Capítulo 21 - Aula Prática (I)
POV: MIGUEL CASTRO.
O clima quente daquele dia mudará levemente com a forte penumbra que criara-se ao redor da arena. Como se a própria atmosfera tivesse sentido o que estava prestes a acontecer.
Helena e Renata se moveram com uma naturalidade que soava ensaiada, mas eu sabia que era puro instinto. Sem dizer uma palavra, posicionaram-se lado a lado mantendo distância de onde eu estava.. E então… começou.
Formação Manto e Adaga. Uma estratégia de formação.
Esse tipo de técnica não era incomum para nenhum mago, afinal estudava-se estratégias assim eventualmente quando se aprendia a usar os encantamentos melhor. Porém, conhecer a técnica era algo, usá-lá em combate corretamente é outro ponto bem diferente.
Reconheci de imediato a formação. Era um padrão estratégico comum, porém elas haviam desenvolvido uma alteração para longa distância ou talvez algo inspirado em seus encantamentos próprios, difícil dizer. No entanto, o mais importante: funcionava. E era belo de se ver.
Helena assumia o papel de manto, mantendo através das correntes e de aparentes espíritos que ela podia controlar mantinha distância e formas de limitar qualquer possível avanço. Assim como criava ilusões e meios de desorientar-me para os ataques explosivos de Renata tiverem sucesso ao me atingir.
Seus movimentos eram amplos, firmes e circulares. Porém eram descontrolados, usavam muita energia para fazer coisas sem muito impacto. Apesar da boa sinergia entre ambas, faltava precisão letal nos ataques.
Não atacava, apenas absorvia e previa, moldando como uma barreira viva.
Já Renata… ela era um caso peculiar.
Escondida nos espaços criados por Helena, seus ataques surgiam e desapareciam como uma adaga lançada com precisão cirúrgica. Sua energia era quase ofuscante, um brilho cor de ônix que oscilava entre o visível e escondendo atrás de um tipo de penumbra criado por suas mãos..
Seus ataques não vinham com velocidade assustadora, só que a natureza era traiçoeira, pois vinha das sombras criadas por ela, o que dificultava minha detecção dos ataques.
De algo pulsante que ia além da minha compreensão. Cada golpe deixava rastros cintilantes no ar, como se a realidade estivesse sendo delicadamente riscada com um quadro branco pintado por uma pincelada de tinta aquarela.
Parei por um instante, e fiquei boquiaberto.
Não apenas habilidade, ambas tinham uma espécie de coreografia construída na confiança mútua e no instinto de sobrevivência. Ambas eram amigas há bastante tempo, ambas mostravam ter não apenas talento, mas seriedade nos estudos e principalmente em seus treinamentos.
Era natural esperar que se entendessem tão bem a esse ponto. Havia ali algo, ou talvez, apenas o tipo raro de sinergia que não se encontra em qualquer um, mas se treina.
— Elas são maestras… — murmurei, sem conseguir esconder a surpresa.
Era como observar um fenômeno natural.
Essa garota não sabe onde se meteu quando entrou naquela biblioteca… Ela era importante a partir dali, sabia que seria uma peça crucial de algum jeito.
Mesmo assim, vendo esse talento, com certeza, dentro dela que, bem orientado, poderia abrir portas maiores do que qualquer um imaginava. Até então, eu a via como uma condutora, não como uma força de impacto.
Porém, vendo-a ali… sustentando os ataques com uma força que mesclava rigidez e flexibilidade, tive de rever meu julgamento.
E Renata… bem, Renata era um mistério ainda maior.
Mantive minha postura defensiva, enquanto ambas movimentavam-se em conjunto, lançando vários combos de energia e ataques sincronizados com os espíritos. Foquei em observar atentamente os fluxos de energia que ela manipulava. Aquilo simplesmente não fazia sentido. Nenhuma origem clara, nenhuma limitação visível, nenhuma lógica aparente.
Era como se ela carregasse dentro de si um reservatório que desafiava qualquer tentativa de categorização normal.
“Um encantamento de reservatório energético sem descrição precisa… Isso definitivamente é assustador”
E agora, vendo-a usar esse poder com tanta agilidade, tanta precisão, eu tinha certeza de uma coisa: elas precisavam de orientação.
Suas forças eram ridículas, mas com o treino adequado. Elas poderiam tornar-se algo incrível.
“Dariam agentes de primeira linha, até mais do que isso se duvidar…”
Não bastava mais observar à distância. Se deixadas sozinhas, poderiam tanto destruir o talento delas, quanto causar grandes impactos. E ambos os caminhos seriam catastróficos se não bem guiados.
Suspirei.
— Pelo visto, terei que realmente virar um professor para ambas… — resmunguei baixinho, num tom cínico, mas com um brilho discreto de empolgação nos olhos. — Hmpf…
O campo estremeceu.
Como se em resposta ao meu pensamento, um conjunto de golpes cortou o ar em minha direção. Não me movi de imediato, observei a origem do ataque, estudei seu propósito. E então, num piscar, desviei com a fluidez, dessa vez decidi revidar o ataque com precisão e efetividade.
“Vamos levar isso a sério para valer, então”
Com um estalar dos dedos, canalizei energia em dois de meus encantamentos no pulso direito.
– Dom do Escudeiro – proclamei, levantando meus braços numa postura alta de combate.
Ao meu lado, um brilho pálido começou a se condensar. Como se o ar estivesse sendo moldado por mãos invisíveis.
Um avatar surgiu: de aparência humanoide, feito inteiramente de energia cinza-azulada, com braços alongados que se estendiam a partir dos meus.
Era como uma sombra projetada no plano tridimensional, uma extensão da minha vontade, mas com presença própria.
O avatar se movia em perfeita sincronia comigo, como se andássemos juntos numa coreografia defensiva e ofensiva ao mesmo tempo. Era belo, mas imponente.
Dei um passo à frente.
— Certo — disse, elevando a voz acima do ruído dos combates menores ao redor. — Acabamos a introdução.
As garotas diminuíram o ritmo. Não cheguei a dar uma ordem direta, mas foi como se o ambiente inteiro tivesse compreendido que um novo capítulo começaria ali.
— Iniciaremos a primeira lição — declarei, com firmeza. — Conheçam… Diamante de Minas.
Ao ouvir o nome, Helena franziu o cenho, respirando ofegante, mas sorrindo com o canto dos lábios.
— Tenho certeza que já vi esse poder em algum anime… — disse, confusa, ainda recuperando o fôlego. — Mas não lembro qual era…
Não respondi de imediato. Permanecei em silêncio, mantendo a expressão séria.
Mas por dentro… um canto de mim se divertia com a comparação. Sim, aquilo tinha mesmo uma estética familiar, e, ao mesmo tempo, era algo que apenas eu podia conjurar.
– A primeira lição é sobre posicionamento e como manter sua posição.
Aparentemente, essas aulas serão mais divertidas do que eu esperava.
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