Capítulo 91: Se eu tiver que me mover (1)
Poucos dias depois, Cale sentiu o cheiro salgado ao descer da carruagem. Diante de seus olhos, o mar ainda tinha alguns redemoinhos rugindo ferozmente.
— Jovem mestre-nim, é uma honra conhecê-lo.
— Você é quem está no comando?
— Sim, senhor.
O gerente representante do território Henituse cumprimentou Cale.
Ele era o responsável por representar o território Henituse, juntamente com os demais administradores envolvidos no desenvolvimento da Base Naval. Havia três administradores atualmente alocados ali, representando a coroa, o território Ubarr e o território Henituse.
— O desenvolvimento aumentou à medida que alguns dos redemoinhos desapareceram, dando-nos acesso a mais ilhas.
— Realmente?
— Sim. Graças a isso, conseguimos desenvolver rapidamente nossos navios.
A família Henituse investiu muito dinheiro no desenvolvimento desta Base Naval porque a família Ubarr queria minimizar o envolvimento da coroa. Eles queriam algumas coisas em troca, uma delas era que a família Henituse pudesse usar uma parte da costa gratuitamente.
— Então devo guiá-lo até a residência?
— Não. Espere um pouco.
Cale olhou para a carruagem e fez um gesto com o dedo.
A porta da carruagem se abriu e uma pessoa pequena e pálida saiu.
— Se apresse.
— Sim, sim senhor!
Mueller correu rapidamente e ficou entre Cale e o gerente.
Mueller estava mais gordinho e usava roupas elegantes. A Condessa estava fazendo um bom trabalho mantendo Mueller sob controle com artigos luxuosos.
Cale colocou a mão no ombro de Mueller.
— Por que você não mostra a ele os projetos da fase um?
— Ah. Sim, sim, senhor!
Mueller engasgou antes de entregar rapidamente a planta ao gerente. Como gerente responsável pela construção da base naval, o gerente tinha conhecimento sobre construção e o mar.
— …Huh?
O gerente olhou para a planta do navio por um momento antes de olhar além de Mueller para olhar para a pessoa que o pálido Mueller estava encarando.
— Jovem mestre-nim, isso?
— Sim, exatamente assim.
— Nunca vi um navio como este antes.
Isso fez Cale estremecer antes de olhar para Mueller. Cale também ficara chocado quando viu as plantas pela primeira vez.
“Esse desgraçado não é alguém que transmigrou da Coreia ou algo assim, certo?”
Mueller agarrou com força o anel de ouro que a Condessa, uma espécie de mentora, lhe dera em troca de apoio após ver a expressão de raiva de Cale. Cale suspirou com a reação de Mueller e então olhou para o gerente.
— Mas você não acha que ficará bom quando o construirmos?
— Mais que bom-
O gerente não terminou a frase. Em vez de bom ou ruim, isso era incrível.
Cale casualmente passou direto pela pergunta enquanto olhava para o gerente, que não conseguia responder à pergunta.
— Não será pelo menos durável?
— Sim. Vai ser bem durável, mas-
Com certeza seria durável. No entanto, o gerente queria fazer uma pergunta.
Este é realmente um navio para transporte?
Parecia mais um navio de guerra.
Entretanto, Cale encerrou a conversa antes que o gerente pudesse perguntar.
— Então é isso que importa.
O gerente não pôde mais fazer a pergunta e simplesmente aceitou que Cale queria apenas um navio muito durável para transporte. Ele então percebeu que talvez houvesse um problema diferente.
— Parece que seria necessária uma quantia significativa de dinheiro para construir, especialmente esta seção da tartaruga dourada-
— Com o que você está preocupado?
Esse problema também não era grande coisa para Cale.
— Dinheiro não é problema.
Um sorriso satisfeito estava no rosto do gerente.
— Farei o meu melhor para criar esta obra-prima!
Cale evitou o rosto do gerente repentinamente apaixonado e voltou para a carruagem.
— Vou até a residência com seu subordinado, então você fica aqui e conversa com Mueller.
— Sim senhor, eu entendo.
— Jovem mestre-nim, por favor descanse em paz!
Cale fechou a porta da carruagem depois de ver Mueller se curvar 90 graus. A carruagem começou a se dirigir para a residência e o gerente pôde ver os ombros de Mueller se abrirem.
— Ahem, veja bem, este navio não irá quebrar mesmo se for atingido por uma bomba mágica.
— Sim, definitivamente parece que sim. Mas provavelmente só conseguiremos fazer um.
— Nosso objetivo é um único navio.
Mueller soltou uma tosse falsa. Ele sabia que havia uma boa chance de estar no Castelo Henituse, além daquele navio, então investiu tudo o que tinha nesses projetos para não acabar morrendo.
— Para ser honesto com você, a segunda fase dos projetos, que é para o interior, também está quase completa.
Mueller deu de ombros e abriu-os com arrogância.
— Sim. Ainda não mostrei ao jovem mestre-nim, mas o conceito já foi concluído.
— Qual é o conceito?
