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Capítulo 5: O princípio da perseguição.
Se passaram algumas horas desde que cheguei no hospital, e desde então não desgrudei meus olhos da minha filha.
Natasha estava dormindo. Deve ter sido bem cansativo o parto, eu conseguia notar o claro desgaste em sua face.
De olhos fechados, notava-se suas orelhas se destacarem perante ao seu singelo rosto claro. Os lábios estavam ressecados, mas erguidos por uma felicidade visível. Ela estava de touca, então apenas parte do seu cabelo ruivo poderia ser visto.
Já eu, numa cadeira, permanecia ao lado dela, apoiado e as fitando. Não sabia exatamente porque, mas a partir daquele acontecimento, meus sentimentos por ela aumentava cada vez mais. Talvez seja por conta da nova presença que caíra sobre nós.
Sim! Uma presença pequenina, fofa e frágil. Minha filha fora posta numa incubadora, um pouco ao lado, isolada.
Outrora, o médico disse que o bebê nasceu saudável, porém os procedimentos do hospital só nos permitiriam levá-la para casa dois dias depois. Apesar de ansioso, compreendi a situação.
Me erguendo, recobria o olhar para a criança, indo até ela. Na incubadora, fitava aquele pequeno ser rosado se remexendo. Seus olhos, no mesmo instante encontraram-se com os meus; um azul tão belo, brilhando com a luz de cima.
Naquele momento, percebi de quem ela puxou aqueles olhos: era o mesmo da sua mãe. Já os quase que inexistentes fios de cabelos, eram pretos… como os meus! Ali tive certeza da autenticidade de ser minha filha, mesmo sendo óbvio. Isso me contentou ainda mais.
Tomado por devaneios, nem percebi o tempo passando, e pouco tempo depois a percebi já de olhos fechados, dormindo.
Atento a ela, pretendia perdurar na observação, porém pelo reflexo no vidro da incubadora, percebi um rosto conhecido se aproximar. Com seu cabelo tão preto, liso e longo quanto o meu, Isis se aproximava.
— Já vou indo, Will. Tenho que ir para faculdade — avisara.
— Uhum — Assenti com a cabeça em compreensão, sem me virar.
Segundos depois senti um leve toque no ombro, o que acarretara na minha virada.
— Irmão, sei que você está ansioso e tudo mais, mas não acha que precisa descansar um pouco não? Faz quase três horas que você tá aí parado.
É, ela tinha razão. Quando cheguei no hospital, era mais ou menos 12:10; e agora, olhando pra ela, pude perceber um relógio na parede atrás, marcando exatas 2:30 da tarde.
Eu perdi a noção do tempo de tão imerso aos acontecimentos. E só naquele momento fui notar a fome me atacando; não tinha almoçado, desde então.
Ademais, minhas costas também começaram a pedir ajuda, devido a ter ficado tanto tempo sentado na mesma posição.
Com isso, tirei os olhos do relógio, voltando para Isis.
— É… acho que você tem razão — concordei, por pouco não bocejando.
— É claro que eu tenho, hump! — Sorria — Bem, estou indo então. Até mais — Começara a caminhar até a porta.
— Tchau, Isis — respondi, um pouco sorridente.
Assim que encontrou-se com a porta, virou-se para mim e disse antes de sair:
— E vê se cuida dessas duas, viu?
— É claro! — Fui direto.
Passados alguns segundos depois de sua saída, resolvi seguir seu conselho. Eu precisava descansar, então também sai da sala, mas não antes de olhar novamente com felicidade para minha adorável família, ansioso e contente pelos acontecimentos iminentes.
No refeitório do hospital, me via perdido… não só perdido no amontoado de pessoas ali e do tamanho do local, como também nas opções do cardápio.
Numa fila, olhava para cima, passando os olhos pelas tantas opções. Mas o mais impressionante para mim, eram os preços: muito caro! Uma marmitex na faixa de 40 reais! Talvez seja porque a maioria era comida mais saudável e “light”, como escrito lá em cima do balcão.
Não era como se eu não tivesse condições de pagar, sendo programador, eu ganhava bem até. Entretanto, sempre priorizava não gastar muito em locais como esse, acaba se tornando um vício, na minha visão.
Chegando a minha vez, resolvi pedir apenas um lanche: um hambúrguer mais saudável. Era um dos menos caros. Pedi um suco para acompanhar também. Mesmo sendo bom, não costumava a comer esse tipo de comida; eu buscava sempre preservar minha saúde.
Com o pedido apanhado, uma nova luta iniciara: achar um lugar para comer.
O local era grande, sobretudo cheio; pra onde eu olhava via várias mesas e cadeiras, bem chiques, aliás. Contudo, difícil era ver uma vazia.
Com mais uma olhada, encontrei um lugar do lado externo do refeitório, mais para uma área de lazer, com até plantas e bancos aparentemente confortáveis. Então, andei um tanto quanto depressa.
Agora, finalmente eu estava sobre uma mesa, pronto para degustar aquela refeição. Não demorou muito para sobrar apenas restos na bandeja.
Estava satisfeito e até mais relaxado sobre o encosto do banco próximo a mesa. Com minha garrafa de suco, admirava a vista enquanto a abria.
Ali era o térreo do prédio; não tinha muito o que ver, mas as poucas plantas do pequeno jardim já eram o suficiente para me acalmar.
Enquanto levava a garrafa até a boca, um chamado familiar me fez parar, Incrédulo.
Miauu…
Era o gato! O mesmo gato de antes.
— Como… como você veio parar aqui? — Meus olhos estavam levemente exaltados, transmitindo imcompressividade.
Miau…
— Pera… não me diga que você me seguiu até aqui?!
A hipótese aparentava ser impossível, pois estávamos a muitos quilômetros do ponto de ônibus. Mas, analisando as circunstâncias, talvez tinha uma ponta de veracidade.
Gatos são espertos, então ao meu ver, poderiam sim viajar por quilômetros em busca de algo. Eu estava a mais de duas horas no hospital, então pensei ser tempo o suficiente para ele ter seguido meus rastros. E esse gato, pude imaginar o que buscava: a cara de esfomeado dele já dizia por si só.
Dei um riso espontâneo.
— Deixa pra lá — O acariciava — Está com fome?
Miau.
Encarei aquilo como um sim.
Dito isso, me virei para a mesa onde eu estava antes e havia algumas sobras do lanche na bandeja. Apanhando-a, e a levei até o gato.
— Aqui, não é muito, mas… — Nem consegui terminar de falar, o esfomeado atacou a bandeja antes de eu colocá-la no chão. Fiquei um pouco surpreso.
Pelo jeito em que devorava os restos, minha teoria fora ratificada.
— Me seguiu até aqui só pra isso? É cada uma, viu… — Suspirei em riso.
De volta ao banco, peguei meu suco e o levara até minha boca, finalmente bebendo-o. O frescor sentido no processo, foi satisfatório, principalmente naquele calor.
— Ahrff! Ótimo! — Ingerir a garrafa em segundos — Muito bom mesmo.
No meio daquela euforia toda, olhei para o… gato? Cadê ele? Tinha desaparecido outra vez! Tudo visto era a bandeja ali no chão, e o ser a quem a tenha limpado não via-se mais.
— Mas o que… Pra onde ele… — Engoli seco, com uma surpresa estampada na minha face.
Tentei procurar, olhando para os outros lados. Nada do gato. Meu ceticismo aumentara. Não sabia se estava ficando realmente doido… não, não estava, tinha de haver uma explicação para isso.
13/08/2027… eu gravei bem esta data; o dia em que minha filha nasceu e… o dia onde toda a desgraça começou.
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