Como se conjurados pelas palavras aterrorizadas de Anya, portais dimensionais instáveis, não mais feridas estáticas e abertas na realidade, mas rasgos rápidos, silenciosos e cirúrgicos no tecido do espaço, começaram a se abrir e fechar erraticamente atrás e dentro das linhas defensivas da Hegemonia.

    “Deusa-Imperadora, eles estão dentro da formação! Atrás de nós! Setor Gama, eles…” A voz no canal geral foi cortada por um som úmido e final.

    E deles, emergiram os Messores. Eram diferentes das outras castas. Mais ágeis. Mais mortais. Eram pesadelos biomecânicos encarnados, uma fusão profana e antinatural de inseto predador e lâmina afiada.

    Seus corpos eram esguios e segmentados, com cerca de três metros de comprimento, mas se moviam rapidamente em quatro ou seis pernas finas e afiadas como agulhas hipodérmicas, conferindo-lhes a silhueta perturbadora de uma aranha ou de um louva-a-deus feito de metal entrópico escuro. Não tinham cabeça discernível, apenas um torso do qual brotava um cluster assimétrico de múltiplas lentes ópticas púrpuras que zumbiam suavemente e se focavam independentemente umas das outras, varrendo o campo de batalha com uma inteligência fria e alienígena. Seus dois braços principais não seguravam armas; eles eram as armas – longas e curvas foices biomecânicas feitas de osso e metal fundidos que terminavam em lâminas de energia entrópica vibrantes e sibilantes.

    Seu método de luta era uma forma de arte grotesca e terrivelmente eficaz. Eles não se teleportavam simplesmente; eles usavam os portais dimensionais como uma extensão fluida de seus próprios corpos, uma tática tridimensional que tornava as defesas lineares inúteis. Um Messor abria um pequeno portal diretamente no chão sob um Legionário de Ferro, e apenas sua lâmina-foice emergia, empalando o ciborgue massivo por baixo, perfurando metros de blindagem reforçada como se fosse papelão. Outro abria um portal momentâneo no ar, bem no meio de um esquadrão de infantaria entrincheirado, e girava rapidamente, suas múltiplas pernas-lâmina afiadas fatiando a unidade inteira num redemoinho sangrento de metal e carne antes que o portal se fechasse tão silenciosamente quanto se abrira. Eram cirurgiões precisos do caos, e o campo de batalha era sua mesa de operação ensanguentada.

    “Eles estão ignorando o Jax na linha de frente!”, gritou Zeon pelo comunicador, sua mente tática lutando desesperadamente para processar e contra-atacar o novo horror tridimensional. A ordem militar, baseada em frentes, flancos e retaguardas, havia se tornado instantaneamente obsoleta. “Estão contornando completamente nossa muralha de escudos! Estão caçando a retaguarda! Nossos flancos estão expostos!”.

    O trio de Kations, que havia sido a âncora sólida da defesa, agora se via subitamente numa batalha desesperada e desorientadora contra fantasmas que atacavam de todos os ângulos ao mesmo tempo.

    “Jax, esqueça a linha de frente! Recue! Defesa de ponto imediata! Crie uma zona de morte ao nosso redor! Não deixe nada se aproximar!”, ordenou Zeon, a urgência beirando o pânico. “Anya, esqueça os líderes! Não mire mais nos corpos, mire nos portais no exato momento em que se formam! Tente desestabilizá-los antes que eles atravessem completamente!”.

    Era uma tática desesperada, quase impossível de executar. O ‘Martelo’ massivo de Jax tornou-se um redemoinho de destruição controlada. Ele girava sobre seus eixos, seu martelo sísmico esmagando o chão repetidamente ao seu redor, criando ondas de choque concêntricas para interceptar os Messores no instante em que emergiam. Mas era como tentar parar uma chuva torrencial com as próprias mãos. Um Messor apareceu num piscar de olhos diretamente em suas costas, suas foices sibilantes rasgando profundamente a blindagem traseira do Kation com um grito agudo de metal torturado. Jax rugiu de fúria e girou violentamente, esmagando a criatura contra uma coluna de obsidiana, mas outro já estava aparecendo à sua esquerda, suas lâminas cortando os atuadores expostos da perna danificada de seu mecha.

