Capítulo 12 - O Quadro
Ficar deitado na cama isolado de todos os outros deu a Haivor a oportunidade de estudar mais a fundo sobre as camadas da mente que seu livro indicava. Era ainda uma surpresa que poucos Adesir ou Arcanos levassem os estudos de Julis Maxino a sério.
Seus estudos diziam que um ser humano poderia dividir sua concentração em diversas pequenas áreas e cada uma delas podendo ser usadas de maneira diferente. Grison detestava que seu antigo amigo Julis fosse tão descarado de usar experimentos humanos, mas nenhuma das descrições estava errada.
Haivor testou por si só. Na batalha contra Kralus, ele criou um Comando Sêxtuplo. Dividiu a mente em duas áreas e usou três comandos em cada uma delas. Foi perfeito. A sensação de invencibilidade ainda habitava em sua cabeça, como se pudesse desafiar até mesmo Grison ou Julis.
Os experimentos eram reais, e ele conseguiu fazer daquele pequeno entendimento sua arma mais poderosa. Se conseguisse realmente dividir sua mente e programá-la para nunca se unir, feitiços e conhecimentos poderiam ser armazenados com estruturas onde nem mesmo Julis teria acesso.
Poderia muito bem se tornar mais forte e inteligente.
– Ainda está lendo isso? – Grison perguntou da porta. Sua face era a mesma de sempre, indiferente. – Cinco dias inteiros de cama e está lendo um estudo de estrutura mental que nunca deu certo.
Não mencionaria que tinha feito um Comando Sêxtuplo por causa desse estudo. Apenas Kraules saberia a verdade, ou os Magos que enfrentou. Não importava.
– Foton me explicou tudo que aconteceu depois que desmaiei. – Ele levantou a mão, os dedos mindinho e anelar estavam enfaixados completamente. – Não posso mais usá-los.
– Ele fez o que pôde. Essa magia nova que ele usa é muito volátil ainda. Nunca tinha visto o corpo se recuperar tão rápido, mas ele conseguiu te salvar. – Grison puxou uma cadeira e sentou-se ao lado da cama. – O Pingente de Poko que você pegou de Kralus, aqui.
Ele devolveu para as mãos de Haivor.
– Não tinha sentido eu usar algo desse tipo. É um objeto mágico com capacidades de mana. É raro achar ou ter um desses, então, é seu por direito.
Só de colocar o pingente ao redor do pescoço, Haivor sentiu a imensa quantidade de mana sendo envolvida a ele. Era um aumento significativo, quase duas vezes do que sua própria mana original.
– Kralus estava usando isso, um cajado e um livro, não era?
Haivor concordou ainda fascinado no objeto.
– Ele é um Mestre de Grimórios. São livros mágicos como o que eu uso para os treinos. Seu poder não vem de si, mas das magias e feitiços que ele coleciona. Existem muitas pessoas diferentes nesse mundo, Enigma, mas você conheceu uma das mais intrigantes. Ainda estou surpreso por você ter conseguido fazer com que ele recuasse, e os outros Adesir ainda não sabem que você conseguiu essa proeza.
– Não quero que saibam – Haivor foi sincero. – Eu escolhi estudar a magia com você porque foi o último pedido de meu irmão. Mas, não quero que as pessoas me vejam como um herói nem mesmo um vilão. Fiz o que achava certo para ajudara as pessoas dessa ilha, não pelos Adesir.
– Eu sei disso.
Haivor cruzou as sobrancelhas.
– Sabe?
– Claro que sei. Você me deixou ler, lembra? Seu desejo de ajudar os demais é maior do que qualquer coisa. Sou um Adesir e não ligo se você fez por motivos pessoais. Ainda assim, foi uma vitória. Você pode fazer o que quiser depois de se tornar um Adesir, Enigma, mas ainda é um aprendiz.
– Contanto que eu possa ler e aprender outras coisas, não me importo de estar com vocês.
O canto da boca de Grison se elevou.
– Fico contente com isso. Quero que saiba que ficará aqui por mais uns vinte dias. A Torre Mágica é um dos lugares mais seguros do mundo, mesmo sendo atacado várias vezes. Foton e eu fomos convocados para uma missão no Grande Continente, mas você ainda não foi liberado.
