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    POV: MIGUEL CASTRO.

    O impacto do último golpe finalmente derrubou o homem, só que seu corpo ainda tremia, saturado de energia residual que vibrava pelo ar como se as moléculas ainda estivessem vivas. 

    Meu braço esquerdo queimava intensamente, a dor irradiando pelo antebraço e ombro, lembrando-me de que não podia relaxar nem por um instante. 

    Respirei fundo, tentando recompor os sentidos, enquanto ouvia o estalo constante das vigas e o crepitar da estrutura se rompendo.

    — Miguel! — a voz firme e urgente de Noah cortou a fumaça densa. 

    Ele se aproximou rapidamente, avaliando minha condição. 

    Antes que eu pudesse reagir, ele envolveu meu braço queimado com as mãos, canalizando sua energia com precisão, aliviando parcialmente a dor e restaurando a mobilidade. 

    O alívio foi imediato, ainda que temporário. 

    Meu corpo relaxou por um instante, mas a consciência do perigo permaneceu alerta.

    Vendo que o homem demonstrou algum tipo de movimento residual, apontei na direção dele.

    — Eu cuido disso… — disse Noah, a tensão em seus olhos denunciando que a ameaça não havia acabado. 

    Com um movimento rápido, ele avançou sobre o homem caído e desferiu um golpe certeiro, suficiente para nocautear o infectado. 

    O corpo pesado tombou de lado, e por um instante, o silêncio tomou o lugar do caos.

    Aproveitei aquela oportunidade, para me abaixar e pegar minha arma e colocá-la de volta no coldre.

    Só que a calmaria nem teve tempo de perdurar.

    O estalar do metal, o ranger das vigas e o som das paredes cedendo, começaram a preencher o ambiente novamente. 

    Olhei ao redor: o teto da fábrica estava prestes a tombar.

    A estrutura, já fragilizada pelo combate, gemia ameaçadoramente. 

    As paredes pareciam prestes a ceder e o piso rangia sob o próprio peso.

    — Precisamos sair daqui, agora! — gritei. Noah não hesitou. 

    Começamos a arrastar os dois corpos, um de cada vez, desviando de destroços que podiam nos prender ou esmagar, saltando sobre vigas prestes a ceder e evitando certos fragmentos que caiam sobre nós.

    Noah derrotou a garota e a trouxe para baixo através de um rapel improvisado.

    O corpo do homem, mais pesado e corpulento, foi apoiado sobre meu ombro; com um reforço de energia, consegui carregá-lo sem dificuldades.

    A adrenalina percorria meu corpo, misturando-se à dor do braço queimado.

    Dar cada passo requeria uma pequena batalha contra a gravidade para sustentar o peso e atenção redobrada para evitar qualquer problema no caminho.

    Quando finalmente alcançamos a saída, o ar fresco permitiu um grande respiro de alívio.

    E atrás de nós, o estrondo ocorreu e uma grande nuvem de poeira se formou com a queda do teto inteiro sobre a própria estrutura. 

    Noah e eu nos entreolhamos, sem necessidade de palavras: sabíamos que o pior ainda podia estar por vir.

    — Vamos fazer um check-up médico agora. Vou ligar para a ambulância… — disse Noah, a voz firme, mas carregada de preocupação.

    Assenti, ainda recuperando o fôlego. 

    Abri um pequeno aparato, que continha acoplado no bracelete, que agora, estava sem as runas, indicativo que o encantamento estava descarregado.

    Ativei a leitura mágica sobre os corpos para avaliar a extensão dos ferimentos e qualquer instabilidade energética que pudesse indicar perigo. 

    Primeiro, o homem. 

    O fluxo de energia mágica em seu corpo era intenso, porém estava totalmente passivo por hora. 

    E de resto…

    — Quê?! — murmurei, incapaz de processar a informação. — Como diabos isso é possível?

    Bati algumas vezes no bracelete para ver se estava funcionando direito…

    Mas, nada mudou. Pisquei e limpei os olhos para ver se não estava enlouquecendo.

    Um número aparecia no bracelete. Ele pulsava diante de meus olhos: 

    Cento e setenta e quatro marcas-literárias. 

    Cada marca mais complexa que a anterior, cada uma irradiando energia e histórias incorporadas, uma densidade mágica que superava qualquer registro que eu já havia visto. 

    Não… Maior que qualquer registro que a humanidade inteira já tenha visto.

    O maior número registrado até aquele momento era por volta das oitenta marcas e ali estava diante de mim algo que desafiava a lógica e a experiência acumulada.

    Por reflexo, retirei o bracelete e o joguei no chão, que estava todo molhado. 

    — Noah, me alcance seu bracelete Espinho, agora — disse, expressando a urgência no tom de voz.

    — Claro, aqui está! — respondeu ele, conforme tirava o bracelete de dentro do casaco e me lançava. 

    Logo que o peguei, botei-o e senti a energia conectar-se.

    Sem hesitar, ativei-o para conferir se era erro da leitura do outro aparelho.

    Mesmo assim, o número se mantinha o mesmo. 

    Não era um erro. Era a realidade. 

    “Que tipo de bizarrice está acontecendo?”

    Instintivamente, olhei para a mulher. 

    A leitura da energia dela demorou alguns momentos a mais para ficar pronta.

    Só que o resultado me congelou por inteiro..

    Duzentos e sessenta e uma marcas-literárias.

