Capítulo 10 - Invasor (III)
Grison entrou pela caverna. Retro havia dito que aquele lado da ilha ainda estava sendo construído, por isso, metade das pessoas que andavam por ali eram mineradores criando túneis que ligassem as cidades mais rapidamente.
Um desses túneis, pelo que parecia, tinha sido explodido e matou quase três pessoas. Nenhum Aprendiz fora do Quarto ou Quinto Domínio, título para a experiência e magia dos Adesir, poderia realizar missões direta da Torre Arcana.
Grison estar ali naquele momento era somente porque nenhum outro Adesir era confiante o suficiente para a missão. Alguém tinha conseguido roubar um Cubo Maníaco, e tinha fugido por ali. A notícia falsa de que um homem tinha acidentalmente usado magia era para que ninguém chegasse perto dali antes das providências terem sido tomadas.
Mas, Retro tinha sido nada inteligente. Demorou quase três dias para dizer o que realmente estava acontecendo. E ele não poderia sair da Torre Arcana, não quando sua conexão com o mundo externo ainda era fraco.
A responsabilidade de um Asumir era muito diferente de um Adesir, e Grison nunca se interessou em dar ordens aos outros.
A caverna não tinha nada demais. Um arco perfeito e as paredes estavam todas lisas, os buracos eram resultados da picaretas e das bobinas metálicas que bombardeavam a segundo. Algumas dessas bobinas ainda estavam espalhadas por ali, mas desligadas.
Foi até o final. As pedras tombadas da explosão criaram uma barricada e nada poderia passar. Grison não diminuiu o passo, tocou o próprio peito. ‘Intangibilidade’, a capacidade de não ser encostado por nada.
Ele atravessou as pedras prendendo a respiração e desativou o Comando do outro lado. O túnel continuava com as tochas acessas pelas laterais. Dali, viu que dois caminhos opostas foram criados. Um deles era como o restante da caverna, mas o outro parecia ter feito as pressas por ferramentas bem ruins.
Grison desceu pelo segundo túnel. O chão era molenga e as pedras pareciam moles. Algum tipo de magia tinha sido usada ali, ele começou a descer até que parou. Algo estava errado. Tirou a luva e encostou na parede.
Por quase cem metros, sua habilidade de leitura fez uma varredura. As pedras estavam todas molengas e prestes a desabar, alguma magia tinha sido usado ali e era poderosa. Além de que estava se espalhando rapidamente para o resto da montanha.
Quem estivesse fugindo com o Cubo Maníaco ativou algum tipo de magia feita para desmanchar a montanha. Se não se apressasse, seria morto. Respirou fundo, e tocou a parede novamente.
– ‘Petrificação’. ‘Paralisação’. ‘Dissolução’.
Com um pouco de tempo, o túnel inteiro recebeu uma onda de luz azulada, sumindo na escuridão adiante. Quando Grison olhou ao redor, nenhuma delas parecia prestes a desabar. Era suficiente por hora. Ele continuou em frente.
Quase vinte minutos andando até chegar em uma imensa porta de ferro. Mas, Grison não a empurrou. Muitos dos Arcanos sempre diziam que quando uma porta grande como aquela era colocada, não era para proteger nada. Era uma armadilha.
– Feitiço de Saimon: ‘Cristal Zul’.
Uma crosta de gelo saiu das pontas de seu pé direito e tomou o portão. Segundos depois, cristalizado, ele explodiu em fragmentos para dentro. Grison encaixou um anel em seu dedo enquanto entrava. Não era mais um túnel, era um salão gigante, com tochas espalhadas por todos os lados, enquanto uma mesa era iluminada por um orbe branco no centro.
As pessoas lá dentro encararam o invasor rapidamente. Eram quase cem deles, todos usando faixas no corpo, sujos e magricelos. Ninguém fez questão de se levantar ou rebelar, Grison via os olhos esperançosos deles.
