Galera, eu vou editar esse capítulo depois. Estou em uma viagem importante, e não tenho um notebook comigo. Mal consegui internet para publicar esse capítulo (risos).

    Eu não vi. Acho que bebi demais. Não sei. Era muito forte. Malditos faróis… Eu olhei pra frente e meus olhos arderam. Tentei desviar, consegui… Mas não foi legal. Foi rápido. Um único movimento. Quando girei o volante, e passei pelo caminhão, vi uma cerquinha. Acho que ele estava na mão errada. Ou era eu que estava? A cerquinha se aproximou. Foi tudo num flash. Senti o carro forçar a gradinha de metal, e as rodas saírem da pista. Fui descendo a ladeira. Pedras, buracos e muito mato. Era escuro. O farol direito quebrou, e um retrovisor saiu voando. Loucura. Chacoalhado como suco de caixinha, meu carro foi batendo árvore atrás de árvore. Atropelei alguma coisa. Um toró? Não sei. Era fede. Em seguida… “Uma castanheira…” Sim, a Luiza. A castanheira mais famosa da estrada. Ela era alta como um prédio. Se alguém me visse ali, eu seria preso. E não poderia pagar fiança. “Conta zerada…” Com meu Chevette beijando uma árvore centenária, soltando fumaça igual cigarro, pensei na minha conta no Nubank. Que idiota. Borrão. A escuridão chegou. Fiquei cego por um tempo incalculável. Não senti nada, nem mesmo o passar dos segundos. Morri? Quase.A colisão não veio. Não chegou aos meus sentidos. Morrer devia ser assim. Uma experiência que você nem sabe que teve… Ou não.Do nada. Do absoluto nada veio a formigação. Cada centímetro. Cada milímetro do meu corpo entrou em combustão.

    Era quente. Pavoroso. O inferno? Não, quem dera! — Merda… Pálpebras. Elas doíam. Abri meus olhos, é um mar de chamas cobria o capô do carro. A vista tremia, ondulava. Meu cérebro era um cameraman bêbado.O fogo dançava num ritmo doido, hipnótico. No auge da loucura, ouvi uma flauta. Ou pensei ter ouvido. As chamas subiam e desciam, remexendo.Cobras de fogo.Era tímido. Mortalmente sutil. Era, sobretudo, presente. Havia uma flauta. Não era delírio. Alguém controlava o fogo do meu carro.Se aproximaram. Se abraçaram. As cobras de vermelho quente se uniram, virando uma jibóia louca. A cabeça era grande. Olhava para mim. O bicho de fogo saiu do carro, que nem fumegava mais.Saindo do transe, debilmente pus a mão na porta. Apertei. Forcei. Abriu com tudo, e cai de lado. Minha cabeça deu na lateral do carro.Quando terminei de cair, senti a grama. Escutei as cigarras chorando, regendo os grilos em uma orquestra noturna. A flauta sumiu.Empurrei o chão. Fiz o que pude, mas não consegui levantar. Apenas fiquei de barriga para cima, feito um cachorro. Não dava para a ver a lua…No entanto, vi algo melhor. Uma coisa bem mais linda. Uma coisa… Alguém. Uma pessoa. Se é…Se é que dava de chamá-la assim.— Você está bem? Se machucou? Puxa… — Ela tocou minha testa. — Está sangrando… Oh, perdão. Dói quando eu toco?— Nã… Não.— Isso é bom. Não deve ser grave. Curioso… — Ela olhou para o carro. — Essa carruagem… Que tipo de runas ela tem?— Ru…Runas?— É, runas! — disse ela, preocupada. — Devem ser complexas. Você atravessou aquilo…— Atravessei…?Atravessou o quê?— Você não sentiu? Puxa! Nem o ancião conseguiu, quando era moço! Você deve ser incrível… Ancião?— Incrível…?