Haivor se afundou no travesseiro fofo e encarou o teto. Virou o rosto para o mestre.
– Pode me trazer uns livros antes de ir?
– Claro que posso.
Grison partiu depois de algum tempo e uns dos empregados da Torre Mágica entrou com uma pilha de quase vinte livros no quarto. Haivor viu a expressão confusa do garoto antes de sair e deu uma risada.
Ele deixou o livro de Julis de lado e pegou um outro sobre Comandos.
– Está usando o anel? – perguntou depois de fechar a porta do quarto.
– O que quer? – Kralus respondeu em sua mente. – Estou lendo.
– Sério? – Haivor sentou-se, animado. – Eu também. Qual livro?
– Você está entediado, não é? – Kralus deu uma risada. – Fizemos uma aposta para um ano, mas você não consegue ficar quieto no seu canto. Estou lendo sobre Formas Geométricas Avançadas para Arcanismo.
Haivor ergueu todos os livros no ar com o comando ‘Levitação’ e procurou por esse. Não o encontrou.
– Acho que Grison ainda não quer me deixar ler esse.
– Por que ele deixaria um aprendiz ler sobre um conteúdo avançado? Tirando o fato de você poder usar os comandos, ainda é um aprendiz qualquer, sem especialização. – Kralus era duro, mas honesto. – Se quer mesmo um conteúdo diferente, terá que aprender a estudar sozinho, procurar suas próprias inspirações.
– Você é um Mestre de Grimório. Como se tornou um?
– Estudando muito e errando demais. – Kralus soltou uma lufada de ar, cansada. – Metade dos seus Arcanos cresce sem uma base sólida. Eu nem deveria dizer isso a você, mas não temos mais o que fazer além de conversar.
– Agora é você quem está inquieto.
Kralus riu um pouco.
– É verdade. Os Arcanos são todos muito concentrados na magia em si. Todos querem se tornar as melhores versões de si mesmas, esquecem que a Mana não é normal e nem age de maneira idêntica em todos eles. O mesmo acontece com você, Enigma.
– Então, temos afinidades diferentes e a mana mostra isso.
– Sua mente é rápida. É exatamente isso. Minhas magias e feitiços do Grimório são mais rápidas e fortes porque estão vinculadas a mim. Os Magos são diferentes dos Adesir porque desde pequeno são ensinados a buscar o seu auge baseados na mana, não no conhecimento.
Havia sentido nas palavras do Mago. Haivor sentia facilidade em comandos, mas os Moldes também eram simples. Sua facilidade nos dois era justamente porque podia lê-los. Ainda não tinha tido a conversa com Grison sobre o que eles chamavam de magia oculta, essa poderia ser a hora ideal.
– E o que você sabe sobre magias únicas?
– Ah, magias ocultas, você quer dizer? – Kralus fez uma pausa. – Te explicar pode ser um pouco complicado. Mas, elas são como magias fora do padrão. Não podem ser invocados, conjuradas ou até mesmo reproduzidas por meios normais.
– Você conhece alguém assim?
– A probabilidade é que uma pessoa entre dez mil consigam uma magia oculta. Eu não conheço dez mil pessoas. E elas não falam que possuem. – A voz dele ficou tensa. – Pessoas com magias ocultas são caçadas por criaturas obscuras.
– Absolver.
– Se você conhece, fica mais fácil de entender. Os Adesir e os Magos tem uma rixa muito larga e de tempos remotos, mas seus objetivos comuns sempre levaram em conta essas criaturas. Eles são o mal encarnado. – Kralus parou de falar. – Ah, Lina. Sim, estou sozinho, entre. Não, eu estava lendo em voz alta, isso faz com que eu me foque mais.
Então, a conexão se perdeu. As explicações de Kralus eram bem claras.
Como seu outro colega não estava disponível, ele voltou-se para os livros, começando por ‘Criação de Comandos Únicos’. Kralus tinha dito que um especialista era direcionado com a facilidade a afinidade a um dos ramos mágicos, Haivor tentaria primeiro se tornar um Mestre de Comandos, se isso existisse.
