Haivor tinha acertado seis Magos em seguida, saltando e usando comandos. Foton socou o ar quando viu um deles sendo congelado e morto. Depois, casas foram derrubadas e sangue voou por causa de pedras. No final, uma explosão gigante.

    Nessa hora, ele prendeu a respiração. A choque de ar que chegou neles ainda balançou a carroça. A pressão no centro deve ter sido poderosa.

    – Ele está bem – Esfinge disse, o confortando.

    – Claro que está – falou fortemente, orgulhoso. – Enigma tem a capacidade de superar meu mestre, tenho certeza que ele está bem e vai voltar em breve.

    Estavam já saindo dos limites da cidade, ultrapassando as muralhas para os bosques quando viu um corpo tomando altura e indo em direção a leste, para as montanhas. Era ele.

    – Ala, eu disse que ele estava bem.

    Esfinge olhou bem.

    – Está muito longe, como sabe que é ele?

    Foton só manteve o sorriso no rosto.

    – Sei que é ele.

    I

    – Quer mesmo esperar por ele? – Lina perguntou a Kralus.

    O velho Mago já estava cansado de ter que caminhar naquela imundice de ilha. Duas semanas se escondendo só para ser achado no último momento. O plano de Yons tinha sido um fracasso, como sempre.

    – Pode ir, se quiser – respondeu, sentado em uma pedra. Segurava seu cajado em uma mão e o livro de magia na outra. – Sou suficiente para segurar um Adesir aqui. Eles são lerdos e estamos em maior número. Ache o Miserável e o Cubo e volte. Não precisa esperar por mim.

    Lina acenou com a cabeça. Usou uma magia de velocidade e saiu em disparada.

    – Eles estão ficando cada vez mais espertos – falou para si, e ergueu a cabeça. – Você disse que se chamava Enigma, não era?

    O homem estava no alto, do céu, descendo lentamente. Postura fechada, de braços cruzados e um rosto confiante.

    – Esse é o meu nome.

    Era um Adesir, no final das contas, arrogante por natureza.

    – Apresentações pessoais, sou Kralus Kais. – Se levantou. – Podemos começar?

    – Pensei que Lina estaria aqui. – Ele olhou ao redor, e parou exatamente onde a Maga tinha partido. Magia de Localização? – Lá está ela, indo para a montanha. Não deveria ter ido, vai encontrar uma pessoa pior do que eu.

    Havia alguém na montanha?

    – O que quer dizer?

    – Não importa. Meu foco está aqui.

    Faíscas esticadas apareceram ao redor dele sem mesmo ter falado um comando. Essa era uma habilidade boa. Não conhecia muitas pessoas que conseguiam produzir um comando sem falá-lo. Esse Adesir não era ruim.

    Sua arrogância parecia justificável.

    – Vejo que terei uma boa disputa – Kralus falou. Ele inclinou o cajado apenas um pouco. – Vejamos se você é tão bom quanto penso.

    As faíscas ganharam pressão e caíram sobre ele. Kralus abriu o livro e uma barreira o cobriu. O ataque foi todo absorvido facilmente. E devolvido no momento seguinte.

    O Adesir não saiu de sua posição e esperou. As faíscas todas pararam e se dissolveram no ar. Ele estava comandando sem falar e sem se mover. Seu nome realmente fazia jus. Kralus lutara contra muitos Adesir em sua vida, até mesmo teve a ajuda de um deles, mas nunca encontrou alguém que lidasse com comandos dessa forma.

    – Minha vez – ele disse. – Conjuração: Chuva de Meteoro.

    Enigma olhou para cima, nada assustado. Três esferas estavam indo em sua direção, pegando fogo e pressão, rachando o ar. Poderia destruir metade da ilha se caísse.

    – Acha que eu cairia num truque barato desses? – Ele estalou os dedos.

    Uma onda sonora se propagou ao redor. Os círculos mágicos abaixo dos pés de Kralus se desfizeram na hora, e os meteoros sumiram em seguida.

