Capítulo 40 - O Jogo de Mentes
Na manhã seguinte, Haivor vestiu suas roupas e se apresentou ao Castelo Interino faltando dez minutos para às nove da manhã. Chegando ao portão, encontrou dois Twines esperando por ele na porta de entrada.
– Saudações, senhor Haivor. – Era estranho ouvir aquilo vindo de um homem bem mais velho do que ele. – Mestre Pojan espera pelo senhor. Por favor, siga-me.
Haivor já tinha adentrado ao Castelo Interino outras vezes para fazer uma verificação e também para fugir de Ptitsa e Oiajim algumas vezes. Usava os quartões e salas vazias, com apenas algumas caixas para ler em silêncio, longe do caos da Muralha. Os Twine, com pouco tempo, tinham feito um ótimo trabalho com a decoração. O vermelho recaía nas cortinas, com o símbolo de ‘Força’, as pilastras com bandeiras e quadros e alguns móveis novos.
Não lembrava de Kralus ou Ptitsa terem deixado objetos, mas as estantes, mesas e cadeiras eram todas novas, recém-feitas.
– Aqui, senhor. – O guarda fez menção com a mão, esperando ele entrar primeiro. O salão que deveria ser o de reuniões tinha sido remodelado. A mesa no centro foi retirada, o chão coberto por um longo pano avermelhado, onde três dezenas de pessoas estavam sentadas em um círculo, onde outros dois se mantinham no centro, um encarando ao outro, com foco e atenção. O silêncio era absoluto.
– Haivor. – A voz adentrou sua mente em um lapso rápido. – A sua esquerda.
Sentado na única cadeira do salão estava Pojan. Acenava em cordialidade, ao seu lado, uma outra cadeira foi alocada. Haivor deixou o guarda para trás e se uniu ao rei dos Twine, se sentando confortavelmente em uma almofada.
– Espero que eu não tenha acordado muito cedo – Pojan dialogava com a mente. – Por favor, responda mentalmente. Não quero quebrar a atenção de todos.
Haivor esperou alguns segundos, e então, seguiu a ordem.
– É um pouco estranho conversar com a cabeça. Incontáveis livros contam como os Twine são habilidosos, mas nunca cheguei a pensar nessa possibilidade. – Ele suspirou com sutileza. – Parece que estou conversando comigo mesmo.
– É inevitável que os humanos achem estranho. Existem fatores incontáveis de que a fala humana e seu diálogo seja muito mais aberto que os nossos, porém, somente através da telepatia podemos nos comunicar honestamente.
– Palavras tendem a ser tendenciosas independente de quem as difere. – Haivor manteve um pouco de calma. Os outros Twine estavam tão focados que o barulho dos soldados da Muralha chegava até ali. – O que eles estão fazendo?
– Vai gostar. Esse é um treinamento que chamamos de Jogo de Mentes. Os dois no centro, como pode ver, se encararam enquanto disputam perguntas e respostas uns para os outros. Aquele que não pode se defender do outro perde o jogo.
– Confuso.
– Nem tanto. Olhe. – Ele apontou o dedo para o que sentava a sua esquerda. Haivor estava apenas ouvindo Pojan em sua mente quanto outras duas vozes, em Hantagoriano, se alastraram. – O que está perguntando é Wass, está invicto faz duas semanas, disputando contra qualquer um que tente. O outro é Sami, meu braço direito.
Sami era mais forte e alto. Os olhos com pouca pressão, mas a postura de suas costas o fazia ser parecido com um armário de tão largo.
– Lateralmente – Sami disse. – Dois golpes seguidos.
– Bloqueio de três gumes – Wass respondeu, imediatamente. – ‘Presa Térrea’.
– Salto em recuo. Facas de arremesso.
– ‘Pedregulho em Segundo Plano’.
Haivor ouviu uma série de movimentos, um atrás do outro. Ele poderia simplesmente estar ouvindo, mas a imagem que surgia em sua mente era como se eles estivessem realmente lutando por uma vitória esmagadora.
Durante cerca de dois minutos, Sami manteve a postura de ataques agressivos usando o corpo, a espada e ataque de curto alcance. Wass bloqueava com eficiência, criando estalidos de magia e feitiços poderosos, tentando capturar seu oponente a todo custo.
