Capítulo 47 - Teste Beta (I).
POV: MIGUEL CASTRO.
O cheiro de mofo e de couro queimado ainda se arrastava pelo ar quando eu e Noah cruzamos os portões enferrujados do complexo de fábricas. O som deles rangendo soou como um grito pelo ambiente.
As chamas que haviam engolido aquele lugar anos atrás deixaram cicatrizes profundas, as paredes estavam amareladas, havia rachaduras nas vigas e buracos que atravessavam o concreto como feridas abertas, ainda úmidas de fuligem.
A poeira se ergueu ao redor dos nossos pés, misturada à brisa fria que parecia não querer morrer ali dentro.
Dois sinais mágicos pulsavam no segundo andar, a força deles era fraca, mas constante.
Eu podia senti-los vibrando nas margens da minha percepção, como um ruído baixo e insistente, que ameaçava furar o limite do meu controle.
A leitura de energia parecia estranha, mas só saberíamos o porquê, se fossemos até lá.
— Mantenha os olhos abertos, Noah — murmurei, sem tirar a mão da empunhadura da minha arma. — Duas assinaturas, ambas parecem instáveis. Fique pronto para reagir, caso necessário.
— Certo, senhor. — assentiu Noah, e respirou fundo conforme canalizava energia para suas marcas.
Senti que o ar ao redor dele se distorcia levemente, enquanto ondas invisíveis eram criadas e se espalhavam pelo ambiente.
A magia de Noah, sempre teve esse tipo de presença silenciosa, mas tátil.
Entramos pelo corredor principal, e o ar pareceu mudar de densidade.
A primeira coisa que vi foi o esqueleto de uma linha de produção. Esteiras quebradas se estendiam por mais de quatrocentos metros, serpenteando por entre fornos industriais, máquinas de corte a laser e prensas deformadas pelo calor.
Algumas ainda pingavam óleo seco. Outras estavam cobertas de uma crosta escura que cheirava a ferrugem e queimado.
Além disso, o cheiro de papelão queimado e mofo se espalhava por todos os lugares possíveis.
A luz que entrava pelas frestas do teto rachado formava feixes tortos de poeira, como se o tempo tivesse parado em suspensão.
As caixas de tecidos empilhadas exalavam um odor ácido de couro queimado e produtos químicos.
Cada passo gerava um eco pelo galpão, e me dava a sensação de que o próprio prédio respirava conosco.
À esquerda, o teto desabado denunciava o ponto onde o incêndio havia vencido a estrutura. A ferragem torta, com vigas suspensas e pendidas, lembravam as costelas expostas de um corpo.
Perto dali, a antiga saída dos fundos era agora apenas uma parede rachada, manchada e engolida pela sombra.
— Onde fica o acesso pro segundo andar? — perguntou Noah.
— Se as escadas ainda estiverem em pé, não vão aguentar nosso peso. Precisamos achar outro caminho — respondi, com uma voz baixa.
Ele concordou com um breve aceno.
— Procura pelos fundos — ordenei. — Eu vou contornar e ver o escritório. Se achar algo, emite o sinal padrão.
— Certo, sinal clássico então — disse ele, com a arma apontada na direção que ele pretendia investigar.
Nos separamos.
O vento frio entrou pelas frestas do teto destruído enquanto eu cruzava o corredor lateral.
O eco dos meus próprios passos me mantinha alerta, havia algo de errado com aquele silêncio.
Nenhum som de animais, nenhum ruído de fora.
Como se o mundo inteiro tivesse parado do lado de fora dos portões. O lugar que eu me direcionava, era o escritório original da fábrica.
Lá, eu pretendia encontrar algo que pudesse me dar uma pista de uma forma de subir para o segundo andar ou até um mapa da estrutura interna da fábrica.
Andei por uns minutos, cautelosamente, até chegar na porta que ligava a linha de produção ao escritório.
Forcei a entrada na porta, mas ela não cedeu. A porta do escritório estava trancada.
“Claro que está…”
Encostei a palma sobre a fechadura.
— Diamante de Minas!
O encantamento vibrou no meu pulso, e um fluxo concentrado de energia azul explodiu, o que fez com que a energia se concentrasse na maçaneta, e arrancou-a com um estalo seco.
