Capítulo 159: Rolando pela videira (6)

{Você está tentando se sacrificar para protegê-lo?}

Cale parou do lado de fora da porta da biblioteca e não conseguiu entrar.

“…Este não deveria ser um lugar perigoso.”

A biblioteca não deve ser um lugar perigoso. Ben, da equipe de investigação do Reino Roan, não teve problemas em investigar aqui outro dia.

Ben foi colocado junto com Cale no primeiro dia.

Ele era um elfo negro talentoso em investigações e havia relatado que o interior da biblioteca, assim como o caminho para a entrada da sala secreta, estavam seguros.

— Jovem mestre-nim?

— Ah, vamos entrar.

Cale saltou de seus pensamentos ao ouvir o chamado do Elfo Negro e entrou na biblioteca.

*Scrun*

Choi Han entrou no final e fechou a porta da biblioteca.

— Cale-nim, estarei aqui.

— Tudo bem.

Choi Han ficaria na biblioteca só para o caso de algo acontecer.

O mago Elfo Negro de alto nível olhou para Choi Han antes de se virar para olhar para Cale, que estava caminhando para a área mais interna da biblioteca sem qualquer cautela.

O Elfo Negro rapidamente o seguiu.

— Jovem mestre Cale?

Ele havia perguntado à sua líder, Tasha, sobre Cale Henituse antes de vir para o Império. Tasha começou a falar com uma expressão peculiar que ele não conseguia distinguir se ela estava rindo ou não.

— Especial. Ele é uma pessoa especial.

Era raro que Tasha avaliasse alguém assim.

“O que poderia haver de especial nesse cara?”

O Elfo Negro conteve a curiosidade e seguiu Cale. Ele também se lembrou da mensagem do príncipe herdeiro.

— Ele nos disse a localização da entrada, mas só ele sabe como entrar. Ouçam tudo o que ele diz sem questionar.

Sem questionar.

Foi a primeira vez que o príncipe herdeiro disse algo assim também.

O Elfo Negro conteve sua curiosidade ressurgindo e parou no canto da seção da biblioteca sobre textos antigos.

Cale olhou ao redor da seção de textos antigos, que só tinha estantes vazias. Lembrou-se das palavras do Santo Jack.

— O Papa é quem sempre designou o administrador da biblioteca do Vaticano. Essa pessoa regula quem pode ou não entrar no canto dos textos antigos. Primeiro, vá até o canto dos textos antigos e observe as estantes que ficam encostadas na parede.

Cale foi em direção àquelas estantes específicas.

— Há uma frase inscrita na prateleira do meio de todas as estantes do Vaticano.

Cale conseguia ver a frase.

< A escuridão desaparece com a chegada da manhã e cada vida abre seus olhos. >

Isso era algo que os fiéis da Igreja do Deus Sol cantavam todas as manhãs.

— Há uma frase que está escrita incorretamente. São apenas algumas palavras diferentes.

Cale caminhou lentamente seguindo a parede.

O Elfo Negro observou Cale, que parecia estar passeando tranquilamente pela área que Ben havia confirmado ontem.

*Tap* *Tap*

Seus passos lentos podiam ser ouvidos até que…

*Tap!*

Ele parou de se mexer de repente.

Cale estendeu a mão.

< A escuridão desaparece com a chegada da manhã e cada vida desperta de seus sonhos. >

Ele lembrou das informações de Jack.

As pequenas palavras na estante no canto mais distante desta área restrita.

— Você só precisa precionar essas palavras.

Seus dedos longos tocaram as palavras uma por uma.

Desperta de seus sonhos.

Cale afastou a mão.

*Click*

Ele podia ouvir as engrenagens começando a girar.

— A porta logo se abrirá depois disso, jovem mestre-nim.

*Shhhh-*

Um ruído suave, semelhante ao de folhas farfalhando ao vento, pôde ser ouvido enquanto a estante descia lentamente. Então, uma porta com um sol dourado, o brasão do Deus Sol, apareceu.

{Humano, eu entro primeiro quando você abrir a porta!}

Cale ouviu a mensagem de Raon enquanto pressionava o olho do meio do sol dourado de três olhos.

*Kkkkiiiiiiiiiiihhhhh*

Um ruído agudo e penetrante pôde ser ouvido quando a porta começou a abrir lentamente.

Um longo corredor branco com um globo brilhante apareceu.

{Humano fraco, vou entrar! Siga-me com cuidado!}

Cale saiu para o corredor. Virou a cabeça para trás para olhar para o Elfo Negro.

