeiras da ala. 

A porta se abriu com força. Qian Xue, vestindo o manto oficial da Liga da Lâmina Celestial, olhos gélidos mas tomados por ansiedade, correu até a cápsula, seu coração disparado como tambores de guerra. 

— “Tae-Min…?” — sussurrou, seu rosto se aproximando do vidro encantado. 

E então… os olhos dele se abriram. 

Dois orbes escarlates, incandescentes como fogo vivo, brilharam em meio ao líquido espiritual. Em seguida, uma aura densa e vibrante começou a emanar de seu corpo, envolvendo toda a cápsula. As runas de contenção trincaram. 

CRACK. 

O som do vidro se partindo ecoou como trovão contido. 

Com um rugido abafado pela pressão espiritual, a cápsula explodiu de dentro para fora, lançando água espiritual purificadora por todo o recinto. Tae-Min caiu de joelhos sobre o chão de jade polido, ofegante, com o vapor de sua aura subindo como névoa escarlate. 

Seus cabelos brancos estavam encharcados, colados ao rosto pálido, mas seus olhos… seus olhos brilhavam com vida nova. Poder. Despertar. Fúria contida. 

— “Tae-Min!!” — exclamou Qian Xue, ajoelhando-se imediatamente e o envolvendo em seus braços. 

Ele a encarou por um momento, confuso… e então sorriu levemente. 

— “Desculpa por fazê-la esperar.” 

Antes que qualquer coisa fosse dita, a porta se abriu mais uma vez. E ali estava ele. 

Nero. 

O homem alto com cicatriz no olho esquerdo, chapéu de palha torto na cabeça, e duas cabaças penduradas na cintura. Ele não disse nada ao entrar. Seus olhos, por um momento, vacilaram. 

Viu o garoto ajoelhado, envolto em aura escarlate, cabelos brancos molhados caindo como neve pesada… E seu peito se apertou. 

— “…Arian.” — murmurou baixo, quase inaudível. 

Era como ver seu próprio filho perdido, renascido diante de seus olhos. 

Qian Xue se afastou levemente, notando a aproximação. 

— “Imperador Nero.” 

Ele se ajoelhou diante de Tae-Min. O garoto, ainda instável, tentou se erguer, mas Nero o segurou pelo ombro com delicadeza surpreendente. 

— “Você… tem um fogo nos olhos. E carrega uma tristeza muito antiga. Quem é você, garoto?” 

Tae-Min hesitou. Mesmo em sua nova forma, mesmo com a Constituição Divina palpitando em cada célula de seu corpo, sentiu… respeito por aquele homem. Não era apenas aura. Era presença. Era dor. 

— “Sou Tae-Min. Discípulo de Baek Jin.” 

Nero fechou os olhos por um instante. 

E então sorriu. Um sorriso triste. Quase paterno. 

— “Você me lembra alguém muito importante. Alguém que eu perdi… para sempre.” 

Tae-Min não sabia o que responder. Mas seus olhos escarlates suavizaram, como se compreendessem aquilo que palavras não podiam traduzir. 

Nero se levantou, e virou-se de costas. Enquanto se afastava da ala, seu olhar se perdeu no horizonte espiritual da Cidade Celestial. Seu punho apertou-se. 

— “…Se alguém ousar tocar nesse garoto, por qualquer razão…” — murmurou em voz baixa, carregada de intenção assassina. — “…exterminarei sua seita, sua linhagem, e todos os seus descendentes até a terceira geração. Essa é minha promessa.” 

Na mente de Baek Jin, que observava de longe pela interface do Sistema NOVA, uma nova notificação surgiu. 

Baek Jin cruzou os braços e sorriu levemente. 

— “Parece que ganhamos um novo irmão mais velho para o Tae-Min.” 

A guerra tinha terminado… mas a verdadeira jornada, o renascimento das antigas lendas e a união dos reencarnados da Terra, estava apenas começando. 

… 

Nas primeiras horas da aurora, a Cidade Celestial Tianlong ainda dormia sob o véu suave das névoas espirituais. Mas uma figura se movia com determinação nos campos de treinamento da Liga da Lâmina Celestial. 

Tae-Min. 

Seus cabelos brancos, recém-secos da água purificadora, esvoaçavam a cada passo. A aura que envolvia seu corpo não era apenas densa — era enigmática. Uma mistura de vazio e presença, de silêncio absoluto e som primordial. Seus olhos escarlates brilhavam, mas no fundo, além do rubro, havia um traço… negro e azulado, que parecia pulsar com o ritmo do universo. 

Ele estendeu a palma para frente. O ar tremulou. 

