Capítulo 25 - Aula Prática (V).
POV: RENATA SILVEIRA.
O professor Miguel havia me feito uma pergunta direta, e por um instante, fiquei levemente surpresa.
Aquela era uma afirmação séria. Até então, fora eu, apenas meus pais e Helena sabiam sobre meus encantamentos.
Pensei, naquele momento, sobre o quanto fui tímida durante a vida. Essa dificuldade em me comunicar, sempre significou isolamento.
Permaneci assim por muito tempo… até que minha melhor amiga surgiu.
Helena me ajudou a lidar melhor com essas coisas, e também com os estudos, de certa forma.
Enquanto esses pensamentos me percorriam, ativei minhas marcas ao perceber que Helena faria o mesmo.
E lá estava, a primeira marca, e mais característica. A Essência do Sonhador, o meu principal encantamento, permitia eu canalizar uma força extra que eu carregava quando sonhava e que poderia ser distribuída em minha energia mágica, permitindo-me aumentar outros encantamentos ou meus golpes.
Seu símbolo era uma simples algibeira ou algum tipo de bolsa pequena. Cercado por vários objetos diferentes, alguns lápis, canetas e outras coisas aleatórias.
“Curioso…”
Era minha maestria intermediária mais avançada, originada do livro: O Vendedor de Sonhos.
Logo após, havia meu encantamento mais misterioso e que eu pouco sabia… O Reservatório Onírico era de maestria intermediária, o que era contra-intuitivo com o pouco que eu sabia sobre ele. Representado por simples símbolo de um círculo preenchido por alguns rabiscos que pareciam estranhos padrões sem lógica…
Era um dos raros casos de encantamentos sem livro definido, esse tipo de coisa, nunca foi bem explicado.
Mas, eu lembro de algo que meu psicólogo e professor diziam, que encantamentos assim não eram novidade e sim frutos de uma ideia que se representava em vários livros diferentes, então, quando a Marca se canalizava, não era claro qual o livro original.
Por isso, havia a indefinição.
Havia também o fato desse encantamento ter uma própria reserva de energia que era estranha…
Em terceiro, o encantamento mais recente que eu tinha adicionado e que mais me deixou surpresa quando entendi sua natureza… Especialmente, por saber a quem ele faz referência.
Simbolizado por um simples navio flutuando no meio de estrelas. Ironico…
Afinal, não é todo dia que ganhamos uma marca literária de um mangá de um pirata que se estica… A Escuridão dos Sonhos, permeia uma escuridão onírica que afeta os sentidos e as coordenações espaciais dos meus oponentes. Podendo os fazer cair de alturas imaginárias como num sonho, por exemplo.
Era extremamente versátil, apesar do pouco tempo de uso.
Outro, que também era recente, e sinceramente, um achei bem de acordo com a minha cara…
Era o Espelho da Alma Perdida, que apesar do nome poético, era bem mais simples do que aparentava, de maestria iniciante, originado da obra: De gênio e louco todo mundo tem um pouco. Me ofereciam um bom suporte para os demais, por me dar a capacidade de raciocinar mais rápido, o problema era que me cansava na mesma proporção de velocidade.
Assim que terminei de relembrar meus encantamentos, me virei para Helena que também estava prestes a revelar seus encantamentos.
Então, dando um sinal de cabeça para. Comecei a explicar para o professor Miguel, como cada encantamento funcionava e como os usava no combate.
Naquele momento, me sentia completamente exposta, mas também, confiava em Helena e no professor Miguel, se ela acreditava nele. Eu também iria.
POV: MIGUEL CASTRO.
Eu observava atentamente as explicações das duas. Era fascinante como os estilos de Helena e Renata contrastavam, e ainda assim, formavam uma harmonia impressionante entre si.
– Os encantamentos da Helena são maleáveis e fortes – comentei, mantendo o tom analítico. – Já os da Renata seguem regras simples, porém poderosas. É como se representassem dois lados de uma mesma moeda.
Enquanto falava, introduzi um conceito importante que havia citado anteriormente para ambas.
– Existe uma diferença importante entre um JAT e um spike – expliquei, observando se ambas estavam prestando atenção.
– JAT é a sigla para Jack-Of-All-Trades. É uma expressão americana para quem é generalista, ou seja, bom em várias áreas, mas não masteriza nenhuma. No nosso contexto, isso se aplica a um mago que domina diversos encantamentos distintos, capazes de realizar múltiplas funções: combate, suporte, reforço… tudo de maneira decente, mas sem se destacar de forma extraordinária – continuei.
Fiz uma breve pausa, apenas para reforçar a ideia antes de continuar.
– Já o spike é o contrário. É o mago que tem um pico de habilidade em uma área específica. Em geral, ele tem vários encantamentos dentro de um mesmo campo ou que desempenham funções muito semelhantes, o que o torna mortalmente eficaz… mas apenas ali.
Concluí a explicação com um exemplo prático.
– Os JATs tendem a ter mais independência para lidar com múltiplas situações e demandas. É o caso da Helena. Mas isso vem com um preço: ela precisa aprender a racionar sua energia com mais sabedoria, usar seus encantamentos de maneira mais responsável, para que a versatilidade deles não se torne um desperdício.
Virei meu olhar para Renata.
– Por outro lado, o spike precisa dominar seu ponto forte ao máximo. Se tiver sucesso, realiza a tarefa com maestria. Mas, se falhar… acaba em maus lençois, já que fora do seu campo, suas opções são muito limitadas.
Me aproximei um pouco mais, sério, mas sem hostilidade.
– Renata, você precisa aprender a controlar melhor a quantidade de energia que investe em seus encantamentos, de forma que eles sejam mais úteis em combate de curta distância.
Ambas me escutavam atentamente, então fui direto ao ponto.
– Corrijam suas posturas em combate. Controlem a energia, e pensem melhor nos encantamentos. Vocês duas dominam os próprios poderes e conhecem bem o estilo de luta uma da outra. Usem isso a seu favor, tem inovar em formas diferentes de surpreender a oponente.
As duas se entreolharam, com uma mistura de desconfiança e curiosidade. Foi Helena quem perguntou primeiro:
– Por que você quer que a gente mude isso agora? – indagou ela, franzindo a testa.
Renata assentiu com a cabeça, reforçando a dúvida:
– É… Qual é o motivo de tudo isso?
Cruzei os braços e respondi com firmeza.
– Porque vocês vão lutar entre si. Vai ser a melhor forma de colocar cada um desses pontos em prática, e, principalmente, de entenderem como podem lidar melhor com ele.
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