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    — Você também está ignorando o festival, humano?

    Raon olhou para Cale. On e Hong também o encararam com expressões semelhantes. Cale nem olhou para o trio sorridente enquanto continuava a falar com Ron.

    — Voltarei para casa daqui a dois dias.

    — Sim, jovem mestre-nim. Você precisa se apressar se quiser mostrar o festival às crianças.

    — Pare de dizer coisas inúteis e vá trazer a Srta. Rosalyn.

    — Sim senhor.

    Ron tinha um sorriso benigno e travesso no rosto ao sair do quarto. Cale ignorou as crianças sorridentes ao se levantar da cama.

    — Humano, você está se preparando para sair?

    — Não vamos sair agora.

    — Certo! Voltarei depois de avisar a todos que estamos saindo.

    Raon voou pela janela aberta, e On e Hong saltaram atrás dele. As três crianças seguiam em direção à Floresta das Trevas. Cale não se importava com o que estavam fazendo.

    Rosalyn chegou logo e Cale entregou a mensagem a Rosalyn.

    Ele começou contando como um dos príncipes do Reino de Breck havia perguntado a Alberu sobre ela e depois sobre como perguntaram sobre ele. Então, contou a Rosalyn que Alberu estava voltando com aquele príncipe.

    — Senhorita Rosalyn, pedi que viesse para que eu pudesse compartilhar essa notícia com você.

    Quando terminou, ele pôde ver Rosalyn sorrindo gentilmente.

    — Deve ser o quarto príncipe.

    — É isso mesmo?

    — Ele é um completo idiota que provavelmente deixou sua coragem para trás em um Covil de Dragão.

    “…Deixou o quê onde?”

    Cale nunca tinha ouvido Rosalyn falar daquele jeito antes.

    — Ele reclamava de tudo desde que era um garotinho.

    — Sério?

    Ele tocou junto por enquanto.

    — Sim. Era por isso que eu sempre o importunava. Ele talvez não soubesse, porque era um príncipe, mas não vivemos num mundo onde se consegue o que se quer só reclamando.

    Rosalyn tinha um sorriso revigorante no rosto.

    — Foi por isso que eu o ensinei sobre o mundo.

    Cale se perguntou o que ela poderia ter lhe ensinado. Ele sentiu que seria muito assustador.

    — De qualquer forma, seja o quarto príncipe ou outra pessoa, eu cuidarei disso.

    Cale achou as palavras “cuidarei disso” assustadoras, mas decidiu não pediu detalhes. Ele sabia que ela cuidaria disso direito. Foi naquele momento.

    *Toc* *Toc* *Toc*

    Ele ouviu uma batida na porta quando uma mancha preta voou rapidamente pela janela.

    — Humano, abra a porta!

    Cale olhou para Raon, agora coberto de folhas e terra, antes de suspirar e gritar em direção à porta. Era óbvio quem Raon teria trazido.

    — Entre.

    *Click*

    A porta se abriu e uma existência ainda mais sombria que Raon entrou.

    — Olá, jovem mestre-nim. Que manhã maravilhosa temos hoje.

    Era Mary, que o cumprimentou com sua voz robótica de sempre.

    A necromante Mary adaptou-se bem à Vila Harris. Ele prestou muita atenção nela no início, pois ela apenas olhava para o céu dia e noite, mas agora ela estava se saindo bem.

    Para ser mais específico, ela estava se dando bem com o Dragão Negro, Raon.

    — Humano, escuta. A criança boa e eu encontramos algo!

    Rosalyn abriu um sorriso radiante e tomou um gole do chá à sua frente. Cale perguntou com uma expressão vazia no rosto.

    — O quê? Você encontrou outra pedra interessante ou uma folha com muitos buracos?

    Raon havia mostrado a Mary a Floresta das Trevas. Cale se sentiu incomodado com a ideia de Mary aprender sobre o mundo da superfície com Raon, mas deixou para lá, pois era irritante lidar com isso pessoalmente. Raon relatava a Cale toda vez que viam uma pedra ou folha interessante. Cale se lembrou de como ficou animado no início, pensando que Raon havia encontrado algum tesouro.

