– Então, o que estão propondo para mim é que trabalhe sobre algum tipo de contrato? – Haivor já tinha ouvido sobre isso com os Arcanos. Contratos eram normais, pagavam bem e os recursos eram bem intrigantes. – Por que querem minha ajuda?

    – Sua habilidade – Gruu respondeu, sinceramente. – Antes, eu tinha dito que você tem capacidade para se tornar qualquer pessoa. Essa sua magia oculta, como chama, faria bem para pessoas como eu, que desejam uma boa vida para pessoas honestas. Não direi que sou bondoso ao todo porque existem pessoas que me querem morto e pessoas que querem tirar de mim tudo o que conquistei. Crawl era um desses.

    – Pensei que estivesse fazendo isso por causa de Jontar.

    Crawl tinha ajudado o Miserável em algum plano que rendeu a morte do irmão do Arcano. A lembrança era triste.

    – Esse foi um dos pontos. Aqui, no meu escritório, não posso fazer nada além de ordenar que outras pessoas sejam enviadas para tomar conta de problemas pequenos. Mas – ele puxou uma das gavetas de sua mesa e passou um papel – existem criaturas e também seres que são problemáticos.

    Eram nomes de pessoas e outros de criaturas. Cada um deles com um preço ao lado e uma suposta localização. Haivor os conhecia.

    – Aqui no Grande Continente, você pode achar que conhece muito, mas aos poucos, percebe que tudo está sendo moldado por criaturas que vivem nas sombras. Luzin possuí os Dedos, são pessoas que lidam com os problemas do feudo, e existem os Magos CBK, que são a lança do próprio rei. Você enfrentou Klaus e a Senhora de Kusha, não foi? Você tem estado mais perto dessas pessoas do que eu, e preciso saber o que vão fazer para que pessoas como Krill e Cristine sejam salvas. Preciso de olhos e ouvidos que circulam pelo Grande Continente enquanto eu estiver aqui.

    – Eu entendo seu ponto. – Era uma boa chance de expandir seus horizontes. Mestre Grison ainda não havia enviado nenhum tipo de Pedido, e o seu atual já tinha expirado. Krill estava sentado na oficina com cerca de três Arcanos o protegendo. Não havia motivo para recusar uma viagem. – O que eu teria que fazer primeiro?

    – Acho que podíamos chegar em um acordo. – Lorde Gruu entregou outro documento, esse bem mais organizado, com palavras mais complexas e objetividade. – Aqui, eu decretaria sua entrada para minha Casa Azuma, você seria parte da minha família, como um dos poucos renomados o suficiente para usufruir de todos os meus recursos necessários.

    – É uma oferta tentadora. – O documento era muito bem feito, até mesmo tinha a assinatura do rei Luzin. – Você entrega isso para todo mundo que vai trazer algum benefício a você?

    – Você toca em minha ferida assim, Enigma. – Ele mostrou os dentes. – Apenas Jontar e eu fazemos parte da Casa Azuma. Ela será feita exclusivamente para tratar de problemas que Luzin descarta. Eu soube, por exemplo, que um amigo seu está em Patrono agora tentando revogar os direitos dos não-humanos contra as ordens de Luzin.

    – Marco ainda está lá? – Isso era surpresa.

    – Admito que aquele garoto tem uma garra que outros diplomatas não tem, mas o apoio dele é quase nulo. – Lorde Gruu negou com sutileza. – Diplomatas precisam ser reconhecidos para que outros os ouçam, e os planos daquele garoto são simplesmente usar as palavras para convencer. Está mais longe agora do que se estivesse quieto desde que chegou lá.

    – Algo pode acontecer com ele.

    – Já aconteceu, na verdade. Ele foi privado de todas as reuniões que virão. Se quer ajudar pessoas como ele a fazer o bem, esse é o papel que você deveria assinar. – Seu dedo bateu na linha da assinatura. – Seu nome no continente é conhecido nas entrelinhas, Enigma, mas sua força é devastadora. Precisamos de pessoas assim, que sabem o que estão fazendo, mas que não sejam somente conversa.

    Adesir ajudavam as pessoas de uma maneira diferente. Eles não se enfiavam em política, era uma das restrições criadas para que o foco fosse direcionado em caçar criaturas malignas.

    – Eu aceito com certas condições.

    – Quais seriam?

