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    Imóvel, sem perspectivas de movimento, eu me encontrava. A tensão que descia do meu corpo podia ser notada até por Michael, preocupando-se: 

    — Will, você tá legal? O que ouve? — Aquele riso de antes não existia mais em sua face, apenas uma morbidez estampada. 

    — Will…? — Insistia em chamar, mas eu estava surpreendido de mais para responder. 

    Então, resolvi finalmente me mover, primariamente pondo o telefone vagarosamente na mesa enquanto meus braços tremiam. 

    Levantei-me abrupto; o ranger da cadeira ecoou por todo o local. Pude sentir meus sentimentos saírem… sim! finalmente saíram! Não consigo explicar a emoção do momento, apenas soou incondicionalmente: 

    — Haha… hahaha! — gargalhei, sobrepondo o sorriso mais largo da minha vida. 

    Não me contive… estava feliz, muito feliz! Feliz ao ponto de chegar mais perto de Michael e lhe dar um abraço desmedidamente apertado. Claro, sua cara de espanto e desconforto era o esperado. 

    — Nasceu! Nasceu, Michael! Minha filha nasceu! — berrei, ainda o abraçando. 

    — Tá-tá bom, cara… — dissera, forçando-me a desgrudar dele. Chegou a até ficar sem jeito. 

    Afastado um pouco, minha alegria continuava. 

    — Minha irmã ligou! Ela está no hospital! Minha esposa… minha filha! — Quase perdi o senso de fala, de tão emocionado e elétrico. 

    — Nossa, cara! — Michael, surpreso, levantou-se junto a um sorriso sincero — Parabéns! 

    — Filha? — Uma voz externa passou pelos meus ouvidos. 

    Levamos o rosto para frente, a voz vinha da fileira à frente, a penúltima. 

    — Sua filha nasceu, William? Que legal! Meus parabéns — verbalizou, uma colega de trabalho, agora levantada. 

    — Obrigado, Luci! — respondi balançando a cabeça, confirmando mais animado. 

    — Olha, só… e não é que o grande William finalmente virou pai? — Outra voz surgiu, desta vez na antepenúltima fileira de mesas, bem ao lado de Luci. 

    Era Rebecca, virando-se para mim com um sorriso amigável, mas com sua habitual descontração. 

    — Parabéns. — Ela complementou. 

    — Obrigado, Rebecca! 

    Entre a equipe, Rebecca era a mais séria, vê-la expressando um sorriso genuíno me foi uma verdadeira surpresa. Até Michael se surpreendeu, não porque aquela bela mulher alta, rosto branco e refinado nos olhava com aquele sorriso contrastado com o batom rosa e olhos escarlates; estava surpreso, também, com os inesperados parabéns. 

    Tá, tá, sei que gritei feito maluco, revelando a todos o fato, mas eu não esperava por isso. 

    Outros funcionários, apesar de ainda sentados, olharam pra mim com compreensividade, como se estivessem me dando os parabéns indiretamente. Isso me animou um bocado. 

    — Com toda essa exaltação, deve ter feito mais barulho que o bebê. — A piada veio do lado, com todos virando-se para o autor: 

    Veio do homem sentado numa mesa mais afastada dos demais. O próprio estava, até então, no computador, porém levou o rosto para nós, fitando-me. Ao fixar seus óculos, riu: 

    — Parabéns, William. 

    — Obrigado, Matheu! — Assenti com a cabeça. 

    De novo, uma surpresa; Matheu era o responsável por administrar os projetos da empresa e repassar ordens do presidente. De todos, ele era o da qual eu menos esperava uma recepção dessas. 

    O clima perdurara um aconchego indescritível, com rostos amigáveis a minha volta. Embora não fôssemos tão próximos como o Michael, eu podia sentir estar em família. 

    Entretanto… uma voz inconveniente emergiu dos confins da primeira fileira para estragar a felicidade alheia: 

    — Meu deus, que algazarra toda só por conta disso. Não dava para comemorar sem gritar? Nunca vi um homem tão exalto assim por ser pai. 

    Aquela mulher… uma voz tão serena, mas tão chata de se ouvir, viera de Cassandra, a secretária. De costas para nós, mexia em seus documentos. Ver aquele cabelo loiro e longo dela me deixara ainda mais aborrecido, pois lembrei da implicância permanente dela quanto ao meu. 

    Suspirei, revirando os olhos. Fiquei quieto, não compensaria tentar discutir, não queria estragar minha felicidade. 

    Todavia, outra pessoa falou por mim: 

    — Ah, deixa de ser tão careta, Cassandra! Deixa o cara comemorar — retrucou Michael. 

    Houve polaridade nas palavras de Michael, porém ele quis dar um ar mais de brincadeira na voz, para não soar tão rude. Embora eu pudesse imaginar o que pensara: “Mulher chata da porra!” … algo assim. 

    — Concordo com o Michael. Não é todo dia que se recebe uma notícia dessas, afinal. — Rebecca pontuou. 

    Logo após, pude perceber Matheu pondo a perna em cima da outra enquanto balançava a cabeça em concordância. A expressão séria dele cessou por um breve momento e o rosto rústico fora realçado. Então, uma voz grave saíra: 

    — De fato. 

    — Hump! Não sei que graça tem ter um filho, só traz estresse — Cassandra opinou, enquanto guardava os documentos na gaveta embaixo da mesa. 

    — Deve ser por que você não tem alguém pra ter um, né? — Luci soltou uma resposta seca. 

    Devo dizer que rir na hora, assim como todos ao redor. 

    Sempre gostei do quão direta Luci podia ser. Não importava com quem conversasse, se algo a incomodava, punha sempre para fora seus pensamentos na mais pura naturalidade. 

    A suposição sarcástica aflorou os nervos de Cassandra, se levantando de forma súbita. Enfim, virou-se para nós, revelando aquele rosto branco, que agora parecia vermelho de tanta raiva. 

    — Quem disse que eu não tenho?! — Os olhos castanhos, instáveis de nervosismo, fitaram a inimiga da mentira. 

    — Vai saber — respondera Luci, dando de ombros — Com toda essa amargura, não acho que você tenha muitos pretendentes, sabe? — A sinceridade chegou aos ouvidos de Cassandra como um soco bem doído. 

    — Você que pensa! Eu tenh… — Freou a própria fala. Ninguém entendeu de fato o que teria provocado isso, mas teorias óbvias podiam ser formadas. 

    Ela optou por não discutir mais, então suspirou: 

    — Ah, tanto faz. Não é da conta de vocês, Hump! — Sentou-se, bufando. 

    Em seguida, cruzara os braços e girou cadeira pro rumo do seu trabalho. 

    — Quero ver continuarem com essa comemoração quando o chefe chegar. — Ela teorizou. 

    O chefe, né? Ela tinha que falar isso? 

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