Na mesa do centro, uma mulher tinha seus dois braços esticados e presos por correntes, além de uma mordaça. Estava nua, e adormecida. Grison inspecionou cada um deles, não eram inimigos, não eram nem mesmo hostis.
Eram mineradores?
Ele virou para um dos homens que apontou rapidamente para a porta atrás de Grison.
– Atrás de você.
Com um estalar de dedos, sua mão foi envolvida em uma energia azulada e seu giro foi rápido, curvando a perna. O imenso machado desceu e colidiu contra sua palma, o choque fez o solo abaixo de Grison rachar um pouco, mas não quebrou.
A criatura era grande, sendo ainda maior que o túnel. Grison conhecia magias de aumento de tamanho, mas nunca para algo tão gigante. Era um ogro, verde e com brincos e piercing. O que era difícil de acreditar era que ele erguia o machado com uma único braço. O outro tinha sido decepado.
– Você… estar em minha… casa – o ogro falou a língua humana travando aos poucos. – Sair agora.
Grison recuou pulando e respirou fundo.
– Consegue me entender, ogro? – perguntou, ainda com uma das mãos imbuídas de mana. – Estou aqui porque um objeto foi roubado.
– Não – o grito foi raivoso e cheio de ira. – Nada dele. Tudo meu.
– Então, você não roubou? Quem roubou?
– Ele. O Miserável.
Grison travou. Esse apelido.
– Onde o Miserável está? – perguntou rapidamente. – Me diga e não farei nada a sua casa.
O ogro não respondeu com palavras. Ele segurou o machado novamente e ergueu. O fluxo de mana do corpo dele fluiu, subindo para a arma. Era um ataque físico imbuído em magia. Grison estava de costas para as pessoas. Esquivar mataria todos eles.
– Preferiria não te machucar, ogro. – Ele ativou o anel de seu dedo indicador. O brilho vermelho foi mais forte que as tochas ao redor, chamando atenção do monstro. – Kaimor: Trono Gélido.
O gelo pulsou para fora de seus pés. Cerca de um metro atrás de Grison até o portão derrubado por ele, cobrindo claramente o espaço onde o Ogro estava. O gelo tomou o teto e o solo, sendo ainda mais complicado se manter de pé, o monstro enfiou o pé no chão para se equilibrar.
– Aqui, eu tenho total domínio de minhas capacidades. – Ele retirou o anel do dedo. Acima da cabeça do Ogro, centenas de círculos mágicos criados foram apontados. Todos complexos demais para a criatura verde entender, mas para sentir que um movimento em falso e sua vida seria perdida. – Odeio brincar. Agora, me fale sobre o Miserável.
I
– Quer mesmo fazer isso? – Foton questionou com estranheza. – Antes disse que era errado.
– Se você esperar muito, eu vou mudar de ideia. – Haivor esticou o braço e usou uma faca para fazer um corte raso sem mudar a expressão. Não era nada um ferimento daqueles. – Comece com ferimentos leves.
O rapaz juntou as mãos em cima da ferida, seus olhos cravados no livro e começou a ler rapidamente suas próprias anotações. Então, uma energia verde desceu lentamente até o ferimento. Os dois observaram a reação da carne e como estava se fechando com facilidade. Foton sorriu rapidamente, mas seus olhos reviraram na mesma hora.
Haivor o segurou. O rapaz estava pálido, do nada.
– Acho… que foi… ótimo. – Foton suspirou cansado. – Não consigo ficar sentado.
Haivor deitou Foton no chão do quarto e pegou seu livro. O outro ficou encarando o teto, com um sorriso no rosto.
– Consegui – Foton disse pra si. – Fiz algo incrível.
– Está longe de estar perfeito. Você levou em conta a conversão da mana para curar um ferimento? Aqui está dizendo que você não tem certeza da porcentagem e não sabe como o efeito físico seria no usuário.