    – Nada além de criaturas. Um Adesir faz o que precisa para tirar certas coisas ruins do mundo, mas nunca para prejudicar os outros, e a política não me interessa. Se quer me contratar, o preço que vai me pagar será muito além de dinheiro, deverá ser algo que me interesse, algo que eu tenha vontade de fazer.

    Lorde Gruu não demonstrou receio ou nervosismo.

    – Cerca de três semanas atrás, uma cidade camponesa foi atacada por uma criatura que ninguém sabe o nome ou que nunca viu. Ela surge como uma sombra no meio da noite, pega as crianças que estão dormindo e some novamente. As crianças nunca mais são vistas. Isso é interessante para você?

    – É uma Normadie. – Era o suficiente para sair do Vilarejo Imperial. – É uma conjuração em formato de sombra.

    – E se eu falar que essa conjuração é feita por uma mulher que há muito se tornou uma Bruxa renegada, que está criando santuários para atacar sua filiada, a senhora de Kusha.

    – Como você sabe disso?

    Os ombros de Gruu subiram e desceram.

    – Eu tenho meus métodos de descobrir as coisas. Mas, essa mulher esconde muito mais do que eu posso falar. Ela trabalha para alguém, outra pessoa ainda mais perigosa, que se esconde com sorrisos no rosto no meio das pessoas.

    – Para mim, uma Normadie é suficiente. – Haivor pegou o papel e encostou a ponta do dedão, criando uma marca avermelhada. O seu selo de Adesir. – Você vai tomar conta de Krill quando eu partir?

    – Prometo pela alma que guardo.

    – Só um sim bastaria, Lorde Gruu. – Ele devolveu o papel. – Eu não gosto de despedidas, então, me dê a localização da cidade e irei seguir meu rumo daqui mesmo.

    – Tem certeza que não quer dizer adeus para eles? Foram boas para você nesse tempo inteiro.

    Haivor negou.

    – Quando você se despede de alguém, você também cria raízes no lugar e nas pessoas. Prefiro não envolver ninguém na minha vida.

    – Que pena você falar isso, Cristine parecia bem contente em conversar contigo. – Ele fez um simples aceno de indiferença. – Se não se importa com isso, quem sou eu para contradizer. Descanse o tempo que achar necessário, quando for partir, mandarei Jontar trazer um cavalo.

    – Sem cavalos, eu sigo meu caminho a pé.

    Lorde Gruu compreendeu com uma cara cansada.

    – Faça o que quiser, então. Quando encontrar a Normadie, tire as informações dela e me envie. Quero saber sobre tudo. Desde o primeiro vestido que usou até o primeiro que foi arrancado dela, entendeu?

    – Claramente.

    A mão do homem se ergueu para Haivor e eles se cumprimentaram.

    II

    A Cidade Camponesa levava o nome de Algorisha, uma das poucas cidades que permaneciam com a economia agraria ao invés da produção em massa de materiais resistentes. Por esse motivo também, suas defesas eram leves e pouco se fazia uso daquelas terras.

    Era um lugar mais usado como fazenda do que uma cidade propriamente. Para chegar até lá, Haivor teve que sair da Estrada de Ferro e guiar-se por uma ramificação em altitude, subiu um morro de terra, depois desceu, continuou caminhando até chegar em um poço.

    Pessoas se reuniam ao redor do poço, algumas sentadas em bancos meio largos com três lugares, outros esperavam de pé; suas roupas eram quase idênticas, leves demais para proteger do frio ou de predadores, mas suficiente para não ficarem pelados. Na cabeça das mulheres, panos e nos homens um chapéu de palha ou couro fino.

    Eram fazendeiros, obviamente.

    Haivor se sentou em um dos bancos, puxando seu cantil. Estava na estrada desde cedo, mas sua boca secava como a de qualquer um. Uma jovem garotinha veio saltitando ao seu encontro, bochechas largas e olhos grandes azuis.

    – Olá, bom senhor.

    – Olá, jovenzinha. – Haivor sorriu. – Esse poço pertence a alguém?

    – Não, não. Esse poço faz parte da minha cidade. Ela é grande, sabia? Tem muitas pessoas indo até lá agora. Você quer água também?

    Haivor olhou para o cantil e assentiu.

    – Eles precisam de ajuda com alguma coisa?

    – Espere.

    A garotinha se virou e saiu correndo até agarrar a perna de um homem na beirada do poço, ergueu a cabeça e começaram a conversar. O homem encarou Haivor algumas vezes e os dois vieram juntos dessa vez.