    – Magia de ilusão – Enigma nem mesmo tinha hesitado. – Eu vejo através disso. Sua magia é uma aparição conjunta de elementos.

    – Você tem habilidade. – Kralus fez o livro mudar de página. – Pensei que estávamos apenas nos cumprimentando com algumas magias. Aquecer é importante para um idoso como eu.

    – Gostei de sua barba. – Enigma descruzou os braços. – Acho que vou deixar a minha crescer. ‘Disparo’.

    Kralus viu o homem se tocar e disparar em sua direção. Então, uma crosta de gelo o cercar pelos dois lados. Simplesmente girou o corpo para trás, e ergueu a mão.

    ‘Fogo’.

    Uma barreira de fogo circular cresceu ao redor dele. Nada desesperado, esticou a barreira ao redor, queimando a grama e o que estava ao seu alcance. Olhou para cima, vendo o rapaz usou as faíscas novamente.

    Kralus ergueu o cajado com sua ponta brilhante.

    – Desça, ‘Gravidade’.

    A pressão culminou no ar onde Enigma estava e o lançou direto para o solo. Antes de bater contra o chão, ele parou. Levantou-se rapidamente, como se não estivesse mais sendo afetado pelo comando.

    Quais comandos ele está usando para conseguir esses efeitos?

    Kralus perdeu o foco por um segundo e não viu que as crostas de gelo ainda estavam o seguindo. Ele pisou em uma dela e sua perna foi congelada na hora. Ele parou o comando usando ‘Dissolução’. Olhando para frente, depois, Enigma apontava sua mão para cima, o céu estava mudando continuamente, as nuvens se fechando.

    – ‘Isolante’ – Kralus tocou em si.

    – Acha que isso pode te ajudar? – Enigma sorriu.

    Kralus sentiu um arrepio subir sua espinha. Mesmo não tendo que se preocupar, o olhar e a ferocidade que o outro estava criando sobre si, não parecia um Adesir. Eles não lutavam dessa maneira, nem mesmo quando sob pressão.

    Enigma, quem tinha sido o mestre dele?

    – ‘Molde’.

    Kralus não se alterou, mas então, viu que a água que tinha sido dissipada do gelo se transformou em ferro líquido. Seu pé afundou, mas antes de conseguir tirar, se solidificou. A terra subiu pelos dois lados e girou ao redor dele, criando uma cuia com ele no centro.

    – Feitiço Ahamor: Ligação de Aquecimento.

    Mais uma vez, Kralus se surpreendia. Ele bateu o cajado no chão e o ar mudou. A pressão esmagador de dentro o libertou, mas seu pé estava agarrado ao chão ainda. Mesmo usando os comandos básicos, ele não conseguia se libertar.

    – Conhece a eficiência de um Comando Triplo? – Enigma perguntou, mas seu rosto não era mais aquele entusiasmado de antes. Ele estava cansado. – Você não vai conseguir desfazer isso. Não agora que o feitiço fez efeito.

    Kralus olhou para o pé novamente. Estava engolido e várias símbolos circulavam ao redor dele.

    – Esse não é o Feitiço de Ahamor.

    – Ora, você entendo rápido. – Ele abaixou o braço. – Nem mesmo é um feitiço. Eu simplesmente fiz seu comando ‘Isolante’ ser desfeito. Só posso fazer isso usando uma ligação de aquecimento. Usei muitas palavras para te confundir e você caiu como um pato. Sua sede pelo desconhecido te traiu agora.

    O raio desceu violentamente soprando a trovoada ao redor com tanto impacto que repercutiu em metade da ilha. Kralus ergueu o cajado e a ponta brilhou ainda mais.

    – Conjuro o Ateor.

    O raio se uniu a ponta do cajado sendo absorvido rapidamente. Observava Enigma ainda de cabeça erguida, apontando sua mão para ele como um Imperador prestes a sentenciar um criminoso. Ah, ele lembrava de onde era aquele olhar, daquela postura.

    Muitos anos atrás, tinha sido avisado pelo seu mestre sobre esse tipo de pessoa, mas nunca encontrou pessoalmente. Eram os que não tinham nada a perder, e por isso, eram extremamente perigosos.

