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    POV: NOAH WILLIAMS.

    Algo mudou.

    Foi como se a temperatura caísse de repente. 

    O ar ao meu redor se tornou pesado. Senti os pelos dos braços arrepiarem, e uma pressão invisível tomou conta do lugar.

    Antes mesmo que pudesse discar a chamada, meu corpo reagiu. Girei a cabeça e a vi.

    Uma explosão energética partiu em minha direção, que rachou o concreto em volta.

    Apenas por instinto, porque não houve tempo para pensar. Dei um salto para frente e me posicionei à direita para evitar a onda de choque da explosão.

    O corpo que até então estava caído, e com os olhos, que antes estavam semicerrados e sem vida, agora brilhavam em um tom púrpura intenso, um roxo antinatural que refletia a escuridão como lâminas de vidro. 

    O cabelo desgrenhado caiu em cascata, movimentou-se como se tivesse vida própria.

    O corpo que agora de pé, revelava-se como uma garota, que um segundo atrás jazia imóvel, começou a se mover. 

    Os dedos tremeram primeiro, depois os braços, até que ela ergueu de maneira brusca os braços, como se tivesse sido puxada por fios. 

    E em suas mãos… o fogo. 

    Punhais inteiros, moldados em chamas azuladas, dançavam como se fossem extensões do seu corpo.

    — Fogo da Liberdade! — gritei, o som que ecoava firme.

    Meu corpo se lançou para frente, vi que ela lançaria uma esfera energética que acabou de criar de seus punhos.

    As chamas surgiram em torno das minhas mãos, quentes e vibrantes, envolvendo-me por completo. 

    O calor reforçou não apenas meus punhos, mas meu corpo todo. 

    Quando voltei a encará-la, a transformação estava completa. 

    A jovem parecia outra pessoa. Alguém totalmente diferente…

    Seus movimentos eram rápidos, mas estranhamente caóticos, como alguém que havia passado tempo demais preso, ela estava imitando gestos desconexos, ria sozinha aleatoriamente.

    — Consumir, consumir, consumir… Preciso consumir… 

    Sua fala era estranha… Parecia que falava sem entonação, algo seco e gélido.

    Ela avançou com o seu punhal flamejante cortando o ar, e eu desviei para a lateral.

    Levantei a guarda e cortei a trajetória do golpe dela com o antebraço envolto em chamas.

    Havia força de sobra em cada golpe, mas nenhuma disciplina.

    O impacto estourou faíscas, o que fez as lápides ao redor tremerem com o choque.

    Ela percebeu isso e ao tomar distância, optou por lançar labaredas entre nós. Mas, não deixei que criasse distância, então parti em sua direção conforme direcionava as chamas para o ambiente.

    Ela golpeava de forma desleixada, acreditando que o impacto energético e que as chamas seriam suficientes para derrotar-me, porém com cautela, desviei sempre que possível os ataques.

    Sua energia era monstruosa, fluia como um rio sem controle e seus encantamentos pareciam carregados ao máximo da potência.

    Cada movimento deixava um rastro de destruição: tijolos queimados, rachaduras no chão, labaredas que se prendiam às paredes. 

    Eu sentia a pressão daquela magia como uma maré contra meu corpo.

    Mas, apesar da força, sua postura era frouxa, solta demais. Não havia técnica, apenas agressividade cega. 

    Isso me deu vantagem.

    Mesmo assim, não era fácil. 

    Ela urrava: — CONSUMIR, CONSUMIR

    Balançou seus punhais de jeitos estranhos, como se estivesse dançando sem ritmo algum, perdida em sua própria mente. 

    Ela criou lâminas de fogo e as usou para tentar me perfurar, mas seu sucesso. Começou a criar com mais frequência e mais impulsividade.

    Cada vez que eu desarmava seus golpes, ela criava outra lâmina de fogo e voltava a atacar.

    Então, percebi o acúmulo. A energia em torno dela começou a se condensar, sugando o ar ao redor. 