— Me siga.

— Hum, não preciso verificar a área primeiro, jovem mestre-nim?

O Elfo Negro pôde ver Cale Henituse sorrindo enquanto ele estava na entrada secreta que apareceu de repente.

— Siga atrás de mim.

“Um dragão que é muito melhor o mago de alto nível está me guiando.”

Cale não compartilhou esse detalhe quando se virou e começou a andar.

O Elfo Negro observou Cale se afastar antes de segui-lo rapidamente com um Elemental que inclinava a cabeça, confuso. Ele ouviu dizer que Cale possuía apenas um poder ancestral do tipo escudo. Ele deveria estar na frente como um mago de alto nível.

— Especial. Ele é uma pessoa especial.

— Ouça tudo o que ele diz sem questionar.

O Elfo Negro lembrou-se da ordem que lhe fora dada e caminhou silenciosamente pelo corredor branco, sem fazer mais perguntas. Seguiu o jovem mestre, que caminhava sem preocupações, e finalmente chegou à sala no final do corredor branco.

Ele então se encolheu em choque.

Cale também. Ele ficou tão chocado que não conseguiu dizer nada.

Raon gritou em sua mente.

{Humano! O que é isso?}

“Não é?”

{É sangue!}

Manchas de sangue seco cobriam a área branca. Os armários e closets da sala circular estavam todos destruídos, enquanto pedaços de cadeiras quebradas podiam ser vistos por toda parte.

Também havia algumas marcas pretas visíveis entre elas.

Algo parecia ter sido absorvido pelo piso e pelas paredes de mármore.

Cale voltou o olhar para o Elfo Negro. Ambos começaram a falar ao mesmo tempo.

— …Mana morta.

— É um resíduo de mana morta.

{Humano, eles devem ter usado a bomba de mana morta!}

A voz de Raon também ecoou em sua mente naquele momento.

Cale olhou para o Elfo Negro e começou a falar.

— Disseram que muitos dos líderes morreram?

— Sim, senhor. Disseram que morreram no incidente terrorista, mas parece que alguns deles foram mortos enquanto se escondiam aqui.

— …E o Império usou a mana morta nessa situação?

O Elfo Negro franziu a testa e respondeu à pergunta de Cale.

— Acredito que seja esse o caso.

O Elfo Negro parou por um instante enquanto respondia, mas acabou terminando a frase. Ele viu Cale parado ali com um sorriso estranho no rosto.

Cale estava se sentindo um pouco surpreso.

“Minha sorte está realmente boa agora?”

— As evidências estão chegando aos montes.

Cale decidiu que definitivamente revelaria esta sala secreta.

Ele se lembrou de uma parte do boato que havia enviado ao Alquimista por meio de Choi Han alguns dias atrás.

“O Império perdeu a pessoa que poderia transmitir a palavra do senhor. Um poder maligno trará a noite eterna.”

Cale olhou ao redor da sala secreta que exibia os restos daquele poder maligno. Ele fez uma pergunta a Kora, o Elfo Negro.

— Kora, o Império disse que manterá o Vaticano?

— Sim senhor. Independentemente de quão baixo tenha ficado, eles disseram que o manterão, pois tem um significado histórico.

Cale tomou uma decisão.

“Eu destruirei esta biblioteca também quando destruir a Torre do Sino dos Alquimistas.”

Ele precisava fazer com que essa evidência maligna se revelasse ao mundo.

— Kora, ande por aí sem perturbar nada.

— Sim senhor.

Cale deu a ordem para Kora antes de ir até a mesa de mármore no centro da sala circular.

A mesa que permaneceu no lugar, diferentemente das cadeiras de madeira quebradas, estava tingida de preto em vários locais e apresentava arranhões causados por golpes de espada.

Cale se inclinou na frente da mesa.

Havia muitas esculturas no pilar circular que sustentava a mesa.

— Jovem mestre Cale, deve haver um total de 24 sóis com olhos.

Havia sóis no pilar semelhante à porta.

— Há números nos sóis. Toque o terceiro olho de cada sol na ordem de 1 a 24.

— Então uma frase aparecerá.

Cale tocou lentamente os olhos em ordem.

Ele tocou o terceiro olho do 24º sol por último.

Foi naquele momento.

Uma frase apareceu abaixo do 24º sol.

< O sol não desaparecerá nem em meio a noite e a escuridão não desaparecerá mesmo com o amanhecer. >

Cale também podia ouvir um barulho.

