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    Cá estava eu, no nobre escritório do meu trabalho; naquele momento, o clima perdurara uma calmaria prazerosa. A sala estava tão calma quanto a manhã que invadia as vidraças com sua luz energética; mesmo que as cortinas barrassem parte dela, de toda forma, ainda era bela, dando uma sensação gostosa. O ambiente ideal para produzir! 

    Entre os membros ali presentes, o silêncio também era o fator predominante, desestabilizado apenas pelas teclas dos teclados sendo usados. Bem… pelo menos, pra mim, o ruído delas era até satisfatório. 

    Mas infelizmente, a serenidade logo se foi, adjacente das rodinhas de uma cadeira sendo movida. O responsável por isso? Meu amigo ao lado, chegando inconvenientemente perto de mim com seu smartphone. 

    — Ei, Will, olha isso. — Levou o telefone até minha mesa, tentando ser discreto para o resto da sala. 

    Suspirei de leve antes de olhar… preferiria nem ter olhado. Já imaginava o que seria. 

    — Gata, né? — perguntou-me. No aparelho, o perfil de uma mulher no Instagram, com uma foto de biquíni logo na primeira página. 

    — É bonitinha — afirmei, com uma cara de desdém.  

    — Bonitinha? Tu deve tá cego. É uma das mulheres mais bonitas que já vi! — argumentou, um tanto quanto alto, mas o suficiente para ficar apenas entre nós. 

    Fora impressionante a indignação expressada por ele, como se aquilo fosse a pior coisa que alguém poderia dizer. 

    Michael sempre foi assim, mulherengo. Por vezes me contava e se gabava sobre suas aventuras por bailes e de relacionamento supérfluos dos quais teve. Eu não me incomodava tanto, mas as vezes, assim como naquele exato momento, ele me deixava meio aborrecido, principalmente por ser horário de trabalho. 

    Dito aquilo, arqueei minha sobrancelha e soltei uma resposta direta: 

    — Se você acha, o problema não é meu. — Pus um leve sorriso enquanto levantava os ombros. 

    Michael já esperava a resposta, sorrindo de volta. 

    — Grosso — Guardou o celular, mas sem se importar com o que eu tinha dito — Tinha me esquecido do quão fiel você é. 

    — Claro — confirmei, enquanto voltava a me concentrar no computador — Não existe mulher mais bela que a minha — falei com orgulho e ânimo. 

    — Hoh… Aí sim, hein? — Michael também voltou ao trabalho, teclando com calma. 

    Por um breve momento ele parou, e com um encostar na cadeira, levou o rosto para o teto branco e cristalino. 

    — Sabe, talvez algum dia eu também ache uma boa pessoa… casar e ter filhos. — Soltara as palavras ao ar, sério no que dizia. 

    Conseguia compreender os sentimentos de Michael. Pode-se dizer que já fui como ele; uma pessoa socialmente solitária por dentro, mesmo não aparentando por fora. 

    Esse cara, definitivamente, estava longe de ser feio. Tinha uma aparência boa: alto, de olhos verdes, cabelo preto e curto, um rosto branco e uniforme. Não era atoa ser um tanto quanto bem visto pelas mulheres. 

    Em contrapartida, eu era mais simples; mais magro do que ele, uma cara mais pálida e meio retraído. Meus olhos eram escuros e davam um tom mais desinteressante para as mulheres. Acho que a única coisa se salvava em mim, era o cabelo longo e liso; por vezes recebia elogios do quão bonito era. Aliás, por ser preto, até combinava com meus olhos. 

    Mesmo sendo assim, consegui arranjar uma bela mulher, uma esposa maravilhosa que sempre me recebia com carinho. Se consegui, ele também conseguiria. 

    Então, respondi, tentando ser compreensivo, mas ao mesmo tempo brincalhão para levantar seu astral: 

    — Relaxa. Tu é bonitão, cara — O elogio o fez desviar o olhar pra mim, mas ainda de cabeça erguida — Se eu consegui, você também consegue. É só parar de ser o que você é e ser alguém decente. — Sorri ao encará-lo.  

    Tamanha resposta o fez desfazer aquela postura toda, me dizendo: 

    — Seu desgraçado — Sorriu com a brincadeira — É… acho que você tem razão — Voltou ao trabalho. 

    Apesar de tudo, eu me contentava por Michael. Era meu único amigo, afinal. 

    — Mas, eu vou me encontrar com aquela mulher que eu te mostrei, só pra me divertir um pouco, sabe? — Olhara para mim com um riso desconfortavelmente malicioso. 

    Apertei os olhos com uma leve repulsa amigável. 

    — Você não aprende — disse ao revirar os olhos e retornar ao meu trabalho. 

    Os teclados estavam a todo vapor e mais e mais linhas de códigos eram feitas. As vezes, ficava tonto de tanto criá-las, pior ainda ter de revisá-las. Contudo, pelo menos faltava pouco para terminar e, finalmente, ir pra casa mais cedo. 

    Michael e eu, éramos os programadores responsáveis por cuidar dos sistemas da empresa, dependendo do caso, tínhamos até mesmo de criar programas do zero! 

    Um breve silêncio brotou entre nós, ambos concentrados no trabalho. Entretanto, não demorou muito para ser novamente quebrado por Michael. 

    — Ah, aliás, falando em filhos… a sua esposa não estava grávida? Isso já vai fazer o que, uns oito meses? Já não deveria ter nascido? — A pergunta saiu de forma franca e direta. 

    — Hm… que eu saiba, são nove meses de espera — respondi, um pouco pensativo. 

    — Ah, é verdade. Falta menos de um mês então. 

    — Sim! — exclamei com entusiasmo — Já preparamos tudo para a bebê! Será incrível! Estou ansioso pra isso! — Até mesmo cessei meu trabalho para lhe responder, de tão animado que fiquei. 

    Michael via com notoriedade meu rosto cheio de alegria. Era como se aquilo fosse a coisa que eu mais desejava… sim! Era mesmo! 

    — É, tô vendo — dissera, pondo um abrupto riso — Boa sorte! 

    Assenti com a cabeça, absorvendo todas suas palavras com compreensividade. Ao mesmo tempo, regressei de volta ao trabalho. 

    — E tem mais: eu até pretendo… — Antes de terminar a fala, meu celular, bem debaixo do monitor, começara a tocar. 

    Para minha surpresa, estava no último volume! O som veio a ecoar por toda a sala, despertando todos os outros funcionários de uma vez. 

    Corri para desligá-lo logo, mas sem querer acabei por apertar no botão verde de atender. Não tinha mais jeito; minha pessoa já virara o centro das atenções, com algumas das sete pessoas nas fileiras de mesas me olhando torto. 

    Envergonhado e soando frio, não tinha mais opção se não levar o celular aos ouvidos e dizer: 

    — Alô? — Tentava falar o mais baixo possível. E Michael estava lá, rindo da minha cara… ah, se eu pudesse socá-lo ali, certamente teria feito! 

    Mas, deixei isso de lado e esperei quem me ligara falar: 

    Alô, irmão? Sou eu! — A voz era inconfundível. 

    — Isis? O que diabos você está pensando, me ligando assim do nada bem no meu trabalho? — Minha indignação foi ressalvada pelos olhos apertados e expressão séria. 

    Bem, é que… 

    Hã?! O que ela disse… 

    Não, eu não pude acreditar no que ouvi… Por um breve momento, me senti por fora da realidade. As palavras que vieram a tona deixou-me paralisado; não sabia se chorava ou continuava com os olhos arregalados para sempre… 

    Então, venha logo! 

    Bip, bip, bip…  

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