Capítulo 24 - Aula Prática (IV).
POV: HELENA IVYRA.
Ter entrado naquela turma especial foi, sem dúvida, uma das melhores decisões possíveis dos últimos tempos.
Afinal, aquele treino contra o professor Miguel não foi apenas instigante, foi excelente. Ele era forte, mas não do tipo bruto e desgovernado. Havia técnica, objetividade e, acima de tudo, experiência em cada movimento dele.
Ele demonstrou com suas ações que seu currículo não era apenas enfeite, era sinal de sua capacidade.
Eu conseguia ver claramente que aprenderia muito com aquele homem.
Além do domínio dele sobre encantamentos e combate, Miguel ainda tinha um histórico acadêmico invejável nas áreas exatas. E isso, pra mim, era ouro. Eu sempre tive interesse nessa área. Ter alguém como ele orientando talvez fosse a ponte que faltava para eu finalmente entender o que antes me escapava.
Enquanto eu ainda processava tudo isso, escutei a voz dele soar mais uma vez conforme saia dos meus pensamentos sortidos.
– Antes de explicar o que é JAT e Spike, preciso saber quais encantamentos vocês possuem… – disse ele. – Peço que me mostrem seus Marcas-Páginas assinatura, por favor…
Ouvindo aquilo, respirei fundo. Eu sabia o peso e importância de revelar aquelas informações.
Revelar seu marca-página assinatura, não era como contar o seu prato favorito ou o nome do seu familiar mais próximo.
Era quase íntimo, socialmente, era um gesto de confiança que significa muito. Mostrava que você conhecia a pessoa, não apenas pelo gosto dela, mas por seus poderes e por sua capacidade.
Refleti por um momento… Será que valia a pena?
Foi a pergunta que me veio à mente, contar os encantamentos sempre foi algo que muitos achavam perigoso, outros não viam o problema no gesto e sim nas descrições dos encantamentos, diziam que contar seus encantamentos era até cortesia. Porém, suas descrições nunca deveriam ser ditas para estranhos.
“É um passo de confiança afinal de contas… Mas é um professor pedindo…”
Suspirei novamente.
“Não é como se eu fosse ter que enfrentá-lo em um combate até a morte algum dia, né…”
Pausei. A lembrança veio como um raio.
“Droga, isso era algo que o Sunny costumava falar… Que bom que eu não tenho o atributo Destinado, ufa!”
A verdade é que, tecnicamente, o registro de encantamentos era algo comum nos censos do IBGE.
Mas as pessoas sempre evitavam. Era um costume dos antigos, dos mais velhos, aqueles que acreditavam que contar seus poderes aos que detêm os meios de controle da literatura era errado.
“Isso me soa… levemente comunista? Estranho a associação…”
Mas, no fim, isso não me importava tanto, optei por me arriscar.
Despertei da minha espiral de pensamentos quando vi Miguel ativar seu Marca-Página assinatura.
Seus pulsos começaram a brilhar em tom azul-claro, demonstrando que todas as suas marcas estavam ativas naquele momento. E sob sua mão esquerda, um brilho surgiu, no formato de um retângulo energético de bordas curvadas em meia-lua, que listava cinco diferentes marcas. Todas com símbolos diferentes e códigos de símbolos diferentes.
Aprendiamos desde o começo do ensino fundamental a ler esses padrões e o que eles poderiam nos contar sobre as marcas literárias das pessoas. Os cinco principais encantamentos apareceram com clareza naquele papel, e Miguel nos mostrou o seu sem hesitar, mostrando que confiava em nós.
Aquilo foi suficiente para me fazer dar um passo à frente, em consideração.
— Tudo bem, professor — murmurei, mais para mim mesma do que para ele.
Ativei meus encantamentos, todos ao mesmo tempo. E lá estava. O brilho familiar do meu próprio Marca-Página surgiu diante de mim.
Quatro das minhas principais marcas literárias se revelaram de imediato.
“Só falta uma… Espero que consiga uma marca boa que possa me ajudar”
Eu possuía apenas quatro marcas principais, que eram tão importantes a ponto de eu me sentir segura em usá-la ali.
Geralmente, os dominadores leem diversos livros em sua vida, mas poucos são os que se conectam profundamente para que se tornem marcas. E mesmos, estes, não são garantidos que sejam poderosos o suficiente ou que sejam eficientes o suficiente.
No meu caso, sempre fui uma leitora assídua e variada. Minhas marcas eram a prova disso…
Vendo o retângulo surgir em minha mão direita, lá estava:
Em um formato de uma ampulheta cheia de areia, havia o símbolo de várias correntes sendo partidas. Aquilo que representava o símbolo de Correntes da Liberdade Marginal, meu encantamento de maestria intermediária mais próximo do avanço. Originado de Capitães de Areia, escrito por Jorge Amado.
Um dos primeiros livros clássicos que eu li, e sinceramente, meu favorito.
Em segundo, havia um símbolo de cubo, cercado de fórmulas poligonais variadas, com uma pequena pirâmide no centro, que possuía dois degraus brilhando em tom azul-claro mais forte do que o topo. Indicando o meu domínio sobre dois dos três grupos de axiomas do encantamento Tesselação Axiomática. Originado do Elementos de Euclides.
Abaixo havia as duas marcas que eu mais me diverti usando, por sua variedade.
A terceira, possuía um grande olho, sob um templo que ficava no topo, de uma figura que remete a uma montanha. Esse olho, ficava aberto e possuía alguns símbolos ao seu lado, indicando as propriedades que a Observação da Sombra me permitia visualizar, e compreender durante o combate ou o estudo. Era de maestria intermediária, originada do bom e clássico Shadow Slave.
E por último, mas não menos importante…
A minha amada marca que me obrigou a ter aulas de esgrima quando eu era menos… Porque achei que fosse ajudar e no final, não era nada do que o nome representava. A Espada do Rei, de maestria intermediária, era uma marca confusa, o seu nome indicava algo de armamento ou combate, mas na verdade era uma marca de defesa e suporte mental. Originada de The Beginning After The End.
Assim que terminei de conferir, olhei para aquelas marcas por um momento…
E pensei o quão maluco era aquela variedade… Duas novels, um livro clássico e outro antigo de matemática.
“Que variedade hein?”
Olhando brevemente para o lado, vejo Renata com sua mão, já canalizando seu próprio marca-páginas… Com símbolos diferentes e seu característico tom azul ciano.
Tom que era estranho… No entanto, intrigante.
Se minhas marcas eram distintas, as dela… Eram um tanto quanto peculiares.
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