    O que era incrível? Se perguntasse dele, ela era incrível. Aquela mulher… Ela não era bela. Não era somente bonita. Mais que uma beldade!Era uma beleza tão, tão além dos padrões… Humanos? Sim. Um rosto lindo, harmonioso. Nariz e queixos finos, maxilar suave!Olhos de safira…Era uma beleza de outro mundo. Nem podia ser humana. Seria uma ofensa chamar assim! Poderia admirar por horas…— O-o que foi? Tem… Tem alguma coisa no meu rosto?— Tem… Beleza. Muita beleza…— Oh… — Ela cobriu o rosto com as mãos. — Não diga isso!— Por que?— Ora, por que…! Porque machuca! Não gosto desse tipo de piada…— Piada?Como assim?— Eu não estou…— Está sim! Todo mundo está… Sempre esteve! “Puxa, que beleza você tem! O que acha de levá-la ao rei? Ele ama coisas exóticas!”Ela disso aquilo amargurada. Porém, arregalando os olhos, ela me segurou no colo. Me senti um princeso em seus braços.— Me perdoe… Esqueci que você está machucado.— Não, eu… Eu estou bem.— Mesmo?— Mesmo…Ela fez um rosto complicado. Parecia não confiar.— Eu tô bem.— Sério? Está vendo direitinho? Nada embaçado?— Nada… Ah, e, bem… Exótica? O que tem de exótico em você?A indignação me deu forças.— Quem te disse? Quem foi o lunático?— Todo mundo. Dizem que sou estranha. Só porque moro na floresta e uso isso… Ela olhou para o manto que usava.— Só porque converso com os animais e as plantas… Dizem que sou esquisita. Antiquada. — Isso é…Foi quando reparei.Orelhas pontudas, pele negra como a noite. Era impossível. Estava na minha frente, mas não pude acreditar. Era uma elfa…Uma elfa de verdade! Ou não. Talvez eu estivesse ficando louco. Sim, isso mesmo. Eu devia ter morrido na colisão.Era ilusão. Invenção da mente. Meu cérebro utilizou suas últimas forças. Ele não queria me deixar agonizando.Quando estava para aceitar o fato, as sobrancelhas dela se uniram. Meu rosto denunciava alguma coisa. Ela notou. Quis dizer algo.— Você…— Eu sei que você também me acha estranha. Está na sua cara. Desculpe se fui eu quem te salvei… — E me deitou de volta no chão. — Eu vou embora…— Hã? Ei, espera! Não é verdade!Ela, que já estava de pé, parou.— Eles estão mentindo!— Mentindo? Você… Oras, o que um humano saberia…— O que um humano saberia? Ha… Um humano saberia que você é linda. Ela me olhou desconfiada.— É sério… De qualquer forma, você… Esse cosplay é muito bom.Sim, muito bom. Estupendo. Maravilhoso. O melhor figurino que já tinha visto. Quase me convenceu. Quase acreditei que era uma elfa de verdade.Tentei levantar. As pernas bambearam. Que ilusão boa! Bem trabalhada. Meu cérebro estava de parabéns. Era tão boa que eu até podia interagir com ela.Ela grunhiu.— Cos… Plei? O que é isso?— Essa é boa… — Ri um pouco. — O que você está usando. É um cosplay incrível.— Oh… — Olhou para suas roupas. — Isso é um manto. Não esse… Esse negócio que você disse.— Ah, sério? Então você anda com isso por aí? Você se veste assim? — Eu ando e me visto, sim! — disse ela, irritada. — Algum problema? Oh, sim, entendi! Então você concorda com os outros… E olha que eu te salvei… — Os outros quem? Os nerdolas amigos seus? — Nerdolas…? O que é isso?Isso já começou a me irritar.— Do que você está falando?— Certo, certo. Continue assim. A sua atuação é boa.— Hum…Ela tocou meu rosto, esticando minhas pálpebras. Olhou bem fundo nos meus olhos. Ficou uns segundos assim.— Não vejo danos aparentes… Você sabe quem é?— Claro. Sou Guilherme. — Gui… Hum. É nobre… De Oliveira?— Não… Sou de Neves. Guilherme di Paula Neves.— DI PAULA!Ela me chacoalhou os ombros.— Um nobre de Belmonte! Isso explica a carruagem encantada…— Belmonte? Encantada? Que fic é essa aí?— Fic?— É… De que fanfic você tirou essa?— Fã o quê?Eu cocei a testa. Era irritante. Precisava que ela parasse logo.— Você tem certeza de que…— Moça, olha, eu realmente agradeço. Você me salvou. O seu cosplay é lindo, impressionante. Mas você pode me ajudar a voltar pra pista? — Pista… Pista?