Mueller respondeu com confiança.
— A melhor defesa é um ataque forte!
Bata antes de ser atingido.
Claro, esses eram apenas os pensamentos do próprio Mueller, já que ele ainda não havia recebido a permissão de Cale.
***
Cale observou calmamente as pessoas reunidas no escritório quando elas chegaram à residência.
— Não será fácil desta vez.
Todos, exceto Ron, que Cale havia mandado para seu quarto, e Beacrox, que estava cuidando de Ron, estavam presentes.
As três crianças, com idade média de 7 anos, Choi Han, Rosalyn, Lock e até mesmo o Vice-Capitão Hilsman e as dez crianças Lobos chegaram rapidamente ao quarto de Cale.
Cale reuniu todo o seu arsenal.
“Não é como se eu fosse destruir um reino ou algo assim.”
Cale sentiu que poderia ser demais, mas não tinha informações suficientes sobre o inimigo. Era melhor estar preparado.
Rosalyn olhou para Cale e começou a falar.
— Jovem mestre Cale, então vamos pegar um navio para a Ilha Hais?
— Sim. Provavelmente iremos para algum lugar perto da Ilha Hais 5.
Ilha Hais era o nome dado ao grupo de ilhas entre os continentes ocidental e oriental. Os números representavam a ordem em que foram descobertas.
O destino de Cale era a Ilha Hais 5.
Foi a quinta ilha a ser descoberta, bem como a maior ilha do grupo.
Era também a ilha mais próxima do Continente Ocidental, facilitando a viagem de navio. Por isso, até Ron pôde ir com eles.
— Ouvi dizer que há uma base de sereias na ilha.
— É estranho que elas tenham uma base em cima de uma ilha.
— É por isso que provavelmente é uma das bases de Arm. É por isso que é o nosso primeiro destino…
Cale já havia decidido para onde iriam.
— Será Ilha Hais 12.
A Ilha Hais 12 era uma ilha muito pequena que foi a décima segunda a ser descoberta.
Era a ilha mais próxima da Ilha Hais 5.
— Hum, com licença, jovem mestre-nim.
O Vice-Capitão Hilsman começou a falar cautelosamente. Cale fez um gesto para que ele continuasse.
— Você não disse que lutaríamos contra as Sereias? As Baleias não estão lutando contra as Sereias?
— Sim.
Hilsman estava muito sério, diferente de seu jeito bobo de sempre. Era porque sabia que a vida de Ron estava em jogo. Cale continuou a observar Hilsman enquanto se lembrava do que seu pai havia dito.
— Seja ele um assassino ou não, ele ainda é um dos seus. Salve-o. Não será tarde demais para se preocupar com isso depois que você salvar a vida dele.
Outros podem pensar que o Conde Deruth estava salvando apenas mais um servo e se perguntar por que ele se esforçaria tanto. No entanto, era porque Ron cuidou de Cale por mais de dez anos, enquanto Cale evitava o resto da família. Ele pensava mais como pai do que como Conde.
— Jovem mestre-nim, vamos ficar bem? Ouvi dizer que as sereias são criaturas das trevas e estão mais fortes devido à mana morta e ao veneno.
Hilsman estava preocupado com o atributo escuridão e a mana morta.
Rosalyn respondeu à pergunta no lugar de Cale.
— Vamos ficar bem. O jovem mestre Cale sabe como curar o veneno da sereia e só precisamos oprimir a mana morta com um poder ainda mais forte.
A estratégia usual ao lutar contra criaturas das trevas que usam mana morta era oprimi-las com um único ataque para limitar o tempo de batalha.
Eles precisavam usar uma mana ou aura mais forte, ou até mesmo um ataque muito forte para suprimir a mana morta.
E havia um poder que era extremamente forte contra mana morta.
Cale sabia desse poder.
Vida.
— Existe um método estúpido que funcionaria muito bem contra isso.
Na verdade foi bem simples.
Os seres vivos eram mais fortes que os mortos. Havia algo que provava com a maior precisão possível que algo estava vivo.
Rosalyn começou a falar.
— É claro que é mais eficaz usar sangue ao lutar contra criaturas das trevas que usam mana morta, mas isso é perigoso.
Sim, sangue.
E eles precisariam de muito sangue.
Até mesmo um humano fraco seria capaz de conter criaturas das trevas por um curto período de tempo se as borrifasse com seu sangue.
No entanto, havia uma grande chance de que morressem devido à perda excessiva de sangue. Não era possível lutar contra as fortes criaturas das trevas com uma pequena quantidade de sangue.
“Embora o sangue seja inútil contra Elfos Negros ou Vampiros.”
Os Elfos Negros ainda eram filhos da natureza, pois eram seres vivos com sangue, mesmo usando mana morta, enquanto os Vampiros bebiam sangue normalmente.
Os textos antigos descrevem que as raças demoníacas tingiam os corações humanos com mana morta para fazê-los continuar a bater mesmo após a morte do humano.
“Que loucura sem sentido.”
Parecia loucura para Cale.