    – ‘Reversão’, ‘Criação’, ‘Potencialização’.

    A cadeia de comandos triplos. Kralus conseguiu suprir todo o raio, mas seu pé ainda estava preso. Só poderia atacar ou defender dali. Apontou o cajado na direção de Enigma.

    – Magia Arcana: Dragão de Luz.

    A magia era mais rápida que os comandos. O imenso dragão saiu de seu cajado com uma força que o lançou para trás. O tranco era forte demais, a carga elétrica dos relampagos tinha sido grande. O ataque devolvido seria maior ainda.

    A outra mão de Enigma se elevou e Kralus presenciou algo que nunca antes visto.

    – ‘Redirecionamento’, ‘Pulso’, ‘Aumento de Velocidade Dupla’.

    Três comandos usados em cada mão, sendo um deles de palavras triplas. No total, seis comandos. Ninguém no mundo teria a capacidade de realizar algo parecido, o corpo de uma pessoa não teria a capacidade, seria quebrado ao meio.

    Era impossível.

    O dragão mudou sua direção para cima, subindo rapidamente até fazer uma curva de volta para o solo. Kralus estava claramente vendo a mudança de postura do seu ataque voltando contra ele, ganhando velocidade e força, aumentando e sendo recheado de mana.

    Uma magia sendo dominada por uma cadeia de comandos. Ele engoliu em seco. Tinha que se defender a qualquer custo, fugir, qualquer coisa, não poderia mais ficar ali. Ele largou o livro, flutuando no ar, e foi para as páginas finais.

    – Magia de Localização: ‘Atemporal’.

    Atrás dele, uma esfera negra cresceu. O dragão estava descendo e uma imensa bomba de água estava se formando das mãos de Enigma. Um ataque dupla de escala calamidade. Kralus não poderia desviar dessas magias. Ele se jogou para trás.

    Ao cair de costas, a madeira rangeu. Ele abriu os olhos, encarando o céu nublado e o cheiro de sal. Ergueu a cabeça para ver que estava no navio onde chegou. E então, um choque no meio da parte florestal da cidade, um tufão de água misturado com raio crescendo e ganhando força.

    Ainda deitado, respirou pausadamente enquanto via tal união mágica sendo envolvida.

    – Ele é um monstro.

    – Mestre Kralus – Giani o chamou pelas costas, assustado. – O que está fazendo aqui? Deveria ir atrás do Cubo.

    – Um Adesir me obrigou a recuar. – Ele teve ajuda para se levantar. – Nunca pensei que alguém poderia fazer aquilo.

    Ainda chocado com a situação, Kralus continuou vendo o tufão elétrico ranger por mais dez segundos.

    – Ele teria me matado com esse golpe.

    Giani ficou em silêncio, mas a estrutura da magia sendo usada longe era realmente assustadora.

    – Lina ainda está lá – Kralus disse. – Se ela for encontrada, vai-

    – Ora, senhor Kralus – era Enigma, dando uma leve risada. – Eu nunca esperaria que o senhor fugisse. Magos tem habilidades realmente impressionantes. Espero vê-lo novamente, em outra hora.

    Não tinha sentido responder a provocação. Era uma derrota amarga, uma das poucas na vida dele. O Adesir tinha derrotado ele com um poder esmagador, nem mesmo tendo sido afetado por suas outas magias.

    Achou que seria capaz de prolongar a luta até que Lina voltasse, mas nem isso. A pressão causada por ele, e nem mesmo uma magia de alto nível tinha sido usada. Kralus tinha subestimado o oponente e a si mesmo.

    Sua experiência e capacidade certamente poderia ter eliminado o Adesir, mas aquela cadeia de seis comandos. Viu claramente que era possível. O corpo só poderia aguentar até cinco.

    – Quer que usamos o Orbe para trazer Lina de volta, mestre?

