Capítulo 12- Maldição da Determinação
O cheiro de álcool impregnava as narinas de Laab, e a luz alaranjada da iluminação trazia uma sensação enganosa de relaxamento. Mas ele não se permitiu baixar a guarda. Estava com Beelzebuth — a pessoa mais misteriosa, perigosa e poderosa que já conhecera. E também havia Jito Valtross, alguém que ele não conhecia. Mesmo parecendo inofensivo, Laab mantinha a cautela. Afinal, qualquer um que fosse amigo de Beelzebuth não merecia confiança.
— O que estamos fazendo aqui, Beelzebuth? — perguntou Laab, impaciente.
Beelzebuth virou-se para ele, e seu sorriso se alargou ainda mais, tornando-se perigosamente diabólico.
— Vocês dois estão me devendo favores. — Seus olhos passaram de Laab para Jito, e o sorriso ficou ainda mais largo. — E eu preciso que façam algo para mim.
Laab já esperava que Beelzebuth cobraria os favores — desde salvá-lo e a Cibele de um ataque demoníaco até ajudá-lo a se tornar um serafim.
Ele lançou um olhar de relance para Jito, que estava sentado ao seu lado.
“O que será que Beelzebuth fez por ele…” pensou Laab.
Jito também lançou um olhar para Laab, com a mesma dúvida em mente.
“O que será que Beelzebuth fez por ele…” pensou Jito.
Laab arqueou uma sobrancelha e perguntou:
— O que você precisa?
Nesse momento, o garçom chegou com as três bebidas.
Eram de um azul vibrante e profundo, como gelo tingido por sangue. Laab reconheceu imediatamente. Aquelas bebidas custavam uma fortuna — feitas com o sangue de um demônio de grau Marques. O primeiro a ser morto pela humanidade.
A Grande Geada.
Beelzebuth colocou dois copos à frente de Laab e Jito. Enquanto dava um gole no seu próprio, soltou um suspiro longo e satisfeito.
— Vocês sabem por que estou ajudando vocês? — perguntou ele, olhando para os dois com um olhar convencido e enigmático.
“É realmente curioso… Quando perguntei isso a ele, ele só disse que queria trazer o verdadeiro caos ao mundo. Ou alguma merda desse tipo. E que eu poderia ajudá-lo nisso. Mas… por que Beelzebuth — um ser infinitamente mais poderoso do que eu — se incomodaria em me ajudar?” refletiu Laab, olhando para o líquido azul como se ele pudesse conter as respostas.
Laab acenou com a cabeça indicando que não sabia
Jito ao lado dele fez a mesma coisa.
— Vocês dois têm sonhos impossíveis. — Seus olhos pousaram em Laab. — Você quer criar um mundo onde não exista morte. — Deu outro gole e se virou para Jito. — E você quer ser verdadeiramente livre.
Jito olhou para Laab com uma expressão estranha. Estava estampado em seu rosto o que pensava:
“Criar um mundo onde a morte não exista? Ele é louco?”
Ele girou o copo lentamente sobre a mesa.
— E o que isso tem a ver com a gente estar aqui?
Beelzebuth sorriu — aquele sorriso que parecia esconder séculos de segredos.
— Tudo. Eu sei como realizar os sonhos de vocês. E, ao fazer isso, meu próprio desejo também se realiza. Entendem?
— E qual é o seu sonho? — perguntou Laab.
Beelzebuth fixou os olhos nele.
— Eu já não disse isso?
Ele recitou como se fosse um mantra:
— Fora da existência, o Caos reinava. Mas, quando tudo começou, ele foi esquecido… até ser lembrado. E, então, esquecido novamente.
— Eu só quero mudar isso.
Girou o copo, observando o líquido azul gélido girar em espiral.
— Quero ir para fora da existência… ou trazer o verdadeiro caos de volta ao mundo. Para qualquer um desses caminhos, preciso ser forte. Muito forte. E, para isso, preciso de companheiros tão determinados quanto eu.
Tomou mais um gole.
— É por isso que gosto de vocês. Vocês carregam a maldição da determinação. Estão dispostos a fazer qualquer coisa para alcançar seus objetivos.
— É desse tipo de pessoa que eu preciso ao meu lado.
“Ir para fora da existência? Verdadeiro caos? Maldição da determinação? Deuses… por que eu ainda tento entender esse cara?”
“Ele quer dizer ir para fora do universo? Para algo além disso? Se esse lugar realmente existe, então não deveria ser o “nada”?”
