Capítulo 223: Não se preocupe (4)
O príncipe herdeiro parecia estar chorando enquanto corria em direção a Cale. Cale quis recuar quando viu o rosto do príncipe herdeiro.
Valentino correu para frente sem nenhuma preocupação, pois Mary já havia purificado a mana morta no chão.
— Comandante!
Ele agarrou as duas mãos de Cale.
— Haaa…
Cale desviou o olhar para além dos ombros do príncipe herdeiro, em direção à distância. No entanto, o Castelo Leona estava atrás de Valentino.
Ele conseguia ver as muralhas do castelo, bem como os soldados, cavaleiros e magos em pé sobre elas. Muitos olhares estavam voltados para Cale.
“Bom.”
Esse era o único pensamento na mente de Cale naquele momento.
Ele ouviu uma voz atrás dele naquele momento.
— Comandante-nim, capturamos os Ursos que não conseguiram escapar para os navios.
Era a Elfa Negra Tasha. Cale acolheu a voz dela. Rapidamente, ele soltou as mãos de Valentino e se virou para ela.
Tasha levantou as duas mãos quando fizeram contato visual. Ela ainda estava coberta de mana morta.
— Ah, Comandante-nim. Peço desculpas. Não posso me aproximar de você por causa da ma-
— Está tudo bem, desde que não nos toquemos.
Tasha sorriu ao ver Cale caminhando até ela.
— Você está certo. Você estará seguro enquanto não nos tocarmos.
Cale olhou por cima do ombro de Tasha.
Ele podia ver a costa à distância.
— S-seus bastardos!
— Vocês são trapaceiros!
Os outros Elfos Negros cercavam os Ursos restantes. a mana morta parecia ser carregada pelo vento, criando um anel em forma de onda ao redor dos Ursos.
“Deve ter sido difícil reuni-los em um só lugar.”
Cale olhou para o centro dos ursos. Ele viu o enorme urso polar, com quase três metros de altura. Ele estava sentado no chão, sem seu estado de fúria.
Seu corpo estava coberto de ferimentos. O vento dos elementais os havia causado.
“Deve ter sido difícil capturar aquele urso polar também.”
Tasha sorriu para Cale, que olhava por cima do seu ombro. Havia sangue vermelho em seu ombro. a mana morta líquida e o sangue se misturavam enquanto pingavam pelo seu braço.
Era a prova de que ela era uma existência em consonância com a natureza. Embora tivesse mana morta, ainda era semelhante a outras formas de vida. Sangue vermelho era uma prova clara desse fato.
Tasha usou a mão para pressionar a área ensanguentada enquanto abria a boca.
— É a primeira vez que você vê o sangue de um Elfo Negro?
— Todo sangue tem praticamente a mesma cor.
O sorriso de Tasha se iluminou com a resposta estoica de Cale. Cale achou Tasha, que estava ferida, mas sorria alegremente, estranha enquanto tirava um lenço do bolso.
— Eu sei que poções não funcionam em você, então use isso para ajudar a estancar o sangramento.
— Sim senhor, muito obrigada.
Tasha pegou o lenço que Cale jogou em sua direção enquanto continuava a falar.
— Então cuidaremos do resto também.
— Que-
Tasha conseguia ver a pessoa se aproximando deles por trás de Cale. Era o príncipe herdeiro Valentino.
Todos os Elfos Negros viviam na Cidade Subterrânea, abaixo da Terra da Morte.
Essa era uma pessoa que poderia acabar governando o Reino Caro, que abrangia a Terra da Morte.
Ela observou como Valentino hesitou sem conseguir ir até eles.
Ele hesitava porque tinha medo da mana morta e porque não conhecia os Elfos Negros. Era assim que os Elfos Negros tinham sido tratados até então, e muito possivelmente a mesma coisa que ela acabaria vivenciando pelo resto da vida.
Entretanto, Tasha notou algo diferente do normal.
— Isso foi incrível. Mas vamos conversar mais tarde. Estou com um pouco de medo da mana morta.
Tasha conseguia ver o estranho, porém honesto Valentino.
Assustador, mas incrível. E o mais importante: ‘Vamos conversar mais tarde’.
Tasha respondeu aos comentários sinceros de Valentino com uma leve reverência enquanto se virava. O vento aumentou sob seus pés e ela rapidamente retornou à praia, pois ainda havia trabalho a ser feito.
Ela podia ver os cavaleiros abrindo caminho para que ela voasse por eles. Eles estavam abrindo caminho e não apontando suas espadas para ela. Esse fato a impedia de parar de sorrir.
