O hangar principal da Nasus era uma sinfonia controlada de caos industrial. Guindastes magnéticos gigantes moviam mísseis do tamanho de caças estelares, técnicos em macacões manchados de graxa corriam freneticamente entre as pernas colossais de gigantes de metal adormecidos, e o ar vibrava com o cheiro de propelente químico, metal superaquecido e a ansiedade palpável de uma força prestes a entrar em combate. A unidade DK-78B02 se preparava apressadamente em seu próprio nicho de lançamento designado.

    Zeon caminhou com passos largos e determinados em direção ao seu Kation pessoal, o ‘Espectro’. Era um modelo de comando da classe ‘Assombração’, uma máquina de guerra de dez metros de altura que se movia mais como um predador ágil do que como um soldado pesado. Sua blindagem era um mosaico de placas de cerâmica cinza-escuro e remendos mais novos e brilhantes, um mapa visual de sua longa e compartilhada carreira de batalhas.

    Em seu ombro direito, carregava um canhão de pulso pesado, sua principal ferramenta de destruição a longa distância. No esquerdo, um lançador de mísseis de enxame projetado para controle de multidões e supressão de área. Mas sua arma mais letal estava discretamente escondida: uma lâmina de plasma retrátil embutida em seu antebraço direito, uma arma de último recurso devastadora para duelos inesperados a curta distância. O ‘Espectro’ era, em muitos aspectos, um reflexo metálico de seu próprio piloto: um estrategista calculista que preferia a distância e a furtividade, mas que era terrivelmente perigoso e imprevisível quando encurralado.

    Anya já estava subindo rapidamente a escada de acesso retrátil para seu próprio Kation personalizado. Era um modelo de reconhecimento da classe ‘Vidente’, visivelmente mais esguio e ágil que o pesado ‘Espectro’ de Zeon. Sua função primária no campo de batalha não era a força bruta, mas a coleta e disseminação de informação vital. Sua cabeça era um conjunto complexo e assimétrico de sensores multiespectrais avançados, e suas costas abrigavam uma grande antena de comunicação de longo alcance dobrável, capaz de perfurar a maioria das formas de interferência eletrônica.

    Sua arma principal era um rifle Gauss de precisão modificado, uma arma temível que disparava projéteis sólidos de metal denso a velocidades hipersônicas, capaz de perfurar a blindagem de um cruzador inimigo a quilômetros de distância com um único tiro bem colocado. Ela era a atiradora de elite silenciosa, os olhos e ouvidos da unidade, a caçadora paciente que frequentemente matava suas presas antes mesmo que elas soubessem que estavam sendo caçadas.

    Jax estava ao lado de seu Kation recém-reparado, o ‘Martelo’, uma mão enorme e enluvada pousada quase reverentemente em sua perna blindada e massiva. Era um modelo de assalto pesado da classe ‘Martelo’, um bruto imponente de metal construído para uma única e gloriosa finalidade: quebrar coisas e sobreviver ao processo. Sua blindagem era a mais espessa da unidade, suas pernas reforçadas com atuadores extras para absorver o impacto de quedas e explosões.

    Em uma mão gigantesca, ele carregava um martelo de guerra sísmico, uma arma brutal que podia pulverizar concreto reforçado e metal blindado com ondas de choque localizadas. Na outra, um canhão de plasma pesado de cano curto, devastador a curta distância contra infantaria e veículos leves. Ele não era um bisturi cirúrgico; era um aríete imparável, o escudo protetor e a espada quebradora de linhas da unidade.

    “Verifiquem seus sistemas. Diagnóstico completo e relatório imediato”, disse Zeon pelo comunicador criptografado da unidade enquanto subia apressadamente para seu próprio cockpit. “Não quero nenhuma surpresa desagradável quando estivermos lá embaixo”.

    “Sistemas do ‘Vidente’ totalmente operacionais. Sensores calibrados e varrendo. Estou pronta para pintar o quadro tático para você, Capitão”, respondeu Anya, sua voz calma e profissional como sempre, a tensão da missão anterior aparentemente esquecida.

    “O ‘Martelo’ está pronto e ansioso para cumprir a sagrada vontade de Adel!”, disse Jax, sua voz novamente cheia de um fervor religioso recém-descoberto que fez Zeon estremecer involuntariamente. A dúvida anterior parecia ter sido suprimida pela adrenalina e pela doutrina.

    Zeon se acomodou em seu trono de pilotagem familiar. “Espectro, iniciar sequência de acoplamento neural”.