“Um lugar assim simplesmente não deveria existir… mas, ao mesmo tempo, faz sentido que exista. Antigamente, antes dos demônios, os humanos acreditavam que o universo nasceu de uma “explosão”. Talvez nem acreditassem de verdade. Esse conhecimento se perdeu há décadas.”
A cabeça de Laab começou a doer ao tentar entender o que Beelzebuth queria dizer.
“Verdadeiro caos? O mundo já não está em puro caos?”
“Maldição da determinação…”
Laab sentia que podia entender o que Beelzebuth quis dizer com isso.
Quando Laab ia dizer o que queria a Beelzebuth, lá no hospital, ele pretendia simplesmente dizer que queria ser forte. Muito forte.
Mas algo mudou em sua mente, como se fosse um sussurro.
Mesmo que ele se tornasse o mais poderoso, seus entes queridos ainda morreriam — de velhice, de doença, de forma lenta ou abrupta.
O único jeito de impedir isso… era destruir a própria morte.
E, a partir desse momento, ele faria qualquer coisa para alcançar esse objetivo. Não importava quem tivesse que matar. Não importava se ele mesmo tivesse que morrer.
Era como se estivesse amaldiçoado.
Amaldiçoado por uma determinação infinita para realizar um sonho impossível.
Ele olhou para a taça de vidro à sua frente. O líquido azul cintilava sob a luz fraca do ambiente. Tocou a borda com os dedos e sentiu o frio cortante se espalhar pela pele.
Hesitante, ergueu o copo até os lábios e tomou um gole.
O líquido desceu pela garganta, trazendo uma sensação refrescante. O teor alcoólico não era tão forte — era mais gélido do que quente, o oposto do que esperava de uma bebida alcoólica.
Uma sombra atravessou o rosto de Laab. Ele se lembrou da primeira vez que Omar e Cibele experimentaram aquela bebida, o “Inferno Gelado”.
“Omar ficou tão bêbado que eu e Cibele tivemos que dar banho nele.”
Ele sorriu de leve, nostálgico.
— Pelo visto, você não resistiu, garoto. — Beelzebuth deu um último gole e estalou a língua. — Essa é minha favorita.
O olhar da entidade pousou no jovem de cabelos castanhos desgrenhados e olhos âmbar. Alternou o foco entre o garoto e a taça, repetindo o movimento algumas vezes com um ar divertido.
Jito bufou, resignado, pegando a taça com o líquido azul.
— Eu bebo… mas só um copo.
Beelzebuth sorriu.
Jito ergueu a taça até os lábios e deu um gole. Seus olhos se fecharam brevemente, e ao repousar a taça sobre a mesa, tossiu discretamente. Laab e Beelzebuth sorriram com a reação.
Laab desviou o olhar para o homem de aparência imponente — seus cabelos loiros curtos e postura altiva o destacavam como alguém que não devia ser subestimado.
“Qual será o grau dele? Ele tem uma presença muito forte… deve ser além de Amesh. Provavelmente um Potestade ou até mesmo um Anjo.”
Pensou mais um pouco, observando com atenção.
“Sim… ele deve ser um Potestade. Existem apenas quinze Anjos confirmados pelas Igrejas. Se houvesse outro, ele já teria sido notado.”
Laab levantou a taça e deu outro gole no líquido azul cintilante.
“Ele deve ser um Potestade recente… deve ter avançado há poucos dias, talvez semanas.”
— Você já tem algum favor em mente? — perguntou Laab a Beelzebuth.
O demônio fez uma breve pausa, depois acenou para o garçom. Em seguida, voltou seu olhar para Laab e Jito.
— Na verdade, tenho dois — disse, interrompendo-se novamente quando o garçom se aproximou. Pediu mais três Infernos Gelados. Quando o garçom se afastou, prosseguiu: — O primeiro vocês devem concluir amanhã. Já o segundo…
Ele fez uma pausa longa, deixando a música abafada do bar preencher o silêncio e ressoar nos ouvidos do trio. A tensão se instalou entre Laab e Jito.
‘Cacete… ele sabe mesmo criar um clima sombrio.’
— O segundo eu direi quando completarem o primeiro — finalizou Beelzebuth, no instante em que o garçom retornou com três novas taças do líquido azul cintilante.
Laab deu um longo gole em sua taça, depois fez um gesto para que o garçom levasse o copo anterior. Pegou a nova taça, segurando-a com firmeza — o frio cortava seus dedos como pequenas lâminas de gelo.
— E qual é o primeiro? — perguntou, olhando para Beelzebuth.
O demônio o encarou com seus olhos completamente brancos, impassíveis como mármore antigo.
— Quero que vocês explorem a Biblioteca de Alexandria.
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