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    No ônibus, minha viagem se iniciara agradável, sem aquela lotação de sempre; provavelmente, devido ao horário. 

    Sentado no último banco ao fundo, visualizava a paisagem deslumbrante; conforme andava, eu conseguia ver as copas das árvores que cercava a área. Estávamos atravessando uma ponte montanhosa. 

    Não só árvores, como também um largo rio adentrado entre elas. Mas o mais incrível, era os pássaros saindo de suas moradas e rodando a natureza que os cercava. Alguns até vieram dar um “Oi” pro ônibus. 

    Uma paisagem magnífica, de tirar fôlego. Este é o privilégio de se morar no interior de São Paulo. 

    Contudo, o clima adorável logo foi tomado por um barulho chato de celular tocando. Fui despertado subitamente quando percebi ser o meu. 

    Então, do meu bolso, o apanhei o mais rápido possível; sai tão apressado, que esqueci de deixá-lo no modo vibrar e, de novo, olhares se voltaram para mim. Tinha poucas pessoas no ônibus, então grande maioria nem se importou muito, alguns estavam concentrados em seus celulares. 

    Bom, não me importei muito também e logo atendi: 

    — Isis? — falava de voz baixa, retornando minha visão para a janela. 

    Irmão, você já está vindo? 

    — Já tô no ônibus. Dei sorte do chefe ter me liberado bem mais cedo quando soube da notícia. 

    Ótimo! Pois venha rápido! Sua filha já nasceu, meu irmão! Se você visse o quão fofa ela é… 

    — Verdade!? — Me empolguei tanto que acabei aumentando o tom de voz. 

    Aham! — Podia sentir ela tão contente quanto eu — Espera aí, vou te mandar uma foto no WhatsApp. 

    É o que?! Tamanha audácia me fez levantar a cabeça, assim como os olhos. Nunca que eu a deixaria fazer isso! Então, gritei sem querer: 

    — NÃO! SEM SPOILER, CARALHO! — Quando percebi, já era tarde. Uma ligação até podia passar despercebido, mas um grito que ecoou por todo o ônibus, definitivamente não. 

    Todos viraram-se para mim, uns Incrédulos, outros ligeiramente irritados e outros que apenas riram de vergonha alheia. 

    Senti um momentâneo calor pela tamanha vergonha e um trêmulo sorriso de canto foi esboçado, na tentativa de dissolver pelo menos parte do nervosismo que me preencheu. 

    Hahaha! Tá bom, tá bom. Mas é melhor andar logo, se não, vou mandar mesmo você não querendo, hehe! Tchau, tchau. 

    Bip, bip, bip… 

    Suspirei, um pouco aliviado. 

    — Mãe, é o mesmo louco de antes. — A voz viera de alguns assentos à frente. 

    Pela fala, imaginei de quem se tratava… era aquele mesmo moleque! Sinceramente, estava começando a pegar ranço daquele pequeno ser! 

    Dito isso, franzi os olhos, mas logo me desprendi disso, voltando a janela, a fim de me acalmar com a bela paisagem da… ah! Já não estava mais lá. 

    A pitoresca paisagem natural de outrora fora embora, e agora, tudo que eu via, era a artificialidade da cidade com seus arranha-céus, estabelecimentos e diversas residências de padrões e classes diferentes. 

    Normalmente, não teria me animado tanto, mas tinha me lembrado que aquilo significava a proximidade do hospital onde minha esposa se encontrava. 

    Em alguns minutos, perante a toda aquela urbanização, meus olhos se exaltaram: o hospital estava ali, um prédio gigante com uma cruz vermelha no topo, a alguns metros de distância do ônibus. 

    Levantei-me rápido, apertando o botão de parada. 

    Desci apressado e por pouco não tropecei. Ahh, e quem liga!? Eu finalmente cheguei ao destino! E em mais alguns metros finalmente encontraria minha esposa e minha filha recém-nascida! 

    Corri, o mais depressa possível; não ligava nem mesmo se as várias pessoas na calçada ou seja lá quem, me olhassem estranho. Segundos depois, cheguei ao edifício, atravessando a porta automática. 

    — Bom dia, eu gostaria de ver uma pessoa… é minha esposa, ela deu a luz! — expliquei a atendente da portaria. 

    — O senhor sabe me dizer qual é a sala? — A pergunta me deixou pensativo. 