    – Sim, agora. – Kralus ordenou. Ele deu as costas para ilha. – E façam retirada. Perdemos nosso elemento surpresa. Avisem aos outros mestres, teremos que marcar uma reunião. Descobri algo importante.

    II

    O ataque cessou repentinamente. Depois de estranhas explosões em vários lugares da ilha, os Magos começaram a recuar aos poucos. A barreira que defendia a Torre Mágica estava quase sendo derrubada, porém, os projetis foram suspensos.

    Os Adesir pensaram que era um armadilha para que avançassem. Os Magos nunca iriam bater em retirada sem que um dos seus objetivos tivesse sido alcançado. Então, o que realmente conseguiram?

    Quando os navios foram embora, os Adesir relaxaram. Estavam mesmo partindo. A ofensiva dos Magos revelava suas capacidades mais agressivas do que da última vez. A Torre Mágica estava em perigo, novamente, sua localização deveria mudar, como acontecia sempre que um ataque era feito a ela.

    Haveria uma reunião entre os Adesir e também pelos Magos.

    O dia estava chegando ao fim quando Grison surgiu para fora da caverna. Criou uma chama ao seu lado para iluminar o caminho e foi em frente, adentrando a mata. Cerca de dez minutos depois, pisou em um chão mais duro. Aumentou o brilho da chama.

    A floresta que deveria estar ali foi dizimada, tudo era um conjunto de terra com rachaduras e buracos em diversas partes. Uma batalha árdua tinha sido travada ali fazia não muito tempo, mas a mana no ar, Grison reconhecia.

    – O que ele estava fazendo aqui?

    – Mestre – a voz soou em um sussurro. – Aqui.

    Grison virou a cabeça para ver seu aprendiz caído de costas no chão. Segurava um pingente fortemente com sangue escorrendo de seus olhos e narizes. Uma estranha energia verde rondava em suas pernas e braços, e estavam menos piores do que o rosto mono colorido.

    – Enigma. – Grison correu até e se abaixou, muito preocupado. – O que aconteceu? Quem fez isso?

    – Eu não tive opção. Ele era muito forte.

    A mão no peito se abriu e ele deixou o pingente para Grison, que o reconheceu imediatamente.

    – Isso é do Kralus – disse, inconformado. – Você confrontou ele diretamente? Ele fez isso com você?

    – Não. – Enigma encostou a cabeça na pedra atrás dele. – Eu tive que fazer um comando acima do que meu corpo aguenta.

    Grison balançou a cabeça. Retirou um anel do bolso e o colocou. A mana ligou rapidamente os atributos do anel, redirecionando sua ligação até a Torre Mágica.

    – Retro, preciso de sua ajuda.

    Ninguém respondeu imediatamente.

    – Retro, preciso que você interceda por ele. Temos um Pingente de Poko aqui.

    Nada.

    Grison já irritado xingou. Olhou para seu aprendiz novamente. Os ferimentos estavam sendo curados, porém, nada rápido. O corpo estava se deteriorando em uma medida maior do que a cura. Aquela aura era algo que nunca tinha visto, mas estava fazendo um trabalho de retardar bem as feridas.

    Enigma tinha criado isso? Não. A mana era reconfortante e também familiar. Grison conhecia alguém que fazia experimentos desse tipo. Foton.

    – Retro, se você não pode me ajudar, traga Foton para cá agora – Grison gritou para o vazio, porém, estava mirado na direção da Torre Mágica. – Se não fizer isso, juro pelos deuses e demônios que nunca mais me verá pisando nessa ilha.

    Algo no ar mudou, uma estranha ondulação que Grison sentiu. E então, Foton surgiu em um piscar de olhos. Ele caiu sentado completamente desesperado, segurava seu livro contra o peito e respirava pesadamente.

    – O que tá acontecendo? Por que vim para aqui?

    – Concentre-se, Foton – Grison o chamou alto. – Preciso que me ajude.

    O rapaz podia estar o mais desesperado possível, mas ao ver o estado de Enigma, o sentimento sumiu na mesma hora. Ele se atirou rapidamente para o lado do amigo e do mestre, encarando. Grison esperou que ele analisasse e se assustou quando viu a aura. Era realmente ele quem tinha feito, Grison estava certo.