Era uma luta mútua, sem defensivas ou ofensivas priorizadas.
– Qual o verdadeiro objetivo desse jogo?
– A velocidade de resposta, o reflexo e conhecimento obtido em vida. – Pojan apoiou o cotovelo no braço de seu cotovelo. – Os dois mais habilidosos disputam todos os dias. As vezes, assistimos por uma hora inteira.
– É um compartilhamento de conhecimento, tática de batalha e poderio. – Haivor sorriu. – É uma forma de todos poderem participar, por isso, a telepatia é usada.
Pojan deixou escapar um som de riso fraco.
– Sua mente é claramente bem mais aguçada do que as de seus colegas. Haivor, ou como chamado, Enigma, quando estive em minha antiga casa, suas façanhas se tornarão muito famosas. O Norte teve medo de que algum dia, você estivesse contato com eles.
– O norte?
– Eles são conhecidos como ‘A Tríade’. – Pojan não parecia gostar deles pelo tom. – Costumam fazer esquemas para elevar seu poderio entre os clãs menores. Eles possuem uma rede de informação mais longa do que você pode imaginar. Eu ouvi sobre um dos meus espiões que seu nome entrou na lista de perigosos, junto de mais dois Adesir, um chamado Grison e outro chamado Julis.
– São dois Mestres. Mas, eu sou apenas um aprendiz.
Pojan balançou sua cabeça.
– Tente entender que sua luta contra Agnes, a Normadie, foi muito além do que você pensa. Ela era uma criatura que ninguém desafiava fazia anos, e quando faziam, saíam mortos em pedaços. Sua morte foi um alívio para muitos, mas quando eu estava procurando soluções para uma moradia temporária, eu senti sua mana retornando.
– Tirando o fato de que não posso usar a mana, isso é um pouco difícil de acreditar. – Haivor focou no rei dos Twine. – Já deve saber, como todos os outros, mas fui amaldiçoado. Agora, me restrinjo em ler.
– E por que a magia se resumiria em mana? Ela está em tudo que é possível modificar. – Ele se levantou e Haivor fez o mesmo. – Venha. Polyus, me siga, por favor.
Um dos rapazes sentados inclinou-se para trás, encarando seu rei o chamar e se levantou imediatamente. Os três atravessaram a porta para um novo cômodo e a porta foi fechada. Com um único brandir de mão, Pojan criou uma imensa camada de mana selando o espaço.
– Polyus, gostaria que ajudasse meu amigo Haivor na arte do Jogo de Mentes.
O rapaz encarou Haivor e depois fez uma mensura ao seu rei. Eles se sentaram, Haivor e Polyus de frente um para o outro, Pojan mais afastado, observando-os.
– Haivor – Polyus mostrou orgulho ao erguer o queixo. – Quando se inicia um Jogo de Mentes, o desafiante pode escolher entre duas opções: Batalha Corporal ou Mágica.
– Sami e Wass não estavam seguindo esse padrão.
– Correto. Eles são habilidosos o suficiente para uma batalha hibrida. – Polyus fez um manejo de braço leve para ele. – Algo que ainda não somos. O jogo consiste na leitura de mentes. Você é um humano, então, meu rei deve dar a possibilidade de que possa conversar comigo e retrucaremos um após o outro. Está pronto?
Era desconfortável. Ser encarado daquela maneira e saber que sua mente estava sendo lida. Adaptação era uma característica básica entre os seres vivos, mas algo tão inédito o deixava com receio.
– Não precisa ter medo – Polyus claramente já estava lendo-o. – Não haverá dor. Apenas vitória ou derrota.
Pojan deu uma risada baixa.
– Ele é um humano, Polyus. A derrota é dolorosa para eles.
O rapaz fez uma cara significativa de entendimento.
– Perdoe-me, Haivor. Não sei sobre a cultura dos humanos tão bem quanto meu rei.
– Está tudo bem. – Haivor ajeitou-se no lugar onde estava. – Estou pronto.
Polyus demorou cerca de meio segundo apenas para elaborar um cenário em sua cabeça, com uma grama estreita, pequenos arbustos, porém, se situava em uma pradaria extensa onde o céu azulado se estendia pelo horizonte. Haivor se assustou porque parecia estava realmente ali, em outro lugar, porém, fisicamente sentado no chão do Castelo Interino.