Ao mesmo tempo, Cale teve um pensamento repentino que ele murmurou sem pensar.
— Meu sangue provavelmente seria extremamente eficaz.
Seu sangue era energizado pela Vitalidade do Coração. Com as habilidades regenerativas da Vitalidade do Coração, seu sangue teria mais vida do que qualquer outro sangue. O sangue também continuaria a jorrar sem parar, graças à Vitalidade do Coração, que o reabastecia e o curava. Não haveria nada mais eficaz contra as criaturas das trevas do que seu sangue.
Embora ele precisasse testar para ter certeza, ele provavelmente poderia durar um tempo contra as sereias.
Mais importante ainda, poderes antigos eram poderes nascidos da natureza e dos humanos. Isso significava que a Vitalidade do Coração continha atributos tanto da natureza quanto da vida. Havia uma boa chance de que fosse forte contra a escuridão.
Cale começou a imaginar.
— Mm, se eu borrifar meu sangue-
E se ele se cobrisse de sangue e espalhasse sangue nos inimigos?
Cale começou a franzir a testa.
— Que nojento.
Parecia muito nojento.
Cale percebeu que a sala estava silenciosa enquanto olhava ao redor. Uma voz alta de repente preencheu o silêncio.
— Que ideia maluca! Por que um fracote como você pensaria em uma coisa dessas?! Não precisamos do seu sangue fraco!
Raon ficou muito bravo.
— Gostaria que você parasse de ter pensamentos tão estranhos.
— Muito estranho. É um pensamento muito estranho.
On e Hong estavam olhando para Cale como se ele fosse louco.
Essa resposta fez Cale olhar para Rosalyn, que também balançava a cabeça. Ela parecia estar dizendo que não havia a mínima chance de eles o deixarem fazer aquilo.
— Não há necessidade de fazer isso.
Cale olhou para todos e parou ao ver o rosto de Hilsman, que parecia estar cheio de admiração por algum motivo.
Cale respondeu com um pouco de ansiedade.
— É claro que não tenho planos de fazer isso.
“Por que eu usaria meu sangue precioso?”
Ele tinha muitas cartas para jogar além do seu próprio sangue.
Por que ele usaria o próprio sangue se odiava a dor? Ele preferia fugir a fazer algo assim. Ele poderia curar Ron se simplesmente pegasse o cadáver de uma sereia e fugisse.
Raon voou perto do sofá em que Cale estava sentado e falou com raiva.
— Eu vou garantir que você não faça uma coisa dessas.
Ninguém acreditava que ele não faria tal coisa.
Cale zombou das reações deles, mas rapidamente decidiu esquecer o assunto. Não havia a mínima chance de uma coisa dessas acontecer, então não sentiu necessidade de desperdiçar mais energia pensando nisso.
Em vez disso, ele se levantou.
— Onde você está indo?
Cale respondeu a Raon.
— O Penhasco dos Ventos.
O penhasco mais íngreme desta costa. Cale foi até aquele penhasco com um redemoinho embaixo.
Ele olhou para baixo ao chegar ao topo do penhasco. A costa estava movimentada com a construção da Base Naval. No entanto, seu olhar logo se desviou para o horizonte.
— O que você está tentando fazer, Cale-nim?
Cale deu de ombros à pergunta de Choi Han antes de tirar da bolsa mágica uma concha que parecia uma flauta de chifre. Choi Han já tinha visto aquele item antes.
Foi um dos itens que Cale recebeu de Witira quando eles encontraram o Rei Baleia a caminho do Reino Whipper.
— …O que?
Choi Han achou que poderia saber o que Cale estava tentando fazer.
Cale colocou a boca na abertura menor da concha e começou a soprar.
— Kiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii-
Um ruído baixo, porém agudo, começou a sair antes que a concha fosse coberta por uma luz azul.
Estava tão silencioso que as pessoas lá embaixo não conseguiam ouvir, mas havia pessoas bem distantes que conseguiam ouvir claramente.
Dois dias depois, Cale estava no Penhasco dos Ventos observando o pôr do sol. O sol se punha lentamente no horizonte.
Então, de repente, ele colocou a concha ainda brilhante no ouvido.
— Giiiiiiiiiiiii-
Ele ouviu algo dentro da concha.
— Eles estão aqui.
Raon apontou para o horizonte enquanto Cale dizia isso e gritava também.
— Eles estão aqui!
— Há.
— …Uau.
Choi Han, que presumiu que esse poderia ser o caso, soltou um suspiro enquanto Rosalyn, que não tinha ideia, ficou chocada.
*Splash* *Splish*
O oceano parecia estar se movendo ao longe no horizonte. A causa disso eram duas baleias grandes e uma terceira baleia menor.
Cale se virou para olhar o resto do grupo. Todos estavam concentrados no ruivo Cale, e não no pôr do sol vermelho. Puderam ver que Cale tinha um sorriso no rosto.
— Hora de ir.
Seus guias haviam chegado.
— Se eu tiver que me mover, é melhor ir atrás das baleias.
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