O impacto reverberou pelo metal, e um sopro de fumaça prateada escapou. O ar ficou elétrico.
Entrei.
O escritório estava com sua estrutura principal quase intacta, mas o caos era evidente.
Computadores queimados, gavetas abertas, papéis espalhados pelo chão como folhas mortas. As janelas estavam entreabertas, o que permitiu que o vento trouxesse o cheiro forte de mofo e ferrugem, misturado com algo adocicado, talvez plástico derretido.
A água da chuva havia corroído parte do piso, e a cerâmica estava escorregadia em algumas partes.
Caminhei até a mesa principal. O monitor derretido refletia um lampejo do meu próprio rosto.
Meu uniforme havia ficado levemente sujo de tanta fuligem do ambiente e provavelmente ficaria cheirando queimado.
O tipo de chatice que as missões me proporcionaram durante os anos, quantas missões terminavam com o mesmo cheiro de queimado e destruição.
Parecia até figurinha repetida.
Quebrando meu devaneio, percebi que um casaco ficou pendurado atrás da porta. Estava encardido com o tempo, alguém o esqueceu ali no dia do incêndio.
O que fazia sentido afinal… Quando o inferno começa, você não se preocupa com um casaco.
“Parece que o pânico congelou o tempo aqui dentro…”
As cadeiras estavam tombadas, uma caneca quebrada e o café derrubado no caderno ao lado.
Várias coisas que contavam uma pequena história de como aquele dia teria sido…
Deixando de lado, os detalhes do ambiente, no monitor queimado, nada podia ser acessado.
Olhei ao redor, para ver se achava alguma forma de sinalização ou algo que contivesse a estrutura da fábrica.
Mas, nada saltou aos olhos. Optei por seguir em frente;
Passei pelo escritório até o próximo galpão.
O ar ali era mais pesado, úmido, saturado pelo cheiro de couro velho e caixas empilhadas.
Um depósito de restos. A umidade era evidente pelas paredes, e o chão estava coberto de marcas antigas de pegadas.
Dei mais dois passos, antes de sentir um arrepio.
Era o primeiro lampejo.
Três pulsares curtos. O sinal de Noah.
Ele tinha encontrado algo.
Voltei para o galpão principal pelo mesmo que havia percorrido anteriormente, dessa vez, tentei ser mais cuidadoso, foquei em garantir que todos os lugares estavam realmente vazios.
Guiado pela assinatura energética que reconhecia de longe. Avancei pelo galpão principal, ao lado da longa linha de produção, após alguns fornos quebrados.
O chão trepidava levemente sob meus pés, ou talvez fosse apenas o reflexo do meu próprio fluxo mágico.
Após alguns minutos de procura, encontrei Noah diante de uma escada lateral metálica que subia diretamente para o segundo andar. Meio torta, mas firme o suficiente.
E para chegar até ele, passei por um… buraco na parede?
Não me diga que ele simplesmente derrubou isso.
Hmpf…
— A passagem leva direto pro segundo andar — disse ele, respirando rápido. Suas mãos ainda brilhavam fracamente, resquício da energia que usara para abrir caminho.
— Você derrubou essa parede, por acaso? — perguntei, meio que já sabendo a resposta.
— Ah… sobre isso, é uma história complicada…
— Deixa para outra hora… Vamos subir logo.
Subimos com cuidado. Cada degrau gemeu sob o peso, como se reclamasse da nossa pressa.
Lá em cima, o cenário se repetia: mofo nas paredes, janelas quebradas, marcas de fogo e o eco distante de goteiras. Observei o lugar com atenção, à procura de sinais de movimento, sem sucesso por hora, afinal o lugar estava em completa calmaria.
O lugar era mais um grande depósito, cheio de corredores e altas estantes com paletes em ambos os andares. Todos carregados com caixas em lado e vários montes de cinzas espalhados pelo lugar, onde as chamas chegaram.
Noah e eu, avançamos pelo corredor principal até o núcleo central do galpão. Origem das assinaturas energéticas de antes.
Como se complementasse a visão estranha do local, conforme chegamos mais perto. A visão tornava-se mais incomum, a energia se mantinha a mesma desde antes.