    — Bem… não sei, moça — respondi com receio. 

    — Qual o seu nome? 

    — Wi… — Antes de completar, uma voz adentrou aos meus ouvidos: 

    — Will! Aqui! — Era minha irmã, acenando da varanda interna do segundo andar — Ela está aqui! 

    Meu corpo vibrou de alegria. 

    — Eu posso… — Redirecionei-me a atendente. 

    A própria compreendeu a situação no mesmo instante, idealizando um sim com a cabeça: 

    — Pode ir — confirmou, agora com uma ponta de um sorriso. 

    — Obrigado! — agradeci aos ventos, enquanto disparava até o elevador. 

    Elevador? Não, estava ansioso demais para esperá-lo descer, então fui de escada mesmo. 

    Chegando lá, a euforia só aumentara; o rosto da minha irmã me esperando na porta era o prelúdio de uma surpresa maior. 

    Conforme chegava até ela, não entendi muito bem, mas… comecei a encurtar os passos; e quando cheguei à minha irmã, meu coração começou a acelerar, o ar ficara mais pesado e a ansiedade disparara. 

    Parado, de frente para a porta fechada, meu corpo estabilizou-se, engolindo seco. Sabia o que encontrar lá, sabia ser a melhor coisa que veria… então, porque eu estava tão nervoso? Nem sabia como explicar também. 

    — Vai logo! — Senti o tapinha nas costas dado por Isis. 

    A encarei ao meu lado. O sorriso dela estampado naquele rosto singelo me acalmou um pouco. 

    — Elas estão te esperando. — Complementou. 

    Seus olhos verdes transmitiam uma confiança incrível, junto ao seu rosto branco e sereno, da qual estava desestabilizado por emoções. 

    Suspirei, olhando para porta. Num ruído da maçaneta, a abri. 

    — Ah, querido, você veio! — A voz veio do centro… aquela doce voz… a voz da minha esposa. 

    Não pude expressar direito a emoção sentida… estava absorto, imóvel ainda na entrada. A cena presenciada… era maravilhosa! Olhar para aquele ser no colo dela me desconcertou. 

    — … — Fiquei mudo, tentando discernir o que os olhos viam. 

    Estava feliz, muito feliz! Feliz ao ponto de não saber expressar tamanhos sentimentos; meus olhos permaneciam quase saltados, cheios de felicidade. 

    Então, iniciei a caminhada até a cama. Engoli seco, enquanto a pressão aumentava a cada passo. 

    Por fim, cheguei. 

    — Olha como ela é fofa, amor… — Percebendo-me parado sem fazer nada, cortou a própria fala, me olhando curiosa. 

    — Amor…? — Não importava o que ela falasse, meus olhos não desgrudavam daquela criaturinha. 

    Entretanto, algo me despertou de vez: a bebê, antes retraída, pôs seus olhos em mim, seguido por um sorriso… o sorriso mais encantador já visto pelos meus lacrimejantes olhos! 

    Entre abri a boca, levando os braços até ela. Natasha, minha esposa, ajudou-me a pô-la no meu colo. 

    A levei mais perto de mim. Não sabia qual razão, não sei se foi pela gama de sentimentos jamais despertados, mas naquele momento eu… 

    — Amor, você… está chorando… — Sim, chorava de emoção, não consegui transmitir o quão feliz estava, então a surpresa se transformou num enxame de lágrimas de felicidade. 

    — Você é… minha filha… — dizia eu, emocionado, inspirando na tentativa de conter as lágrimas — Minha filha! Hahaha! É minha filha! — Minha alegria voltou inexplicavelmente. 

    — Sim, querido, é sua filha. — Natasha concluiu com risos. 

    Meu corpo cedeu aos sentimentos, sentando, então, ao lado da minha adorável mulher. Olhei para as duas; ali me senti o homem mais feliz do mundo. 

    — Nossa filha. — Quase murmurei. 

    — Sim! 

    O silêncio nos tomou, nem os ruídos dos aparelhos ativos foram capazes de penetrar a barreira imutável de nossos sentimentos. 

    Naquela sala, habitava o ser da qual iniciou uma nova fase na nossa vida, o ser da qual darei, se preciso, a vida para criá-lo. 

    E sobre os brandos daquela criança, jurei a mim mesmo proteger minha nova família, seja como for. 

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