– Por isso queria testar. Tenho absoluta certeza que a mana deve ser usada em primeira escala, mas que a energia vital é dependente também. – Arfava com tanto afinco e prazer que fechou os olhos. – Obrigado, Enigma.
Haivor não ligou para ele e continuou lendo. As anotações eram todas perfeitas. O uso da mana para curar, o aquecimento de partículas e como eles realinhava o tecido corporal para uma regeneração instantânea. Fatores como o biotipo da pessoa, o tipo sanguíneo ainda era um desconhecido, mas as suposições eram concretas e objetivas.
Os estudos de Foton eram uma trajetória de um novo tipo de magia.
Um erro no meio das anotações, Haivor lera. A magia é usada como conversão da mana e o usuário. Meus experimentos não chegaram a nenhuma conclusão prévia, mas creio que deve seguir o mesmo rumo.
Uma nova magia e um mesmo rumo?
– Acho que você deve dar uma olhada aqui de novo – Haivor apontou para o livro. – Posso sugerir algo que li faz um tempo atrás?
Foton sentou-se rapidamente, encarnado o livro.
– O que seria?
– Um dos Arcanos mais poderosos dizia que a magia vai além da mistura da mana com a pessoa, ela também é um fator interno. Se sua magia usar muito do seu corpo, você acaba assim – e mirou os olhos para ele. – Um corte de três centímetros e quase morrendo de cansaço.
– Ainda não entendi.
– Sua conversão está errada. – Haivor pegou um lápis e circulou o número 50. – A mana e o corpo não devem dividir as partes. Coloque 70 e 30, e seu corpo não vai ficar tão ruim.
Foton pegou e deu uma lida. Não demorou nada, mas ficou em silêncio o tempo todo.
– Você leu isso aonde mesmo?
Haivor não iria contar que as lembranças do Absolver algo parecido era usado. As criaturas demoníacas tinham uma séria de retirar a vitalidade das pessoas para ficar mais e mais fortes. Usavam a magia em quase 90%.
Estava sendo modesto nas explicações porque Foton poderia muito bem curar uma hemorragia interna usando os 90%. Não daria a resposta para ele, até porque não seu experimento.
– Apenas li. Eu não me lembro quem era.
– Isso faz total sentido. A mana é usada para auxiliar o corpo, não o contrário. Se eu usar uma base maior, então menos danos. – Ele coçou a testa. – Posso testar até mesmo o limite. 90 para 10.
Haivor ergueu a sobrancelha, assustado. Nunca esperaria que o rapaz chegasse a conclusão de um Absolver tão rápido.
– Acho que devo fazer mais desses experimentos, mas… – encarou a si mesmo. – Estou exausto. Obrigado por ter me ajudado, Enigma. Eu fico muito agradecido.
– Contanto que não saia por ai falando que conseguiu curar uma pessoa, vou aceitar.
– Não vou. – Foton se levantou com seu livro em mãos. – Está quase na hora do almoço.
A porta foi aberta violentamente. Esfinge tinha achado os dois. Suava bastante.
– Ordem Arcana 334 – ela disse, rapidamente. – Agora.
Foton encarou Haivor que já estava levantando apressado.
– O que é isso? – o rapaz perguntou. – O que é a Ordem?
– Ataque desconhecido a Torre Arcana. – Haivor guardou os livros de volta no anel e Foton fez o mesmo. Saíram pelos corredores junto de Esfinge. – Como nos achou?
– Pedi ajuda aos instrutores. Vocês são os únicos nos alojamentos. – Subiram as escadas e saíram pela porta da frente. A confusão do lado de fora era recheada de gritos e ordens. Os Adesir ordenavam que os trabalhadores saíssem as pressas para as caravanas e carruagens.
Ao saírem, viram de um relevo alto, onde a Torre Arcana estava, o mar. Os navios eram todos pesados, e altos, quase duas vezes maiores do que os Adesir usavam para navegar. E o céu estava colorido, ataques diversos decaíam em um escudo criado pelas duas torres da cidade portuária.