*Click*

O barulho continuou.

*Click*

*Click*

*Click*

…

Parou finalmente após o 24º clique. Cale começou a sorrir quando Kora correu em sua direção.

— Jovem mestre Cale! Você está bem?

Cale levantou a cabeça olhando para o teto e viu o rosto de Kora.

Ele estava descendo lentamente.

O chão ao redor da mesa estava se movendo lentamente. Cale fez um gesto para Kora.

— Venha aqui.

Kora olhou para Cale, que estava descendo com a mesa, e pulou.

*Tap*

Kora pousou na mesa com o movimento ágil característico dos Elfos Negros.

*Strum!*

O chão tremeu enquanto Cale continuava a descer.

— A mesa secreta. O tesouro ‘verdadeiro’ aparece quando você passa por esse caminho.

*Bum*

O chão não desceu mais. Cale parou de se agachar e se levantou, vendo uma área subterrânea em ruínas.

Esta área subterrânea poderia ser chamada de caverna decadente. O teto era tão baixo que a cabeça de Cale quase o tocava, e as paredes não eram uniformes. O olhar de Cale se voltou para os itens na caverna.

— Há caixões lá dentro.

Ele podia ver dez caixões.

— Os verdadeiros seres sagrados que foram rotulados como hereges estão enterrados lá.

Durante centenas de anos, para manter seu poder como rei da igreja, os antigos papas rotularam todos os seres sagrados como hereges e alegaram que eles eram enviados para áreas perigosas para trabalho voluntário.

Contudo, os hereges nunca retornaram.

Eles nunca foram enviados para as áreas perigosas. Todos foram mortos.

— O Papa nos fez viver na caverna, Hannah e eu, quando nos tirou secretamente do orfanato. Ele nos disse para obedecê-lo se não quiséssemos acabar como os outros.

Os jovens gêmeos foram ensinados ao lado desses caixões que continham cadáveres com centenas de anos.

Ouvir isso fez Cale entender por que a mestre espadachim Hannah tinha uma mentalidade tão distorcida.

— J-jovem mestre-nim, estes não são caixões?

Cale podia ouvir a voz nervosa de Kora.

— Sim, eles são.

Cale foi em direção ao décimo caixão.

— Não há cadáver no décimo caixão. O Papa me disse que ele seria meu se eu o contrariasse. Ele disse a Hannah que o irmão dela acabaria no caixão se ela se rebelasse. 

— Que Papa maluco. 

— De qualquer forma, esse é o local mais secreto do Vaticano. Agora vem a parte importante.

Sim. Essa foi a parte importante.

— Jovem mestre-nim!

Kora correu em direção a Cale, em choque, ao vê-lo abrir a tampa do décimo caixão. No entanto, Cale terminou de abri-lo antes que Kora pudesse fazer qualquer coisa.

— Jovem mestre-nim, os tesouros do Papa estão no décimo caixão.

Eram os tesouros que ele não podia revelar aos líderes da igreja.

{Oh.}

Raon soltou um suspiro quando Kora respondeu em choque.

— …Meu Deus.

Ele podia ver cinco itens embrulhados em papel ou lacrados em uma caixa de vidro.

Todos pareciam preciosos e belos. O Elfo Negro, que conhecia a identidade de um daqueles itens, comentou em choque.

— Meu Deus, a Lágrima do Sol está aqui!

Era um diamante do tamanho de um punho humano que apareceu nas casas de leilões secretas do Reino Caro cinquenta anos atrás. Era chamado de Lágrima do Sol porque brilhava como ouro, mesmo sendo um diamante.

Embora não soubessem quem havia ganhado o leilão, o valor do leilão foi superior a dez bilhões de galeões.

Aquela Lágrima do Sol estava neste caixão.

— Jovem mestre-nim, só isso já vai ser incrível! Acredito que os outros itens terão valor semelhante se dermos uma olhada!

Kora não conseguiu esconder sua excitação.

Ele não seria assim se fosse só ouro ou joias. No entanto, o fato de serem apenas cinco itens os tornava especiais.

“Há dez caixões assim!”

Kora perguntou a Cale com entusiasmo.

— Jovem mestre-nim, devemos abrir os outros caixões também?

— Isso não parece ser uma boa ideia.

— Com licença?

— Todos os outros caixões têm cadáveres.

— Ah…

Kora engasgou e parou de caminhar em direção aos outros caixões.

Ele então começou a falar baixinho enquanto olhava para os outros nove caixões.