E para estudar sobre eles, era necessário buscar na biblioteca da Torre um dos antigos papiros que dizia quantas pessoas tinham sido oficialmente declarados mestres. Por isso, levantou-se da cama e se arrumou, finalizando ao prender os cabelos e ajeitar o medalhão junto do pingente no peito.
A Torre tinha seu espaço interior distorcido, era gigante por dentro, mas pequeno visto de fora. Se assemelhava a biblioteca de Grison no navio. Ele desceu as escadas para os andares inferiores até ver um punhado de aprendizes Arcanos parados por ali, não eram parte dos Adesir, porém, como a Torre era um edifício claramente visto como público, eles poderiam usar por completo.
Suas roupas eram mais fechadas e escuras. Eram mais faladores e detinham uma animação inclusa quando conversavam sobre magias. Haivor passou por eles, sendo recebido por olhares confusos, e entrou na biblioteca.
Lá dentro, se direcionou até a mesinha onde o bibliotecário anotava alguma coisa, e esperou que ele se ergue-se.
– Pois não, senhor Enigma?
Assutado, Haivor hesitou.
– Sabe meu nome?
O homem achou engraçado, e concordou com a cabeça calmamente.
– Normalmente, os Adesir e os Arcanos possuem localização de mana feita para que saibamos nos comunicar. É comum se assustar a primeira vez, mas todos os funcionários aqui dentro saberão seu nome assim que se aproximar.
– Ah, entendi. – Haivor pegou o livro do seu anel e entregou nas mãos do homem. – Eu estou procurando esse autor. Ele é considerado um Mestre de Comandos. Tem algum registro aqui que me mostre se é verdade ou não?
– Claro que tem. Só um momento. – Ele deu as costas e foi até uma outra mesa onde uma esfera transparente estava no centro. Encostando a palma da mão nela, a esfera se acendeu. – Registro de Mestres.
Das altas prateleiras, um rolo desceu lentamente. Caiu nas mãos de Haivor. Um selo trancafiava o conteúdo, mas se desfez assim que foi tocado.
– Irá levar para o seu quarto?
– Não, só quero saber se existe algum Mestre de Comandos aqui.
Haivor abriu puxando o papiro. Os nomes estavam todos do lado direito e os títulos do esquerdo. Mestres de Alquimia, Mestres de Modelação, Mestres de Conjuração, Mestres de Grimório, Mestres Arcanos, Mestres Adesir, Asumir.
– Nada de Comandos – falou com um suspiro. – Parece que não tem isso.
– Acho que o senhor está um pouco perdido. É um aprendiz, então não deve ser do seu conhecimento ainda. – O bibliotecário pegou o papiro e esticou sobre sua mesa. – Todos esses são Mestres renomados. Os títulos são todos extremamente importantes, mas na cadeia da magia, os Comandos são as partes mais baixas e básicas.
– Então, não existe um Mestre de Comandos?
O homem negou.
– Comandos não são muito usados por Mestres.
Por isso que Kralus foi pego de surpresa. Estando acostumado com inimigos poderosos usando magia ou feitiço, nunca esperaria que os comandos tivessem um surto. Haivor não entendia muito bem. Magias eram usadas como uma arma poderosa, mas consumia muita mana, se alguém usasse dois comandos juntos, teria o mesmo efeito ou melhor, por que os Adesir não chegaram a esse resultado se era tão obvio?
Ele devolveu o papiro. Não existia um Mestre de Comandos. Ficaria preso ali por um mês, e tinha um grande número de livros para ler. Só tinha um mês como um aprendiz, mas por que não almejar ser um Mestre?
I
Encarava uma latinha de ferro. Respirou fundo e fechou os olhos. Os Comandos Únicos, que poderiam ser criados a partir do zero, já tinham aos montes. A quantidade de palavras do Dicionário Comandaro chegava as centenas, e cada uma delas tinha uma propriedade diferente.
Usar para quebrar, explodir e até mesmo matar já estavam vinculadas. Porém, os Comandos tinham uma particularidade grotesca. Alguns Comandos só poderiam ser ativados se encostados no objeto alvo, e Haivor procurava uma forma de ativar esses mesmos Comandos de longe.
Sua primeira tentativa tinha sido usar o comando no ar e movê-lo diretamente para o alvo. O resultado foi bom, mas dependia de um espaço muito curto para fazê-lo. Se um alvo estivesse em movimento, seria impossível com a lentidão e também foco para usá-lo.
