Capítulo 26 - O poder dos sonhos (I).
POV: RENATA SILVEIRA.
Frente a frente com ela. A quadra de treinamento estava ali como um palco pronto para um espetáculo, um daqueles que lembrava uma coreografia. Nós duas, já havíamos treinado em conjunto várias vezes, eu conhecia a estratégia dela, e ela a minha.
Hoje, em especial, tínhamos que testar algo novo e era isso que pretendíamos fazer.
O professor Miguel nos observava à distância, seu olhar crítico sem deixar espaço para hesitação, parecia analisar o ambiente. Ele estava no lado de fora da quadra, com uma postura simples mas firme.
Voltando minha atenção para Helena que estava alguns metros à minha frente.
Havíamos concordado em levar a sério, e sabíamos o que isso significava. Isto, não era somente um teste, era uma demonstração. Queríamos mostrar ao professor, e uma à outra, que podíamos usar aquela aula para melhorarmos e que levaríamos aquilo a sério.
O ar vibrava em antecipação. Nesse momento, nada mais importava, apenas o combate que me aguardava.
Professor Miguel percebendo que nós estávamos prontas, disse:
– Mesmas regras de antes, derrubou no chão ou saiu da quadra, é igual a derrota. Preparadas?
Helena foi a primeira a confirmar. – Sim, senhor.
Seguindo a confirmação, consenti logo em seguida.
– Certo, então. Comecem! – exclamou o professor, dando início ao treino.
Helena foi a primeira a ativar suas marcas, com a naturalidade de quem já havia feito aquilo centenas de vezes.
Vi o brilho suave da sua marca sendo ativada, e o que aparentava ser os Espectros surgindo em suas costas, o elemento símbolo ganhando forma.
Escutei-a convocar: – Correntes da Liberdade Marginal: Espectro Gato e Professor.
Aquele era o sinal: ela viria com uma abordagem rápida.
Em resposta, meus dedos se fecharam em punho, canalizando energia para meus pulsos. Um tom ciano brilhou da minha mão esquerda.
– Desperte, ó Essência do Sonhador, e venha ao meu apoio!
Uma névoa envolveu meu corpo, quase como um sussurro onírico. Sentia a energia fluir de maneira fluida e potente. A névoa se expandiu pela arena, criando uma pequena atmosfera que eu poderia usar para manusear meus projéteis.
Helena, sabendo disso, não esperou e saltou em minha direção, já conjurando um dos padrões da Tesselação Axiomática. Manoplas em suas mãos, e junto a elas, vinham dois espectros em suas costas. Um que lhe oferecia uma visão ampla e outro que oferecia disparos que podiam me atrapalhar.
Ela pretendia encurtar a distância e tomar vantagem do combate corpo-a-corpo.
A estratégia fazia sentido, afinal minha vantagem vinha da distância, dos encantamentos que exigiam tempo e espaço para se manifestar. Sabendo disso, ela moldava o campo de batalha como um jogo de xadrez, cortando meus ângulos e me forçando a reagir, não agir.
“Ok, então, vamos lá…”
Erguendo a mão, invoquei uma cortina densa de escuridão ondulante. – Surja, Escuridão dos Sonhos!
Tomando forma, as neblinas se intercalaram e expandiram meu alcance pelo ambiente, tornando-o como num véu sobre a percepção. Ali dentro, eu podia distorcer direções e desordenar levemente a luz e sombra, era o ambiente que confundia os sentidos, até os mais treinados.
– Vamos dançar um pouco, querida? – disse, no meio da névoa que cercava o ambiente.
Não consegui distinguir diretamente, mas pelo tom de voz, Helena parecia divertida com a situação. Conseguia sentir um sorriso vindo dela…
– Mas, é claro… Vamos, Rê!
Ela adentrou a escuridão sem hesitar.
Por alguns segundos, tudo o que houve foi isso… Silêncio. Me movimentei ao redor de onde, sentia a energia dela.
Tentei suprimir minha assinatura, para dificultar a localização dela. Porém, já senti a outra marca de Helena fazendo efeito, Observação da Sombra, começou a fazer efeito. Sua visão acabara de tornar-se mais precisa nessa escuridão.
E não demorou muito tempo, para ver o resultado, senti a perturbação no fluxo de ar atrás de mim. Rolei para o lado instintivamente, e vi um bloco de energia riscar onde minha cabeça estava. A Espada do Rei, somado com a Tesselação Axiomática, gerava uma boa combinação ofensiva. A primeira, era poderosa em conjurações defensivas e ofensivas rápidas. Helena usava sua mente como uma arma.
Rebati com um impulso do Reservatório Onírico, canalizando sua energia incomum para conjurar espirais ilusórias ao redor de mim.
Surgiram padrões distorcidos de luz e sombra que começaram a girar, como se estivéssemos presos dentro de um caleidoscópio do pesadelo.
Assim, como usando o efeito da Escuridão dos Sonhos, direcionei a névoa para segui-lá e criar uma zona de falta de equilíbrio
– Boa tentativa, mas não irá me parar.
A voz dela veio da frente, mas um golpe rápido, veio à minha lateral. Antevendo, consegui canalizar uma onda de energia que diminuiu o impacto, afastei-me, dando passos para trás
Ela estava manipulando as ilusões tanto quanto eu. O Olho da Observação da Sombra dela já estava decifrando meu padrão. Ela estava tentando me ler, como já fazia de costume.
Hora de responder, com o Espelho da Alma Perdida. Ativei a marca e meu pensamento disparou.
Ela percebendo isso, avançou em minha direção. Usando o Espectro Professor para lançar um projétil em minha direção:
– Escorregue! – dizia a voz rasgada do sussurro.
Antes do projétil fazer efeito, eu previa sua direção com segundos de antecedência. E desviei.
O problema? Meu corpo não iria acompanhar por muito tempo. A fadiga viria rápido, como uma onda quebrando sobre meu corpo.
Precisava inverter o jogo.
Canalizei a Essência do Sonhador com mais energia ainda, e conjurei uma onda de energia diretamente ao solo, criando uma explosão que nos separou. Usei a distração para deslizar para fora da escuridão.
Lá fora, o campo voltava à normalidade. Minha visão clareou e minha respiração, apesar de estar pesada, se acalmava.
Helena saiu da cortina um segundo depois, poeira ainda se desprendendo de sua roupa.
O olhar dela estava focado. Olhando diretamente para mim, sem mais truques. Nós duas sabíamos o que estava em jogo.
Ela disparou em minha direção, e lançou três cubos energéticos com a Tesselação Axiomática, vindo em minha direção como projéteis matemáticos letais.
Um salto, um giro, uma conjuração desesperada. A Escuridão dos Sonhos voltou a envolver os cubos, distorcendo seus trajetos.
Eles passaram a girar em torno de mim como luas orbitando um planeta. Usei isso.
Direcionei um deles contra ela. Helena bloqueou com precisão,
“Claro que bloqueou…”
Mesmo assim, agora tínhamos espaço.
Recomeçamos. Dessa vez, sem tantos jogos. Apenas objetividade, avancei na direção dela, e ela devolveu, ela golpeou primeiro com um gancho de direita, desviei, dando um passo para trás.
Girei pela guarda dela, e canalizei uma quantidade de energia para desequilibra-lá, ela segurou meu braço, antes de eu lançar, e tentou me arremessar no chão para eu perder por um das regras.
Soltei a energia, dando espaço entre nós.
Ficando algumas passadas de distância. Encarei-a, rapidamente.
Ninguém ali estava brincando. Se estávamos em uma dança, aquilo era um balé perigoso.
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