POV: HELENA IVYRA.

    Passaram alguns dias desde o começo das aulas. Nada de grande ocorreu naquela primeira semana, apenas o rotineiro começo de ano.

    Tivemos as primeiras aulas com os professores, ouvimos um pouco do que teríamos que estudar naquele primeiro trimestre, quais eram os métodos avaliativos que teríamos que atender, entre outras coisas.


    Na verdade, se parar para pensar, creio que a única coisa relevante foi as instruções sobre a formatura. Especialmente, na parte de arrecadar dinheiro, teríamos que vender mini-pizzas, fazer rifas, brindes e outras coisas para ter dinheiro suficiente para a formatura. 


    Terceiro ano tinha parcela de gambiarras necessárias… 

    Assim como suas responsabilidades, agora que estava na turma especial teria que ir às aulas algumas vezes à tarde. Algo que sinceramente já era até rotineiro para mim. 


    “A última vez foi nas olimpíadas de astronomia, né?”

    Lembrei rapidamente das vezes que vinha à escola durante o contraturno para estudar e treinar.

    Eram bons momentos, ficar naquela mesa do canto, lendo enquanto tomava um café que a merendeira Joaquina, pegava da cozinha e me deixava tomar. 

    “Sempre tão gentil, adorava ela, ainda bem que ela conseguiu se aposentar… Vai poder descansar melhor.”

    Era coisas que eu sentiria falta depois da escola. Pensar que era o meu último ano, que eu teria que ir embora no final, realmente deixava uma sensação de inquietude ou melhor de antecipação. 

    “Provavelmente, irei embora dessa cidade para fazer a faculdade se der certo… Esperamos que dê, né… Helena do futuro, por favor, tenha paciência comigo”


    Se ela ficaria brava comigo ou não, eu não tinha como saber. O que eu sabia era: Essas aulas com esse tutor especial podem ser uma salvação! Com certeza, precisava garantir que aprendesse o máximo possível.

    “É um professor que já estudou no ITA, vai ser perfeito se conseguir pedir alguma ajuda no estudos dos axiomas de segundo nível!”

    Logo que percebi, já estava na esquina da escola. Renata estava apenas alguns passos para o meu lado direito, estava recuperando o fôlego e tirando o suor do rosto.

    Afinal, naquela bendita tarde, o sol decidiu fazer hora extra, apesar de que agora que estamos prestes a chegar, o céu ficou encoberto por nuvens.  

    Enquanto atravessavámos a rua, percebia que o Sol gostava de aparecer exatamente quando saiamos e se escondia quando chegávamos… Maldito calor seletivo. 

    Chegamos no portão da escola, me virei para Renata e vi ela acenar com a cabeça para eu ir na frente. Havia um silêncio entre nós hoje, mas era comum. Afinal…

    Havia uma tensão no ar, claro, mas era o tipo de ansiedade que vinha com a expectativa daquela nova aula estranha, tendo em mente que teríamos que conhecer o novo professor e ver se a dor de cabeça valeria a pena.

    Ao entrarmos na escola, passei pelo posto onde o guardinha passava, mostrei-lhe minha carteirinha brilhante.

    “Nem para ser no mínimo estiloso… Hmpf….”

    O guardinha de sempre, que já me conhecia. Autorizou a entrada sem problemas. 

    Caminhamos em direção às quadras de treinamento. Olho para a minha direita, havia uma estranha rampa em zigue-zague que nos levava ao segundo andar, depois da entrada dela, havia uma parte coberta com uma mesa de ping-pong, outra de futmesa.

    Mais ao lado, uma pequena quadra de vôlei de areia, marcada por uma faixa laranja. E ao fundo, duas quadras de combate antes do ginásio, onde ficava a quadra de futsal.

    Foquei minha atenção na arena de combate, que tinham cores novas e aparentemente o chão foi reconfigurado para ser mais resistentes creio eu.

    Percebo que há um senhor alto, postura reta e aparência que mostra sua idade mais velha ao lado do portão da plataforma, que possui provavelmente uns quinze metros de extensão por uns dez de largura.

    A presença dele era impossível de ignorar. O homem alto de aparência serena, mas nitidamente treinada, ergueu o olhar ao notar nossa aproximação.

    Seus olhos eram frios, mas não vazios.

    Avaliadores.

    — Boa tarde, senhoritas. Imagino que sejam Helena Ivyra e Renata. – disse o homem, com voz firme e um sotaque que não conseguia discernir de onde era.

    Assentimos em concordância. Ele continuou. 

    — Sou o professor Miguel Castro. Sou Mestre, formado pelo ITA, onde estudei engenharia na graduação, e me especializei em matemática, assim como sou faixa preta em duas artes marciais e mago de classificação dois.

    Fiquei em silêncio por um instante, absorvendo cada palavra.

    Professor novo. E já sabíamos que seria diferente, mas não esperava aquilo.

