Capítulo 1 - Início
Sentados ao pequeno dracar, os dois irmãos observavam o rio abaixo. O fluxo da água era continuo, sem se importar com as pedras ou galhos no caminho, carregando os dois para mais fundo no que seria seu futuro reino. Uma grama mais seca e verde, as árvores mais grossas e robustas, os campos mais vivos. Seus familiares e amigos, aqueles que moravam em sua residência pobre um dia poderiam sonhar em viver nas terras dos seus inimigos.
E o silêncio, Cross era somente três anos mais velho que seu irmão, mas buscava qualquer som ao seu redor para que não fosse engolido pelo som da estática. Preso a uma vestimenta grossa, de couro de lobos negros e javali selvagens, detinha a mão perto do cabo de sua espada, na cintura.
Haivor, o caçula, em sua vez, tratava de enrolar uma pequena faixa marrom ao redor do tornozelo. Fazia com pouco esforço, rotacionando várias vezes, até que enfiou uma das pontas dentro da bota desgastada e se sentou ereto.
– Estamos quase lá – Cross disse, atento aos arredores.
Sem um pingo de motivação na voz, Haivor concordou.
– Eu sei.
Descendo lentamente, se aproximaram de um extenso lago. Uma bacia gigante, com uma única saída; o Estreito de Hemeth. Duas imensas colinas de pedras criavam um arco ao redor do lago, e dali, a saída para o mar aberto. Aquela imensidão azul, o lado afora do mundo real, ali era onde Cross viveria… isso caso seu navio conseguisse chegar até lá.
As águas dos rios ao se juntarem ao lago se tornava mais raso, e o barco onde estavam deveria ser mais leve. O primeiro obstáculo era uma pequena mudança de densidade, mas que tornava o sonho de viajar para longe muito distante.
Depois, o segundo obstáculo. O mar. Lá, as ondas não eram rasas e o casco do dracar deveria ser feito de uma maneira que suportasse sua violência corriqueira.
Quando o navio saltou da água do rio para o lago, Haivor encarou para fora do barco. O casco afundou, mas não tanto quanto da última vez. As últimas experiências levaram três dracar destruídos, resfriados e roupas descartadas por fungos. Houve até mesmo uma vez que Cross perdeu seu principal medalhão e se jogou no lago para procurar, demorando uma semana pra achá-lo.
Nesse dia, Haivor descobriu que não era como os outros de seu vilarejo. Ele sentiu o medalhão muito antes de seu irmão, um sentido extra em seu corpo, dizendo onde Cross deveria procurar. Agora, olhando para o casco oscilando no lago, a sensação voltava a surgir.
Cross já estava no mastro único, segurado a corda. Ele era um dos poucos que conseguia segurar a vela principal com as mãos nuas, e Haivor também sabia que seu irmão não era como os outros. Cross esperava a ordem do irmão, o encarando.
– Agora? – perguntou alto.
– Não. – Haivor ainda sentia, a água ainda estava rasa. Se soltasse, a vela iria empinar o dracar e jogar os dois para fora. Mais distante da costa, mais perto do Estreito de Helmeth. Passou pela segunda camada de espuma branca e os ventos começaram a apertar contra suas costas. Marcou mentalmente a posição que estavam, então, balançou firmemente a cabeça para o irmão. – Agora.
A corda solta liberou a imensa cortina negra. Os ventos que assolavam suas costas pareceram moscas atraídas pela luz. A vela se estufou para frente, como uma mulher gravida, e o dracar tomou um impulso ardente, levando-os adiante para o limiar de suas antigas vidas.
Cross soltou um grito junto de uma gargalhada. Haivor sorria para si.
– Conseguimos. – Cross socou o ar com firmeza. – Conseguimos.
– Vamos ver como ele se sai com o mar aberto. – Haivor pegou os remos deitados na horizontal e entregou ao irmão. – Ai sim vamos ter conseguido.
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