Capítulo 161: De alguma forma, mais uma vez (1)
Cale conseguia ouvir pessoas à distância. Não conseguia distinguir se eram gritos ou berros. Muitas vozes inidentificáveis se misturavam.
Cale manteve contato visual com o Gato e começou a falar.
— Hilsman.
O Gato estremeceu.
— Sim senhor!
Naquele momento, Hilsman se aproximou do Gato e estendeu as mãos.
O Gato tentou se virar rapidamente e fugir. No entanto, o ferimento na lateral do corpo fez com que sua pata dianteira se dobrasse, e Hilsman não perdeu o momento.
— Eu o peguei!
O vice-capitão não conseguiu segurar firmemente o gato ferido e, por isso, fez o possível para segurá-lo cuidadosamente enquanto se aproximava de Cale.
— Grrrrrr.
O Gato revelou suas presas e ergueu suas garras. Suas garras pareciam prontas para cortar a armadura de couro de Hilsman a qualquer momento.
— Ahhh…
O Gato ouviu um suspiro naquele momento. Um fluido frio derramou sobre seu corpo ao mesmo tempo.
Era uma poção.
Cale derramou a poção no Gato como uma solução temporária enquanto ele começava a falar.
— Não posso simplesmente ignorar a visão do cavaleiro que me mostrou o local ferido desse jeito.
O Gato se encolheu. O Vice-Capitão Hilsman também se encolheu. Cale conteve o suspiro ao ver o olhar de Hilsman, que parecia dizer que ele não fazia ideia, enquanto observava o Cavaleiro Gato.
Dizia-se que esse cavaleiro era proveniente das favelas.
A coroa de qualquer nação seleciona cavaleiros entre os cidadãos comuns, seguindo uma proporção rigorosa. Ser escolhido dessa forma já é uma tarefa difícil; o fato de aquele cidadão ser oriundo das favelas significava que ele tinha talento e sorte significativos.
Ele se lembrou do que Hilsman havia dito sobre o Cavaleiro Gato.
— Dizem que alguns dos irmãos dele foram para a Torre da Alquimia há 15 anos. Os pais dele definitivamente parecem humanos.
Para onde esses irmãos teriam ido 15 anos atrás?
Eles teriam ido até a Torre do Sino dos Alquimistas?
Faria sentido que este Cavaleiro tentasse matar a Vice-Mestre da Torre se esse fosse o caso.
Os olhares de Cale e do Gato continuavam um no outro, como se estivessem se sondando. O Gato olhou para o frasco de poção vazio e para seus ferimentos em processo de cura enquanto começava a falar.
— …O que você planeja fazer comigo?
— Você diz isso depois de já ter sido pego?
O Cavaleiro Gato parou de falar com a resposta de Cale.
— Você também está tentando destruir a Alquimia?
Ele estremeceu com a pergunta e uma dor percorreu seu corpo. Seus ferimentos foram então curados pela poção e a dor desapareceu.
Ele cresceu na favela e desenvolveu sua sagacidade enquanto vivia nos limites do palácio. Essa sagacidade lhe dizia que ele deveria ir com aquela pessoa.
O Cavaleiro Gato podia ouvir a voz de Cale Henituse, o nobre do Reino Roan.
— O Reino Roan veio aqui para investigar o incidente causado pela Torre do Sino dos Alquimistas e pelo Império há 15 anos.
15 anos atrás.
Essas palavras deixaram o Cavaleiro Gato emocionado.
Ele tentou absorver o comportamento calmo de Cale.
— Queremos revelar seus pecados malignos ao mundo. Queremos mostrar ao mundo o que o Império e a Torre do Sino dos Alquimistas fizeram com as pessoas das favelas há 15 anos.
— …Ouvi dizer que você veio aqui para investigar o incidente terrorista da Bomba Mágica.
— Então por que eu te curei e por que estou tentando te salvar?
O Gato estremeceu antes de começar a falar.
— …Salvar?
— Sim.
Cale se afastou lentamente do canto escuro do jardim em direção à área iluminada. Então, deu uma ordem a Hilsman.
— Hilsman, eu cuido de todo o resto, então volte com cuidado para o palácio.
Um especialista de nível superior.
Hilsman agora também era um especialista.
— Sim, jovem mestre-nim. Eu entendo.
