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    Segunda-feira, 16/08/2027. 

    Mais um dia de trabalho se iniciara, e para surpresa de todos, cheguei um tanto quanto atrasado. Tinha acabado de passar pela porta e fui até minha mesa. 

    Ao lado, Michael estava vidrado olhando para cima, pensando em seja lá o que fosse. 

    — Ohh, e ai, Will — Desprendeu-se da cadeira ao me ver chegando — Como vai? 

    Antes de responder, sentei-me, suspirando logo em seguida sobre o encosto da cadeira. Então, respondi: 

    — Eu…? Bem… — Hesitava, bocejando — Com sono. 

    — Caramba, tô percebendo. Tá até com orelhas — ditou, pondo o rosto mais perto do meu. 

    — É. — Comecei a alongar os braços e ombros. 

    — Deixa eu adivinhar… foi por causa da sua nova filha, né? — Parei os movimentos na mesma hora, enquanto olhava pra ele e assentia com a cabeça em confirmação. 

    — Fiquei o final de semana inteiro no hospital — Dessa vez alongava o pescoço e um estralo satisfatório saiu — Dormi pouco. 

    — Hmm… tendi. Mas tá tudo bem com sua filha, né? — Senti uma preocupação vinda de Michael, reforçada por sua face. 

    — Sim. Mas o médico disse que ela vai ter que ficar um tempo no hospital até ser liberada. Hoje à tarde minha esposa irá buscá-la — respondi, preparado pro trabalho. 

    — Perfeito, então! — Ele falou, pondo um sorriso leve. 

    — Sim. — Me contentei, ansioso, mas pouco demonstrado, já que o sono e cansaço ainda me consumia. 

    A conversa estava indo bem, até uma voz peculiarmente chata vir para nossa inconveniência. Era ela, Cassandra, tentando me azucrinar: 

    — Hump! Chegou atrasado, cansado e sonolento… isso sem ainda nem ter levado a criança pra casa. Eu não disse que criança só traz problemas? — Ela falou de soslaio, enquanto mexia em seu computador. 

    A fala tirou meus olhos caídos de sono, sobrepondo um fechar de aborrecimento. 

    — Lá vem… — murmurei ao suspirar. 

    As implicâncias de Cassandra comigo eram tão recorrentes, que chegou ao ponto de eu nem se importar mais tanto com elas. Porém… com os outros era diferente: 

    — Chata pra caralho… — Michael murmurou ao ponto de só eu conseguir ouvir, ao mesmo tempo que agachava a cabeça e a balançava em negativa. 

    Michael, eu concordo com você! Eu tinha pensado com um riso franco. 

    — Aí, aí… a mal-amada novamente expondo sua mediocridade — Luci, de sua mesa, não medira as palavras para falar. 

    — O que foi que você disse, Luciana? — Cassandra virou-se para ela. Percebia-se os nervos da testa ascenderem-se em raiva e as sobrancelhas franzirem. 

    — Isso mesmo o que você ouviu, minha filha. — A encarou de volta. 

    — Sua… — A secretária inconveniente quase respondera por completo, mas uma outra voz se sobressaiu: 

    — Olha só, já começamos a semana como? — Matheu interrompeu, sério no trabalho — Se querem brigar, façam isso longe daqui.  

    Matheu quando não está descontraído como quando me parabenizou, padronizava sua seriedade imutável. 

    — TSH! — Cassandra bufou, voltando ao trabalho. Luci fez o mesmo. 

    — Aliás, William, tô te enviando os próximos trabalhos — Atentou-me depois de me fitar — Chegou aí? O primeiro é pra estar pronto ainda hoje, beleza? 

    Uma notificação aparecera na tela do meu computador. A abri, contendo três pastas cheias de arquivos. O olhei de volta e constatei: 

    — Sim, sim. Chegou. — Matheu assentiu com a cabeça e logo voltou ao trabalho. 

    Enfim, estava na hora de colocar a mão na massa, sem mais conversas. Sob os brandos dos ventos adentrando pelas janelas, a calmaria viera, junto ao satisfatório barulho dos teclados em ação.

    No final do dia, já não estava com sono, as atividades trabalhistas conseguiam despertar qualquer um. 

    Então, arrumei minhas coisas e parti. 

    — Bora, Will. — Michael me esperava na porta. 

    E com essa amigável companhia, nos dirigimos à saída do prédio. 

    — Sua mulher provavelmente já deve ter pegado sua filha a essas horas, né? — interrogou Michael, enquanto caminhávamos pelo corredor. 

    — Sim. Ela acabou de me mandar uma mensagem — respondi com entusiasmo. 

    Dito isso, chegamos ao elevador, que para nossa conveniência, encontrava-se aberto. Então o adentramos. Apertei o botão, do décimo andar até a portaria. 

    — Cara, imagino que deve ser complicado cuidar de uma criança, principalmente de um bebê — pontuou ele, ponderando. 

    — Provavelmente. Mas… sei lá, acho que vai ser bom, considerando outros fatores — respondi, tentando imaginar com a mão no queixo. 

    — Se você diz. Quero só ver a noite, imagina ela começar a chorar? Tá é doido, o sono deve ir embora na hora!  

    — Obrigado por me lembrar desse ótimo ponto. — Meu sarcasmo saiu com um receio aparente. 