Nenhuma alteração, nenhum movimento.
Apesar da estranha atmosfera, no centro do salão, havia algo ainda mais anômalo à vista,
Após chegarmos no final do corredor principal, conseguimos obter visão completa do centro do salão.
Lá, vimos duas macas, cercadas por mesas metálicas, tubos de ensaio, centrífugas e fornos portáteis.
Equipamentos científicos espalhados de maneira improvisada.
— Isso aqui não está abandonado… — comentei, enquanto analisava o local. — Alguém está usando como um laboratório de pesquisa clandestino.
A energia no ambiente parecia densa, contaminada. Algum tipo de magia experimental.
Nos aproximamos das duas macas improvisadas no canto.
Dois corpos. Um homem de meia-idade, uma mulher jovem.
Ambos com o peito subindo e descendo de forma irregular, como se respirassem debaixo d’água.
A energia que havíamos detectado vinha deles. Ou, mais precisamente, de dentro deles.
— Eles estão vivos? — perguntou Noah.
— Em algum nível, talvez… Porém, tem algo que os mantém presos…
Dei um passo à frente, e foi então que notei. As vigas ao redor estavam marcadas.
Linhas finas marcavam um traço desde as macas até as vigas. Eram linhas de ativação.
Detonadores de explosivos.
— Noah, pra trás! Agora! — gritei, por instinto.
Ele olhou pra mim, confuso, até perceber o que eu via.
Um dos detonadores começou a piscar, um brilho vermelho piscando no ritmo de um coração.
“Droga, é uma armadilha…”
Instintivamente, canalizei energia.
— Diamante de Minas!
Uma explosão azul brilhou à minha frente, e uma barreira sólida de energia se ergueu, isolando o pilar mais próximo.
O outro, mais distante, detonou com força brutal. Quebrando a viga inteira ao meio, o chão se abriu sob nós num rugido que parecia o fim do mundo.
O impacto me jogou contra uma pilha de caixas, e a poeira engoliu tudo.
O som ensurdecedor ecoou dentro dos meus ossos.
A visão embaralhou, o ar cheirava a pólvora e concreto. Senti o sangue escorrer pela testa.
Quando a poeira baixou, o teto começou a ceder. E olhando ao redor, percebi que as mesas de metal, agora estavam brilhando com uma cor roxa.
Dois cilindros estavam sendo drenados em alta velocidade e sendo injetados nos dos corpos que antes pairavam ali.
Neste momentos, ambos se levantaram
Suas assinaturas mágicas pulsavam, intensas, e vibravam no mesmo ritmo da explosão que os despertara.
O homem, o mais velho, deu um passo à frente. Seus olhos estavam brancos, e a pele, marcada por veias azuladas que corriam até o pescoço.
Diversos símbolos marcavam sua pele inteira, como tatuagens ou como se algo tivesse infectado suas veias.
Ele avançou com uma força sobre-humana, quebrou o chão com o primeiro golpe.
Rolei para o lado e contra-ataquei com uma lâmina curta de energia condensada, mirando o flanco, mas ele desviou, como se previsse meu movimento.
O impacto do punho dele contra meu peito me lançou para trás, e por um instante, perdi o ar.
Tentei me recompor, só que ele veio de novo, rápido e implacável.
O segundo golpe me empurrou direto para dentro da cratera aberta pela explosão.
O mundo girou. O som de ferro e pedra colidindo encheu meus ouvidos.
A última coisa que vi, antes da escuridão me engolir, foi Noah virando-se para a mulher.
E assim que o perdi de vista, vi o homem infectado pulando na minha direção.
POV: NOAH WILLIAMS.
— Miguel! — gritei, porém o som da explosão engoliu minha voz.
O impacto sacudiu o chão sob meus pés, e uma onda de poeira e destroços se ergueu, cobriu tudo em uma névoa espessa.
Vi o corpo dele desaparecer na cratera que se abria no meio do galpão, tragado pelo colapso de concreto e fumaça.
O eco do desabamento pareceu durar uma eternidade, até restar apenas o estalo distante de vigas cedendo e o assobio do ar entrando pelas brechas.