– Está ai – Hambo se aproximou com pressa. – E os dois meninos do Grison. Ótimo. Ele me deixou uma mensagem para os dois. Se protejam e ajudem os demais.
– E onde ele está? – Foton questionou. – Ele disse que ia até a montanha.
– E está lá. Parece que o que ele foi fazer lá está ligado a esse ataque. – Hambo deixou que várias pessoas passassem por ele até uma carroça. – Temos pouco tempo. Todos os aprendizes tem a responsabilidade de ajudar, então, levem eles em segurança para a próxima cidade.
– E os Adesir?
Um brilho poderoso emergiu pelo céu. Hambo criou três círculos mágicos ao redor de seu braço e explodiu a gigante esfera antes dela tomar metade do caminho.
– Ordem Arcana. Ficamos e protegemos até que todos estejam a salvo – respondeu. – Temos capacidade para segurá-los aqui. Ajudem as outras pessoas. A barreira só protege contra magias de longa distância, quando os invasores começarem a invadir, teremos que ter recuado o maior número de pessoas.
– Certo, mestre. Onde está Kalisso?
– Ela já foi. Vão para a cidade de Out. Lá encontrarão as pessoas que irão ajudar. – Ele tirou um anel do dedo, encarou Esfinge e entregou a ela. – Me entregue quando eu voltar. Use com sabedoria.
Ela apertou o anel e concordou seriamente.
– Melhor voltar inteiro, velhote.
Hambo deu uma risada e saiu na direção dos outros Adesir. Ele era forte, como Grison, com uma personalidade muito crível. Cada Adesir era tão estranho, mas suas auras eram confortáveis. Mesmo durante um ataque, ele passava confiança extrema.
Haivor queria aprender a passar essa confiança aos outros.
– Vamos – um dos condutores gritou da carroça. – Vocês são os últimos.
Os três foram direto para a carroça e subiram. Com eles, cerca de três famílias e um casal de idosos, que se abraçavam fortemente. Eram pessoas normais, sem a capacidade de se protegerem. Haivor ficou na ponta e Foton ao lado dos velhinhos.
Os cavalos receberam o chamado do condutor e começaram a ir em frente. Desceram a rua, não muito distante de outra locomotiva. Estavam quase chegando a estrada plana quando um grito agudo soou de dentro das ruas laterais da cidade.
Haivor encarou ao redor vendo que em cima de uma das casas mais altas, um homem encapuzado olhava para baixo.
– É um Adesir? – Foton questionou segurando a borda da carroça. – Vai nos vigiar?
– Duvido – Esfinge respondeu. – Aquelas roupas pertencem aos CBK.
Foton a encarou mais confuso do que antes.
– E o que é isso?
– É um grupo de Mago que atua nas ilhas nortenhas. Eles sempre estiveram em batalha contra os Adesir, mas depois da Batalha de Jotun, pararam. Naquela época, mais da metade dos Aprendizes dos Adesir foram para o lado deles.
– Que vira-casacas.
Haivor não gostava nada do tom do homem. Mesmo distante, ele não se movia. Estava apenas encarando, como se escolhesse sua presa. Quando mais tempo ficassem parados ali vendo-o, mais tempo daria para que pudessem saber o que os Adesir prepararam.
E como ele tinha chegado a cidade tão rápido?
– O que vamos fazer? – Foton perguntou. As pessoas ao redor deles já estavam encolhidas de medo. – Eles vão chegar aqui em segundos.
– Deixe comigo. – Havior olhou para o colega. – Se alguém se aproximar, use todos os feitiços possíveis.
– Você vai até lá? Não, não. Fique e espere.
Haivor já tinha marcado aquele homem. Seu instinto gritava para se mexer ou seria morto. Se Grison estivesse ali, já teria derrotado o inimigo com sua postura e confiança. Deveria fazer o mesmo.