— Mm, então acho que esses cinco itens devem ser os tesouros.

“Não totalmente.”

Cale concordou com a cabeça com a declaração de Kora, mas ele sabia que aqueles caixões também eram chaves importantes.

— Então o que devemos fazer com esses caixões?

— Os santos disseram que esses eram os verdadeiros seres sagrados que eram contra os erros da igreja.

— Ah, então…

Kora achou que não precisava ouvir mais nada depois de ver a expressão amarga de Cale.

— …Algumas pessoas maravilhosas jazem aqui.

— De fato. Vamos retornar em silêncio, pois não podemos movê-los agora.

— Sim senhor.

Kora olhou para os caixões e começou a franzir a testa. Ele não se sentia bem em deixá-los naquela caverna pequena e miserável.

Naquele momento, houve uma mão dando tapinhas em seu ombro.

Era Cale.

— Kora, sinto o mesmo, mas chegará um dia em que eles serão celebrados. Não surgiria a oportunidade se revelássemos a verdade sobre o Império? Precisamos nos concentrar em nossas tarefas até lá.

— …Sim, senhor! Eu entendo.

Kora levou a sério as palavras de Cale enquanto colocava as joias na bolsa mágica.

“Ele realmente não é uma pessoa comum.”

Kora se lembrou do olhar de Cale, cheio de certeza, enquanto o consolava. Cale parecia ter certeza de que o dia chegaria.

Claro, esses eram os pensamentos do próprio Kora.

Cale observou Kora guardar o tesouro e começou a pensar em uma cena que aconteceria no futuro.

Num futuro próximo.

As pessoas nesses caixões serão conhecidas como os verdadeiros seres sagrados na recém-desenvolvida Igreja do Deus Sol.

{Humano, vamos garantir que esses caixões sejam salvos! Uma caverna é um lugar difícil de se estar!}

Cale não respondeu à declaração de Raon.

De qualquer forma, esse era o plano dele.

***

— Oh, jovem mestre Cale, que incrível!

— Haha, muito obrigado. Você é mesmo a estrela de hoje, Vossa Alteza.

Alberu riu da resposta de Cale e fez sinal de positivo.

— Você também é uma estrela hoje! Que maravilha!

Cale também começou a rir.

{…Tanto o humano quanto o príncipe herdeiro estão agindo de forma estranha.}

O Raon invisível murmurou para si mesmo.

Até mesmo o elfo negro Ben e o vice-capitão Hilsman, que vieram para proteger os dois, olhavam para eles com expressões estranhas.

Contudo, Alberu e Cale não se importaram.

Os dois conversavam através dos olhares.

“Vamos ganhar bilhões se vendermos tudo. Arm e o Império vão ficar furiosos se descobrirem.”

“Concordo. Não é ótimo?

Eles ganharam mais de dez bilhões de galeões com tanta facilidade.

Os tesouros estavam atualmente ao lado de Choi Han, no quarto de Cale.

O príncipe herdeiro disse que eles deveriam deixar os tesouros para o mestre espadachim Choi Han. Seria ruim para eles tê-los consigo enquanto participassem da celebração.

Cale concordou com Alberu. Ele se lembrou do que Eruhaben havia dito enquanto bocejava.

— O rastreador também desapareceu.

O enviado do Reino Roan partiria na manhã seguinte, após uma breve cerimônia oficial. Era por isso que o assassino escondido no quarto de Cale havia partido.

— Eles podem estar perto da torre do Vaticano, já que são responsáveis por fazer coisas furtivas.

Eles poderiam ter sido chamados para investigar a mana morta que Cale mandou Choi Han espalhar no jardim dos fundos. No entanto, Cale afastou todos esses pensamentos.

— Jovem mestre Cale, vamos lá.

— Sim, Vossa Alteza.

Alberu assumiu a liderança e Cale o seguiu com um largo sorriso no rosto. Ele parecia ainda mais animado do que quando riu com o príncipe herdeiro.

*Shaaaaaaaa-*

Alberu virou a cabeça após sentir uma rajada de vento vindo de trás dele.

— Hm? A janela está aberta? Ben, dá uma olhada.

— Sim, alteza. Vou fechar a janela imediatamente.

Ben fechou as duas janelas abertas e começou a guiá-los novamente. Cale os seguiu enquanto Raon começava a falar mentalmente.

{Humano, você não causou esse vento agora mesmo?}

O vento que soprava atrás de Alberu era o Som do Vento de Cale.

O Som do Vento e Cale estavam animados por encontrar o item divino.