Enquanto isso, após ter Eternus adentrado a porta metálica da qual ficara encarregado, deparou-se com um grande portão de garagem à sua frente, e do lado, um teclado de senha, presumivelmente para abrir o portão. Eternus cuidadosamente fechou a porta ao lado, desligou os próprios lumes, e ativou sua visão noturna. Caminhando vagarosamente, deitou seu rosto sobre o chão, rente ao sopé do portão, e tentou ouvir o que havia por detrás dele. Seu sistema investigativo lhe indicava que havia quatro sinais de vida, pesados, patrulhando dentro do grande cômodo escondido atrás da porta.

    Hm? Há quatro homens adultos andando em círculos aqui por dentro, provavelmente em patrulha. Mas para defender o quê? E com o quê?”.

    Eternus levantou-se, e pôs-se a pensar como poderia vencer os suspeitos sem os ter de matar. Era o que menos queria, afinal. Tendo esse objetivo em vista, dedicou um tempo analisando a sala na qual estava, até descobrir que, do canto inferior esquerdo do portão, saiam alguns fios que penetravam a parede ao lado. “Provável que tenha a ver com a eletricidade de dentro do cômodo, e, por conseguinte, também com as luzes. Quem sabe eu os possa combater no escuro, e nocauteá-los sem que me vejam”. Dito isso, cortou os fios em questão, e esperou ver o resultado. Pôs-se novamente a ouvir por debaixo do portão o que ocorria:

    — Droga, a luz caiu de novo! Alguém vai lá arrumar.

    — Que isso, o chefe saiu. A gente tem que ficar aqui protegendo o contêiner.

    — Então bora colocar a visão noturna.

    Ouvindo isso, Eternus pôs-se imediatamente de pé e pensou:

    Contêiner? Chefe? Ah! É o homem misterioso de minhas visões! É ele! O mendigo estava falando a verdade! Mas e agora? Bem… Eles colocarão óculos de visão noturna. Caso eu adentre o cômodo e ligue todas as minhas lanternas como num feixe de luz, eu poderei cegá-los por um instante e vencê-los rapidamente!”.

    Assim decidido, o policial eterno levantou com grande força o portão à frente, surpreendendo os inimigos em patrulha, os quais começaram a gritar em desespero diante do invasor. Imponente sob a cobertura das sombras, dava-lhes a conhecer apenas a sua silhueta e os seus robóticos olhos vermelhos. A máquina de guerra apenas lhes disse:

    — Vós todos estais presos em nome da Lei!

    Ha! Eu sempre quis dizer isso!”.

    Em seguida, Eternus ligou todas as suas lanternas e luzes, conforme o planejado, em uma intensidade muito maior do que antes, onde apenas queria iluminar o caminho pelo qual passava. Sozinho, era como um pequeno sol, que irradiava todos os casos da sala, cegando-os de uma só vez. Todos gritavam em grande dor, e retiraram os seus óculos para correrem às apalpadelas em busca de cobertura. O robô, contudo, era mais rápido. Em um piscar de olhos, com a sua inacompanhável velocidade, correu pelos quatro cantos da sala e nocauteou cada um dos inimigos. Na sua cegueira, viam-no como um feixe de luz, que se movia inesperadamente e que destruía tudo por onde passava. Ele mesmo era como um relâmpago, e seus passos como trovões: assim o percebia o último dos criminosos, o qual Eternus demorou propositalmente para desacordar, pois queria interrogá-lo.

    — O que há dentro do contêiner?

    — Muita… Muita luz…

    — Desligarei as luzes caso me digas o que há dentro do contêiner. Quem sabe ainda reste um pouco de visão para ti.

    — São drogas, são drogas, cara… Desliga a luz, por favor…

    — Quem é o teu chefe! Responde-me!

    — Nabuk, o cara que comanda o tráfico na cidade. Por favor, cara…

    Dito isso, Eternus golpeou fortemente a cabeça do criminoso no chão, desacordando-o na hora, e disse:

    — Tu tens o direito de ficares calado!