    O ‘Espectro’ ágil de Zeon dançava perigosamente em meio ao caos crescente. Ele disparou uma salva completa de seus mísseis de enxame, não para matar, mas para saturar uma área, forçando um Messor a se materializar num local ligeiramente mais previsível. “Anya, agora! Às suas três horas!”, ele gritou.

    Das sombras do teto distante, o crack-thoom ecoou. O tiro de Anya atingiu o portal instável no exato microssegundo em que ele começava a se abrir. O portal implodiu com um flash ofuscante de luz roxa distorcida, e o Messor que estava a meio caminho da travessia foi instantaneamente partido em dois, metade de seu corpo caindo inertemente no chão, a outra metade perdida para sempre no nada dimensional. Foi um tiro impossível, uma proeza de precisão que beirava a precognição.

    “Consegui um!”, relatou Anya, sua respiração pesada e audível. “Mas a tensão no espaço-tempo… Capitão, é nauseante. Cada tiro que dou… sinto a realidade gritar ao redor do ponto de impacto. Sinto a instabilidade crescendo. Não posso fazer isso muitas vezes… Sinto que algo pior vai vazar se eu continuar abrindo essas feridas.”

    O horror cósmico da sua única defesa eficaz atingiu Zeon: para lutar contra os monstros, eles tinham que arriscar rasgar o próprio tecido do universo.

    A batalha tornou-se pessoal, desesperada. Um Messor materializou-se diretamente na frente do ‘Espectro’ de Zeon. Zeon respondeu por puro instinto, sua lâmina de plasma sibilando ao encontrar as foices entrópicas numa chuva de faíscas azuis e roxas. Por um instante, ele ficou cara a cara com a criatura, olhando diretamente para o cluster de lentes ópticas sem alma, e sentiu um frio profundo que não era do vácuo, mas da presença avassaladora de uma inteligência completamente predatória e incompreensível. Ele empurrou a criatura para trás e a desintegrou com um tiro a queima-roupa, mas o custo foi um corte profundo em seu ombro esquerdo, a energia entrópica corroendo a armadura como um ácido molecular.

    A linha de trás, onde os engenheiros e a infantaria de suporte tentavam desesperadamente manter os escudos, finalmente quebrou sob o ataque implacável dos Messores. O círculo defensivo foi rompido.

    O verdadeiro massacre começou. O horror cósmico dos Nictis revelou-se em sua plenitude aterradora. Suas armas não matavam simplesmente; elas apagavam a existência.

    Zeon viu um soldado erguer a mão em pânico, o rosto uma máscara de terror silencioso, apenas para ver a mão, depois o braço, e então o soldado inteiro se desfazer como açúcar numa tempestade, a sua voz no comunicador um pop súbito de estática e depois… nada. Nem um eco.

    Um esquadrão inteiro, entrincheirado corajosamente, foi varrido por uma única rajada coordenada de raios entrópicos. Não houve gritos, apenas o som sibilante baixo de matéria se desfazendo e o silêncio súbito e absoluto onde dez homens costumavam estar. Um Legionário de Ferro, um gigante imponente de metal e carne cibernética, foi atingido por múltiplos raios e simplesmente se desfez em pleno ar, sua armadura pesada e seu corpo biológico tornando-se uma nuvem efêmera de partículas que foi levada pela descompressão para o vácuo. O sangue ainda manchava as paredes onde estilhaços haviam atingido, mas o verdadeiro horror não era a carnificina visível; era o silêncio absoluto, o vazio deixado onde um soldado costumava estar.

    “Apagados,” o pensamento ecoou na mente chocada de Zeon, frio e afiado. “Não mortos. Não aniquilados. Simplesmente… desfeitos. Removidos da equação da existência. Que tipo de inferno profano é este?”. A náusea subiu por sua garganta, um gosto ácido de medo e impotência, mas ele a engoliu à força. Aquele horror era uma arma psicológica tão eficaz quanto as físicas.

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