    – Sou Kalik – saudou com a cabeça. – Minha filha que você é um visitante.

    – Isso, estou fazendo uma parada, mas vejo que tem alguma acontecendo com o poço. Algo errado?

    O homem coçou a nuca algumas vezes, meio envergonhado.

    – Bom, senhor, o poço agora está inutilizado porque um dos bastardos dos Crimoi pulou lá dentro e não sabemos como tirá-lo.

    Haivor não soube o que responder, mas escolheu as palavras:

    – Ele pulou?

    – É um assunto muito delicado. Não precisa se preocupar, mas ninguém pode pegar a água enquanto ele estiver lá. – Kalik fez uma menção as mulheres com cestos de roupas sentadas, discutindo. – Minha mulher está aqui desde cedo, e não sabe quanta dor de cabeça isso tem me dado.

    – Só precisam tirar o rapaz lá de dentro? – Haivor questionou pondo o cantil ao seu lado. – Posso ajudar, se quiser.

    – Vejo pelas suas roupas que é uma pessoa diferente, senhor. Não precisa se esforçar. Podemos muito bem tirar ele de lá.

    – E por que não fizeram isso até agora?

    A garotinha deu uma risada.

    – Porque todo mundo gosta de ver Remi dentro do poço. Ele é malcriado.

    Kalik repreendeu a filha na mesma hora.

    – Sabe que não pode falar isso em voz alta, Amanda.

    A sinceridade das crianças era sublime. Haivor gostou dela logo de cara.

    – Eu só preciso de um pouco de água para continuar minha viagem.

    – Posso arranjar um pouco de água para o senhor.

    Kalik recebeu seu cantil e saiu até o outro lado do poço, onde começou a conversar com diversas pessoas. Amanda permaneceu ali, espreitando Haivor com sutileza.

    – E o senhor, de onde é?

    – Sou de um vilarejo muito longe daqui. Se chama Senbom. – Ele apontou para o sul. – Depois do mar, em uma ilha bem pequeninha, igual a você.

    – O mar? – Os olhos dela brilharam. – Incrível. Eu sempre quis ver o mar, mas não sei como ele se parece. É azul como dizem?

    – Muito grande e muito azul. Tem muitos barcos também e as pessoas que vivem lá sentem muito frio. – Sorriu. – Eles usam roupas mais grossas.

    O entusiasmo da criança era arrebatador. Puramente curiosa.

    – Eu quero ver o mar.

    – Espero que consiga.

    Kalik, então, retornara com o cantil cheio.

    – Obrigado – Haivor guardou em seu anel. – Quanto tempo estou de Algorisha, senhor Kalik?

    – Apenas algumas horas. O caminho que veio seguindo é o mais longo. Usamos a estrada de pedra que leva menos de uma hora. – O tom dele enevoou. – Por esse caminho de terra, você vai chegar no Acampamento de Miasho.

    – Eles são um problema? – Haivor não tinha interesse em bandidos contanto que não estivessem ligados a Normadie. – Estou aqui por conta de um boato estranho.

    Os olhos de Kalik foram de Haivor para Amanda e depois retornaram para ele.

    – Sei qual boato está dizendo. Os Miasho são quem você procura.

    Haivor agradeceu ao homem. Amanda ainda o encarava quando se despediu, mas a criança tinha algo que lembrava muito de sua antiga casa. A curiosidade ou os olhos brilhantes, algo a fazia lembrar de Senbom, e consecutivamente de Cross.

    Ele retornou se ajoelhando perto dela, e mostrou a palma.

    – Fique com isso. – O ar condensou em giros rápidos. Uma esfera azulada congelou em sua palma, como vidro. Ele entregou para ela. – Sempre que quiser ver o ar, olhe para dentro dela.

    Piscou um dos olhos para ela antes de ir embora.

    Subiu o caminho de terra, ficando por quase trinta minutos em um ritmo lento. No topo, o solo era mais pobre, o verde sucumbia ao marrom e as árvores eram secas, com troncos perfurados e cortados pelo que pareciam garras ou muitas facas.

    O tal acampamento de Miasho era mais afastado da estrada do que tinha pensado. Haivor colocou o capuz por cima da cabeça e chegou perto. As estacas de madeira cravadas no chão possuíam uma ponta para a entrada. O acampamento possuía uma pequena muralha de três metros feita de madeira surrada feita com uma péssima vontade.

    Até o vento derruba isso.