    — Não! Mas era algo bem parecido!

    Se fosse algo parecido com uma pedra ou folha, Cale imaginou que provavelmente fosse algo como terra. Ele apenas assentiu e apontou para um assento para Mary. Mary arrastou seu robe preto até lá e sentou-se enquanto Rosalyn lhe oferecia alguns petiscos.

    Raon continuou gritando enquanto isso acontecia.

    — Sim! Encontramos alguns ossos!

    “Ossos?”

    — Parecia que havia centenas deles!

    Cale voltou seu olhar para Mary.

    — Parece haver pelo menos duzentos cadáveres lá dentro. A maioria parece ter sido enterrada intacta, pois os ossos estão em ótimo estado. Parece ter acontecido nos últimos dois anos.

    — Choi Han acha que eles estavam lutando e se mataram na Floresta das Trevas!

    Mary usava os monstros ou animais mortos que encontrava de vez em quando na Floresta das Trevas para praticar suas habilidades de necromante. Mary, no entanto, não usava cadáveres humanos ou élficos.

    — Precisarei juntar os ossos para ter certeza, mas parece que foi uma batalha entre monstros terrestres e monstros voadores.

    Rosalyn pôde ver que a expressão de Cale mudou rapidamente e que o canto dos seus lábios estava se contraindo.

    — Humano, a criança boa pode usar esses ossos?

    A expressão de Rosalyn tornou-se estranha. Raon e Mary relataram tudo o que encontraram na Floresta das Trevas para Cale antes de perguntar se poderiam usar.

    — Ela vai usá-los de forma limpa!

    — Prometo que não vou quebrá-los.

    Cale ergueu a xícara de chá em vez de responder à combinação do Dragão Negro e da mulher de manto negro. Estava prestes a tomar um gole de chá quando de repente pensou em algo.

    “Por que não pensei nisso antes?”

    Ele não conseguia beber porque os cantos dos lábios continuavam a se contrair enquanto ele segurava o riso. Finalmente, desistiu de beber o chá e perguntou a Mary.

    — Os ossos dos monstros voadores estavam em boas condições?

    — Sim, senhor. Vou precisar montá-lo e restaurar algumas peças quebradas, mas elas pareciam estar em boas condições.

    — Quantos?

    — São menos do que os monstros terrestres. Acho que são uns 70.

    — Tamanho?

    — Eles parecem ser monstros mutantes-

    — Eles são do tamanho de wyverns?

    — Eles são um pouco menores.

    Mary não sabia por que Cale estava falando de wyverns de repente, mas mesmo assim respondeu corretamente. Cale sentiu o coração bater acelerado com a resposta dela.

    Brigada dos Cavaleiros Wyvern do Norte.

    Cale estava preocupado em como lidar com os wyverns no futuro. Causaria muitos danos ao território se ele usasse magia ou os poderes antigos para atacar.

    — Mary.

    — Sim, senhor.

    — Você é grata a mim?

    — Sou muito grata.

    Mary não achou a pergunta de Cale estranha ao responder. Sua voz era inexpressiva, mas ela falava sério.

    Embora ela não vivesse em uma vila humana nem no Reino Caro, Cale a deixava ir à Propriedade Henituse de vez em quando e permitia que ela aproveitasse a beleza da superfície em um ambiente tranquilo.

    Ela sentia que sentiria falta do lindo céu noturno, do céu azul, do vibrante ambiente natural e até mesmo desta casa no futuro.

    — Ótimo. Então tenho certeza de que você vai querer retribuir o favor se eu estiver em uma situação difícil?

    Cale sorria gentilmente. Rosalyn, que observava tudo se desenrolar, sentiu-se incomodada com o que Cale dizia, mas o problema era que ela era a única que se sentia assim.