    “Sequência iniciada, Capitão”, respondeu a IA calma de seu Kation.

    Os cabos de dados deslizaram silenciosamente de seus compartimentos na parte de trás do assento e se conectaram com precisão às portas neurais em sua espinha dorsal. O mundo ao seu redor se expandiu instantaneamente. Ele não estava mais olhando para uma tela holográfica; ele era a tela. Os múltiplos sensores do ‘Espectro’ se tornaram seus próprios olhos e ouvidos, processando um fluxo avassalador de informações. Ele sentiu o zumbido baixo do reator de plasma como seu próprio batimento cardíaco, o fluxo de fluido hidráulico pressurizado em suas veias metálicas. Ele era, mais uma vez, um deus de metal de dez metros de altura, pronto para a guerra.

    As naves de extração, caixotes voadores de metal blindado e funcional, desceram ruidosamente pela atmosfera fina e gelada da lua Mimas. A bordo, o clima entre as tropas era tenso, silencioso. A unidade de Kation de Zeon era a ponta de lança designada. Atrás deles, em outras naves, vinham as unidades de apoio: esquadrões de infantaria de linha em armaduras de combate, robôs quadrúpedes pesados de suporte de fogo com canhões automáticos montados em suas costas, e engenheiros de combate equipados para qualquer eventualidade de demolição ou fortificação. Uma força de invasão completa e bem equipada para o que deveria ser uma simples missão de guarda e reconhecimento. A mentira de Hesperus ficava mais evidente a cada segundo.

    A rampa pesada da nave de desembarque baixou com um gemido hidráulico prolongado, revelando a superfície cinzenta, desolada e coberta de poeira fina de Mimas. O silêncio lá fora era absoluto, opressivo. Não havia vento, não havia som atmosférico, apenas o vácuo frio e indiferente do espaço. E à frente deles, imponentes e silenciosos, erguiam-se os portões colossais do Pavilhão de Adel, hermeticamente fechados.

    “Anya, Jax, flanqueiem a entrada principal. Outras unidades, formem um perímetro defensivo ao redor da zona de desembarque”, ordenou Zeon pelo comunicador do esquadrão. “Vamos bater educadamente na porta primeiro”.

    Não houve resposta do Pavilhão. Os portões maciços, que deveriam ter reconhecido seus códigos de acesso de alta prioridade e se aberto automaticamente, permaneceram inertes, frios e silenciosos.

    “Engenheiros, abram caminho”, disse Zeon, a paciência esgotada.

    Cargas de plasma foram rapidamente colocadas nas juntas reforçadas da porta. A explosão subsequente foi um flash ofuscante e silencioso no vácuo, e os portões de toneladas de peso rangeram e se abriram lentamente para dentro, revelando um corredor escuro e aparentemente vazio.

    Eles entraram cautelosamente, armas em punho, sensores varrendo cada sombra. Os corredores estavam assustadoramente vazios. Uma fina camada de poeira intocada cobria o chão de metal polido, indicando que ninguém passara por ali há algum tempo. As luzes de emergência piscavam em um ritmo lento e hipnótico, lançando sombras longas e dançantes que brincavam com os nervos. Em um posto de guarda abandonado, um terminal de dados ainda estava ligado, exibindo um relatório de status de rotina datado de três dias atrás. Ao lado do terminal, uma caneca de café sintético estava pela metade, seu conteúdo agora congelado e sólido.

    Eles não foram embora às pressas. Eles simplesmente desapareceram no meio de suas rotinas.

    “Dividam-se em equipes de busca. Verifiquem metodicamente todos os setores”, ordenou Zeon pela rede de comando. “Minha unidade vai diretamente para a câmara central da Forja. Quero relatórios de status a cada cinco minutos de todas as equipes”.

    Enquanto as outras unidades de infantaria e suporte se espalhavam cautelosamente pela fortaleza fantasma como dedos tateando na escuridão, Zeon, Anya e Jax seguiram em formação tática triangular para o coração pulsante – ou agora silencioso – do Pavilhão. O silêncio era opressivo, quebrado apenas pelo eco metálico de seus próprios passos pesados. Cada passo de seus mechas gigantes ecoava pelos corredores vazios como o bater lento e agourento de um coração de metal moribundo. A tensão era palpável, uma eletricidade estática no ar que fazia os pelos da nuca de Zeon se arrepiarem, mesmo dentro de sua máquina. O que quer que tivesse acontecido ali, não fora natural.

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