Por outro lado, os lábios de Cale estavam ligeiramente contraídos.
— Comandante.
*Tap*
Valentino agarrou as mãos de Cale novamente. Cale gentilmente empurrou as mãos de Valentino enquanto ele começava a falar.
— Alteza, ainda há inimigos lá embaixo e muito trabalho de limpeza a ser feito. Há também áreas que ainda precisam ser purificadas, então parece que precisamos começar logo.
“Pare de segurar minha mão e me solte.”
Era isso que Cale estava insinuando.
Foi o momento em que ele disse isso.
*Scrun*
As portas da torre central se abriram amplamente.
Magos então caminharam cuidadosamente sobre a área purificada. Eram os magos do Reino Caro. Alguns deles já estavam usando magia de voo para descer até a costa.
— Não se preocupe. Não pretendo sobrecarregá-lo com tudo isso também! Os navios que havíamos levado para o norte retornarão. Os cavaleiros e os magos capturarão o resto dos inimigos, então você não precisa se preocupar.
Valentino parou por um momento antes de continuar a falar.
— Mas parece que precisaremos deixar a mana morta para você.
Ele não queria deixar isso para o bispo ou para as igrejas com afinidade pela luz. Não podia confiar neles. Além disso, Valentino estava extremamente irritado com as igrejas.
No entanto, havia uma emoção diferente em seu rosto quando ele olhou para Cale.
— Você não precisa se preocupar muito com tudo. Parece que agora pode relaxar. Todos nós conseguimos sobreviver graças ao seu escudo indestrutível.
“Está me deixando louco.”
Cale realmente sentiu como se estivesse ficando louco.
Ele queria se afastar rapidamente do rosto lacrimoso do príncipe herdeiro Valentino.
Ele preferia o Alberu do Reino Roan. Ver Valentino olhando para ele com admiração o fez sentir arrepios.
— Então agora o resto de nós precisa ajudar a aliviar o fardo sobre seus ombros.
“…Que oponente temível.”
O príncipe herdeiro Valentino era um oponente temível.
Cale realmente sentiu que esse era o caso.
Ele teve que se esforçar para não franzir a testa. Uma expressão estoica. Era o máximo que ele conseguia reunir naquele momento.
Valentino fechou a boca ao ver aquela expressão no rosto de Cale. A expressão de Cale lhe dizia que eles não podiam baixar a guarda ainda. O jeito como ele olhava para o Castelo Leona indicava a Valentino que ainda havia muito a ser feito.
Sim, a Aliança Indomável ainda não havia desistido.
A guerra ainda estava acontecendo.
Valentino inconscientemente apertou ainda mais as mãos de Cale.
{Humano fraco! O príncipe herdeiro está segurando sua mão com muita força? Por que você está com essa expressão? É doloroso só apertar a mão agora também? …Você está muito fraco. Estou preocupado com você. Vou precisar pedir ao vovô Ourinho para encontrar uma droga milagrosa para você.}
Não.
Não é nenhuma das duas coisas.
Cale só queria fugir e deixar o jovem Dragão e o príncipe herdeiro para trás. No entanto, os olhos de Cale logo ficaram nublados.
Seus olhos se desviaram dos portões da torre central.
Em seguida, olhou para os portões da torre norte.
Uma pessoa estava saindo com os cavaleiros e magos atrás dela.
Era o outro mestre espadachim, o Duque Huten, do Império Mogoru. Ele saía com uma expressão feliz no rosto.
Cale deu um passo em direção ao príncipe herdeiro Valentino. Em seguida, prestou bastante atenção para garantir que o Duque Huten não conseguisse ver seus lábios.
— Alteza, tenho algo que preciso lhe contar.
— Claro, o que foi? Estou todo ouvidos se você tiver algo a dizer.
Valentino sorriu brilhantemente até ouvir o que Cale tinha a dizer em seguida.
— As bombas de mana morta. Você sabe quem fez essas bombas?
Cale fez contato visual com o mestre espadachim , Duque Huten. Cale retribuiu o gesto com o olhar ao ver o Duque Huten sorrindo para ele.
No entanto, seus lábios não cumprimentaram o Duque Huten. Eles estavam dizendo outra coisa.
— Às vezes o inimigo sorri pelas suas costas.
— Pelas minhas costas?
O príncipe herdeiro Valentino sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Naquele momento, ouviu uma voz familiar.
— Alteza! Comandante Cale!
O príncipe herdeiro virou lentamente a cabeça em direção à fonte da voz. Viu o Duque Huten se aproximando com um sorriso no rosto. Valentino virou a cabeça para trás e viu Cale, que não sorria.