Por um segundo, fiquei imóvel. O cheiro de pólvora e ferro queimado misturado ao mofo antigo tornava o ar quase irrespirável.
O gosto metálico da fumaça grudava na língua.
Meus ouvidos zumbiam, mesmo assim não tive tempo para pensar.
O silêncio foi quebrado por um som que fez meu estômago afundar. Era um estalo seco de energia viva se espalhando pelo ar, como se o ambiente inteiro respirasse de novo.
A energia à minha frente ondulou, curvou a poeira ao redor, e dela surgiu a mulher que estava sobre uma das macas.
Antes, ela parecia inerte, sem vida; agora, se movia com uma fluidez antinatural, como se cada articulação estivesse sendo comandada por algo que não era humano.
Devia ter pouco mais de vinte anos, talvez vinte e cinco. O rosto era bonito em algum lugar sob aquela distorção, traços delicados, cabelo escuro grudado na pele úmida, mas os olhos…
Os olhos estavam completamente vazios. As pupilas dilatadas e as veias arroxeadas corriam pelo pescoço e pelas têmporas, formava padrões simétricos que pulsavam em ritmo com a energia que emanava dela.
Pareciam runas vivas, brilhando sob a pele.
Ela ergueu a mão direita lentamente, os dedos tremendo, como se o corpo não fosse dela, e uma voz rouca escapou de sua garganta.
Era uma voz que parecia arranhar o ar, misturando dor e fúria numa língua que o ouvido humano não devia compreender.
As palavras ecoaram, e o som delas não morreu no espaço. Em vez disso, se desdobrou em ecos cintilantes.
Sílabas se tornaram luz, letras se converteram em símbolos. Círculos mágicos se abriram diante dela, em camadas, uma sobre a outra, formando uma espiral dourada.
Várias correntes começaram a se materializar, emergindo das runas incandescentes como serpentes de fogo polido.
Elas se retorceram no ar e avançaram em minha direção com velocidade cortante, sibilando e queimando tudo o que tocavam.
O calor que irradiava fez o chão rachar, e a poeira subir em labaredas.
Meu corpo reagiu antes que o pensamento alcançasse o medo.
Cruzei os braços diante do peito e liberei minha própria energia, sentindo o fluxo subir dos pés até o ombro como um raio invertido.
A marca no dorso da minha mão começou a brilhar. o símbolo em espiral da minha invocação queimando em azul-escuro.
— Babel Tower, be the translator of my magic to those who do not understand its power!
A invocação estourou do meu corpo como um trovão. O símbolo se projetou atrás de mim, um espiral de runas ascendendo até o teto destruído.
Uma torre etérea, feita de linhas luminosas que se erguiam em círculos sobrepostos, vibrava em diferentes tons.
As runas que a formavam dançavam e se reconfiguravam sem cessar, pareciam traduzir os elementos ao redor de forma aleatória e etérica.
As correntes douradas colidiram contra o campo mágico e se despedaçaram em chamas, faíscas voaram para todos os lados.
Cada impacto produzia um som metálico abafado, como se o próprio ar fosse aço sendo forjado.
A vibração percorreu o chão, as paredes e os restos da estrutura.
A mulher gritou algo em resposta, uma sequência de palavras que não reconheci. Parecia um idioma morto, misto de dor e comando. Cada sílaba trazia consigo uma pressão, um peso, como se o próprio ar se tornasse mais denso.
O eco da Torre de Babel respondeu, reinterpretando o feitiço.
Eu senti o encantamento dela se despedaçando, cada camada sendo decomposta e reconfigurada em energia neutra, até ser devolvida contra ela em ondas de calor.
Por um momento, o choque entre nossas magias iluminou todo o andar. As sombras dançaram nas paredes, o que revelou as rachaduras, o mofo e os rastros de queimado que cobriam as máquinas.
Os tubos de ensaio sobre as mesas vibravam e explodiam, liberando líquidos negros que escorriam pelos cantos.
O teto rangia.
A cada segundo, o ambiente se tornava mais instável. As vigas tremiam, pedaços de concreto se desprendiam, o ar ficava saturado de poeira e eletricidade.