    As casas, se podia chamar assim, eram cabanas arrumadas lado a lado. Somente uma construção era feita de pedra, mas era uma perfuração numa pedra larga com vários entalhes e escrituras em um arco.

    Estavam escavando algo.

    Próximo do portão principal, os arqueiros sobre as muralhas puxaram a linha dos arcos.

    – Melhor parar se não quiser levar um tiro, idiota.

    A palavra idiota estava bem enraizado na mente de Haivor. Krill o chamara assim com vontade, e o desgosto pela palavra era bem profundo.

    – ‘Congelamento’.

    A crista de gelo se estendeu de seu pé para a muralha e subiu em como uma montanha espinhosa. A madeira se desfez em pedaços e jogou os arqueiros para o chão. Eles caíram de costas, mas sem ferimentos. Haivor desfez o gelo em uma imensa poça de água.

    Atravessou o portão para ver que a quantidade de bandidos mencionados não passava de uns quinze a vinte. Todos com armaduras desgastadas e armas enferrujadas. Para moradores de uma cidade cuja defesa era esquecida pelos deuses, esses homens eram ameaças graves.

    – Você é um Arcano? – um dos homens se manteve sentado, com uma garrafa de rum na mão. Ele brandiu os braços, com um sorriso amarelado no rosto fino e cicatrizado. – Não, não. Um Arcano não faria um estrago desses sem falar nada. O diálogo é remetente.

    – Estou aqui porque quero respostas. Disseram que vocês são vinculados a uma criatura chamada Normadie.

    Os saqueadores levemente recuaram ao ouvirem essas palavras.

    – Um boato e tanto esse – o bêbado respondeu. – Temo informar que não fazemos parte de um culto ou nada parecido. Somos apenas homens que estão a procura de uma riqueza desconhecida, como pode ver.

    A pedra na qual perfuravam tinha um buraco para baixo, onde uma escada de madeira levava para o subsolo.

    – Pensei que você estivesse aqui por causa disso, Mago – o homem voltou a falar. – Não é isso que os Magos fazem? Roubar o trabalho dos outros?

    – Não sou um Mago, nem Arcano. Estou aqui por causa da criatura. Se não estão vinculadas a ela, não me interessa o que estão fazendo.

    O bêbado levantou-se desengonçado, mas manteve o equilíbrio.

    – Normadie, sabe quantos vieram atrás dela e não voltaram para contar a história? Um monte. Teve até mesmo um Bruxo, o coitado ficou três dias amarrado no alto da estátua de Hogeneses, e perdeu os braços primeiro. A criatura comeu membro por membro até sobrar os ossos.

    – E onde posso encontrar os restos desse Bruxo?

    – Não precisa. – Com um sinal de dedo para um dos homens ao redor, uma caixa foi pega em uma das barracas e trazida aos pés de Haivor. – Ai está o que procura. Sendo bem sincero, eu mandaria você direto para ela pelo que fez com as nossas defesas, mas como não é um Mago, Arcano ou Bruxo, chuto que seja um Adesir.

    Haivor abriu a caixa. Os ossos estavam espalhados, todos quebrados no meio. O único intacto era o crânio.

    – A Normandie caça apenas crianças, Adesir. Mas, eu ouvi desse Bruxo que ela tem um apetite anormal por pessoas com magias diferentes.

    Sem a luva, Haivor tocou o crânio. Uma imensa gama de informações passou dos ossos para sua mente. Normadie era uma criatura feminina feita de sombras, uma magia feita de maldições e feitiços corrosivos. Era forte, pelo menos no Quarto Domínio.

    A luta entre o Bruxo ‘Filho das Folhas’ tinha sido brutal. Ele retirava de qualquer coisa que estivesse viva para aumentar seu poder, uma magia oculta. Mas, do outro lado, Normadie fazia o mesmo, só que com mais intensidade.

    O Bruxo foi derrotado porque suas informações eram escassas demais.

    – Isso ai é estranho – o bêbado disse. – Por que a energia saiu do crânio? O que você fez?

    – Não é da sua conta. – Ele ficou de pé. – Vou levar o crânio comigo.

    – Calme, Adesir – disse o bêbado. – Sabemos bem que seu tempo é precioso e tudo mais. Quero saber se está interessado em algo diferente?

    – E o que seria diferente para vocês?

    Ele apontou para a pedra.

    – Vocês estudam línguas antigas? Sabe me dizer o que está escrito aqui.

