Capítulo 6: One-shot tosco, final.
— Tá sentindo a ponte tremer?
— Tô.
Ela o soltou e olhou para trás.
— Merda.
— CORRE!
Nem precisava dizer. Os dois correram em disparada, tropeçando nos desníveis que a Homosphera criou ao passar…
A ponte parecia cair em blocos, vindo desde a entrada do castelo. Os pés de Nathan vacilavam aqui e ali, deslizando por entre as pedras.
— Nathan!
— Que foi?! — gritou, quase sem fôlego.
— Arf… arf… — tentou ela, o peito chiando igual sanfona. — As, as…
— Asma?!
Como ele pôde ter esquecido?
O chão continuava caindo, não podiam parar. Se freassem um segundinho sequer, conheceriam Jesus mais cedo do que deviam. Mas ele não podia deixar Jikan passar mal.
— Isso vai doer, mas… — E balançou a cabeça, conformado. — Se segura!
— Hã?
Ele parou, agachado, indicando que ela subisse em suas costas. Ela o fez e, sem perder mais tempo, Nathan ergueu-a e voltou a correr.
— Va-vamos, Inuyasha! — brincou ela.
Ela realmente lembrava a Kagome…
“Merda…”
Ele não estava cem porcento.
“A Suspensão Absoluta não elimina dores… tô começando a sentir cada disparo da Execução Pública do Chad…”
Doía igual ao inferno, mas ele não podia transparecer. Se Jikan notasse, ela ia descer e voltar a correr. Ele não deixaria isso acontecer.
— Ah, não… — ela parecia preocupada.
— Que foi?
Quando olhou para a frente, entendeu logo de cara.
“Não é possível…”
— MORRA, YAGO DIAS!!
Um homem de dois metros, cheio de músculos, todo chamuscado, voava feito um torpedo de encontro a eles. Seu punho queimava em dourado!
— Nathan! — gemeu a garota, temerosa.
Sem pensar duas vezes…
— IDIOTA!
Chad, cada vez mais perto, só entendeu depois. Ele passou direto.
— MALDIÇÃÃÃÃÃÃÃOOOOO…
Chad voou para o abismo, seu punho brilhante morrendo na escuridão. Jikan não sabia se ria ou chorava.
— Esse cara… esse cara é burro?
— Bastante — confirmou Nathan, sorrindo.
Já que o inimigo vinha em alta velocidade em sua direção, tudo que Nathan precisou fazer foi desviar. A força do ataque de Chad deu conta de levá-lo para longe.
— Estamos livres.
E continuaram correndo.
— — —
Algum tempo se passou e, depois de chegarem do outro lado do abismo, no fim da ponte, eles puderam ver o restante dela cair no abismo. Estavam livres.
A palavra “livres” pairou entre eles. Sabiam que liberdade, segundo a vida que levavam, era apenas um intervalo entre um problema e outro. Agora que estavam no recreio, podiam continuar o que forçadamente fora suspenso…
— …Minha promessa — murmurou Nathan, baixando a garota com cuidado.
Suas costas… não, corpo todo latejava de alívio e dor. Escoriações, hematomas surgiam de um em um. Jikan o encarou, a preocupação nítida em seus olhos de esmeralda.
— Você tá todo…
— Vivo — ele cortou, forçando um sorriso. — E você, também. É o que importa.
De olhos marejados, ela mal sabia o que fazer, agora que estavam sozinhos.
— Graças ao Super Choice… — disse ele, como se tivesse ignorado algo por um tempo. —- Graças ao seu poder, estamos vivos. Tem a ver com a minha promessa, não é?
Ela afirmou com um aceno de cabeça, corada. Ainda estava de pé, vendo-o de cima. Ele jogou as costas contra a parede, cansado.
— O poder que faz todo o universo conspirar… super escolhas, que nem mesmo um deus pode impedir de serem feitas — riu ele, sentindo o abdômen formigar. — Isso me deixou vivo. É, eu devo ser um cara de sorte.
— Claro! — disse ela, sentando ao lado dele.
Ficaram encarando o teto da caverna. Se quisessem sair dali, deviam atravessar longas extensões de pura escuridão, para só então verem a escada que leva para a superfície. O pior havia passado, pelo menos.
A calma agora dançava entre eles.
— Sabe — disse ele, de repente —, eu poderia te encarar por horas, mas não posso. Seria estranho.
— Hã? — grunhiu ela, um tanto vermelha.
— Tão… linda. Eu queria emoldurar o seu rosto e andar com ele por aí.
— Virou Romeu agora, é? — brincou ela, enrolando uma mecha na ponta de um dedo.
Ele tossiu, sangue sujando as coxas. Ela gritou, assustada.
— Eu tô bem — relevou ele, um fio escarlate dançando no canto da boca. — Não vou morrer. Não agora…
— Não brinque com isso.
Jikan deitou a cabeça no ombro dele. Nathan, sem pensar muito…
— Sei que é meio tarde pra isso…
Ela sorriu, e ele continuou.
— Mas… bem, eu… é… — Tossiu de novo. Pouco sangue caiu. — Quer…
E pegou a mão dela. O aperto era suave.
— Quer namorar comigo?
Ela deu tremelique súbito, ofegante.
— A-a-agora?!
— Ué, e quando seria? — perguntou Nathan.
— Eu não esperava por isso…
Ele não entendeu.
— E o que vocẽ esperava?
— “Quer continuar o nosso encontro?” — falou ela, imitando sua voz. — Algo assim.
— Ah, então…
— Sim — interrompeu ela. — Eu quero, sim. Óbvio que eu quero.
E se calaram, contando a respiração um do outro.
— — —
Mais tarde naquele dia…
— Eles não estão em casa — disse ela, amassando o chão com o pé. — Você toma banho primeiro.
— Sério?
— Sim. Vou pegar umas roupas do meu pai… as do meu irmão ficariam curtas, em você — falou Jikan, apontando para a escada. — O banheiro fica ali em cima.
Ele subiu, meio nervoso. Enquanto o calor da batalha escorria pelo ralo, Jikan, no quarto dos pais, separava uma camisa e um calção, incapaz de conter o sorriso.
— “É o Nathan, pai. Meu namorado” — ensaiava, entre risinhos.
Imaginava a mãe estudando-o com os olhos, o pai perguntando se ele assistia à Champions League e o irmão, animado, se ele queria jogar uma partida de LOL com ele. Seria uma noite feliz. Só não seria perfeita por, obviamente, não poderem dormir no mesmo quarto.
Isso teria de esperar.
— Não tem problema… — murmurou para si, contente. — Temos muito tempo.
No banheiro…
— Shampoo anti-caspa?! — exclamou Nathan, surpreso. — Céus, que bom que eles têm isso!
Seria lamentável conhecer os sogros, com o cabelo fedendo igual carniça. Toda sua moral, ainda inexistente, seria impossível.
— Espero que eles gostem de mim — falou, nervoso. — Eu tô cansado demais pra pensar direito, então não vou conseguir manter uma conversa decente…
E se não desse para esconder, não saberia explicar todos aqueles hematomas pelo corpo. Torcia para Jikan pensar nisso e trazer uma camisa de mangas compridas…
— Tomara que dê certo…
“Tomara!”

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