— Ora, vamos! Não se faça de desentendida. Tem uma pista ali em cima, subindo a ladeira!Apontei para o lugar atrás dela. Ela se virou, e olhou para lá. Depois de uns segundos, voltou a me encarar, assustada.Como se visse um fantasma.— É, eu vim de lá.— Eu sei… Mas é que…— Não dá pra subir? É, eu pensei nisso.— Não, não. Mesmo que você me peça isso… Eu não posso.— Ah, não? Tudo bem… Me leve para um lugar com gente, então.Ela levou a mão ao queixo. Ponderou um pouco.— Você não…— Com gente, é? Eu te levo, sim. Quinze minutos de caminhada.— Mesmo? Valeu!E começamos a andar. Ela deixou que eu a fizesse de muleta. Moça gentil, aquela. — Mas e aí… Essas pessoas. Esses outros, eles zoam contigo? — Zoam…? — É. Caçoam de ti, riem de você… — Oh, sim. E muito. Falam que sou estranha. Que não me encaixo. “Nerds fazendo bullying? Essa é nova.” — Tudo porque eu vivo no mato. — Sei… Era um costume estranho, de fato. — E você vive… Tipo, aqui? — Vivo. Minha cabana é aqui perto. Seria mais rápido te levar lá, se você quiser. “Uma cabana? Nerd rica? Ah, saquei…” — Porque eu não tenho certeza se.. — Eu quero. Me leve até lá. — Oh, sério? Vamos, então… E ela tomou a dianteira. Viramos à esquerda. Pisamos em folhas e galhos secos. Não via um único palmo a frente. Ela, no entanto, caminhava tranquila. E era doido. Mesmo se ela conhecesse bem o caminho, não fazia sentido. Era quase como se ela… — …Visse no escuro. — Oh? Sim, eu vejo. Eu enxergo no escuro. Quase estanquei. “Tá, tá lá! Até parece…” Paramos num espaço amplo. Pensei que era, pelo menos. Não tinha nenhuma árvore próxima. — Ali. A minha cabana está logo ali. — Sério…? Eu não via nada. — Eu não… — Eu sei. Humanos não vêem no escuro. E voltamos a andar. Sem demora, paramos de novo. — Lumos… E, bem, aquilo me assustou. Dei um passo para trás. Luzinhas se acenderam na casa, todas ao mesmo tempo. Era uma casa de pedra. Modesta e pequena. Seu teto era de terra, e nele cresciam samambaias e papoulas. A porta era de madeira. “Tá… Isso é muito bem feito.” Talvez ela jogasse RPGs. Um que fosse bem realista, inclusive. — Entre, e não repare na bagunça. Não esperava ter visitas… Seguindo-a, dei uma boa olhada no interior do lar. A sala era pequena. O chão era de pedra, e uma mesa de carvalho se erguia no centro. O bancos eram tronquinhos, e uma lareira crepitava no canto. Um console cheio de ícones de madeira ficava atrás da mesa. No canto esquerdo da entrada, havia uma porta. — Meu quarto — disse a garota. — Você tem problema de dormir junto? — Não. — Então tudo bem. Espere um pouco, vou fazer o jantar. E estalou os dedos. Sério, eu não estou brincando. Se eu estava alucinando, aquilo foi o cúmulo. O ápice da loucura. A vassoura, caída no chão, se ergueu e começou a dançar pelo piso, levando poeira embora. O armário se abriu, e de lá veio cebolas, cenouras, brócolis e outras verduras. Os temperos vieram logo depois.Eles dançaram no ar, caindo sobre uma panela. A penela cruzou a cozinha, passou pela janela, voltou cheia de água e se pôs sobre uma grade dentro da lareira. A garota bateu palmas, e dessa vez saíram batatas do armário. Uma faca veio de encontro. Ela as descascou, cortou em tiras e foi descansar. Uma frigideira saiu do nada, e engoliu as tiras de batata. Fogo surgiu de baixo dela, e um bloco de gordura (também vindo do armário) caiu nela. O cheiro de fritura subiu. — Que. Porra. Foi. Essa? — Que foi? Não gosta de batatas?— Gosto… Gosto muito.— Somos dois! — E riu, satisfeita. — Ao vencedor, as batatas!

    Não faz parte da narrativa do Duelo de Abertura. Por conta da viagem, não estou a apto a dedicar o esforço necessário em sua escrita, por isso optei por um conto avulso.

    Irei editá-lo quando voltar para casa.

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