E então, a voz em sua mente:
– Ataque diagonal.
Ele gaguejou, porém viu o movimento do rapaz em sua mente, atacando com uma espada de folha curta, rapidamente pela sua lateral. Travou por um segundo, e Polyus chegou em sua costela. A espada o atravessou.
Levou a mão a costela da mesma forma que piscava rapidamente. A lâmina parecia realmente ter encontrado sua carne e ossos.
– Lento – Polyus concluiu, um pouco desapontado. – Sei que é novo, mas precisa medir suas ações antes do meu golpe chegar. Não sou o melhor no Jogo de Mentes, nem mesmo posso me comparar ao Sami e Wass.
– Seja educado – contrariou Pojan. – Essa é a primeira vez dele. Deixe-o acostumar pelo menos a sensação.
– Desculpe, meu rei.
Haivor fechou os olhos. A pradaria, a grama e o céu, eles eram reais. A espada e o movimento também. Mas, nada daquilo era diferente do que uma batalha como todas as outras. Se pudesse ler o movimento que Polyus usaria antes mesmo de acontecer, seu corpo seguiria suas ordens com o dobro de eficiência.
Os livros diziam que os Twine eram capazes de derrotar seus oponentes sem ao menos usarem suas vozes. Eram silenciosos em um campo de batalha caótico. Nada interferia em sua paz interior. O segredo estava em como lutar e não na luta.
– Excelente – Pojan o elogio com gosto. – Sua precisão em analisar o conteúdo de dados e forjar seu conhecimento é veloz. Tente revidar os comandos de Polyus.
Haivor se preparou e o rapaz deu início novamente.
– Ataque diagonal.
– Bloqueio com um braço. – Ele projetou sua mente para defender do golpe e assim foi feito. – Chute no peito.
– Recuo em um passo. – Gingou perfeitamente para trás. – Estocada.
– Deslize de lâmina. – Seu machadinho acertou a espada por baixo, desviando o golpe para o alto. – Dois passos para frente.
A sobrancelha de Polyus arqueou. Haivor esperou.
– Um passo para trás. Três golpes pela esquerda.
– Um passo para a esquerda, deflexão de dois golpes. – Um mísero movimento de cabeça fez com que Polyus entendesse o que estava querendo. – Chute no peito.
Pojan sorriu.
Mentalmente, Haivor desafiou o movimento de ataque duas vezes. Bloqueou dois dos três golpes e usou o tempo do terceiro para chutar Polyus. Era sútil, mas o tempo entre um golpe mental e outro era quase de apenas um segundo, se sua mente fosse afiada, conseguia diminuir esse tempo, mas se fosse apenas um treinamento comum, era normal que os oponentes simplesmente esperassem que o outro rebatesse.
Acertar esse chute foi um banho de água fria em Polyus que desfocou sua atenção em seguida.
– Foi uma ótima manobra, Haivor. Esperei que defendesse dos três, mas você usou o espaço curto entre os golpes para que o terceiro ataque pela esquerda fosse mais demorado. Previu que eu teria que recuar sem dizer o comando.
– Não sou muito experiente em combate corporal, mas tenho muito conteúdo com o uso de machadinhas.
– Isso dá brecha para um belo treinamento – disse Pojan. – Polyus, você treinará com Haivor caso ele queira participar. Terá tempo suficiente para que possam aperfeiçoar esses jogos. Confio nos dois.
Polyus concordou prontamente para com seu rei e fez uma mensura quando ele se levantou e começou a partir.
– Preciso estar perto de Sami e Wass quando acabarem – disse. – Por favor, continuem.
Depois da porta ser fechada, Polyus respirou fundo. Haivor ainda estava em contato com a mente do rapaz, e lera o quão era pressionado a ser um bom guerreiro. Eram ordens de seu pai, um antigo general e amigo próximo de Pojan Twine.
– Podemos tentar a batalha mágica? – Haivor perguntou o tirando das lembranças. – Tenho mais afinidade com magia e comandos.
– Ah, certo. Pode começar dessa vez.
Haivor não precisou criar um cenário, voltaram diretamente para a pradaria. No entanto, sua afinidade se tornou bem mais forte do que antes. Suas duas mãos ergueram-se, era como se as maldições não estivessem ali. Livre de qualquer prisão momentânea.