    — Sim, senhor. Definitivamente quero retribuir o favor.

    Um sorriso brilhante estava no rosto de Cale.

    — Então venha ao território Henituse quando eu chamar você.

    — Claro. Quero voltar aqui sempre.

    Uma imagem estava sendo criada na mente de Cale naquele momento. Ele manteve essa imagem enquanto respondia a Mary.

    — Pratique com os ossos de monstro o quanto quiser. Mas você sabe que precisa me devolver antes de ir embora, certo?

    — Claro. Vou me certificar de que estejam limpos e devolvê-los antes de ir embora.

    — Humano! Eu sabia que você deixaria ela usar!

    Rosalyn olhava para ele com uma expressão do tipo “que tipo de acordo é esse?”, mas Cale ainda olhava para Mary, que estava prestes a sair com Raon.

    — Um cadáver de monstro voador pode voar?

    — Sim, senhor. No entanto, esta é a primeira vez que uso ossos de monstros voadores, então precisarei de muita prática.

    Se o Norte tivesse a Brigada dos Cavaleiros Wyvern… Cale estava imaginando como reagiria no futuro.

    Uma Brigada de Esqueletos Voadores.

    “O nome não é legal?”

    Cale sentia o coração bater acelerado. Havia outra coisa que o deixava tão animado. Ele conteve a excitação e acrescentou delicadamente para Mary.

    — Mary, me avise quando você se acostumar a trabalhar com monstros voadores.

    — Sim, senhor. Já estou indo.

    — Voltaremos em breve, humano!

    Mary e Raon saíram da sala. Cale olhou para Raon, que voava em direção à Floresta das Trevas, pela janela, e começou a pensar.

    “Um dragão deve destruir wyverns, certo?”

    Cale carregava consigo o cadáver de um dragão adulto. Ele carregava um conjunto completo de ossos de dragão que encontrou na Floresta das Trevas.

    Cale ficou animado ao pensar nos Ossos de Dragão e nos ossos de monstros voadores fazendo sua grande aparição no futuro. Só de pensar nele, ele se sentia feliz.

    — Senhorita Rosalyn.

    — …Sim?

    Rosalyn respondeu à expressão travessa de Cale com uma expressão estoica. Ela achava que a pessoa à sua frente era uma pessoa muito boa, mas tinha tendência a ter esses pensamentos estranhos de vez em quando.

    — Qual é a força militar do Reino de Breck?

    — Com licença?

    — O que estou prestes a lhe contar é extremamente confidencial.

    Rosalyn podia ver a expressão travessa desaparecendo lentamente do rosto de Cale.

    Alberu não era o tipo de pessoa que viajava com o príncipe de um reino estrangeiro sem motivo. Principalmente para alguém que precisava esconder sua identidade de um quarto elfo negro, viajar com pessoas importantes de reinos estrangeiros o obrigaria a manter a guarda alta.

    O que Alberu estava fazendo agora provavelmente era testar para ver se o Reino de Breck e o príncipe eram decentes.

    Era preciso ter cuidado ao compartilhar informações importantes. Ele estava observando o príncipe do Reino de Breck para ver se ele era decente o suficiente para Alberu pôr em prática seu plano. Embora Alberu fosse do tipo que buscava o próprio benefício, ele ainda colocava o reino em primeiro lugar.

    — As três nações do Norte formaram uma aliança.

    — …O que?

    Por outro lado, Cale era do tipo que colocava a si mesmo e ao seu povo em primeiro lugar. Ele faria qualquer coisa para mantê-los seguros e protegidos.

    — E isso é um segredo. Poucas pessoas sabem.

    — Jovem mestre Cale, o quê-

    *Tin*

    Cale colocou a xícara de chá ainda cheia de volta na mesa.

    — Mas, senhorita Rosalyn, veja bem…

    Rosalyn podia ver que Cale estava sorrindo.