    Meu coração disparou, e o mundo ao meu redor pareceu girar em câmera lenta. 

    Como era possível que alguém carregasse tantas marcas, tantas fontes de energia literária e mágica em um só corpo? 

    A magnitude do poder excedia qualquer referência, e minha mente lutava para compreender a realidade daquele momento.

    Minha mão se estendeu para o comunicador, comecei a digitar os números de emergênci…

    EMERGÊNCIA. EMERGÊNCIA. TODOS OS AGENTES DA ÁREA. 

    Um código de risco havia sido declarado há menos de vinte minutos. 

    A tela piscava, acompanhada de dezenas de mensagens indicando…

    Leituras mágicas.

    Os registros brilhavam com intensidade, cada ponto de energia parecia gritar em uníssono, transmitindo uma magnitude de poder que ultrapassava qualquer experiência anterior.

    — Quatro mil QPs… — murmurei, o número queimando minha mente. — Todas acima de quatro mil. Nenhum precedente, nenhuma explicação lógica…

    Mais de quatrocentas assinaturas energéticas com níveis maiores de quatro mil QPs foram detectadas ao redor do estado. E vinte haviam sido lidas perto do centro da cidade. 

    Todas foram disparadas há menos de uma hora. 

    Minha respiração acelerou quando a leitura mais perto chamou minha atenção. 

    Um registro vinha diretamente…

    Da Escola Média de João Batista.

    Algo dentro de mim congelou. 

    Um nó de preocupação se formou no estômago, uma sensação de urgência e perigo iminente que não podia ser ignorada.

    Noah se aproximou, percebendo meu estado.

    — Pronto, chamei a ambulân… — começou, mas parou abruptamente, vendo meu olhar fixo no comunicador. O rosto dele se estreitou em confusão e preocupação.

    — Como… isso é possível? — murmurou, quase sem acreditar no que via.

    — Não é… — respondi, a voz baixa, carregada de incredulidade e medo contido.

    Sem pensar duas vezes, ambos nos viramos e começamos a correr. 

    Cada passo era urgente, cada respiração um esforço calculado para manter o ritmo. 

    A distância entre nós e a escola parecia impossível de percorrer, contudo, a adrenalina fazia o corpo responder, ignorando o cansaço e a dor. 

    Meu braço queimado latejava a cada movimento, lembrando-me tanto da vulnerabilidade quanto da necessidade de agir.

    — Não podemos perder tempo! — gritei, sentindo a chuva no rosto, que se refletia nas poças e nas fachadas próximas.

    Noah não hesitou; nosso ritmo acelerou.

    O silêncio da cidade soava falso, interrompido apenas pelo crepitar do fogo distante e pelos nossos passos.

    Cada instante contava, e a sensação de perigo iminente aumentava constantemente.

    As ruas estavam desertas; escombros, carros abandonados e postes quebrados formavam obstáculos que tínhamos de superar sem perder tempo.

    — Quantas leituras assim podem aparecer antes de chegarmos lá? — perguntou Noah, a voz carregada de preocupação, tentando avaliar a situação tanto quanto eu.

    — Não sei… mas não podemos esperar para descobrir — respondi, a sensação de urgência crescendo no peito. — Se esses números forem reais, estamos lidando com algo muito maior do que tudo o que já vimos.

    O terreno à nossa frente tornou-se mais acidentado: partes da calçada estavam quebradas e destroços se espalhavam por toda a extensão.

    A urgência nos impulsionava, fazendo-nos ignorar a dor, o cansaço e a queimação do braço.

    Cada passo nos aproximava da escola e do que quer que estivesse causando aquelas leituras sem precedentes.

    — Isso não é apenas uma emergência… é uma catástrofe — disse eu, olhando de soslaio para Noah. — A origem dessas leituras está aqui.

    Ele assentiu, compreendendo a urgência. 

    — Precisamos proteger a garota a qualquer custo, certo? — disse ele, com firmeza.

    Respirei fundo e, discretamente, ativei o Diamante de Minas para reforçar meus reflexos e a força que ainda conseguia extrair do braço ferido.

    — Sim. Ela é a maior prioridade agora — respondi, sentindo o peso daquelas palavras.

    Sem saber exatamente como formular a ordem com precisão, apenas a pronunciei:

    — Não sabemos quem são os infectados, e, independentemente da situação, ataquem-os para matar. Entendido?

    Vi Noah fechar os olhos por um instante; então sua expressão mudou.

    — Sim, senhor — respondeu ele, com frieza.

    Cada passo em direção à escola foi calculado, a respiração sincronizada do jeito que fosse menos cansativo.

    A sensação era esmagadora, uma mistura de medo e adrenalina, mas também de determinação.

    Chegando na rua da escola.

    — Noah… — murmurei, enquanto avançávamos pela rua. — Precisamos estar preparados para qualquer coisa. Se essa leitura estiver correta… o que quer que esteja lá dentro é inacreditavelmente perigoso.

    Ele assentiu novamente, com o olhar firme.

    — Então vamos descobrir.

    E naquele instante, a corrida que começou como fuga da fábrica se transformou em uma investida direta para o epicentro do caos. 

    Nos aproximamos do desconhecido, e o cansaço lembrava que nossas habilidades seriam testadas ao limite.

    A cidade à nossa volta parecia se mexer, a chuva continuava forte.

    E isso seria apenas o começo.


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