– Se eu ficar, ele vai matar todo mundo. – Ele tocou em seu ombro. – ‘Disparo Multiplicado’.
Antes de o comando fazer efeito, ele saltou da carroça. Uma imensa explosão soou de suas costas e ele foi atirado na direção proposta. E em sequência, uma outra explosão de ar o lançando mais rápido do que antes.
O homem foi pego de surpresa. A distância entre eles era mais do que 150 metros. Haivor encurtou aquilo em dois segundos. Esticou o braço e socou o rosto do Mago, o lançando pelo teto. A pressão do soco deixou a mão de Haivor dolorido. Usando ‘Indolor’, eliminou a sensação.
De cima, conseguia ver cada uma das carruagens de transporte. O terreno era irregular, o que facilitava ver quem estava mais a frente. E também era fácil ver onde cada Mago esperava. Usavam os maiores edifícios para observarem a rota. Agora, seus focos foram direcionados para Haivor, em cima da ultima casa.
– Grailor – uma voz saiu do manto do homem caído. – Está ouvindo? Grailor? O que houve?
Haivor o virou e pegou um anel. Estava brilhando. Ele pegou para si e pôs no dedo.
– Grailor? O que houve? – a voz perguntava do outro lado, seriamente. – Ouvimos um estrondo na comunicação.
Haivor encostou no anel. Sua magia ‘Leitura’ percorreu todo o anel. A sua criação, seus moldes, seus comandos e sua ligação. Ao piscar os olhos, o cenário mudou. Linhas vermelhas estavam esticadas no ar diretamente para um dos que estava conectado aquele objeto mágico.
Estavam esperando por algo. Haivor abaixou e encostou no Mago.
Grailor Altib, um Mago de Segundo Domínio cuja habilidade mágica era a água. Ignorou sua história, gravando suas habilidades e suas memórias. Estavam ali por um único motivo, descobrir onde estava o Cubo Maníaco. Um objeto que era claramente feito de pura mana por um Arcano centenas de anos atrás.
Era uma das mais poderosas armas do mundo atual.
– Grailor?
– Grailor está morto, senhor Yons. – Haivor ficou de pé na ponta do detalhado. O peito de Grailor tinha sido aberto por ele. – Agora, resta somente vocês seis.
– Merda. Retornem agora, fomos descobertos.
Haivor usou ‘Disparo’ se jogando para o ar. Ele cruzou cem metros e começou a cair. A linha vermelha estava marcando outro telhado. ‘Faísca’ ativada e arremessada. O Mago desviou, mas antes de conseguir criar um ataque, Haivor caiu em cima dele.
‘Desmaio’ jogado na cabeça do homem. Ele tombou a cabeça para trás. Haivor recolheu a informação do homem com ‘Leitura’ e encarou a outra linha vermelha, essa mais perto. O Mago o encarou do telhado da casa. Girou a mão no ar várias vezes. O telhado ao redor dele começou a se deformar e subir, formando estacas pontudas.
Quando ele tentou arremessar, Haivor aplicou ‘Molde’.
A placa de terra perdeu sua força, estagnando no ar em formato de água. Ele mudou a composição do elemento facilmente, a fazendo molhar o homem. Com um sinal de ‘Molde’ novamente, transformou a água congelando o Mago completamente no chão. Erguendo três faíscas ao seu redor, atravessou-o com facilidade.
– Chefe, Grailor, Mecn e Sandora morreram – uma segunda voz saiu, meio atenta. – Ele sabe onde estamos. Temos que recuar, agora.
– Vão. Eu vou segurá-lo.
Haivor pegou uma pedra de cima do telhado e olhou para as duas linhas no ar. Ainda estavam paradas, mas longe demais. Chegar lá seria difícil. Se quisesse pegá-los, teria que ser agora.