    – A mana está respondendo bem ao corpo dele, está curando em uma velocidade rápida, mas ela não é suficiente para consertar tudo antes de passar para o próximo local. – Foton tocou o braço de Enigma que gemeu de dor na mesma hora. – Isso tá horrível. A pele está se regenerando, mas os músculos e ossos vão começar a se desfazer.

    – Quanto tempo ele tem? – Grison questionou.

    – Não sei, mestre. Eu não tenho como fazer nada com ele assim. – Foton coçava a testa rapidamente. – A mana tem composições diferentes. Se eu tentar juntar minha mana, posso machucar ainda mais o corpo dele.

    – Foton…

    O rapaz encarou Enigma, estava de olhos fechados e respirava lentamente pela boca.

    – 90… por 10.

    – Do que ele tá falando? – Grison olhou para o rapaz. – O que é 90 por 10?

    Arregaçando as mangas, Foton sentou com as pernas dobradas e respirou fundo.

    – É a numeração de mana por energia corporal. Mestre, esse é o experimento que eu queria te mostrar faz um tempo. – Suas mãos foram em direção a Enigma e pararam trinta centímetros de distância. – Eu ainda não nomeei, mas tenho certeza que pode fazer a diferença em muitos lugares.

    A magia de cura já era algo que Grison sabia, muitos Magos poderosos e Arcanos antigos tinham a capacidade de usar a mana dessa forma. Para Foton ter chegado a ela tão novo, queria dizer que era um rapaz mais habilidoso do que achava.

    No entanto, quando ele começou, o Adesir tomou um susto. A energia do corpo de Enigma foi sobreposta por uma amarelada, mais densa e mais forte, vinda diretamente do próprio Foton. Uma capsula envolveu o corpo destroçado do aprendiz, e aos poucos, os membros com a pele enrugadas e os cortes espalhados pelo rosto e pernas foi cessando e sumindo. Foton suava, mas rangia os dentes se mantendo firme.

    – Mesmo usando só 10% da energia corporal, minha mana não vai ser suficiente – ele disse. – Os ossos, eu ainda não cheguei neles.

    Ele estava curando o colega de fora para dentro, refazendo o tecido. Grison estava fascinado, era a primeira vez que estava vendo algo tão puro. Era claramente uma nova magia, algo novo.

    Tirou da mente o futuro e focou-se no presente. Seu aluno estava morrendo e o outro não tinha mais como ajudar. Ele se levantou e parou atrás de Foton.

    – Mestre – o rapaz ficou confuso – o que está fazendo?

    – Você precisa de mana para salvá-lo. – Grison pôs todos os anéis que tinha no bolso. – Foque em salvar a vida do seu colega, custe o que custar. Entendeu, Foton?

    Era a primeira vez que Grison parecia nervoso, e estava. Claramente, usar todos os anéis era loucura. A magia de cura precisava de muito para ir até os ossos, até os órgãos internos. Enigma retirou de Kralus, um Mago de Quarto Domínio, um pingente que poderia ser a chave para os entendimentos futuros da magia.

    E no futuro, Enigma deveria estar lá.

    Uma rajada azulada pulsou de seu corpo e ele mirou toda a mana diretamente para Foton. A energia entrou no rapaz e depois direto para a capsula amarelada. A camada que curava Enigma ganhou uma densidade de quase três vezes.

    Grison não cedia ao cansaço de suas pernas. Via claramente que Enigma estava sendo curado mais rápido do que antes e Foton parecia mais despreocupado. Se ele, como mestre Adesir, não pudesse salvar seu próprio aluno, como daria as caras novamente?

    O custo de uma vida não deveria ser uma outra vida, nunca. Se uma pessoa esperta soubesse como salvar a outra, nunca faria algo imprudente dessa forma. Grison só precisava de um empurrão para que Foton entendesse isso.

    Um Adesir não era somente a magia, mais o raciocínio lógico.

