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Capítulo 3: O gato.
Parece ter sido uma maldição jogada por Cassandra, pois no mesmo instante, todos nós percebemos a chegada do nosso chefe.
Por conta disso, movimentos ligeiros inundaram a sala, voltando, com todos aos seus lugares, o silencio de antes e as caras sérias e concentradas no trabalho.
Seu nome era Fernando, o presidente da empresa, que inclusive acabara de passar pela porta.
— Bom dia, equipe — saudou-nos.
— Bom dia — respondemos em uníssono.
Com a resposta, eu esperava que ele fosse direto para sua sala; contudo, me surpreendi quando o vi redirecionar os passos até a fileira onde eu estava.
A tensão aflorou em meu corpo e comecei a perder um pouco da minha alegria. Ele sabe do tumulto? Receberei uma bronca? As teorias eram tantas passadas na minha mente…
Porém, enfim chegou até a minha mesa e fixou os olhos em mim. O nervosismo estampara no meu rosto.
— William, você está bem? — Meus olhos se desconcertaram, a tensão se foi na hora, cheguei a ficar mais relaxado com a pergunta inesperada.
— Eu? — indaguei, tentando entender melhor do porquê a preocupação.
— É que eu ouvir uns gritos grossos de fora do prédio… pensei ser seus. Ou estou errado?
Ele sabia! Fiquei sem jeito, como pode meus gritos terem sidos tão altos?! Está bem que tinha me exaltado até de mais, mas não achei ter sido tanto assim.
— Bem… é que… — hesitava, olhando para os lados a fim de disfarçar a vergonha. Pude até enxergar meus colegas me encarando, rindo de soslaio.
Não tinha jeito, tive de confessar. Ademais, eu sentia um forte desejo de compartilhar aquela alegria da qual me consumia.
— É que… a minha filha nasceu, chefe! — O entusiasmo voltou.
— Sério? — questionava, pouco surpreendido.
— Sim, sim! Acabei de receber a notícia!
— Agora eu entendi. Meus parabéns — verbalizou enquanto levava a mão até a minha, idealizando um aperto de mãos.
A apertei com força. A felicidade parecia aumentar.
— Obrigado! — Desfizemos o aperto.
Então, uma voz familiar se intrometeu na conversa:
— É isso aí. Finalmente meu amigão ganhou aquilo que ele tanto ficava ansiando a toda hora — falava Michael.
— Sim — concordei ao olhar para ele — Confesso que estou muito ansioso para vê-la.
— Então, ainda tá fazendo o que aqui? — Não pude acreditar de quem a voz viera, mas o tom autoritário confirmou minha teoria.
Então, virei-me de volta para o presidente.
— Se está tão empolgado assim, então vá. Vai logo ficar com sua filha. — Fiquei perplexo, quase não acreditei. Mas quando ele pôs um sorriso no rosto, percebi que falava sério.
— S-sério?! — A turma ficara tão surpresos quanto eu. Não era pra menos, ninguém nunca imaginou uma reação dessas vindo do chefe.
— Por que não? Hoje é sexta, afinal. Aproveite o final de semana com sua nova família. — Por um breve instante eu não disse nada, apenas assenti em concordância.
— Obrigado! — A animação cresceu de vez.
Comecei a pegar minhas coisas apressadamente; meu celular e minha mochila já bastavam.
Tendo tudo em mãos, saí depressa, mas antes de passar pelo chefe Fernando, não pude deixar de agradecer novamente:
— Muito obrigado mesmo, chefe! — Ele sorriu como resposta.
Entretanto, ainda não continuei, pois lembrei de algo importante. Então, olhei para Michael e disse:
— Michael, consegue terminar aqueles códigos pra mim, por favor? — clamei. Ele não podia negar um pedido desses, né? Mas, conhecendo-o…
— Deixa comigo. Mas, segunda tu vai ter que fazer o dobro — respondeu com um tom que eu sabia ser uma brincadeira, como também sabia ser sério.
De qualquer forma, apenas concordei com a cabeça e finalmente partir. Quando estava quase passando pela porta…
— Espera, cabeludo.
Cabeludo? Esse apelido… só podia ser ela: Cassandra.
Parei bruscamente.
— Tá esquecendo de nada não? — Para minha felicidade, ela correu até mim e nas suas mãos estava meu bilhete do ônibus.
— Caramba! — expressei, surpreendido — Obrigado, Cassandra. Quase ia me esquecendo!
Ela o levou até mim, não demorando muito para eu o agarrar. Quando já estava pronto para continuar a corrida, da boca dela saíra as palavras mais inesperadas das quais já a ouvi pronunciar:
— E parabéns por sua filha.
Não creio! Ela disse isso mesmo? Pensei quando ouvi. Aquela mulher rabugenta de antes, era a mesma que estava na minha frente?