A segunda tentativa pareceu ainda mais pesada. Um Comando poderia receber um atributo adicional, e assim seria chamado de Comando de Palavras Duplas. Como sua Faísca com Paralisação usado contra Yons.
Como qualquer palavra poderia ser acrescentada, Haivor testava mesclar ‘Torcer’ com ‘Movimento’, buscando lançá-lo. Mas, mesmo que tentasse, o comando não era concreto, então, arremessar era impossível.
Ele chegou em um impasse.
Teve que parar e respirar fundo. Descansava sua mente de um assunto se enfiando em outro assunto, então, deixou a lata de metal de lado e encarou os livros que flutuava ao seu redor. A divisão de mente de Julis Maxino.
Estava certo de que estava se aproximando de algum resultado melhor do que a ultima vez, na batalha contra Kralus. Sabendo que é possível, simplesmente começou a meditar, como os livros diziam ser efetivo para separar os problemas.
Três semanas inteiras treinando Comandos Únicos e Divisão Mental. E conversou com Kralus apenas duas vezes durante esse tempo, tirando dúvidas e conhecendo melhor os livros que o velho Mago costumava ler.
– Eu acho que vou tentar ser um Mestre de Comandos – disse, da última vez que conversaram. – O bibliotecário disse que não existe um.
– Claro que não existe. Comandos são apenas segmentos da verdadeira magia. Eles são peças de um quebra-cabeça maior. – Kralus deu uma risada zombeteira. Foi a primeira que Haivor ouviu. – Um Mestre é algo que poucas pessoas chegam. Viu as datas de cada um deles? Entre uma geração, apenas um ou dois conseguem esse título. Nem mesmo um Mago tem.
– Você tem – Haivor disse convicto. – Se você conseguiu, então eu também consigo.
– Estudei minha vida inteira para isso, Enigma – Kralus suavizou a voz. – Não é fácil como acha. Você é um aprendiz ainda, é normal ver o futuro longe, mas treinamento é o ideal para seu título atual. Não pense muito em mestrados.
Mesmo para um inimigo, Kralus era bom em explicações. Mas, Haivor não ligava muito para o título, mas sim para o conhecimento abrigado dentro da conjuntura de ser um mestre. Quanto tempo ele levaria e quanto conhecimento teria.
Sua habilidade ‘Leitura’ era formidável para encurtar esse tempo. Mas, todo o resto, como feitiços e magias, ele não estava muito interessado.
– Se você quer algo novo, existe algo chamado ‘Idioma Ligariano’. Já ouviu falar?
– É a língua das criaturas místicas, não é? – Haivor tinha visto um livro desses na biblioteca, somente uma senhora idosa passava por lá. Uma seção inteira de livros dos Ligarianos. – Eles são bons?
– Um aprendiz não deve aprender somente sobre as magias, mas o mundo em geral. A língua deles é como um acréscimo já que muitas criaturas não falam a nossa. Ogros, Orcs, até mesmo os Lobos Negros, que são raros, usam o Ligariano para se comunicar de alguma forma.
E lá estava Haivor novamente andando pelos estreito corredores da biblioteca. O nome do bibliotecário já era comum pra ele. Sempre que via Huden, acenava e ia direto para onde os livros estavam. Decorou facilmente cada ala e setor, onde os livros mais velhos ficavam escondidos e onde os Aprendizes Arcanos gostavam de ficar rindo longe dos monitores.
E a senhora estava lá, em pé, encostada em uma das pilastras, mexendo a boca, enquanto lia as palavras estranhas. Haivor fez uma leve leitura labial e repetiu o que ela falou, achando intrigante. E depois começou a pegar os mais básicos para aprender o idioma.
Sua rotina era comer e ler, testar comandos e meditar. Não era das melhores, mas já era conhecido entre os aprendizes; o Enigma era realmente um enigma para monitores, zeladores, funcionários e alguns Adesir que o viam andar com pilhas de livros de um lado para o outro.
Era um homem velho, mas era centrado e sério. Alguns achavam que ele era um Adesir, outros só um maluco que gostava de ler. Mas, aos poucos, Enigma estava sendo reconhecido como um leitor assíduo.