Hilsman parecia confiável ao dizer isso. Cale se virou. Seu olhar se dirigiu para a entrada do Palácio do Sol, ainda movimentada com pessoas saindo.
Entretanto, ele ouviu a voz do Cavaleiro Gato antes mesmo que pudesse dar um único passo.
— Eu não posso viver.
“O que?”
Cale tentou se virar. No entanto, viu uma empregada sendo arrastada para fora da casa naquele momento.
— Hahaha!
A mulher, que usava uma roupa que revelava ser uma das empregadas reais, ria enquanto a arrastavam para fora. Um dos cavaleiros que a arrastava correu em direção ao Príncipe Imperial com uma expressão séria no rosto.
Cale achou isso estranho.
“Por que uma empregada real está aqui?”
Um servo real também foi logo arrastado para fora.
Uma criada real e um servo real.
Em comparação com as criadas e servos comuns que realizavam tarefas visíveis, como cuidar dos nobres e da realeza, a criada e os servos reais supervisionavam muitas tarefas nos bastidores do palácio.
Era por isso que eles estavam em todos os lugares, porém, eles não tinham posição para estar neste salão de banquetes que estava cheio de nobres.
“Por que eles estão aqui?”
Cale voltou seu olhar para o Gato.
Ele tinha um mau pressentimento sobre isso.
Parecia que ainda não tinha acabado.
— Jovem mestre-nim?
Hilsman chamou Cale, confuso, enquanto o observava correr de volta em sua direção, mas Cale não respondeu e levantou o queixo do Gato nos braços de Hilsman, que estava com a cabeça baixa.
— O que você está tentando fazer?
O Cavaleiro Gato não conseguia olhar Cale nos olhos quando começou a falar.
— Eu não sabia que o enviado do Reino Roan veio por tal motivo.
— …Vá direto ao ponto.
O Gato fez contato visual com Cale depois de ouvir sua voz fria.
— Hahahaha!
O Gato podia ouvir a risada de seus companheiros à distância.
Já era tarde demais.
Ele começou a falar.
— Sou um gato que foi abandonado ainda pequeno. Meus pais me acolheram e pude crescer com meus irmãos. Três de nós fomos selecionados pela Torre do Sino dos Alquimistas há 15 anos.
O Gato lembrou-se do que sua mãe havia dito.
— Você poderá comer comidas deliciosas se for lá. Você também poderá ter sucesso. No entanto, certifique-se de nunca mostrar a eles sua forma felina. Apoie-se na sua irmã e no seu irmão mais velhos se for difícil.
O Gato era o mais novo dos três que estavam indo em direção à Torre do Sino dos Alquimistas.
Ele conseguiu escapar porque era um gato, não, porque era um gatinho muito pequeno na época. Ele atravessou um esgoto imundo para sair por pouco da Torre do Sino.
Seus irmãos o ajudaram a fazer isso.
— Caçula, você se transforma em um gato e escapa.
— Sim. Faça como sua irmã disse. Pelo menos um de nós consegue sair. Você pode viver.
Ele nunca esqueceu as palavras de seus irmãos mais velhos, embora eles fossem apenas um e dois anos mais velhos que ele.
Ele retornou aos pais, que o esconderam em uma cripta por um tempo. O Gato, o caçula de cinco irmãos, permaneceu escondido por dois anos, até completar sete anos. Então, passou a viver como o caçula de seis filhos, dizendo ter cinco anos quando, na verdade, tinha sete.
Tudo isso foi possível porque ele teve sorte e porque eles estavam nas favelas onde não havia muita administração.
— Eu, não, nós não nos esquecemos dos nossos irmãos e amigos.
Embora a Torre do Sino tenha apresentado algumas crianças para dizer que as crianças das favelas estavam bem, aqueles que viram seus irmãos e amigos entrando na torre continuaram a questioná-la mesmo depois de se tornarem adultos.
O Cavaleiro Gato foi quem lhes contou a verdade e os reuniu.
— Comecei a me mover do lugar mais sujo do Império para me vingar.
O Gato descreveu rapidamente tudo o que havia acontecido.
— Criamos uma organização há cinco anos. Depois, nos dividimos pelas muitas cidades do Império para comprar bombas de Alquimistas falsos e verdadeiros do submundo.
Cale lembrou-se do que havia dito ao Alquimista Rei Stecker.