    De primeira, Haivor não tinha nem sequer tentado ler o que estava escrito. As palavras eram confusas e os símbolos espalhados, como se realmente tivesse sido escrito por um bêbado. Mas, dando uma boa encarada e mexendo na estrutura, se chegava a uma conclusão.

    – É uma lenda.

    – Lenda? – O homem encarou as palavras mais uma vez. – Nada de tesouro?

    – Uma lenda de que um homem forte conseguirá achar aquilo que pertence ao mundo. É um mistério. – Dois símbolos soltos, mais acima, datavam a época escrita. – Cem anos atrás alguém escreveu isso.

    O homem fez um beicinho, pensando por pouco tempo.

    – Pode ser melhor que um tesouro.

    – Estou indo agora. – Haivor deu as costas para eles e começou a se retirar do acampamento. Passou pelo portão, e usou os dedos na direção das madeiras caídas. – ‘Molde’.

    A deformação dos troncos para pedra impressionou os bandidos, entretanto, o que mais assustou foi a pedra se levantar pela ordem do Adesir e enfileirar lado a lado, onde a muralha tinha sido destruída.

    II

    – Um quarto, por favor.

    O dinheiro recebido de Kusha foi realmente útil. Haivor subiu para o segundo andar e entrou no quarto. A Cidade Camponesa nada era de um amontoado de pequenas fazendas espalhadas com o centro mais voltada para lojas e um mercado central.

    Durante a noite, as fazendas apagavam as tochas, o centro tornava-se mais brilhante, ganhando o barulho da multidão que se apresentava. Do quarto onde estava, as pessoas nas ruas gargalhavam e bebiam, como se nada estivesse acontecendo.

    As pessoas eram estranhas.

    Com o anel de comunicação dado por Lorde Gruu, Haivor acessou, o chamando para uma conversa.

    – Boa noite – Gruu disse do outro lado, animado. – E então, conseguiu achar a cidade?

    – Achei e estou fazendo uma varredura. Parece ser como as outras, mas as pessoas daqui são estranhas.

    – Sua sinceridade é aconchegante, Enigma. Conseguiu achar Normadie?

    – Não – respondeu insatisfeito. – Achei que conseguiria porque os boatos seriam mais fortes ou assustadores, mas ninguém parece ligar para as mortes de crianças. Encontrei um bêbado escavando uma pedra e ele disse que um Bruxo veio aqui no último ano.

    – Ah, o Filho das Folhas, não é? Eu soube que ele não retornou. É uma pena, Kusha gostava muito daquele rapaz. Parece que ele tinha uma magia oculta, como você.

    – Pode avisar Kusha que irei enviar o crânio do rapaz? – Ele abaixou a voz. – Pelo menos, ela poderá enterrar o único resto mortal dele intacto.

    – Ah, Enigma. Claro que posso fazer isso. Faça uma ‘Transição Material’ para minha posição usando o anel. Enviarei amanhã de manhã.

    Haivor segurou o crânio e usou a magia básica de envio. Ele sumiu em pequenos flocos brilhantes.

    – Recebi. Está em um ótimo estado, admito. O que fará agora?

    – Farei sentinela, não se preocupe. Até o final da semana, eu vou voltar com o corpo dessa criatura.

    – Conto com você para isso, e lembre-se de tirar tudo dela. – Gruu foi firme: – As informações que ela tem são muito importante para a Casa Azuma. O rei Luzin contratou um Mestre Arcano para caçá-la também, então, tome cuidado.

    – Certo.

    Haivor desligou a ligação e continuou observando a rua cheia de pessoas. Ele abriu a janela e saltou para o teto, usando ‘Velocidade’ e ‘Peso Pena’ para alcançar o topo. De lá, ‘Olhos de Águia’ teve seu acesso.

    Cada pessoa em uma área de quase um quilômetro poderia ser vista por ele, cada passo, cada gesto e cada risada. Um movimento brusco, uma gesticulação mais agressiva, cada ato mais robusto era prensado pelos seus olhos.

    A Normadie vivia naquela cidade como uma mulher comum, então, seu foco foram todas as mulheres que carregavam traços distintos.

    Essa sensação de esperar pela sua presa. De espreitar o alvo sair de sua toca e se atirar como uma flecha para frente. A nostalgia em seu peito o lembrava de Cross, quando acampavam e faziam caças por quase uma semana inteira no meio da floresta congelada, no inverno.

    As palavras de seu irmão eram sempre as mesmas.

    É hora da caçada.

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