Alguns dias depois, no refeitório, estava comendo sozinho com um livro flutuando em sua frente quando alguém se sentou do outro lado. Ele não fez menção de olhar quem era, mas a mão da pessoa abaixou o livro.
– O que está lendo? – Era Esfinge, a aprendiz de Hambo. – Isso não é muito avançado pra você? Idioma Ligariano nem é mais usado hoje em dia.
– Você voltou – Haivor sorriu largamente. – Como foi a missão?
– Eu passei duas noites enfiadas em uma poça de lama esperando uma criatura que nem sabia que existia. – Ela se remexeu toda. – Ainda sinto lama em lugares nada agradáveis. E meu mestre ficou só esperando, confortável em uma casa com fogueira e chá. É um desprezível.
– Parece que você se divertiu.
– Se não fosse pelo mês passado você ter se machucado, eu te dava um tapa bem dado. – Ela enfiou a colher na boca. – Pelo menos a comida é gostosa. Ainda está em Malaca?
– Sim, e você?
– Grande Continente. Tivemos que usar a Torre para agrupar.
A Torre Mágica, Haivor entendeu muito tempo depois de estar nela, não era usualmente um lugar parado. Ela tinha ligações em várias ilhas e no Grande Continente. Uma pessoa poderia usá-la estando em uma cidade e outra numa ilha, se tivesse acesso.
Poderiam se conectar facilmente se fossem cadastrados pelo teste que faziam no começo de suas vidas como aprendizes. Por isso, Esfinge estava ali, mas quando saísse pela porta da frente, voltaria para a cidade onde investigava uma criatura mítica com mestre Hambo.
Era incrível.
– Mestre Grison disse que voltaria em um mês, mas ainda não tive nenhuma mensagem deles – Haivor disse. – Pretendo sair daqui quanto antes.
– Nem se anime muito. Pelo que eu soube, as rotas marítimas estão todas sendo bombardeadas por piratas e Magos da CBK. Eles precisam dar a volta no Grande Continente ou usar um barco menor para atravessar os rios, não vão chegar aqui tão cedo. Eles nem disseram onde estavam indo?
– Não. Parece que foram porque alguém pediu ajuda. Não tive tempo de perguntar.
– Bom, você não precisa se preocupar muito com essas coisas. Aqui em Malaca, poucos Arcanos atuam e acho que não tem nenhum Adesir presente. Já viu o quadro de pedidos daqui?
– Nem sei onde fica.
Ela balançou a cabeça.
– Você pode ter acabado com o plano de um Mago, mas não é muito inteligente. – Ela bebeu a sopa rapidamente e se levantou, o puxando. – Vamos. Vou te mostrar o quadro.
Eles saíram do refeitório e foram andando para a outra ala da Torre. Esfinge começou a explicação:
– O Torre tem uma função que ajuda muito aprendizes que ficam parados. É uma magia chamada ‘Transporte Determinado’. Muitas pessoas pedem ajuda em lugares muito complicados de chegar, as vezes pode ser no Grande Continente, as vezes é num lugar novo onde ninguém sabe onde é.
– E por que usam os navios para se locomover se podem usar essa magia? Parece idiotice e perda de tempo.
– Só parece, Enigma. – Eles entraram em uma sala e a Torre parecia ter sido jogada no chão e feita de novo. O silêncio e calma dos corredores transformadas em gargalhas e gritos descomunais. Onde se via a postura, ali se encontrava uma chama de excitação que ganhava poderio a cada segundo. – Aqui é o Quadro.
As pessoas eram as mesmas que encontrava no restante da Torre, porém, mais soltas e mais libertas de suas amarras como Arcanos ou aprendizes.
– Se você estiver parado ou quer fazer algum dinheiro extra, o Quadro sempre ajuda.
Eles foram até onde os pôsteres estavam cravados em um imenso quadro verde de quase dez metros quadrados. Era extenso e cheio de marcações. Em cada pôster, uma criatura ou uma pessoa estava marcada e se mexia, e abaixo dela o valor mencionado.