— Falso alquimista alcoólatra. Faz veneno e pequenas bombas para organizações do submundo usarem quando lutam entre si.
Cale conseguia dizer onde alguns dos venenos e pequenas bombas que Rei Stecker fez foram parar.
— Eles fizeram isso por todo o Império.
— Isso está me deixando louco.
Cale finalmente pôde começar a juntar as peças do quebra-cabeça.
Sim, teria sido difícil para esse Gato tentar assassinar a Vice-Mestre da Torre sozinho.
O Gato continuou a falar.
— Tornei-me cavaleiro há 3 anos. Eu era talentoso e o mais forte.
O Gato, que era o chefe da organização e o mais forte do grupo, assumiu a tarefa de assassinato.
— Os outros foram trazidos como servos e empregadas reais.
A posição mais alta que alguém das favelas podia alcançar era a de servo real ou de criada real. O Cavaleiro Gato pensou nos membros da organização que viveram vidas tão difíceis nos últimos anos.
— Não há razão para não nos vingarmos só porque somos pobres. Finalmente agimos hoje.
Cale tirou a mão do Gato e se virou.
O Gato podia ouvir a voz de Cale.
— As pequenas bombas que você reuniu por todo o Império provavelmente estão reunidas aqui hoje. E ainda há outras por aí, além das que foram capturadas.
Havia uma grande probabilidade de que os capturados que estão rindo agora fossem distrações.
O trabalho deles era facilitar a movimentação dos outros.
Cale fez uma pergunta ao Gato.
— As bombas pequenas feitas com Alquimia não são fortes. Elas não serão capazes de destruir o Palácio do Sol.
O poder da natureza imitando mana dentro dessas bombas feitas de Alquimia não tornava a explosão muito forte. Além disso, a taxa de sucesso era baixa em comparação com bombas mágicas que usavam mana.
Somente aquela bomba mágica temporizada que tinha uma esfera de mana poderia ser considerada uma bomba de alquimia com uma taxa de sucesso de cem por cento.
Naturalmente, o Cavaleiro Gato sabia que as bombas não tinham força suficiente para destruir o Palácio do Sol, mas eles determinaram que era possível destruir uma parte dele.
Esta era a celebração de fim de ano após a guerra com o Reino Whipper. Era a celebração que provavelmente atrairia a atenção de muitos cidadãos. Era por isso que precisavam fazê-la hoje.
Ele pensou que ter o máximo de pessoas testemunhando seria a maneira de se vingar e revelar a verdade ao mundo.
Entretanto, o Cavaleiro Gato não pôde dizer nada a este nobre do Reino Roan.
— …Sinto muito. Reunimos essas bombas nos últimos cinco anos. Elas foram colocadas lentamente ao redor de uma única ala durante o último mês.
Destruindo uma única ala.
Cale entendeu que o Gato estava dizendo que eles acreditavam que seus cinco anos de esforço eram suficientes para derrubar uma ala.
— Sinto muito pelo Reino Roan. No entanto, as bombas explodirão em breve. Será difícil bloquear o impacto.
O Cavaleiro Gato conseguiu ferir, mas não matar, a Vice-Mestre da Torre.
Sendo esse o caso, eles precisavam ao menos se vingar do Império. Ele sentia pena do enviado do Reino Roan desde o início, mas esse sentimento era ainda pior agora.
O Gato viu Cale se virando lentamente para ele. Cale estava olhando para ele. O Cavaleiro Gato de repente teve uma sensação estranha.
Cale começou a falar.
— Seu maluco desgraçado, o que o povo do Reino Roan fez com você?
— …É para o bem maior.
— Bem maior minha bunda.
O Cavaleiro Gato não conseguiu evitar abaixar a cabeça ao ouvir a resposta de Cale. Então, começou a falar.
— É por isso que não penso em continuar vivendo.
— Que besteira.
O Cavaleiro Gato estremeceu.
Cale Henituse. Ele era uma das pessoas em quem o Império se concentrava por ser conhecido como um nobre justo e respeitoso.
O cavaleiro olhou para Cale depois de ouvir tal linguagem sair de sua boca, mas Cale não estava olhando para ele. Havia vento soprando em torno dos pés de Cale.
— Hilsman.
— Sim, senhor?
— Certifique-se de que ele não se mate.