— …Eu vou te oferecer um banquete delicioso mais tarde.
— Quando for melhor para Vossa Alteza. Estarei esperando.
Valentino olhou para Cale com uma expressão complicada. Ele podia ver o sangue no canto dos lábios de Cale. Também podia ver o uniforme completamente encharcado de Cale.
— Então retornarei ao meu território agora.
O príncipe herdeiro observou Cale caminhando em silêncio em direção à torre sul, de cabeça baixa. Choi Han e Hilsman seguiram Cale enquanto os dois dragões voaram de volta e também se dirigiram para a torre sul.
— Comandante! Isso foi incrível! Nunca vi algo assim antes!
No entanto, Cale acabou encontrando o Duque Huten. O Duque Huten deixou de lado a seriedade de um mestre espadachim e parecia não conseguir esconder sua alegria.
— A força da necromante era tão emocionante. Assim como o poder do mestre espadachim. Fiquei chocado com o seu escudo também. Todos nós sobrevivemos graças a você. Muito obrigado.
O Duque não se importava em seguir a hierarquia nobre, curvando-se diante de Cale e demonstrando sua sincera gratidão. Ver tanto o príncipe herdeiro quanto o Duque demonstrando tanto respeito por ele parecia agradável.
Contudo, Cale não pensava dessa forma.
Por que?
— Mas parecia que o orbe roxo do inimigo foi atingido por algum tipo de raio antes de explodir. Também era alguém do seu lado?
Foi porque o Duque Huten estava avaliando a força deles dessa forma.
“Agradável minha bunda. É só um grande descarado.”
Mas Cale preferia lidar com alguém assim a alguém como Valentino. A expressão de Cale ficou séria.
— Não tenho certeza. Achei que o Império tinha feito isso. Não foi você?
— Hã? Nosso Império? Não fomos nós.
— Havia mais alguém lá?
A expressão de Cale ficou séria.
— …Eu não tenho certeza.
— Entendo. Acho que preciso dar uma olhada. Pensei que você tivesse preparado aquele grande raio com magia, já que não usou sua espada e ficou parado na retaguarda, liderando as tropas.
A expressão do Duque Huten ficou estranha.
“Ele está reclamando que eu não lutei na vanguarda com minha espada?”
No entanto, a expressão de Cale parecia séria demais para ser isso. O Duque Huten estava prestes a responder quando Cale continuou a falar.
— Para ser sincero, também suspeito da mana morta. Como você acha que a Aliança Indomável transformou mana morta em bombas? São todas nações focadas em cavaleiros, então devem ter falta de magia e outras habilidades assim. Preciso investigar isso também.
O Duque Huten e os cavaleiros e magos do Reino Caro ao redor deles concordaram. Era a verdade. Definitivamente valia a pena investigar.
— Não podemos deixar que mais pessoas se machuquem.
Essa frase fez os cavaleiros cerrarem os punhos.
No entanto, Cale olhava para o silencioso Duque Huten. O Duque Huten sorriu novamente ao responder.
— Sim, claro. Nosso Império também ajudará na investigação. Precisamos descobrir a origem de itens tão perigosos.
— Eu sabia que o herói do Império concordaria comigo.
“Embora o Império logo passará de herói a inimigo do continente.”
Cale se despediu do descarado Duque Huten e encerrou a conversa.
— Então vou embora agora.
— Certo. Nosso Império se esforçará mais na limpeza.
— Muito obrigado.
“Limpeza minha bunda.”
Ele já precisava observá-los para verificar se eles destruíam algo que pudesse ser usado como evidência contra eles.
Claro, a Elfa Negra Tasha foi designada para isso. Cale confiava nela para fazer um bom trabalho enquanto voltava para a torre sul. O portão se abriu lentamente quando ele chegou à sua frente.
Os que abriram o portão foram os soldados do Reino Caro. Eram os poucos soldados que estavam posicionados na torre sul. O jovem soldado de antes carregava sua lança no cinto enquanto empurrava a porta com as duas mãos.
O pesado portão se abriu lentamente.
*Scruuunn…*
O jovem soldado pôde ver alguém através da fresta quando a porta se abriu.
Era o comandante que estava coberto de sangue e água.
Atrás dele estavam o mestre espadachim e o vice-capitão Hilsman, ambos com uma aparência terrível também.
O jovem guerreiro empurrou a porta com toda a força enquanto os observava. Empurrou com tanta força que suas mãos começaram a tremer.
No entanto, todos os tipos de emoções sobre conseguir sobreviver e ser capaz de abrir esta porta estavam misturadas naquelas mãos trêmulas.