    Seus olhos brilharam ainda mais, e uma esfera se formou em suas mãos, cresceu rápido, e pulsava como um balão prestes a explodir.

    — Droga…

    Ela lançou a esfera. O tamanho e a intensidade eram alarmantes. 

    A magia cortou o espaço como um projétil de canhão.

    Cravei os pés no chão, ergui as mãos e deixei que minha barreira de chamas se erguesse diante de mim. 

    A esfera colidiu com força, e a explosão foi ensurdecedora. 

    O impacto sacudiu o corredor inteiro, a fumaça se espalhou pelo ambiente e várias lápides tiveram seus ornamentos quebrados e a poeira tornou a visão complicada.

    Meus joelhos quase cederam, mas mantive a defesa. O meu encantamento absorveu a maior parte do impacto, até que a energia finalmente se dissipou. 

    O chão estava queimado, coberto por fragmentos de pedra e mármore. 

    No meio da cortina de fumaça, respirei fundo. Aquela era a minha chance.

    Me movimentei com velocidade, meu corpo camuflado pela poeira. Fiz um movimento brusco, simulei um ataque direto contra o peito dela. 

    Como previsto, a garota ergueu os punhais para bloquear. Mas não era um golpe.

    De minha mão, um feixe azul-claro disparou e se prendeu a ela. 

    Um tranquilizante energético. O feitiço atingiu seu corpo, sugando a energia mágica que alimentava seus encantamentos. 

    A força dela diminuiu de imediato.

    Não desperdicei a oportunidade. 

    Passei energia para meu encantamento de Ruptura, deixei que as palavras ecoassem pelo espaço como correntes invisíveis:

    — Óh, ilusão de liberdade, cessai vossos poderes!

    A magia se expandiu em ondas, envolvendo a garota. 

    Seus olhos perderam o brilho, as chamas nos punhais se apagaram, e sua respiração se tornou irregular. 

    Ela cambaleou, os joelhos cedendo. Antes que caísse contra o chão frio, avancei e a segurei pelos ombros.

    — Calma… já chega — murmurei, guiando seu corpo até o chão com cuidado.

    Deitei-a suavemente, ajeitando sua cabeça para o lado. Tirei meu casaco da cintura e cobri-a, prendendo as mangas na cintura dela para que não escorregasse. 

    Pela primeira vez desde que ela se erguerá possuída, seu rosto parecia de novo o de uma simples adolescente adormecida, frágil e vulnerável.

    Respirei fundo, o suor escorrendo pela minha têmpora. O perigo imediato havia passado. 

    Mas a sensação ruim não. 

    Levantei-me e caminhei até o ponto onde havia largado meu comunicador, alguns metros atrás. 

    Por sorte, estava intacto apesar da explosão. 

    Peguei-o, pronto para finalmente enviar o pedido de emergência.

    Mas então, algo chamou minha atenção. No chão, perto da garota, havia um pequeno objeto retangular. 

    Uma carteira.

    Ajoelhei-me novamente e a apanhei. Era gasta, de couro barato, com marcas de uso frequente. 

    Ao abrir, encontrei alguns papéis amassados, um bilhete de transporte público e, por fim, a identificação.

    Era uma carteira estudantil.

    O nome dela, a foto, a data de nascimento. Uma adolescente de dezesseis anos. Estudante da escola média da cidade.

    Olhei para o rosto dela, agora adormecido sob o efeito do encantamento. A imagem da foto e a realidade diante de mim se misturaram em algo perturbador. 

    Uma garota comum, talvez com sonhos simples, transformada em uma criatura instável, violenta, possuída por uma energia que não deveria existir em alguém tão jovem.

    Fechei a carteira com força, sentindo o peso daquilo. 

    Não era apenas uma missão. Era uma vida real, de alguém que ainda mal havia começado a viver.

    — O que fizeram com você? 

    Enquanto aguardava a linha de emergência para me atender, não pude evitar que um nó de preocupação se formasse no peito. 

    Algo muito maior estava acontecendo. 

    E agora tinha outra vítima. O rosto de uma adolescente de dezesseis anos.


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