Bem, não tive muito tempo para pensar nisso, entretanto, esbocei um singelo sorriso e respondendo com a cabeça. Desta vez um sorriso amigável, retribuindo seu esforço claramente antinatural.
— Obrigado — Resolvi agradecer — Fui! — Acelerei sem mais interrupções.
No corredor acetinado, eu sentia como se estivesse numa pista de corrida, pondo o máximo de esforço nas pernas. Não podia perder mais tempo, pois afinal, minha filha tinha nascido! Estava contente, muito contente. Tão empolgado que até pulei de alegria.
E daí se parecia meio vergonhoso para um homem da 26 anos? A minha filha veio ao mundo e isso era tudo o que importava.
Segundos se passaram e agora me encontrava fora do prédio da empresa; um prédio bem bonito, aliás. Adornado por janelas de vidro, olhar para ele incomodava os olhos, por conta dos raios ofuscantes de luz refletidos.
O calor estava estonteante. O sol me seguia, até que foi tampado quando cheguei no portão do condomínio.
Em mais alguns passos, cheguei no ponto de ônibus.
— Ufa! — Estava ofegante, tentei ao máximo voltar a respiração, me encostando na estrutura de ferro da qual compunha o abrigo da parada de ônibus.
Por sorte, havia um ponto perto da empresa, e mais sorte ainda quando olhei no meu relógio de pulso, marcando exatas 11:30, horário esse onde o ônibus geralmente passava.
— Perfeito! — murmurei, enquanto me sentava no banco.
A espera angustiante iniciou e eu já comecei a ficar ansioso, sapateando enquanto olhava para direção da qual o ônibus viria.
— Vamos, meu filho, venha logo — murmurei, clamando pelo transporte.
A ansiedade era tanta, que nem percebi ter passado apenas um minuto desde a minha chegada ali.
Ao meu lado, uma mulher com seu filho. Pareciam me olhar com estranheza. Bem, era compreensível.
Para dissolver a impaciência, optei por olhar para outros lados; via os edifícios gigantes a esquerda, mas quando virava para direita, uma praça verde e reconfortante tomava minha visão.
Nessas de ficar olhando para os dois lados a todo segundo, uma aparição no lado verde me chamou a atenção, mais especificamente por seu som.
Miau!
Um gato preto. Não tinha entendido muito de onde veio, pois parecia ter aparecido em segundos no intervalo da minha observação.
Me encarava a poucos centímetros de mim. Aquele olhar profundo, aquele abanar de rabo… não havia dúvidas, ele queria algo.
— Miau pra você também — Sorri enquanto levava minha mão até ele, acariciando-o na cabeça.
Se tinha algo da qual eu adorava, era animais. Era muito prazeroso estar na presença de um, principalmente os cachorros. Uma pena eu ainda não ter tido um, por conta dos gastos que teria.
Gatos já não era tão chegado, mas ainda assim, são fofos tão quanto.
— Está com fome? — perguntei-o, como se pudesse responder — Foi mal, mas não tenho nada.
Depois desse monólogo, uma voz aguda invadiu meus ouvidos, vinda das únicas pessoas ali além de mim:
— Mamãe, ele é doido? — O garoto perguntou à sua mãe, olhando para mim. Me virei para eles.
— Léo! — A mãe o surpreendeu, encarando-o.
Ela pode ter tentado esconder, mas pra mim fora nítido a risadinha dada ao virar o rosto pro filho.
— Mas, a senhora não disse que quem fala sozinho, é doido?
A teoria daquele moleque me deixou um pouco inconformado, meus olhos apertados e cara agora um tanto quanto séria já falavam por mim.
— Desculpa pelo meu filho, moço.
Não respondi, apenas transpareci compreensão, embora nos pensamentos fosse o contrário:
Doido? Quem esse maluco tá chamando de doido! Ele que deve estar maluco para não perceber esse gato bem na frente de…
Hã? Como… como pode? Cadê o gato?
Quando virara de volta para o animal, ele tinha simplesmente desaparecido! Tudo que tinha na minha visão era os paralelepípedos da calçada.
Meus olhos foram arregalados subitamente, impressionado. Uma caçada com os olhos iniciou-se, porém… nada do bicho.
Não… podia jurar tê-lo visto, a sensação de tê-lo acariciado ainda perdurava na minha mão. Mais real do que isso, impossível.
Ao analisar as circunstâncias, cheguei à hipótese de o gato ter se evadido quando me virei. Considerando a agilidade desses animais e do quão curiosos eram, a teoria mais se aparentava um fato para mim. Sim, ele apenas saiu de fininho! Estava convicto.
De qualquer forma isso não importava mais, até porque, o ônibus finalmente vinha! Minha ansiedade e Incredulidade cessou na hora, e a alegria antes ofuscada me dominou.
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