— Tá sentindo a ponte tremer?

    — Tô.

    Ela o soltou e olhou para trás.

    — Merda.

    — CORRE!

    Nem precisava dizer. Os dois correram em disparada, tropeçando nos desníveis que a Homosphera criou ao passar… 

    A ponte parecia cair em blocos, vindo desde a entrada do castelo. Os pés de Nathan vacilavam aqui e ali, deslizando por entre as pedras.

    — Nathan!

    — Que foi?! — gritou, quase sem fôlego.

    — Arf… arf… — tentou ela, o peito chiando igual sanfona. — As, as… 

    — Asma?!

    Como ele pôde ter esquecido?

    O chão continuava caindo, não podiam parar. Se freassem um segundinho sequer, conheceriam Jesus mais cedo do que deviam. Mas ele não podia deixar Jikan passar mal.

    — Isso vai doer, mas… — E balançou a cabeça, conformado. — Se segura!

    — Hã?

    Ele parou, agachado, indicando que ela subisse em suas costas. Ela o fez e, sem perder mais tempo, Nathan ergueu-a e voltou a correr.

    — Va-vamos, Inuyasha! — brincou ela.

    Ela realmente lembrava a Kagome… 

    “Merda…”

    Ele não estava cem porcento.

    “A Suspensão Absoluta não elimina dores… tô começando a sentir cada disparo da Execução Pública do Chad…”

    Doía igual ao inferno, mas ele não podia transparecer. Se Jikan notasse, ela ia descer e voltar a correr. Ele não deixaria isso acontecer.

    — Ah, não…  — ela parecia preocupada.

    — Que foi?

    Quando olhou para a frente, entendeu logo de cara.

    “Não é possível…”

    — MORRA, YAGO DIAS!!

    Um homem de dois metros, cheio de músculos, todo chamuscado, voava feito um torpedo de encontro a eles. Seu punho queimava em dourado!

    — Nathan! — gemeu a garota, temerosa.

    Sem pensar duas vezes… 

    — IDIOTA!

    Chad, cada vez mais perto, só entendeu depois. Ele passou direto.

    — MALDIÇÃÃÃÃÃÃÃOOOOO…

    Chad voou para o abismo, seu punho brilhante morrendo na escuridão. Jikan não sabia se ria ou chorava. 

    — Esse cara… esse cara é burro?

    — Bastante — confirmou Nathan, sorrindo.

    Já que o inimigo vinha em alta velocidade em sua direção, tudo que Nathan precisou fazer foi desviar. A força do ataque de Chad deu conta de levá-lo para longe. 

    — Estamos livres.

    E continuaram correndo.

    — — — 

    Algum tempo se passou e, depois de chegarem do outro lado do abismo, no fim da ponte, eles puderam ver o restante dela cair no abismo. Estavam livres.

    A palavra “livres” pairou entre eles. Sabiam que liberdade, segundo a vida que levavam, era apenas um intervalo entre um problema e outro. Agora que estavam no recreio, podiam continuar o que forçadamente fora suspenso… 

    — …Minha promessa — murmurou Nathan, baixando a garota com cuidado.

    Suas costas… não, corpo todo latejava de alívio e dor. Escoriações, hematomas surgiam de um em um. Jikan o encarou, a preocupação nítida em seus olhos de esmeralda.

    — Você tá todo… 

    — Vivo — ele cortou, forçando um sorriso. — E você, também. É o que importa. 

    De olhos marejados, ela mal sabia o que fazer, agora que estavam sozinhos.

    — Graças ao Super Choice… — disse ele, como se tivesse ignorado algo por um tempo. —- Graças ao seu poder, estamos vivos. Tem a ver com a minha promessa, não é?

    Ela afirmou com um aceno de cabeça, corada. Ainda estava de pé, vendo-o de cima. Ele jogou as costas contra a parede, cansado.

    — O poder que faz todo o universo conspirar… super escolhas, que nem mesmo um deus pode impedir de serem feitas — riu ele, sentindo o abdômen formigar. — Isso me deixou vivo. É, eu devo ser um cara de sorte.

    — Claro! — disse ela, sentando ao lado dele. 

    Ficaram encarando o teto da caverna. Se quisessem sair dali, deviam atravessar longas extensões de pura escuridão, para só então verem a escada que leva para a superfície. O pior havia passado, pelo menos.

    A calma agora dançava entre eles. 

    — Sabe — disse ele, de repente —, eu poderia te encarar por horas, mas não posso. Seria estranho.

    — Hã? — grunhiu ela, um tanto vermelha.

    — Tão… linda. Eu queria emoldurar o seu rosto e andar com ele por aí. 

    — Virou Romeu agora, é? — brincou ela, enrolando uma mecha na ponta de um dedo.

    Ele tossiu, sangue sujando as coxas. Ela gritou, assustada.

    — Eu tô bem — relevou ele, um fio escarlate dançando no canto da boca. — Não vou morrer. Não agora… 

    — Não brinque com isso.

    Jikan deitou a cabeça no ombro dele. Nathan, sem pensar muito… 

    — Sei que é meio tarde pra isso… 

    Ela sorriu, e ele continuou. 

    — Mas… bem, eu… é… — Tossiu de novo. Pouco sangue caiu. — Quer… 

    E pegou a mão dela. O aperto era suave.

    — Quer namorar comigo?

    Ela deu tremelique súbito, ofegante.

    — A-a-agora?!

    — Ué, e quando seria? — perguntou Nathan.

    — Eu não esperava por isso… 

    Ele não entendeu.

    — E o que vocẽ esperava?

    — “Quer continuar o nosso encontro?” — falou ela, imitando sua voz. — Algo assim. 

    — Ah, então… 

    — Sim — interrompeu ela. — Eu quero, sim. Óbvio que eu quero.

    E se calaram, contando a respiração um do outro.

    — — — 

    Mais tarde naquele dia… 

    — Eles não estão em casa — disse ela, amassando o chão com o pé. — Você toma banho primeiro.

    — Sério?

    — Sim. Vou pegar umas roupas do meu pai… as do meu irmão ficariam curtas, em você — falou Jikan, apontando para a escada. — O banheiro fica ali em cima.

    Ele subiu, meio nervoso. Enquanto o calor da batalha escorria pelo ralo, Jikan, no quarto dos pais, separava uma camisa e um calção, incapaz de conter o sorriso.

    — “É o Nathan, pai. Meu namorado” — ensaiava, entre risinhos. 

    Imaginava a mãe estudando-o com os olhos, o pai perguntando se ele assistia à Champions League e o irmão, animado, se ele queria jogar uma partida de LOL com ele. Seria uma noite feliz. Só não seria perfeita por, obviamente, não poderem dormir no mesmo quarto.

    Isso teria de esperar.

    — Não tem problema… — murmurou para si, contente. — Temos muito tempo.

    No banheiro… 

    — Shampoo anti-caspa?! — exclamou Nathan, surpreso. — Céus, que bom que eles têm isso!

    Seria lamentável conhecer os sogros, com o cabelo fedendo igual carniça. Toda sua moral, ainda inexistente, seria impossível.

    — Espero que eles gostem de mim — falou, nervoso. — Eu tô cansado demais pra pensar direito, então não vou conseguir manter uma conversa decente… 

    E se não desse para esconder, não saberia explicar todos aqueles hematomas pelo corpo. Torcia para Jikan pensar nisso e trazer uma camisa de mangas compridas… 

    — Tomara que dê certo… 

    “Tomara!”

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