    Em pé, Eternus apoiou-se no corrimão de metal ao lado, esbanjando um sorriso sobre toda a destruição que causara, e pensou consigo:

    O dia está cada vez melhor. Acho que a Margareth e o Criador estariam orgulhosos de mim. E nem precisei usar uma bala sequer!”. Em seguida, saltou pelo corrimão em que se apoiara a fim de algemar todos os criminosos que estavam desacordados. Tinha a intenção de, na volta, chamar reforços para levá-los todos à delegacia, conforme a autorização de sua mestra. E atado o último malfeitor, Eternus se pôs à frente da abertura do grande contêiner, que era como um elefante branco na sala. Partiu com sua mão biônica os cadeados que o trancavam, para logo então ser coberto por uma montanha de cápsulas das drogas K45, o entorpecente mais frequente nas regiões periféricas de New Henrich.

    Nadou por cima dos narcóticos, tão grande que era o montante sobre ele jogado como onda fosse. Limpando-se, marchou em direção da dupla porta de madeira no fim daquele grande depósito, pois pensava que talvez aquela porta o levasse rumo ao grande chefe da organização. Elas não estavam trancadas, e uma vez abertas, apresentavam um longo corredor bem iluminado, com carpetes, azulejos e até quadros que ornavam as suas paredes. Quem quer que fosse que comandava aquela quadrilha, era homem de refinadíssimo gosto.

    Os quadros pareciam contar uma história, um após o outro. Eternus os observava curiosamente, pois, de fato, era a primeira vez que tão de perto via obras de artes sutis daquele jeito. O primeiro dos quadros mostrava um comandante duma tropa de cavaleiros, guiando-os para a batalha. O segundo, dois exércitos se enfrentando. O terceiro, dois guerreiros combatendo sobre o mar de corpos de ambos exércitos. O quarto, apenas um soldado, caído no chão, lamenta com o punho apontado para o céu. O quinto, mostra aquele primeiro cavaleiro, comandante do primeiro exército, sendo condecorado e honrado em público, como vitorioso da batalha. Nenhum dos quadros escondia atrás de si um cofre secreto ou algo do tipo, que era de fato a principal busca do policial robô. Ele é um policial, afinal de contas, por curioso que fosse como robô.

    Enfim, aquela sequência toda de quadros guiou o policial eterno até outra porta dupla, igual à primeira pela qual passara, e esta também se encontrava aberta. Na verdade, estava só encostada, como se, pela pressa, quem quer que tenha passado por lá não se preocupou de fechar as portas. Cuidadosamente, Eternus a abriu, entrevendo meio à escuridão sala adentro se havia algum inimigo, ou não, mas sem respostas. Abriu-a por completo, e adentrou furtivamente, sem ligar as luzes.

    Este parece ser o escritório do chefe… Ou, Nabuk”. No centro do escritório, encontrava-se uma grande mesa, com gavetas e tudo, e à sua retaguarda uma poltrona de couro negro, atrás da qual, uma estante contendo muitos livros, de diversos gêneros, desde química elementar até literatura infantil.

    Procurava pelas gavetas qualquer informação que o ligasse à morte de Daniel. Pastas, fotos, o que fosse. Da gaveta mais alta até a mais escondida, do canto ao centro da sala, até por cima dos armários. O escuro não o atrapalhava, pela visão biônica que tinha. Mas ainda estava difícil achar qualquer coisa. “Talvez não haja nada aqui… Mas agora temos ao menos um bom caminho para achar o culpado. O departamento dos detetives também tem culpa nisso tudo. Impossível que, sem ser por negligência voluntária e consentida, não tenham visto isso tudo”.

    E enquanto, agachado no chão, procurava pelas gavetas, ouviu por detrás de si uma porta a se abrir. Não era a porta donde viera, mas uma ao lado, que por desatenção não tinha notado. Uma porta de saída de emergência. Rapidamente, Eternus escondeu-se num armário em que pudesse caber, o primeiro dentre os tantos que havia lá. “Não é um dos elementos criminosos. É o próprio chefe que vem aí!”.

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