POV: HELENA IVYRA.

    Quando o encantamento começou a rejeitar H, aparentemente a quantidade de QPs dele sofreu um impacto.

    Era como se ele estivesse banhado em querosene, e eu tivesse tacado um fósforo sobre ele.

    Seu corpo começou a se contorcer em várias partes, o que levou Noah a aproveitar o momento e partir para encurtar a distância entre eles.

    Mesmo com sua agilidade superior e H tendo certa dificuldade no controle de sua energia, a resistência física e a versatilidade do encantamento que envolvia o ambiente permitiam que ele criasse várias falsas cópias feitas daquela gosma nojenta, o que dava um certo trabalho extra para Noah.

    Com o atril ainda ao meu lado, aproveitei a fraqueza temporária de H — que, mesmo com dificuldades, continuava o combate contra Noah. Percebi que a luta ainda se prolongaria, pois as chamas de Noah continuavam iluminando o local, oscilando nas sombras que se moviam pelas paredes.

    Após conferir a condição ao redor e aproveitando o fluxo extra de energia que o altar havia me fornecido, inseri mais QPs no encantamento Tesselação Axiomática, para fortalecer a base retangular que sustentava as garotas.

    Ao mesmo tempo, olhei rapidamente ao meu redor e percebi a situação da infraestrutura: várias estantes já estavam em chamas, diversas cadeiras quebradas e o chão chamuscado em vários pontos.

    Estava decidida a sair dali o mais rápido possível.

    — Corrente da Libertação Marginal: Espectro Bala! — proferi, utilizando o encantamento para analisar o ambiente de cima.

    “Ter outro par de olhos nas minhas costas é sempre útil…”

    Enquanto alternava entre colocar as garotas sobre a plataforma invocada e observar o combate pelos olhos de Bala, olhei com certa dificuldade através da grande penumbra que preenchia o local. Um arrepio percorreu minha espinha.

    Havia algo estranho naquela sombra. Um efeito sutil, quase imperceptível, como se alguém me observasse o tempo todo.

    Mesmo com esse sentimento estranho, mantive o foco no combate.

    Percebi que Noah, com o corpo coberto de chamas, aproveitava o momento de fraqueza de H, causado pelo misterioso encantamento do altar.

    Ele partiu para cima com ferocidade. Sua maestria marcial somada ao poder do fogo começou a ditar o ritmo da luta, desferindo golpes em sequência. Mesmo com os truques de clones de H, ele não conseguia vantagem em ataques furtivos. As chamas ao redor de Noah os queimavam antes que pudessem atingi-lo.

    “Aa-acho que ele tem a situação sob controle…”

    Mas… por que esse sentimento de receio?

    Parecia que aquele encantamento anterior tinha algum tipo de efeito psicológico.

    “Que encantamento aterrorizante…”

    Minha atenção se desviou do combate quando vi as estantes ao meu redor começaram a sucumbir às chamas. A estrutura da biblioteca estava ruindo pouco a pouco.

    A cratera causada pelo primeiro ataque havia danificado a parede traseira. Por enquanto, o teto da biblioteca ainda resistia, mas não poderia garantir por quanto tempo…

    “Hora de sair daqui!”

    Puxei as garotas para cima do construto retangular. Quando tentei levitá-lo, senti um fluxo tremendo de energia saindo do encantamento.

    Era a primeira vez que tentava suportar tanto peso — o equivalente a duas pessoas.

    Tinha que ser rápida se quisesse tirá-las dali em segurança.

    Comecei a puxar o construto comigo em direção à escada.

    Enquanto fazia isso, dei uma última olhada no combate que ocorria atrás de mim pelos olhos de Bala.

    Mesmo após lutarem por tanto tempo e utilizarem diversos encantamentos, ainda não compreendia exatamente o que estavam procurando ali. Noah era supostamente um Agente Federal. Isso só poderia significar que H era alguém extremamente perigoso para que ele viesse pessoalmente.

    Mas… e quanto ao objetivo dele?

    Ele estava atrás de algo?

    Droga… Acho que entendi.


    POV: NOAH WILLIAMS

    Não sabia exatamente o que tinha acontecido antes, mas algo que aquela garota fez definitivamente afetou a energia de H.

    Notei quase de imediato que seus movimentos estavam mais lentos, pesados, como se algo invisível estivesse arrastando seu corpo para baixo.

    Suas articulações perdiam a fluidez que costumavam ter, e sua postura antes ameaçadora agora parecia menos precisa, mais descompassada.

    Sua energia, por sua vez, havia se tornado visivelmente instável. Pulsava como uma chama prestes a apagar, oscilando com frequência irregular, como se o próprio ar ao redor dele tivesse sido contaminado por uma distorção mágica.

    Ao mesmo tempo, a minha se revigora. A sensação era clara: algo naquele encantamento havia me favorecido também.

    “Esses jovens de hoje em dia são assustadores… Hora de controlar melhor isso aqui.”

    Fogo da Liberdade era um encantamento que eu não costumava usar com frequência. Não por falta de poder, longe disso, mas por causa da sua natureza inerentemente destrutiva e do seu alcance difícil de conter.