    III

    Kralus sentava diante seus amigos e colegas. Estava bem angustiado porque o desgraçado do Adesir tinha feito uma jogada tirando todos os Magos da ilha da jogada. Yons tinha sido morto e os navios obrigados a voltar.

    Era uma derrota completa. Fazia anos desde que eles perdiam contra os Adesir, mas nunca que Kralus acharia ter sido por sua causa. Aquele Adesir, o maldito Enigma, era uma mancha nova no meio de um mapa esbranquiçado.

    – E esse novo Adesir – Cillas falou novamente a Kralus – ele o derrotou e tirou o Pingente de Poko de seu peito? Como um Adesir desconhecido conseguiria te abalar dessa forma?

    A voz dele era leve e confusa, mas a verdadeira identidade de Cillas era que sua face suave ocultava a máscara do desprezo. Ele era o Mago mais novo a se formar, no Quarto Domínio, mas seu potencial elevado assustava alguns outros veteranos.

    Alguns como Lina acreditavam que Cillas poderia chegar até mesmo ao Sexto Domínio, se não o Sétimo. Era uma aberração.

    – Novamente, irei responder a essa pergunta porque parece que não entendeu – Kralus manteve a postura, mesmo derrotado. – Ele usou uma combinação de seis Comandos, sendo o último de três palavras. Duvido que o corpo dele tenha aguentado, mas ele é tão perigoso do que o próprio Julis ou Hambo.

    – E não conseguiu fazer nada contra um desconhecido? – Cillas tocava na ferida, mais uma vez. – Acho que está ficando velho demais para o posto de Mago, senhor Kralus. Acredito que sua posição não é nem mesmo suficiente para-

    – Chega, Cillas. – Arno interrompeu com o olhar, e a sala se aquietou. – Mestre Kralus é um dos poucos pioneiros na magia dos livros, também um dos mais fortes que temos. Sua derrota não é somente uma derrota, mas aprendizado.

    Sendo nomeado como chefe dos Magos, Arno era um dos mais brancos e mais calmos presentes. Bebia seu chá sem discutir e só aumentava a voz quando necessário. Nem mesmo quando as discussões surgiam, ele se enfiava.

    – Um novo Adesir chamado Enigma, Kralus está tão pra baixo quanto nós. O plano não era os Adesir, nem mesmo a Torre Mágica, mas o Miserável. Lina também disse que encontrou outro Adesir, um que não era nomeado fazia anos, e que parece ter voltado a ativa.

    – Grison – a mulher falou como se aquelas palavras fossem um tabu. – Ele estava a procura do Miserável também, e parece que o próprio Asumir tinha mandado ele.

    – O Asumir é apenas um pequeno especilho, o que realmente temos que tomar cuidado é com Grison e esse novo membro. Usaremos nossos contatos na Torre para descobrir quem ele é.

    Cillas, irritado, se levantou da cadeira.

    – Se continuarem medindo força contra eles, claramente continuaremos nesse impasse. Me entreguem o Enigma, farei com que ele sofra e morra lentamente.

    Kralus sabia o que se passava na cabeça de Arno quando encarava Cillas. Era um rapaz novo e ávido por uma batalha sangrenta. Sua força também era invejada, logo, ele se colocava no topo do mundo.

    Os Adesir sempre se mantiveram dessa forma; a arrogância acima da sensatez. E parecia que os Magos também eram parecidos.

    – Medidas serão tomadas a partir de hoje, então – Arno disse. – Cillas ficará responsável por Enigma, e Kralus não terá participações diretas nos planos do Conselho até a hora chegar.

    O sorriso de Cillas era como uma faca afiada, mas Kralus não se abalou. Esperava que o novo chefe do Conselho desse essa ordem. Não era ruim, mas Cillas tinha razão sobre algumas coisas: Estava ficando muito velho e ultrapassado.

    No entanto, ainda se sentia ansioso ao lembrar daquela tomada de decisões que seu inimigo tomou. Usar um comando para atrair os raios, depois criar um turbilhão de água e tirar seu Dragão de Raio de sua posse para jogá-lo de volta.

