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Capítulo 10: Susto perigoso.
Quarta-feira, 18/08/2027. O dia já começou bem mal. Meu corpo suplicava por vontade; de novo acordei debilitado e sonolento.
E agora, tendo acabado de descer do ônibus, fitando o caminho da qual teria de fazer, desanimado. Não era tão longe, bastaria seguir reto na calçada de paralelepípedo da qual eu estava, no rumo da avenida conjunta de arvoreiro e, em torno de cem metros, virar a esquerda na faixa de pedestres, chegando então ao prédio da empresa.
Mas, tudo que queria naquele momento era voltar pro ônibus e ir para casa, me deitar e ficar na cama o resto do dia. Infelizmente, não podia, eu tinha de ir para o trabalho; ahh, parecia uma dificuldade chegar lá.
— Oh! E aí, Will! — A voz só podia ser de Michael, pondo sua mão no meu ombro.
Aparentemente, tinha chegado no mesmo ônibus da qual desci, embora nem o tenha visto lá.
— Ah, Michael… e aí — respondi, com ele já ao meu lado. Caminhávamos vagarosamente ao destino.
— Tu não me viu lá no ônibus não?
— É… não — respondi com a voz cansada.
— Era claro, você tava todo jogado lá no banco, cochilando — falava com um entusiasmo invejável.
Analisando mais a fundo meu rosto com os olhos, Michael chegou na conclusão mais óbvia possível:
— Caramba, você parece cansadão mesmo.
— Não me diga — retruquei, seco.
É, meu humor também não estava o dos melhores.
— E parece que acordou de péssimo humor também… o que ouve?
— Argff…! — Suspirei — Não sei, só acordei mais debilitado do que nunca e tô com uma leve dor de cabeça.
— Nossa. Mas tu tomou algum remédio? — Senti preocupação tanto na fala, quanto no rosto de Michael.
— Tomei. Já tá passando, pelo menos.
— Ainda bem. Estando doente, deveria ter ficado em casa, para começo de conversa.
— Ein?! — Olhei para ele, cético — Nem pensar, tô cheio de coisa pra fazer no escritório.
— E para resolvê-los, você complica ainda mais sua saúde? Que baita decisão, viu. — Ele mais parecia minha mãe me dando um sermão.
Fechei a cara, concentrando no caminho, então respondi, sem muita energia:
— Tanto faz.
Dito isso, arfou, desistindo devido a minha obstinação. Mas, fez um último aviso que me fizera parar para refletir:
— Só não se esqueça de que agora você tem uma filha para cuidar. — Aquilo viera como um tapa na cara.
É verdade, tinha esquecido completamente da minha responsabilidade como pai. Não dava para mim me descuidar atoa por bobeira, eu tinha uma filha para criar.
— Verdade… você tem razão. — Minha expressão caiu — Se amanhã eu amanhecer assim de novo, vou a um médico.
Com a resposta, senti um apoio forte de uma mão sobre meu ombro direito.
— É isso aí — dizia, aliviado com minha resposta. Como resposta, apenas dei um sorriso falho e continuamos o trajeto.
Chegando no trabalho, tomei um café, da qual renovou parte da minha energia. Então, parti para a mesmíssima rotina de sempre. O dia permanecia sendo puxado, cheio de projetos para finalizar, códigos para criar, verificação de segurança para corrigir etc.
Todos no escritório estavam veementes, sem tempo para conversinhas; até Michael, tagarela como é, resolveu se concentrar mais no trabalho.
À tarde, faltava pouco para fechar a minha cota. Frenético, consegui terminar antes do final do expediente.
— Ufa! — Suspirei, relaxando na cadeira.
— Também terminou? — Michael indagou.
— Sim. Agora só mandar pro Matheu… — Procurando com os olhos, o achei, prestes a sair, assim como muitos dos funcionários.
— Ei, Matheu! — Michael chamou — Terminamos aqui, podemos enviar para você?
Matheu, pegando seu laptop da mesa, respondeu:
— Pode enviar, amanhã eu vejo. — Assentimos com a cabeça. Em seguida, ele saiu.
Terminando de enviar todos os arquivos, finalmente poderíamos ir embora.
— Cara, não vejo a hora de chegar em casa — dizia Michael, relaxando o pescoço.
— É, eu também — respondi, arrumando minhas coisas.
Nós dois nos levantamos e partimos para a saída. Era quatro e quinze da tarde, faltava apenas quinze minutos para o ônibus vir, então saímos a passos largos.
Já de fora do prédio, caminhávamos ao destino. Suspirando, tive de soltar minha insatisfação:
— Que chatice… — Soou quase como um murmuro.
De corpo mole, o cansaço não desaparecia; até o ato de andar me era pesado e custoso. Chegava a um ponto de eu nem querer falar direito.
Michael, então, me questiono:
— O que?
Virei o rosto para ele, proferindo:
— Ter que… trabalhar… sair de casa — Minha voz saia cansada — Seria melhor um home-office.