    “Ele está dando aula para ensino médio com esse currículo??, sei que exatas é complicado, mas tanto assim??”

    Percebendo meu silêncio e provavelmente minha cara de espanto.

    — Antes de começarmos, preciso entender com quem estou lidando. Quero que se apresentem. – disse o Prof. Miguel, levantando as mãos para contar. – Digam-me: Encantamentos principais, estilos interpretativos e tempos de maestria.

    Respirei fundo e dei um passo à frente.

    — Boa tarde, senhor Castro! Me chamo Helena Ivyra, sou do estilo interpretativo Análogo. Com maestrias intermediárias e uma iniciante. Possuo prática de combate corpo a corpo usando construtos e projeções energéticas de curta e média distância.

    Ele apenas assentiu com a cabeça, e seus olhos passaram rapidamente para Renata. Ela falou com mais firmeza do que eu esperava.

    — Sou Renata Silveira. Portadora de encantamentos de suporte e longa distância, sou do estilo interpretativo análogo, possuo uma maestria intermediária, outra iniciante. Mas… — ela hesitou um segundo. — Tenho um encantamento de núcleo energético próprio…

    A sobrancelha dele se arqueou levemente. Pela primeira vez, percebi o demonstrar surpresa genuína.

    O que era comum quando Renata contava esse fator.

    “Imagina quando ele descobrir o que essa praga pode fazer…”

    Olhei de canto de olho para Renata, que era uma pessoa doce, e super tímida. Mas, a criatura era tão talentosa que só o diacho. Voltando a atenção ao professor, que continuou:

    – Interessante. Muito bem. Para avaliá-las com precisão, preciso ver o que conseguem fazer. – disse, subindo na plataforma pela escada. – Que comecemos nossa aula…

    Meus olhos cruzaram com os de Renata por um breve instante.

    — Começaremos com o quê? — perguntei, mesmo já imaginando a resposta.

    — Combate. A aula é sobre isso, afinal… — Um leve sorriso surgiu no canto da boca dele. — Vamos à prática, quero ver o que a turma “Girassol” pode fazer… 

    O tom de seu comentário era claramente provocativo. O que não encaixava com a postura que ele mostrou até ali.

    “Sujeito peculiar…”

    Dei um sinal para Renata, e dei uns passos à frente para subir na plataforma. Ela veio logo atrás.

    — Dois contra um? — Renata questionou, desconfiada.

    — Exatamente — ele respondeu com tanta naturalidade que fiquei até sem reação.


    POV: MIGUEL CASTRO.


    Hora de começar as aulas…

    “Merda, nunca imaginei que depois de vintes anos nessa maldita profissão, teria que voltar a pisar em uma escola pública para dar aulas.”

    Foi meu principal dilema nos últimos dias, que preparava o treinamento para essas garotas. Por sorte, minha antiga formação acadêmica, encaixou perfeitamente para o disfarce de professor.

    Até fiz questão de usar meu nome verdadeiro, justamente para deixar claro quem eu era. Se H tivesse mandado alguém atrás da garota, pensaria duas vezes comigo aqui.

    Falando na garota… Vamos ver o que ela conseguia fazer.

    Ambas botaram trajes simples de combate, com os painéis energéticos de defesa acoplados ao tecido.

    Nada pesado, nada que limitasse os movimentos. Apenas o essencial. Indicador de perigo e proteção de impactos em caso de emergência.

    A plataforma se ergueu do solo em poucos segundos, expandindo-se até formar um grande hexágono. As bordas vibravam com energia, indicando o limite seguro do campo.

    Era bonito, moderno e parecia realmente algo alienígena no meio daquela escola aleatória.

    Assumi uma posição defensiva, sem armas, sem encantamentos ativos.

    “Vamos começar vendo se elas impõem ritmo… no combate”

    Estralei levemente as mãos e passei instruções.

    — A regra é simples: sair da plataforma ou ser derrubado ao chão. Derrota.

    Creio que as garotas não achavam que eu falava sério, mas percebo suas posturas mudar ao ver-me preparado.

    “Noah disse que ela era boa… veremos”

    Olhei para a garota Renata.

    Ambas trocaram olhares, Helena assentiu.

    Estavam prontas.

    Vi-as se moverem com naturalidade. Deram passos laterais e uma avançou para minha direita e outra para esquerda…

    Ambas cruzavam-se do lado oposto uma da outra, como duas linhas paralelas querendo cruzar um ponto fixo. Eu.

    “Bom posicionamento…”

    Reforcei ambas as mãos com energia, ativando a base do meu pulso direito, marca do encantamento de Cervantes, deixei meus braços cruzados.

    – Tesselação Axiomática! – proferiu Helena, ativando uma de suas marcas, que avançou primeiro em minha direção, vindo da direita. Formando duas manoplas em ambas suas mãos.

    Pura energia sólida, encurtou a distância com rapidez. Antes de chegar a mim.