    Mesmo tendo perdido, ainda era uma derrota bela. Não perdeu por ser inferior, mas por não ter sido mais inteligente e rápido. Era como Enigma estivesse sempre um passo a sua frente, mesmo sendo bem mais novo.

    Como os Magos ainda iriam discutir sobre outros ataques, Kralus teve que sair da sala e seguir seu rumo. O Castelo do ducado de Hall era grande o suficiente para abrigar metade da população da cidadela, mas era ocupado somente por pessoas de grande renome, como o Conselho Menor dos Magos, sendo ele um deles. Era, na verdade, um deles.

    No jardim, sentou-se em um banco de madeira, de frente para as flores vermelhas e para o horizonte azulado que era o mar. Ele enfiou a mão no bolso e puxou o anel que tinha usado na ilha de Malaca. Ele colocou no dedo e um chiado foi ouvido.

    Todos os Magos que tinham o anel tiveram que destruí-lo, mas Kralus ficou com o seu. Não iria jogar fora a única coisa que ligava o homem que o derrotou a ele. Porém, nunca esperaria que o outro lado ainda estivesse usando.

    – Você me deixou muito mal – a voz era divertida, mas rouca. Kralus reconheceu o Enigma do outro lado. – Eu acho que perdi dois dedos da mão direita. Seu feitiço recocheteou no meu comando.

    – O feitiço foi feito para ser equiparado a um Mago ou Adesir de Quarto Domínio. – Kralus não queria acreditar que Enigma era mais fraco do que ele quando comparado a mana. – Seu tolo.

    – Eu preciso ser tolo pra vencer alguém mais forte que eu.

    Kralus ficou em silêncio. E agora, o que ele falaria? O Pingente de Poko tinha sido tirado dele, e seu título também. Não poderia mais ser um Mago nas linhas de frente. Por que não estava irritado como Cillas?

    Era tudo uma questão tão simples, por que não queria matar Enigma como todos os outros Magos?

    – Foi a primeira vez que fiz aquilo – Enigma disse. – Seis Comandos de uma vez.

    – Foi a primeira vez que vi alguém fazer isso – Kralus respondeu, meio animado. – Como… digo, foi uma ação idiota, mas impressionante.

    Ouviu Enigma dar uma risada.

    – Também sou curioso, senhor Kralus. Mas, não conheço nada desse mundo ainda. Eu não sou um Adesir como mencionei. Sou apenas um Aprendiz. Desculpe mentir, mas achei que seria menos arrogante dizer que era um Adesir porque vocês são Magos renomados.

    – Um aprendiz? – Ele questionou a si mesmo. – Isso faz sentido já que ninguém sabe sobre você. E você tinha mencionado que alguém estava na caverna, era seu mestre, não era? O Adesir Grison.

    – Isso. Falar isso para um inimigo da organização que represento é fatal, mas já que estou isolado por conta dos meus ferimentos, não tenho ninguém pra conversar.

    Foi a vez de Kralus de rir.

    – Não fique muito envergonhado. Perdi meu posto para batalhas, agora sou apenas um velho com conhecimento. – Uma ideia passou em sua mente. – Acho que você pode continuar com esse anel e o Pingente de Poko, serão úteis a você.

    – Eu não ia devolver mesmo.

    – Que desprezível – Kralus deu uma risada. – Quando vier ao Grande Continente, me encontre. Estarei esperando pela minha revanche.

    – Um ano. Me dê um ano e irei até você. Mostrarei algo que você nunca vai esquecer.

    Algo em Kralus mudou. Um aperto no peito, ansiedade? Quando foi a última vez que seu peito batia com vontade. Era um oponente digno, honroso.

    – Então, estarei esperando, Enigma.

    O azul do mar se misturava com o azul do céu, mas a tonalidade era tão distinta que uma linha parecia dividir os dois no horizonte. Era exatamente Kralus e Haivor, os dois claramente parecidos, mas de lados diferentes.

    A divisão perfeita para se admirar de longe.

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