– Vocês não vão a lugar nenhum. ‘Massa Triplicada em Raio’.
Um Comando de cadeia terciária. Não era penoso para seu corpo, mas duvidava que o outro lado achasse isso. Quando jogou a pedra, ela criou um tufão no meio do espaço, aumentando sua velocidade e pressão. Ultrapassou uma das casas, quebrando sua parede e explodindo a torre de uma igreja.
A segunda lançada estourou três casas antes de atingir os alvos. As duas linhas sumiram de sua visão, como aconteceu com as outras quando seus usuários morreram. Faltava somente uma.
– Você matou todos eles – Yons disse. – Eu vou destruir você.
Haivor estava em outra casa, encarando abaixo. O Mago estava ali, olhando pra cima enquanto seus olhos ferviam de um ódio imensurável. Haivor tinha matado cinco pessoas, e não sentiu absolutamente nada.
– Vou te matar, Adesir.
– Não sou um Adesir, idiota. – Haivor ergueu a mão. Dezenas de faíscas esticas se formaram sem um círculo mágico. – Sou um aprendiz ainda.
A face do homem decaiu.
– Um aprendiz? – Ele ergueu a mão e uma imensa quantidade de mana foi liberada de seu corpo ao mesmo tempo.
Haivor tinha visto algo assim quando Grison os treinou. Era uma quantidade alta para criar uma magia ou um feitiço altamente destrutivo. Antes de fazer seu movimento, usou ‘Paralisação’ em cada ‘Faísca’.
– Você não passa de um rato, então – Yons gritou. – Esse lugar já está destruído. Nada mais resta para os Adesir. Meu mestre fará com que sejam destruídos, mas farei questão de levá-lo para o inferno comigo.
– Te encontro lá.
– Feitiço de Calamidade: ‘Bomba Escalar’.
Sete disparos subiram do chão velozmente. Haivor foi pego de surpresa. Ele usou as ‘Faíscas’, mas elas desceram lentas demais. O choque causou sete explosões gigantes, varrendo uma área de quase quarenta metros completas e a onda de ar levou mais algumas.
Ele voou para outra casa batendo contra uma parede e atravessando-a. Rolou para dentro e caiu de costas. A dor tinha sido dissipada com o comando, mas algumas partes já estavam sofrendo com o excesso. Seu braço direito, algo o pressionava fortemente. Abriu os olhos. Yons o pisava, mirando seu dedo na testa de Haivor. No entanto, a força que fazia para se manter de pé era monstruosa já que em seu peito cerca de cinco faísca haviam atravessado eles..
De sua boca escapava sangue, e seus olhos quase não conseguiam se abrir de tão vermelhos. Ele puxava o ar pesadamente sendo possível ouvir sua respiração travada. Estava prestes a morrer.
– Vou levá-lo… comigo – Yons falou fracamente. – Vai morrer aqui.
Os dois se encararam. Aquele era um olhar furioso, cheio de ódio e determinação. Não estava mentindo.
– Acha que consegue isso?
Puxando a mão de debaixo do pé dele, Haivor se arrastou até encostar na parede da casa. Yons fazia um careta, tentando se mover, mas quanto mais tentava, mais sangue fugia de sua boca.
– Um comando – Haivor explicou. – ‘Paralisação’. Apliquei nas faíscas assim que te vi. Seus subordinados já tinham visto boa parte das suas habilidades, além daquele feitiço. Você aciona e no meio da explosão chega até o alvo, só não sabia que seria paralisado assim que tentasse.
– Como fez isso?
– Dez faíscas explodiram suas bombas, o restante desceu depois. Dividi o ataque em dois. – Haivor pressionava a costela direita, estava doendo bastante. – Você só está um passo de morrer, mas não pode fazer nada.
Yons continuou parado, sua respiração pesava ainda mais. Durante um minuto, os dois ficaram olhando para o outro, até que o coração do Mago parou. Assim que ele morreu, seu corpo tombou.