Os olhos de Michael ergueram-se um pouco, a ideia parece ter despertado lhe uma concordância.
— Isso é verdade. Às vezes é muito cansativo mesmo. Se pelo menos eu tivesse um carro… — ponderava sobre.
Apenas assenti com a cabeça, em concordância.
— Pera aí, Will — Virou o rosto para mim, como se uma ideia tivesse sido brotada — Considerando que você tem uma filha pra cuidar, você poderia pedir pro chefe te deixar no home office, não?
— Duvido muito que ele aprovaria, isso já virou norma da empresa.
— Mas não custa nada tentar.
— Algum dia, quem sabe.
Dito isso, com mais alguns passos chegamos ao ponto de ônibus.
Assim que sentei num dos bancos, senti um arrepio me consumir. Tinha lembrado de algo: o gato. Se ele, aparentemente, aparecia quando eu estava no ponto, naquele dia não seria diferente, imaginei.
Fiquei apreensivo, desconfortável e atentando-me aos lados…
Então… como o esperado, o desgraçado apareceu entre a vegetação da praça, como uma sombra sorrateira.
Engoli seco, tentando manter a calma, embora conforme o próprio se aproximava de mim, me despertava uma inquietude crescente.
Respirei fundo, soltando o ar e fechando os olhos. Sim, ele não passava de uma alucinação, não teria porquê temê-lo, era só um gato fruto da minha imaginação!
Desvaneci aqueles pensamentos e relaxei o corpo. Se eu provar não ter medo e que ele não era real, pensei na hipótese dele desaparecer.
Mas, quando abri os olhos…
— AHHH! — berrei. O desgraçado estava bem na minha cara, flutuando, com aquela expressão sádica e horripilante.
O susto aflorou o medo antes ofuscado e comecei a tremer, seguido de calafrios. Minha visão chegou a turvar.
Então, a aparição desapareceu, mas meus instintos pediam por procurá-la, isso foi a pior decisão que pude tomar; voltando meus olhos para o lado direito, senti ele… não cheguei a vê-lo, apenas olhei acima do ombro, mas a presença ameaçadora já dizia por si só; estava atrás de mim!
O que aprontava?! Um ataque?! Não importava, só queria sair de perto daquela aberração o mais depressa possível.
Meus olhos se sobressaltaram, então levantei-me subitamente.
— Sai de perto de mim! — Virei-me para trás enquanto dava passos largos — Sai!!!
Me desesperei. O gato dava passos e a cada um passo seu, eu dava três, afastando mais e mais… e mais, e mais… mal sabia para onde ia, meus olhos não desgrudavam dele. E por isso…
— Will! — A voz de Michael penetrou a barreira do caos que me assolava e, logo após, o gato desapareceu.
No mesmo instante, percebi uma nova situação acontecendo: eu estava quase no meio da rua!
Biiii!!!
O barulho de uma buzina fora a única coisa ouvida desde então. Quando virei para o lado, um carro prata vinha de encontro a mim.
— Cuidado, seu idiota! — Michael me puxou pelo braço para a calçada no mesmo segundo.
Fiquei em choque, por pouco não fui atropelado.
— Que porra foi essa, Will?! O que diabos deu em você?! — Percebi a cara dele visivelmente alterada, com a expressão assustada, preocupada e ao mesmo tempo inconformada com o que acabara de acontecer.
— Eu… — Não tinha palavras para descrever tamanha situação.
O medo pode ter sumido junto do seu autor, mas o baque de após me deixou incrédulo, mas ao mesmo tempo aliviado. Não sabia explicar… mas algo eu tinha certeza: por culpa daquele gato, eu poderia ter morrido!
O desespero tinha tomado conta de mim, desestabilizando o senso de direção… era preocupante. Comecei a questionar a mim mesmo sobre ele ser de verdade uma alucinação ou não.
— Fala, cara! Tu saiu gritando e quase foi atropelado… o que deu em você?
De volta ao banco, pus minha mão sobre a cabeça e respondi, meio nervoso:
— Eu não sei… — Preferi não ter dito o real motivo — Acho que, algo está de errado comigo… deve ser o cansaço.
— Cansaço? Aquilo foi mais pra loucura mesmo. — A associação me fez levantar um pouco a cabeça, surpreso.
Verdade, loucura, deve ser isso. Pensar nisso me preocupou muito.
— Arf!… de qualquer forma, você tem que tomar cuidado, eu real fiquei assustado, cara.
— Desculpa, eu só… — Optei por não terminar, a situação ainda ofuscava os pensamentos.
Pude sentir Michael olhando para mim, preocupado, mas não tive coragem de levantar a cabeça por conta da tamanha vergonha, uma vergonha por ter agido daquela forma.
Quando decidi, em enfim, erguer a cabeça, o ônibus vinha.
— Vamos? — questionara-me, levantando-se. Apenas concordei com a cabeça, mais calmo.
Então, o ônibus chegou; entrei sem olhar para atrás, mesmo pressentindo uma presença superficial daquela aberração.
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