    Eu podia controlar as chamas, é verdade, mas elas cobravam um preço alto: minha própria energia se queimava junto com elas, como se o pacto com o fogo exigisse uma parte de mim a cada uso.

    Precisava ser cuidadoso nessa luta. Não podia me prolongar demais ou deixaria brechas perigosas.

    Sentindo uma movimentação de energia atrás de mim.

    De relance, sinto as assinaturas das adolescentes partindo em direção à escada. 

    “Certo, todas estão saindo daqui. Preciso segurá-lo agora!”

    Deixei de lado a postura cautelosa. Meus pés avançaram com determinação sobre o chão estilhaçado. 

    Dei alguns passos em direção a H, sentindo o calor das minhas próprias chamas percorrerem os braços.

    Percebi que ele havia abandonado a estratégia dos clones, algo incomum para ele. Sua energia começava a se concentrar diretamente em seu próprio corpo, como se estivesse reunindo forças para um último movimento.

    Não sabia o que ele pretendia, mas uma coisa era certa: eu o queimaria vivo se fosse necessário.

    Aproximei-me novamente das sombras que ainda pairavam ao seu redor.

    — Ruptura Semântica, inibe seus poderes! — convoquei, minha voz cortando o ar como lâmina.

    Assim que o encantamento foi invocado, vi o efeito do Sussurro diminuir. A escuridão que o envolvia perdeu parte da força, esgarçando-se em véus mais tênues, como se tivesse sido varrida por uma onda de luz.

    Aproveitei o momento e avancei com tudo.

    H encurtou a distância, utilizando aquele seu estilo bruto, quase animalesco, mas sem perder potência. 

    Era como lutar contra uma avalanche de músculos e gosma. Cada soco que ele dava parecia capaz de estilhaçar concreto. Precisava tomar cuidado, qualquer golpe direto poderia ser um desastre para mim.

    Contra-ataquei com velocidade. Minhas mãos cobertas de fogo rasgavam o ar e queimavam seus braços toda vez que eu acertava.

    No entanto, ele continuava a proteger o corpo com aquela gosma, tornando as queimaduras superficiais, como se o fogo estivesse sendo filtrado por uma camada densa de neblina.

    Foi então que uma ideia me atingiu.

    Ele atacou com a âncora pela minha esquerda, num arco longo e previsível.

    Ao invés de recuar como faria normalmente, avancei com tudo. Meus reflexos gritaram contra a decisão, mas minha intuição dizia o contrário.

    Incendiei as mãos com chamas e agarrei o pulso da mão que segurava a manopla, queimando-o com força brutal. 

    A gosma que o envolvia começou a se esvair como cera derretida. Senti o cheiro da carne dele queimando.

    Ele gritou, soltando a âncora no ar.

    Agarrei-a antes que caísse no chão. Aproveitei o impulso do giro e a usei para golpear H pelo lado direito do corpo.

    Ele conseguiu puxar os braços ao lado a tempo de bloquear o ataque, mas o impacto o lançou alguns metros para o lado. Foi forçado a rolar no chão para não se chocar contra a parede.

    Ao vê-lo ajoelhado ali, imóvel por um momento, joguei a âncora para trás.

    “Acho que os últimos meses finalmente chegaram a uma conclusão…”

    Senti a energia de H se aquietar. Quase inexistente naquele momento.

    — Você andou melhorando bastante seus encantamentos… é uma pena que será inútil — disse ele, tentando se levantar, mas cambaleando, fraco.

    — Admiro sua autoestima, mas acabou, H. Sua fuga termina aqui — respondi, minha voz carregando o peso de meses de perseguição e exaustão.

    — Suas piadas são uma merda, já te disseram isso? — retrucou H, tossindo com força, com sangue nos lábios.

    — Qual o problema? Está com pressa pra ir a algum lugar? Não se preocupe, a prisão da SLI é aconchegante. Você vai adorar — respondi com sarcasmo.

    — Eu sou alguém que gosta de aprender com os próprios erros, sabia? — perguntou ele, me encarando com um olhar mais calmo, quase contemplativo. Aquilo me incomodou.

    — Não sabia. Mas onde quer chegar? — retruquei, impaciente com os joguinhos.

    — Em Budapeste, vocês foram mais espertos e nos pegaram desprevenidos. Mérito de vocês. Mas, desta vez, eu vim preparado — disse H, erguendo o pulso direito à frente do corpo.

    Então… aquilo que eu havia sentido há pouco, sua energia quase zerada, simplesmente mudou.

     Num instante, ela reacendeu com fúria, como se ele tivesse removido um selo.

    “Merda, era uma ilusão. Mas como?”

    Avancei imediatamente em sua direção, incendiando as mãos em forma de manoplas.

    Ruptura Semântica, iniba sua energia! — convoquei, em um último esforço desesperado para deter o que quer que ele estivesse prestes a fazer. 

    Mas aparentemente, foi em vão. A Ruptura falou.

    Cheguei até ele e o golpeei com força.

    Só que acertei apenas… uma gosma preta.

    E então, uma voz profunda e impossível de ser ignorada ecoou no ambiente:

    PESADELO LOVECRAFTIANO: O Chamado de Cthulhu!


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