    Me virei para ficar de frente com ela, até que vejo uma corrente prender meu pé… Era Renata. 


    Que mantia distância e postura firme de suporte. Tentou puxar-me para eu perder o equilíbrio.

    Girei o pé na corrente, e a puxei. Mas antes, ela cancelou, já esperando isso e disparou uma bomba energética em minha direção.

    Helena encurtou a distância, foi obrigado a dar um passo lateral, desviando da energia. Helena levantou as manoplas para receber o impacto do projétil, que carregou suas manoplas… que agora brilhavam em cor azul mais forte. 

    Agora, há menos de dois passos de distância. Levantou a guarda numa de boxe.

    Avançou, dando um gancho pela direita, virei-me para dentro de sua guarda. Passei o pé à sua direita para derrubá-lá. No entanto, antes disso, outro projétil me atingiu.

    Minha mão carregada de energia impediu o pior impacto, mas Helena chutou-me na perna, tentando me dar uma rasteira baixa lateral.

    Revidei, direcionando uma rasteira na base da canela dela. Que percebeu e virou o pé para trás, não a tempo de perceber minha mudança de direção que acabou confundindo-a, passei a rasteira para o pé de apoio, novamente, queria que perdesse o equilíbrio.

    Percebo de canto de olho uma sequência de projéteis vindo em direção às minhas costas. 

    Não eram apenas simples esferas de energia… Eram em formato de nuvens?

    Canalizando energia no pulso direito. Girei-me nos calcanhares.

    — Cervantes. — proferi.

    Um escudo apareceu em minha mão direita, Uma marca de espada curta na outra. Ambos de energia esverdeada.

    Os projéteis explodiram na barreira de energia do escuro. Ao mesmo tempo, mandei uma onda de energia aos meus pés para desequilibrar Helena, que percebendo isso, deu um passo para trás e uma cambalhota ganhando distância…

    “Terei que levar a sério… Preciso fazer que ela use o Grito…”


    POV: HELENA IVYRA.

    Antes tinha a impressão do currículo ser demais. Agora, tinha o terror de pensar…

    “Quem é esse maluco??”

    Nenhum dos professores da escola, tanto nas demonstrações quanto nos treinos básicos, propunha um dois contra um. Mesmo assim, esse maluco propôs sem nem sequer usar os encantamentos de começo.

    Precisou eu e a Renata acertá-lo com uma das Penumbras da Nuvens dela, para ele ativar o encantamento e energia pela primeira vez.

    Depois que fez isso, suas mãos, ambas ficaram com desenhos, sua esquerda com o de uma espada. Outra com uma de escudo.

    “Cervantes, é?”

    Renata estava alguns metros para trás de mim, dei um sinal com a minha mão esquerda e avancei.

    Tentei golpeá-lo com sequências de ganchos, reforçando minha energia para dar rasteiras ou formar pequenos blocos de energia para empurrá-lo fora de seu balanço.

    Todos falharam…

    Ele bloqueava meus golpes com perfeição quase humilhante. As manoplas acertavam, mas ele redirecionava o impacto. Nada o atingia de verdade.

    As marcas na mão dele brilhavam cada vez mais…

    — Está anulando os ataques — murmurei, cerrando os dentes.

    Troquei de ritmo.

    Tentava achar brechas, mas ele lia cada movimento. Era como lutar com alguém que já tinha assistido a uma gravação minha dez vezes.

    Mesmo assim, continuávamos. Renata atirava projéteis em momentos estratégicos, buscando abrir espaço.

    Eu tentava entrar. Romper sua guarda várias vezes, mas nada.

    Ele sorria, não com deboche, mas com curiosidade genuína. Ele estava esperando algo a mais.

    Sua postura levantou-se, e ondas de energia saíram de suas mãos. Foi quando ele murmurou algo. Não entendi as palavras, mas reconheci o tom: encantamento de ativação.

    Talvez um encantamento de projétil? Não sabia, 

    — Rê! — gritei, num impulso.

    Ela entendeu de imediato. Um projétil maior, denso, explodiu entre nós. A fumaça se ergueu, criando uma cortina momentânea.

    Afastei-me de alguns passos. Era hora de mudar de estratégia.

    Vamos tentar de longe… Direcionando energia a minha marca de Correntes da Libertação Marginal ao mesmo tempo que fortalecia a ligação da Tesselação Axiomática para usar se necessário.

    — Correntes da Libertação Marginal! — proferi, enquanto Espectro Bala e Espectro Professor apareceram em meio a pequenas nuvens em meus ombros. 

    Olhando para o lado, por cima do ombro. Vejo Renata com suas mãos carregadas e brilhando numa cor ônix forte. 

    — Rê, formação: Manto e Adaga! — declarei, com firmeza.

    Vi-a sorrir.

    Sabia o que fazer. A próxima fase tinha começado.



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