*Scrun- bum*!
O portão sul finalmente se abriu completamente.
O soldado observou Cale entrar na torre.
Não havia nada que ele tivesse feito ali. No entanto, só de assistir a tal batalha, ficou difícil para ele respirar.
Mas as pessoas na frente dele eram aquelas que tinham participado daquela batalha.
O jovem soldado estremeceu ao cruzar os olhos com Cale. Percebeu que Cale observava suas mãos trêmulas e rapidamente as escondeu atrás das costas.
Ele não sabia por que fez isso.
A voz do comandante ecoou dentro da torre sul naquele momento.
— Vamos tomar uma bebida juntos, já que todos nós conseguimos sobreviver.
O jovem soldado lembrou-se do que Cale havia dito antes da batalha.
— Vamos todos sobreviver juntos e depois sair para beber.
O soldado fez contato visual com Cale mais uma vez.
— É claro que aqueles que não têm idade suficiente precisarão beber suco.
— Ah.
O soldado começou a sorrir. A expressão dele era algo que até ele mesmo acharia estranho. Não era nem sorriso nem carranca.
No entanto, as mãos do jovem soldado não tremiam mais. O soldado cerrou os punhos enquanto observava as costas do comandante que se afastava.
— Uauu…
— Yeeeeeeeeeeeah-
Ele ouviu os aplausos dos soldados vindos das outras torres. Era porque o príncipe herdeiro havia anunciado o fim da batalha.
Entretanto, a torre sul estava silenciosa.
As pessoas aqui que estavam sentindo a alegria de conseguir sobreviver estavam quietas por fora, porém, seus corações batiam mais rápido do que nunca.
Por outro lado, Cale não estava sentindo o silêncio.
Estava alto dentro de sua mente.
{Humano! Vamos comer bife? O que vamos comer?}
No entanto, Cale aproveitou a confusão mental pela primeira vez enquanto esfregava a barriga. Ele planejava comer toda a comida deliciosa do Reino Caro.
Embora ainda houvesse muitas coisas com as quais ele precisava lidar, Cale começou a sorrir.
Foi naquele momento.
{Você está tentando se sacrificar?}
Ele ouviu claramente, embora fosse alto em sua mente. Havia outra pessoa falando em sua mente também.
{Você está tentando se sacrificar?}
Era o Super Rocha.
{Você está tentando se sacrificar?}
{Você está tentando se sacrificar?}
“Por que ele está assim? Ele quebrou?”
Cale parou de andar. O Super Rocha perguntava sem parar se ele estava tentando se sacrificar.
“Por que ele está assim?”
“…É assustador.”
Cale de repente se esqueceu do bife e do vinho. Tudo o que sentiu foram arrepios no corpo.
Raon começou a falar em sua mente naquele momento.
{Humano! Recebemos uma ligação da Vila do Super Rocha! A sacerdotisa Cage ligou!}
“…A sacerdotisa maluca Cage? A Vila do Super Rocha?”
A sacerdotisa louca que havia sido excomungada da Igreja do Deus da Morte. Por que ela ligou de repente?
Ela deveria estar descansando na Vila do Super Rocha com o meio Santo, Jack, e a mestre espadachim, Hannah.
{Ah! Caiu! Deixaram recado!}
A comunicação por vídeo logo terminou. Raon leu a mensagem que Cage havia deixado no dispositivo.
– Jovem mestre-nim. O pilar de pedra na praça subterrânea está tremendo. Acho que pode quebrar? Tudo bem se quebrar? Estou encerrando a ligação e deixando uma mensagem, já que você provavelmente ainda está no meio de uma batalha. Dê o seu melhor! Estou rezando ao Deus da Morte por você. Eu venho dizendo que me converterei à Igreja do Deus Sol se você se machucar. Por favor, continue com o bom trabalho.
Era uma mensagem calma que combinava com a personalidade de Cale.
Entretanto, Cale começou a franzir a testa.
O pilar de pedra na Vila do Super Rocha.
Esta era a entrada para o caminho que a Super Rocha havia selado. Era o mesmo caminho por onde os monstros do continente oriental costumavam passar. O pilar de pedra bloqueava a entrada do caminho.
{Você está tentando se sacrificar?}
“Esse Super Rocha idiota!”
Cale ouviu a voz animada de Raon.
{Humano, vamos para casa? Podemos ver todo mundo? Eu quero ver todo mundo!}
Cale apenas fechou os olhos. Estava escuro como breu.
Tudo o que ele conseguia ver era escuridão.
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