– ‘Velocidade Dobrada’. – Seu dedo se ergueu. ‘Feixe de Luz’.
Uma bala luminosa saiu de sua mão e atravessou o peito de Polyus velozmente. O rapaz ergueu o peito, tão confuso quanto Haivor na primeira derrota.
– O que foi isso?
– Um comando e um feitiço. Aumentei a velocidade e usei um feixe, que tem atributos de velocidade, para atacar. Simplesmente, fiz um feitiço ser mais rápido.
– Não é isso. Eu entendi a magia. – Ele ainda estava perdido. – O que foi essa velocidade absurda da sua mente ao processar os dois ao mesmo tempo? Meu rei sempre me instruiu que dependendo da pessoa, o tempo entre a magia e o alvo pode ser diminuída em menos de um segundo.
– Aonde quer chegar?
– Haivor, o que você acabou de fazer não me deu tempo nem de conseguir replicar um escudo. Seu processo de comando foi mais rápido do minha velocidade de reação mental. – Polyus coçou a testa. – Entendi porque meu rei disse que você é diferente dos outros humanos.
O rapaz continuou agoniando em palavras mentais, e Haivor ficou esperando por uma conclusão. Quando ele terminou de falar e ergueu a cabeça, uma luz brandia sua face.
– Quão rápido você pode usar uma magia, Haivor?
– Nunca me perguntei isso. Só uso da maneira que acho necessária. Se o oponente for rápido, tento produzir um comando que amplifique minhas próprias magias. Se ele for forte na defesa, diminuir a força dele aos poucos.
– Adaptação mágica. Interessante. Podemos batalhar novamente?
– Claro.
– Quero começar dessa vez – pediu. – Quero testar sua defesa.
Haivor concordou. Lá estavam novamente, no meio da pradaria.
I
– Ele o derrotou, Sami – Pojan dizia com calma. – Wass tem se tornado mais e mais perspicaz. O que acha de colocá-lo sob a tutela do general Sing?
Sami colocava café em um copo, analisando com cuidado o líquido ser despejado.
– Ele vai se tornar adulto em poucos meses. Se assim o senhor quiser, pedirei que ele seja treinado. O general Sing espera que nomeie alguém como aprendiz. – Entregou uma xícara para Pojan e tomou um lugar na mesa, ao seu lado. – Não podemos mais perder pessoas sensitivas. Blefamos com os humanos desse lugar para que os mais fracos possam estar seguros, mas quando perceberem que somos somente três de nós, eles não nos manterão mais. Somos um fardo muito grande, até mesmo para esse lugar imenso.
– Não se preocupe quanto a isso. Estive com Haivor, o Enigma, hoje cedo. Ele se manteve bem duro nos primeiros minutos, mas li sua mente como se fosse uma página de um livro qualquer. – Tomou o café junto de Sami. – Temos tantos benefícios aqui com eles quanto eles conosco. Somos como guardas, eles são lanças.
A indiferença de Sami pelos humanos sempre fora uma habilidade, mas ouvir o nome Haivor, aquilo mexeu um pouco com ele.
– Ele é confiável, senhor? Ensinar nossos métodos, nossos treinos. Eu não vejo um retorno alto para que o mantenhamos aqui.
Pojan sorriu pra ele.
– Seu rei nunca falha em quem acreditar, meu amigo. Haivor é uma pessoa diferente, porém, com falhas que todos os humanos possuem. Ele é debilitado, mas na mente, sua força se iguala a de um professor. Polyus batalhou contra ele hoje cinquenta vezes, sabe quantas o nosso perdeu?
– Acredito que poucas. Humanos não se acostumam rápido aos nossos treinos.
– Polyus perdeu quarenta e cinco vezes.
Prestes a beber o café, Sami travou.
– Quarenta e cinco?
– Você está surpreso. Eu sei. Depois de sua batalha, eu voltei para a sala e fiquei cerca de trinta minutos vendo Polyus tentar entender como as magias que Haivor usava eram tão fortes e eficazes. Sendo sincero, eu demorei algum tempo para entender também.
– O senhor, meu rei? – Sami não acreditava de jeito nenhum. – Como um humano pode ser tão bom assim em Jogo de Mentes?