Haivor se deixou relaxar, deitando. Soltou uma lufada grande de ar. O comando ‘Indolor’ foi desfeito, seu braço e costela gritaram contra ele. Teve que respirar profundamente. Tremendo, encostou na costela.
– Foton, me perdoe.
A luz branca emanada de sua palma ressoou.
Mudando a textura e porcentagem da mana para o corpo, incluindo as lembranças que obteve do Absolver, começou a curar rapidamente suas feridas. Alivio percorreu seu corpo. Quando terminou, fez o mesmo com o braço direito.
A magia de cura era realmente muito eficaz e usando as propriedades corretas, conseguia curar um ferimento em menos de dez segundos. Já estava de pé, recolhendo a informação de Yons. Viu todas as conversas com seu mestre e seus feitiços.
Quase nenhum dos Magos era especialistas, então, seus repertórios eram muito limitados.
Se estavam atrás do Cubo Maníaco realmente, esse pequeno batalhão era apenas um infiltrado na cidade. As forças reais dos CBK deveriam estar apontados nos navios. Era uma patrulha de reconhecimento que deram as caras cedo demais.
Os planos deles deveriam ser apenas entender para onde os moradores seriam levados e depois fazer um reconhecimento menor em relação as defesas da próxima cidade.
Haivor tirou os anéis que Yons usava. Um deles era para falar com seus subordinados, não tinha mais uso. Jogou o que tinha com ele fora também. O segundo era mais rebuscado, com um desenho circular. Leu perfeitamente seus usos, eram os mesmos que os outros, com apenas algumas pessoas também vinculadas, conversando.
– Parece que Yons morreu – a voz rouca disse. – Mudança de planos em terra?
– Continuem atacando a barreira dos barcos. Os moradores estão buscando refúgio na cidade chamada Out. Deixem que todos os aprendizes sejam levados para lá. Nossos planos são mais a leste.
– O Miserável ainda está na ilha?
– Não sabemos – uma mulher respondeu. – Mas, se atentem. Se alguém conseguiu derrubar Yons, não deve ser um Aprendiz. Todos os Adesir deveriam estar focados na defesa aérea da cidade.
Haivor não perderia sua chance. Era sua entrada.
– Nem todos estão. Yons morreu e vocês serão os próximos.
O silêncio repercutiu ao redor deles.
– Sei onde estão – a linha azulada estava em movimento, e pararam subitamente. – Não precisam se apressar, irei encontrá-los.
– Ele está usando o anel de Yons – a mulher disse, irritada. – Não deveria funcionar depois que ele morre. Como isso é possível?
Haivor parou no buraco que fez na parede, as duas linhas azuladas estavam juntas, mas eram muito densas. Se levasse em conta de que essa poderia ser a ligação com o anel, então, a força deles seria maior que as dos homens de Yons.
As outras três linhas estavam na direção do porto.
Duas pessoas estavam comandando o ataque e outras três seguravam os Adesir.
– Filho, é melhor que saiba que acabou de sentenciar a sua vida.
– Esse mês as pessoas me disseram bastante isso. – Haivor usou ‘Voar’ e começou a ir de telhado em telhado. – Vocês dois que estão juntos, fiquem ai. Estou chegando.
A mulher deu uma risada.
– Essa é a primeira vez que estou interessada em um Adesir, Kralus. O que acha de esperar?
A voz rouca respondeu:
– Será interessante ver como ele luta. Yons não seria idiota em morrer para qualquer um. Estou esperando, filho.
– Me chamo Enigma, senhor Kralus. – Haivor deu um sorriso. – E a senhora Lina, esse vestido vermelho fica bem em você.
Os dois nada disseram novamente, mas permaneceram parados. Haivor usaria as informações de Yons e de qualquer um para responder a altura. Grison havia ensinado que uma oportunidade só se faz quando uma dificuldade aparece.
Estava na hora.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.