E então, o nada tomou forma. 

Um ponto escuro, como se o próprio espaço fosse sugado para dentro de si, surgiu flutuando sobre a mão dele. O chão sob seus pés trincou. O vento cessou. A natureza… se calou. 

Era o poder do Elemento Vazio. 

Baek Jin, observando de longe com os braços cruzados, seus olhos brilhando em tons oceânicos, soltou um suspiro profundo. 

— “É como se o mundo… tivesse parado de respirar.” 

Ao seu lado, o Sistema NOVA se manifestava em forma de pergaminho dourado flutuante. 

Baek Jin murmurou em silêncio: 

— “Então é verdade… o Vazio é o oposto absoluto da Escuridão. A chave… contra o Rei da Noite Eterna e seus Filhos das Trevas.” 

Seus olhos se estreitaram. 

— “Mas poder sem controle é como lâmina sem empunhadura… perigosa para ambos os lados.” 

Baek Jin desceu dos céus como um relâmpago. Em um instante, estava diante de Tae-Min. 

— “Discípulo.” 

Tae-Min se curvou imediatamente, suando apesar da aura fria que o envolvia. 

— “Mestre!” 

Baek Jin observou o orbe de Vazio desaparecer lentamente da mão do discípulo. 

— “Você está despertando algo que nem os céus ousam tocar.” — sua voz era séria, sem uma pitada de leveza. — “Esse elemento… é tudo e nada. A existência e o esquecimento. Ele carrega o poder de aniquilar até mesmo o tempo e a vontade divina. Precisa dominá-lo… antes que ele te domine.” 

Tae-Min engoliu em seco, sentindo o peso das palavras. 

Baek Jin continuou: 

— “A partir de agora, você será enviado para as Provações da Torre dos Deuses.” 

O nome fez o coração de Tae-Min pulsar com força. 

A Torre dos Deuses. A criação mais sagrada da Cidade Celestial Tianlong. Seu nome era sussurrado com reverência entre os soldados, pois dizia-se que cada andar era uma réplica espiritual de desafios deixados pelos antigos Semi-Deuses e Santos Marcais das Eras Primordiais. 

— “Sim, Mestre!” — Tae-Min disse sem hesitar. 

Baek Jin levantou a mão e o sistema NOVA se manifestou em sua palma. 

Uma luz dourada envolveu o corpo de Tae-Min. Em segundos, ele foi envolto por uma névoa que o absorveu completamente. A próxima vez que abriria os olhos… estaria dentro da Torre. 

Andar Um. 

Tae-Min caiu de joelhos. O chão sob ele era feito de obsidiana. O céu acima… negro como carvão. A atmosfera era sufocante. 

E então, de dentro das sombras, surgiu sua primeira provação. 

Ele mesmo. 

Um clone perfeito, porém com olhos enegrecidos e sorriso cruel. Era seu lado mais fraco, mais temeroso. O Tae-Min do passado. 

— “Você nunca será forte o bastante…” — zombou o clone. 

Tae-Min se ergueu. Sua mão tremeu. Mas seus olhos brilharam em escarlate puro. 

— “Você está cortejando a morte.” 

Com um passo firme, conjurou novamente o Elemento Vazio. Uma esfera silenciosa e letal surgiu em sua palma. O clone tentou resistir, mas ao ser tocado pelo orbe… simplesmente desapareceu. 

Sem gritos. Sem explosões. Apenas… sumiu. 

O primeiro andar se desfez. E o segundo começou. 

Andar após andar, Tae-Min enfrentava sombras, memórias, bestas espirituais e até ilusões de cultivadores lendários. A cada desafio, seu controle sobre o Elemento Vazio aumentava. Ele começou a fundir pequenas quantidades de Espaço-Tempo, criando distorções ao seu redor, deslocando-se em velocidades insanas, golpeando o vazio com precisão absurda. 

No Andar Sete, enfrentou um exército de demônios, réplicas dos Filhos das Trevas. Em vez de lutar, Tae-Min criou um domo de vazio absoluto, apagando completamente a existência da tropa ilusória. 

No Andar Dez, enfrentou um ser colossoso feito inteiramente de energia escura. 

A batalha durou horas. 

E no final… apenas Tae-Min ficou de pé, ofegante, mas vitorioso. 

Na base da torre, Baek Jin, com seus olhos azuis como o mar profundo, observava através de um painel do sistema. 

Seu coração estava calmo, mas firme. 

— “Tae-Min… meu discípulo. Você não será apenas uma arma…” — seus olhos brilharam intensamente — “…você será a esperança.”