– Pronto, agora você tem alguma pra fazer – Esfinge disse com graça. – Os Adesir gostam de tomar conta de criaturas como aqueles Absolver, mas não é a única coisa que fazemos. Você pode ir ajudar um fazendeiro contra Macacos Quimeras – ela apontou para um lado – ou caçar ladrões para um chefe de vila nas ilhas do norte. Você escolhe.
– E como funciona a viagem? – Haivor encarava os pôsteres, cada um deles mais objetivo que o outro. – Eu volto assim que completar o pedido?
– Exatamente. Eles te darão um pequeno Cristal de Movimento que te fará voltar aqui. Mas, no momento que aceitar a missão, você é obrigado a encontrar a pessoa que solicitou e resolver o problema.
– Parece interessante. Tem tanta coisa aqui.
– É uma forma de aumentar a experiência dos aprendizes e também uma chance de fazer seu nome. Não tem nenhum tipo de hierarquia de quem pode fazer o que, mas muitos pôsteres tem requisitos. Igual esse aqui.
Ela apontou para um perto deles.
– ‘A pessoa deve saber alquimia básica de fluídos’ – Haivor leu. – ‘E ser um Aprendiz Arcano. Adesir está fora de questão’. Muito claro o desgosto que ele tem pela gente.
– Tem gente pra tudo. E então, o que você acha?
– Parece ser interessante. – Deu dois passos para trás. – O Quadro é gigante, eu acho que vou achar alguma coisa aqui.
Alguns aprendizes estavam unidos quando pegaram um dos pôsteres. Foram direto para uma mulher sentada atrás de um balcão que carimbou e entregou pedras vermelhas para cada um deles.
– Tem alguns pedidos que pedem mais do que uma pessoa, então você vai ter que arranjar uma pessoa para ajudar. – Esfinge foi em frente e pegou um dos pôsteres. – Olha esse.
Haivor pegou.
– “Aprendiz de Adesir. Experiente e bom com Comandos”.
– Esse é ótimo. A pessoa parece ser um Ferreiro Arcano, e paga bem.
Um homem de meia idade parou ao lado de Haivor e encarou o pôster em sua mão.
– Melhor nem fazer questão de aceitar isso. Conselho de amigo.
Haivor o olhou de lado.
– Por que?
– Esse velho na foto é um lunático. Tive dois amigos Arcanos que foram e ficaram uma semana ouvindo ele reclamar. Não fizeram nada e o velho os mandou embora. Vai perder seu tempo indo pra lá. Enfim, é só uma dica.
O homem foi para o outro lado do quadro. Era um Arcano e da mesma idade que ele. Usava uma roupa escura pesada e um capuz nas costas. Usava uns anéis no dedo e um cordão ao redor do pescoço.
– Ele é o Aprendiz Arcano Donni. É de Quarto Domínio. – Esfinge falava com certa sensibilidade. – Dizem que ele é um dos mais perto de se tornar um Arcano em menos de cinco anos. É um feito raro.
– Parece ser uma pessoa descente.
– Claro que ele é – ela parecia ofendida com o comentário de tão rápido que respondeu. – Além de ser famoso entre os Aprendizes, ele também é um dos poucos que faz os pedidos nas alas desconhecidas.
– E o que é isso?
– É um lugar onde os Arcanos e Adesir vão a pedido de pessoas importantes. A última que ele foi chamado era em um pântano feito de lava. Nunca tinha ouvido falar nada parecido.
Haivor achou a ideia fantástica. Lugares para se visitar e conhecer, e ao mesmo tempo lugares onde poderia aprender mais. Poderia treinar o idioma Ligariano também.
– E então, o que vai fazer? – Esfinge cruzou os braços. – O primeiro pedido tem que ser fácil, vai poder entender melhor como funciona os Cristais e a pessoa que está solicitando.
Haivor devolveu o pôster do velho ao quadro e depois encarou o quadro gigante. Caçar criaturas, colher minérios, ser sentinela para um duque, ajudar um homem a cruzar a Estrada de Ferro.
– Essa última parece interessante. – Ele puxou com magia para sua mão. – Caminhar na Estrada de Ferro com um homem. Não deve ser tão complicado.
– Bom, você só vai saber se tentar.
Haivor pegou o pôster e foi direto para o balcão. Seria seu primeiro pedido, esperava que fosse o primeiro de vários.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.