Capítulo 10- Arauto Silencioso
Laab observava as três relíquias à sua frente com um semblante indeciso — mas também cheio de curiosidade, especialmente em relação ao anel que devorava a luz como uma fera sedenta por claridade.
Ele sentia que aquele anel era totalmente diferente das outras relíquias. Sabia que a gládio de lâmina vermelha havia sido forjada pelo clã Valtross, e que o arco com meias-luas entalhadas no cabo era uma relíquia antiga.
Mas o anel… o anel carregava uma sensação estranha — e familiar.
Laab voltou o olhar para Beelzebuth… e sentiu o mesmo desconforto nauseante. Um toque de desordem. Voltou os olhos novamente para o anel.
“É a mesma sensação de desordem…”
A desordem que sentia vindo de Beelzebuth era diferente daquela que emanava do anel. A primeira era o caos absoluto — como se, onde quer que ele estivesse, algo terrivelmente bom ou terrivelmente ruim estivesse prestes a acontecer.
Já o anel… parecia incompleto. Como se algo faltasse nele.
Ou alguém.
Então Laab olhou para o anel mais profundamente e notou algo.
O anel parecia ficar invisível quando a sombra de Laab caía sobre ele — era como se o anel se fundisse às sombras dele.
“Não é ônix… são sombras!”
Sombras.
Apenas sombras.
Um anel de sombras.
O anel não desaparecia — apenas se juntava às sombras que se projetavam sobre ele.
— Onde conseguiu isso? — Laab apontava para o anel enquanto olhava para Beelzebuth.
Relíquias feitas de sombras eram raras. Poucas relíquias das sombras foram encontradas até agora, e todas tinham encantamentos fracos. Por conta disso, não eram o tipo de relíquias que se buscavam avidamente.
Beelzebuth pausou por alguns segundos e mudou seu semblante para seu sorriso demoníaco.
— Você não precisa saber.
Laab deu de ombros.
— Quais são seus encantamentos e defeitos?
Laab estava tentado a pegar o anel, mas antes ele precisava saber o que eles faziam.
Beelzebuth respondeu de imediato, sem hesitar ou fazer suas típicas pausas para sorrir.
— A espada é uma relíquia forjada, chamada de Lâmina Incandescente dos Valtross. Seu encantamento permite conjurar fogo ao atingir o inimigo. É uma espada padrão, geralmente entregue aos guardas do clã Valtross.
— O arco é uma relíquia antiga, chamada Arco da Meia-Noite. Seu encantamento permite que o portador enxergue na escuridão total enquanto estiver empunhando-o. Seu defeito, no entanto, é que o usuário precisa dormir no mínimo doze horas por dia.
Beelzebuth pausou, olhando para o anel por alguns instantes, e começou a sorrir satanicamente.
— Essa é uma relíquia antiga, chamada Arauto Silencioso. Seu encantamento permite que o usuário transforme o anel em qualquer arma, desde que a domine.
Ele pausou, sorrindo ainda mais diabolicamente.
— Seu defeito: realça as sombras do usuário.
“Realça as sombras do usuário?”
Laab franziu a testa.
— O que isso significa?
— Não faço a menor ideia. — sátirizou Beelzebuth.
‘Por que eu acho que ele sabe exatamente o que esse defeito faz?’
Laab se aproximou de sua mochila, a abriu, pegou uma garrafa de água e deu um gole.
— Qual você vai escolher? — Beelzebuth perguntou novamente, agora impaciente.
Laab olhou para Beelzebuth, depois voltou o olhar para as três relíquias.
Ele analisou todas as variáveis que conseguia imaginar na escolha de cada uma delas.
Escolher o Arco da Meia-Noite, na opinião de Laab, era a pior opção — ele simplesmente não sabia usar um arco. Além disso, perder doze horas do dia dormindo era algo com que ele não poderia lidar.
A melhor escolha seria a Lâmina Flamejante dos Valtross, principalmente por ser mais simples de aprender a usar, além de possuir grande poder e não apresentar defeitos por ser uma relíquia forjada.
Já o Anel das Sombras era, ao mesmo tempo, a melhor e a pior escolha.
Afinal, poder conjurar qualquer arma — desde que soubesse usá-la — era praticamente ter um arsenal inteiro na palma da mão.
Mas Laab simplesmente não sabia o que o defeito daquele anel fazia.
Ele guardou a garrafa de volta na mochila e se aproximou do anel.
Olhou para ele profundamente.
“Eu preciso fazer o destino me tornar especial…”
Laab respirou fundo.
Ele pegou o anel de ônix sem hesitar. Era frio ao toque.
Girou o anel entre os dedos, tentando entender sua forma.
O anel era feito de pura sombra. Sem inscrições. Sem brilho. Sem material visível.
Era sombra — e apenas sombra.
“Deuses, por que eu estou tentando encontrar significado nas palavras desse louco?”
— Eu escolho esse… eu acho — disse Laab, ainda meio indeciso.
Beelzebuth sorriu ainda mais.
— Ponha em seu dedo.
Laab engoliu em seco.
“Vamos acabar logo com isso.”
Laab o colocou no dedo indicador da mão direita.
“Arauto Silencioso.”
Uma voz inumana ressoou dentro de sua mente.
Laab estremeceu.
Era como se uma frente fria tivesse atravessado sua alma.
Ele afastou o frio gélido de seus pensamentos e olhou diretamente para o anel.
“Prazer em te conhecer… pera, por que eu tô falando com um anel?”, pensou, como se falasse diretamente com a relíquia.
Quando alguém se tornava portador de uma relíquia, algo — ou alguém — em sua mente sussurrava o nome dela. Um eco distante. Uma revelação silenciosa.
Mas havia algo diferente dessa vez.
Os relatos diziam que a sensação era semelhante a lembrar de algo esquecido — como reconhecer um nome antigo. Apenas isso.
Mas não agora.
Laab sentiu… mais. Como se o Arauto Silencioso não fosse apenas uma ferramenta. Como se fosse parte dele.
Não — como se algo dentro dele tivesse sido arrancado e fundido àquela sombra viva.
Ele então olhou para o chão. Para sua sombra.
Ela parecia maior. Mais densa. Mais antiga. Mais… evidente.
“Realça as sombras do usuário…”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.