    — Haha! — Ria de leve — Bem, de qualquer forma, fico feliz por você. Sinceramente, eu nunca te vi tão animado. 

    Tamanhas palavras me fizeram pôr novamente um sorriso, encarando-o. Naquele momento, eu entendi do porquê ter de fato se tornado amigo desse homem. 

    Quando eu era um novato, não sabia de nada do que fazer; foi ele quem me mostrou todo o modus operandi da empresa e quem me aconselhou nos projetos. Se hoje, estou estável na empresa, devo grande parte a ele, um verdadeiro amigo, sincero e com um ânimo que eu até invejava as vezes. 

    — Valeu, cara. 

    — Aliás, qual será o nome dela? 

    — Sophia. Escolhemos esse nome pois é o mesmo da falecida mãe de Natasha. 

    — Hoh… entendi. Um bom nome, eu diria. 

    Concordei com ele, assentindo a cabeça. 

    Contudo, chegamos finalmente ao destino. A porta do elevador abriu, seguida de uma pergunta: 

    — Ei, que horas são? — questionara-me com grande interesse em saber. 

    Ao olhar no meu relógio, abismei: 

    — Merda! Quatro e meia! — A resposta atiçou Michael também: 

    — Porra! O ônibus já vai passar! — Começou a correr. Fiz o mesmo. 

    Passamos voando pela portaria em direção ao portão e, então, saímos. 

    A corrida continuara por alguns metros até chegarmos ao ponto. Chegando lá, o esforço que fomos submetidos, só podia ser mais bem disperso quando nos sentamos no banco. 

    — Urfff! Por sorte, ele não veio ainda! — Michael dizia, suspirando alto. 

    — Pois é… — Já eu, tentando voltar o fôlego. Correr não era meu forte mesmo. 

    Alguns segundos se passaram e voltamos ao normal, a espera do bendito transporte. Depois disso… 

    Miau 

    O som veio do meu lado direito… era aquele gato de novo! Desta vez, não me veio pedir comida… na verdade, fora estranho o fato de só estar parado a pelo menos uns cinco metros de mim, encarando-me estranhamente imóvel. 

    Primeiro foi no ponto de ônibus, depois no hospital, e agora outra vez no ponto? O desgraçado parecia me seguir. Será que se apegou a mim? Não sabia direito. Mas aquilo já estava me deixando desconfortável. 

    — Ei, Michael, sabe aquele gato? — Indiquei com o dedo — O bicho parece até que tá me seguindo! Sempre aparece do nada. Vai ver gostou de mim. 

    Michael olhou para onde eu apontara. Porém… a resposta que deu em seguida me fez arrepiar de medo: 

    — Will, não tô vendo gato algum — O próprio ficou incrédulo. 

    Meus olhos se esbugalharam. Me virei travado para ele. 

    — Co-como não? Ele está bem ali! — Olhei novamente pro gato e desta vez, não fora como a primeira vez; ele não sumiu, ali estava ele, ainda me encarando. 

    Se Michael disse que não o via, era claro se tratar de uma brincadeira! Né? 

    Ao menos eu tinha achado… 

    — Will, eu realmente não tô vendo nada. Hahaha! Acho que entendi a piada. — Seu ceticismo se transformou em risada. 

    — Não é piada! — Meu súbito virar espantou Michael. 

    — Calma, mano… eu tô falando sério… não tô vendo gato algum. 

    — Não é possível… — Eu olhei de volta pro gato… daquela sua estabilidade, algo parecia me dizer alguma coisa. 

    Seus olhos amarelados me fitavam com uma estabilidade amedrontadora; aquela pelagem preta que estranhamente parecia se misturar com as sombras das plantas da qual estava. 

    Aquele gato queria alguma coisa… não era comida… algo inexplicável me fez tremer, a suar frio, a deixar meus olhos instáveis por segundos. 

    — E-eu… — Retornei o olhar a Michael — Eu posso jurar… tem um gato ali — Engoli seco. 

    — Mano… — Entre olhou para o tal gato — Eu realmente falo sério. 

    Novamente visei pro lado do gato e… sumiu outra vez. Naquela hora, mesmo incrível, senti alívio. A sensação ruim antes sentida, se esvaziou. 

    Não entendia como isso era possível. Com aquele moleque eu relevei, pois crianças gostam de insinuar coisas. Porém, com Michael era diferente, ele não era de mentir e não senti tom de brincadeira no que falara. Estou realmente ficando louco? Me perguntava constantemente. 

    — Tu deve estar vendo coisas. Tu só deve tá cansado, cara — teorizou. 

    — Acho que… você tem razão. — De cabeça baixa, pus minha mão na testa, ainda perplexo. 

    — Opa! O ônibus tá vindo! — A exclamação me fez atentar a ele. 

    O ônibus chegara e as portas se abriram. Eu já estava um pouco mais calmo, mas… antes de entrar, um pequeno medo me fez virar para trás. 

    Lá estava ele! 

    Algo horripilante me veio aos olhos… uma encarada junto a um macabro sorriso humanizado que arrepiou até o último fio de cabelo. Foi como um vulto. 

    Queria acreditar que tudo aquilo não era real. 

    — Will! Vamo! — O chamado de Michael me despertou, esperando na porta do ônibus. 

    — T-tá! — Entrei apressadamente.

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