    Cale considerava Rosalyn parte de seu povo, assim como Lock, mas ela ainda não havia se esquecido de sua antiga posição.

    Cale estava dizendo isso por ela, que escapou da família real, mas ainda sorria ao falar sobre seu irmão mais novo.

    Cale estava falando com Rosalyn, que pode ter abandonado sua posição de princesa, mas ainda tinha família no Reino de Breck.

    — Quem disse que eles são os únicos que podem formar uma aliança?

    O olhar de Rosalyn mudou rapidamente.

    A hora do chá logo terminou sem nenhuma outra conversa.

    ***

    Mais tarde naquela noite.

    — Alteza, o quarto príncipe está vindo aqui?

    — Seu fantasma maldito, não há nada que você não saiba. Sim, é o quarto príncipe.

    — Sua alteza.

    Alberu, cujo rosto apareceu no dispositivo de comunicação por vídeo, não parecia bem. Ele olhava para Cale como se estivesse tentando decifrá-lo.

    Cale não contou antes a Alberu que sabia sobre a aliança do Norte. Não era o momento certo para dizer isso. No entanto, agora era o momento certo.

    — Os três reinos do Norte formaram uma aliança, certo?

    Alberu não respondeu à pergunta de Cale e apenas o observou em silêncio. Depois de um tempo, finalmente abriu um sorriso gentil.

    — Eu sabia que você estava apenas fingindo não saber. Foi por isso que você me ajudou a proteger aqueles magos do Reino Whipper e da base naval.

    Cale não reagiu às acusações de Alberu. Alberu, que parecia não esperar uma reação, imediatamente perguntou de volta.

    — Então o que você acha que precisamos fazer sobre isso?

    — A senhorita Rosalyn se encontrará com seu irmão mais novo.

    — Acho que ela também sabe dessa informação.

    — Ela é minha amiga.

    Alberu zombou da resposta de Cale antes de continuar a falar.

    — Você sabe que manter esse segredo é o mais importante, certo?

    — É por isso que eu nem lhe contei até agora, Vossa Alteza.

    Ver o sorriso malicioso de Cale fez Alberu sentir que não havia expressão pior no mundo do que o sorriso de Cale enquanto ele rapidamente encerrava a ligação.

    — Então até a próxima.

    — A qualquer momento, Vossa Alteza.

    A comunicação por vídeo chegou ao fim.

    ***

    Uma carruagem com o brasão de tartaruga dourada da família Henituse passou pelo Castelo Henituse e seguiu em direção à propriedade atrás dele.

    — Realmente parece que um festival está chegando.

    Cale assentiu com a cabeça diante da declaração de Choi Han antes de olhar pela janela da carruagem. O castelo inteiro estava sendo decorado e muito animado.

    Até a entrada do castelo, que normalmente era silenciosa, estava lotada com uma longa fila de pessoas.

    — Nunca vi tanta gente fora do castelo assim.

    — Ele tem razão! Eu também não!

    Cale percebeu que Choi Han estava tão animado quanto Raon, On e Hong. Este provavelmente era o primeiro festival de verdade de Choi Han também.

    — É a minha primeira vez também! Eu também quero ficar na fila!

    Cale sorriu com o comentário de Hong enquanto olhava pela janela e acariciava a cabecinha de Hong.

    O festival do território Henituse tinha muitas competições especiais.

    Algumas delas incluíam a competição de culinária, a competição de arte, a competição de escultura e, com a Condessa Violan liderando, essas competições naturalmente tinham recompensas pesadas.

    — Humano fraco! Mas por que essas pessoas estão na fila desse jeito?

    — Eles parecem estar aqui para se inscrever em uma competição ou participar das preliminares.

    Choi Han começou a falar, como se finalmente entendesse o que estava acontecendo.

    — Não é de se admirar que eu tenha visto alguns artistas marciais talentosos!

    “…Huh?”

    — Deve haver uma competição de artes marciais também!

    “Não? Deveria haver apenas coisas como culinária, escultura e arte…”

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