— Sim senhor.
O corpo de Cale começou a se mover para a frente. Ele ouviu a voz baixa do Cavaleiro Gato atrás de si.
— …Já é tarde demais. As bombas já deveriam ter sido detonadas.
Cale podia ouvir a voz de Raon em sua cabeça.
{Humanos, nós os salvaremos!}
Cale começou a se mover rapidamente.
Ainda havia muitas coisas que ele precisava perguntar ao Cavaleiro Gato.
Ele precisava saber como eles colocaram tantas bombas ao redor da ala, evitando os guardas, e também o que fariam depois.
Contudo, havia algo que ele precisava fazer antes disso.
Cale podia ver a entrada do Palácio do Sol.
— Jovem mestre Cale!
Daltaro, o diplomata responsável pelo enviado, acenava para ele com choque e alegria.
Cale também podia ver o príncipe herdeiro ao lado dele.
— …Você!
Alberu falou em choque enquanto observava Cale se aproximando rapidamente deles, mas ele se calou depois de ouvir o que Cale disse de repente.
— …Porra!
Cale começou a se mover novamente.
Alberu seguiu o movimento de Cale e seus olhos se arregalaram.
Ele podia ver a entrada caótica do Palácio do Sol.
Muitos membros do enviado também estavam lá. Eles conversavam com os administradores do Império ou tinham suas identidades verificadas ao saírem da entrada.
A maioria deles eram administradores de baixa patente.
Os administradores de nível superior foram os primeiros a escapar.
O olhar de Alberu se dirigiu para uma das alas do Palácio do Sol.
— O que-!
Um dos criados que deveria estar com os demais estava de pé na ala.
*Psssssssssss*
O corpo daquele servo estava coberto de fogo.
— Aaaaaah!
— Ah! o que é isso?
Eles ouviram um grito novamente.
O servo em chamas, não, o servo real que havia roubado a roupa de um servo, ficou preso à ala. Uma pequena bomba caiu de sua mão em direção ao chão.
Cale lembrou-se das palavras do Gato.
— …Já é tarde demais. As bombas já deveriam ter sido detonadas.
Certo. A bomba já estava acesa.
{Humano, não é tarde demais.}
As palavras de Raon também estavam corretas.
Cale estendeu a mão. O vento saiu como uma flecha de sua mão. A magia de Raon foi adicionada à flecha de vento.
Essa era a única maneira de esconder a magia de Raon do mestre espadachim do Império e da Vice-Mestre da Torre.
— Ai!
O servo real que estava preso na ala caiu por causa do vento de Cale.
*Bum!*
Cale ouviu uma explosão e sentiu o chão começar a tremer.
Uma das grandes alas do Palácio do Sol, o chão abaixo da ala onde o servo real estava preso, estava vibrando.
A explosão já havia começado.
{Humano, posso usar magia sozinho agora mesmo? Eles saberão que há alguém ao seu lado se eu fizer isso! O mestre espadachim reconhecerá minha grande e poderosa magia!}
Cale conseguia ver o Príncipe Imperial. O mestre espadachim Huten também estava ao lado dele. Atrás deles estavam Alberu e Daltaro, ambos caminhando em sua direção.
Cale olhou para Alberu, Daltaro e o resto do enviado.
Uma voz ecoou na cabeça de Cale naquele momento.
{Você está tentando se sacrificar?}
“Sacrificar? Que absurdo.”
*Bum* *buuuuum!*
Dezenas de bombas explodiram e abalaram a fundação da ala.
A visão das pessoas tentando sair correndo pela entrada do Palácio do Sol parecia uma cena do inferno.
Cale começou a falar.
— Me ajude.
Cale estendeu as mãos.
Seu corpo começou a ondular. O escudo que o envolvia começou a se mover pela primeira vez em muito tempo.
*Scrummmm*
O meio da ala que estava tremendo quebrou. A parte quebrada da ala começou a se inclinar lentamente para baixo.
Cale começou a falar.
— Nós suportaremos isso.
{Tudo bem.}
Foi naquele momento.
Alberu, que caminhava em direção a Cale, parou de se mover. O nome de Cale saiu de sua boca.
— …Cale Henituse.
Já era noite.
Uma grande luz prateada apareceu no meio da escuridão.
Aquela luz prateada se originou de Cale.
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