Ela cambaleou, mas não parou. Os olhos, agora completamente tomados pelo brilho arroxeado, encararam o símbolo atrás de mim.
As veias pulsavam no pescoço dela, e uma expressão de raiva atravessou seu rosto inerte.
— ᚠᚱᛟ… ᛞᛖᛋᛏᚱᚢᚳᛏᛁᛟᚾ… — o som era grotesco, gutural, distorcido e impossível de traduzir completamente.
A vibração das palavras fez as paredes estremecerem, e o teto respondeu com um estalo alto.
Poeira caiu como chuva grossa.
A estrutura inteira estava prestes a desabar. Eu podia sentir cada fibra do prédio reclamando sob o peso da magia.
Mas eu não podia recuar.
Miguel estava lá embaixo, soterrado entre os destroços. E os dois inimigos, agora em pé, estavam vivos.
Um deles diante de mim, o outro, provavelmente caindo junto com Miguel.
Engoli o gosto de sangue que escorria pela garganta e respirei fundo. A poeira queimava os pulmões.
A energia da mulher se agitava como uma fera enjaulada, tentando escapar do controle dela.
Eu podia sentir a instabilidade, o padrão falhando, o desespero na forma como ela conjurava.
Era magia quebrada, alguém tinha forçado runas demais em um corpo que não aguentava.
Aumentei o foco da Torre. As runas se expandiram, crescendo até tocarem o teto.
O espiral brilhou com uma intensidade quase ofuscante, o campo de tradução amplificando a reverberação mágica no ambiente.
Cada partícula de poeira parecia se acender por um instante.
Ela atacou de novo. Correntes mais grossas, feitas de energia pura, surgiram do chão e vieram em minha direção em um movimento que parecia envolver o próprio espaço.
A sensação era a de ser atingido por trovões. Pareciam vários chicotes tentando me acertar.
Cruzei os braços, concentrei energia nos pulsos e a Torre respondeu, girando sobre si mesma, expandindo o círculo de runas que nos cercava.
As correntes bateram contra o campo, ricocheteando em explosões douradas. O impacto lançou vento por todo o salão, derrubando mesas, quebrando frascos e espalhando o cheiro ácido de produtos químicos.
As luzes dos feitiços refletiram nas superfícies metálicas, projetando sombras dançantes pelas paredes.
Por um instante, entre os clarões, vi o reflexo da mulher, o rosto distorcido entre raiva e dor.
A pele começava a rachar onde as runas brilhavam, e uma fumaça escura escapava pelas fissuras.
Ela gritou. Um som que não era humano. A energia que a cercava colapsou, e o chão vibrou em ondas.
O teto gemeu, mais uma vez. A estrutura estava condenada.
Mas eu continuei ali, mantendo a Torre ativa. A cada feixe que devolvia, a cada feitiço que se traduzia em reverso, eu sentia a pressão aumentar.
A energia dela começou a falhar, os círculos dourados que a cercavam se quebraram em fragmentos de luz.
“Respira, Noah. Foco.”
Fechei os olhos por um instante, procurei por estabilidade. Senti o calor da Torre nas costas e o frio cortante do ar em volta.
A mente entrou em alinhamento com o fluxo. Tudo se silenciou por meio segundo.
Quando abri os olhos, as runas da Torre pulsavam em sincronia com meu coração.
Um último empurrão.
A mulher tentou conjurar novamente, mas o som da voz dela se desfez no ar.
A tradução se completou, e o feitiço retornou contra ela, fragmentado e invertido. Um clarão ofuscante tomou o salão.
As correntes se desintegraram. O brilho dourado se apagou.
Ela cambaleou, o corpo tremendo, e caiu de joelhos, as veias arroxeadas sumindo aos poucos.
Eu mantive a posição, respirei com dificuldade. As goteiras do teto pingavam, misturadas à poeira e sangue que escorriam pela minha testa.
O prédio inteiro rangia, prestes a ceder.
Abaixei lentamente os braços, a energia ainda vibrando na palma das mãos. A Torre começou a se dissolver atrás de mim, as runas se apagando uma a uma, até restar apenas o eco da luz.
Miguel ainda estava lá embaixo. O outro corpo ainda vivo.
A missão estava longe de acabar.
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