– Ele não é forte no jogo. Pelo que entendi, sua mente é treinada desde que era pequeno. Ele fortalece seus pontos fortes e reduz as falhas para o mínimo. A ignorância é uma arma quando direcionada para o lugar certo.
– Se eu não souber o que ele fez, não tenho como me defender. – Sami tinha chegado a conclusão rapidamente. Era por isso que Pojan tanto conversava com ele. Tirando o General Sing, Sami era o único próximo de uma batalha mental decente. – Um humano com tanta capacidade.
– Sim. As organizações mágicas do sul não conhecem nada sobre a mente e os poderes que são guardados por ela. Haivor está usando-os, porém, sem ao menos ter noção disso.
– E isso não é perigoso? Um humano como ele pode vir a ser um inimigo no futuro.
– Para que possamos proteger nosso povo, tive que fazer uma escolha, Sami. – Pojan ficou sério. – Os Magos, Adesir, Arcanos e Bruxos, independente de quem seja, são todos regidos com regras antigas, arcaicas. Lidam com a natureza sem senti-la, gostam da magia, mas não a conhecem diretamente. Não importaria fazer alianças com pessoas que não sabem nada sobre a magia e o propósito dela.
– E por que ele, senhor?
– Porque a forma como pensamos limita nosso potencial. As regras nos colocam atrás de uma parede que temos certeza que não pode ser removida. Marcamos um risco até onde nosso poder pode chegar, nos elevamos até onde nossa magia permite. A dor que sentimos nos torna cansados e paramos de caminhar. Mal sabemos que além da dor, existe a energia que os antigos reis do norte tinham antes de serem mortos. O poder que buscamos pode ser acessado por qualquer ser vivo, mas Haivor está mais próximo do que qualquer outro que procuramos por essas bandas.
– Sua convicção sempre foi uma das mais admiráveis armas, meu rei. Tenho certeza que o senhor diz as coisas com total certeza do que pode ou não acontecer – o rosto dele contraiu –, mas se não existe limites para um homem como aquele, alguma hora, também não teremos utilidade.
– Ai entra a lealdade e agradecimento. Humanos são movidos por desejos, e não importa se for um desejo pequeno, ele sabe que nós damos algo que o beneficiou. Então, voltará para nós.
Sami fez um aceno de cabeça. Pojan tomou o resto do café.
– Quero que lute contra ele amanhã. Vamos ver até onde ele consegue chegar no combate mágico.
– Sim, meu senhor. Irei me preparar.
– Sem pegar leve. Leve até o limite, Sami.
O Guardião dos Twine, Sami, fez uma reverência longa.
II
Quarenta e cinco vitórias. Deitado na sua cama, Haivor encarava o teto. Polyus era interessante, mas suas magias foram todos muito simplórias, como se não soubesse o que estava fazendo. Ele era forte, claro, mas nem chegava perto dos treinos que Mestre Grison fazia contra ele, com magias reais e dores reais.
Teve apenas de se adaptar, pouco a pouco, aquele cenário ilusório e entender que o tempo de ataque e defesa eram todos sincronizados com sua reação mental. Mas, foi um pouco decepcionante depois da vigésima batalha. Polyus se dedicava a entender ao ataque e defesa, mas acaba se perdendo no processo.
Haivor precisa de duas mentes para treinar. Para um Arcano ou um Bruxo, até mesmo um Adesir, poderia apenas praticar se estivesse com os Twine. Julis havia escrito um livro sobre a divisão da mente em partes iguais. O próprio Mestre Adesir conseguia dividi-la em duas, por pouco tempo. Ele, no entanto, poderia dividir em quatro partes.
Fechou os olhos e fez a divisão em quatro partes. Ao mesmo tempo, quatro Haivor estavam ali. Um lugar fora da realidade, apenas retransmitindo o Jogo de Mentes dos Twine. Ao mesmo tempo, os quatro fizeram seu movimento.
Praticar quatro vezes ao invés de uma. Conjurar todo o tipo de magia achando uma forma de defender e achar uma brecha onde não deveria existir falhas. Lutar consigo mesmo era a melhor forma de aprimorar seu conhecimento enquanto não podia acessar a magia do lado de fora.
Os Twine lhe deram uma outra maneira de ver a magia; a sabedoria da tentativa.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.