Capítulo 13- Peso do Conhecimento
— Quero que vocês explorem a Biblioteca de Alexandria. — Beelzebuth respondeu com seu típico sorriso diabólico iluminado pelas luzes alaranjadas do bar.
Laab franziu a testa, intrigado. Jito também ergueu uma sobrancelha, igualmente confuso.
“Biblioteca de Alexandria…? Onde eu já ouvi esse nome?” Laab pensava tentando se lembrar.
“Tinha uma biblioteca com esse mesmo nome em Osíris… pelo que eu estudei, Alexandria era uma cidade de antes do ataque demoníaco… tenho quase certeza de que Beelzebuth não quer que exploremos essa biblioteca em Osíris…”
— Que lugar é esse? — Jito antecipou a pergunta que Laab estava prestes a fazer, levantando uma sobrancelha.
— Há milênios, essa biblioteca guardava milhares de livros, artigos científicos, jornais e muitas outras coisas — respondeu Beelzebuth, com um tom como se falasse um conhecimento geral. — Todo o conhecimento que a humanidade possuía até aquele momento estava reunido ali.
Fez uma pausa, tomou um gole da bebida azulada e continuou:
— Dizem que foi a Fonte do Conhecimento e seus adoradores quem criou aquele lugar.
Algo se acendeu na mente de Laab. Ele franziu os lábios levemente, como se tivesse se lembrado de algo importante.
A Biblioteca de Alexandria… a maior do mundo antigo. Uma maravilha perdida no tempo, destruída por um reino esquecido, engolida pelas chamas. Mas nem tudo fora consumido — alguns livros resistiram, sobrevivendo até os dias atuais, como se o próprio conhecimento se recusasse a ser apagado da existência.
“Provavelmente era um templo usado para adorar a Fonte do Conhecimento e os livros talvez sejam presentes Dele… por isso resistiram tanto tempo.”
A Fonte do Conhecimento era um dos Sete Deuses que desceram para ajudar a humanidade quando os demônios surgiram.
“Mas o que Beelzebuth quer num lugar como aquele? Talvez seja alguma localização de alguma relíquia? Aprender um ritual para aumentar seu próprio poder? Mesmo assim, ele poderia resolver isso ele mesmo, seria mais rápido, mais seguro e mais eficiente… por que manda um serafim inexperiente e um membro do clã do Valtross?”
Beelzebuth continuava um mistério insolúvel para Laab.
Laab e Jito o encararam com ainda mais curiosidade. Pelo olhar do companheiro, Laab percebeu que Jito havia chegado à mesma pergunta.
Vendo isso, Beelzebuth respondeu com calma:
— Conhecimento gera mudança, e mudança é poder.
Suas palavras eram profundas, cheias de um significado escondido que apenas ele entenderia, mas por algum motivo Laab sentia familiaridade com elas, como se já tivesse ouvido aquilo milhares de vezes.
Antes que pudesse continuar, duas pessoas entraram no bar Olho de Gárgula.
Uma mulher alta, por volta dos vinte e sete anos, usava os cabelos castanhos presos num rabo de cavalo. Sua pele era alva, e os olhos castanho-escuros, profundos, estavam marcados por enormes olheiras. Ela exalava uma aura de conhecimento, insônia e exaustão.
Vestia um longo casaco preto até as canelas, um colete vitoriano amarelo e calças pretas no mesmo estilo.
Ao seu lado, caminhava um jovem de cerca de vinte anos, com cabelos ruivos curtos, olhos verdes e o rosto coberto de sardas. Assim como a mulher, exibia olheiras profundas — marcas da exaustão constante. Vestia-se de forma idêntica a ela.
Ambos se sentaram em uma mesa próxima à entrada. O jovem levantou a mão com as últimas gotas de entusiasmo juvenil, agora consumidas pelo trabalho árduo.
“Buscadores do Conhecimento… devem estar descansando… mas se eles estão apenas relaxando, por que estão de uniforme?”
Ele os observou por um momento, depois desviou o olhar para Beelzebuth.
Sua silhueta havia mudado um pouco. Seus ombros estavam menos largos e parecia que a luz em todo o bar estava mais fraca. Sua presença também havia mudado.
Laab não tinha experiência o suficiente para sentir a presença de alguém, mas mesmo assim Beelzebuth tinha uma presença muito notável e caótica, mas agora parecia que estava menos notável e mais calma.
“Aparentemente ele estava fugindo dos Buscadores do Conhecimento… não, provavelmente deve ser um fugitivo do governo e das igrejas… se fosse dos Buscadores do Conhecimento ele não ousaria pisar em uma cidadela sob a jurisdição da Igreja do Conhecimento…”
Os Buscadores do Conhecimento eram a equipe treinada pela Igreja do Conhecimento, que glorificava a Fonte do Conhecimento — o deus da sabedoria. Após a “estabilização” da humanidade, sete catedrais foram erguidas nos territórios restantes da civilização.
Cada uma delas recebeu soldados e discípulos, preparados para missões específicas. Os Buscadores se dedicavam a estudar livros antigos, decifrar escrituras e recuperar relíquias. Já, por exemplo, a Igreja dos Caídos, que treinava os Ceifadores dos Mortos, preparava seus membros para lidar com fantasmas, zumbis e outras aberrações necromânticas.
“Faltam menos de três meses para a prova de secretário dos Buscadores do Conhecimento de Nova Osíris…” pensou Laab, girando lentamente seu copo.
Sempre amou aprender, especialmente sobre a antiguidade. Mas tornar-se um Buscador oficial era perigoso demais — e isso preocuparia Omar e Cibele. Por isso, decidiu tentar se tornar secretário da equipe em Nova Osíris. Assim, não participaria de missões de campo, mas teria acesso a todos os livros e documentos da igreja.
Seu semblante escureceu.
“Como Cibele está?”
Um aperto tomou seu peito. Ele olhou para Beelzebuth, que chamava o garçom para pedir a conta.
“Ela deve me odiar…”
Mas, no fundo, Laab sabia que Cibele jamais o odiaria. Ele, Omar e Cibele eram como irmãos — inseparáveis. E Cibele sempre teve um coração doce e gentil. Mesmo assim, era mais fácil imaginar que ela o odiava por tê-la deixado para trás do que aceitar que ela poderia estar sofrendo com sua ausência.
— Já está bem tarde. Aluguei um quarto para cada um de vocês. Descansem. Amanhã será um dia cheio — disse Beelzebuth, quando o garçom chegou com a conta.
Jito o encarou com a testa franzida e os olhos cheios de irritação.
— Eu que paguei os quartos. E sou eu quem vai pagar a bebida!
Beelzebuth o observou em silêncio por alguns segundos.
— Mas fui eu que escolhi os quartos…
Laab, Jito e Beelzebuth caminhavam entre os prédios imponentes de concreto que formavam gigantes como ônix por conta da luz alaranjada do ponto mais brilhante no céu.
Passaram por um parque onde acontecia uma festa infantil. Havia brinquedos, doces e comidas que as crianças adoravam.
Laab sorriu levemente. Lembrou-se de quando era pequeno e passava tardes inteiras brincando em festas como aquela.
Snif Snif Snif
Uma menina de no máximo 6 anos, com tranças laranjas e olhos castanhos claros, choramingava na frente de uma bela mulher com cabelos laranjas que chegavam até sua bunda e olhos castanhos claros, que olhavam para a criança com autoridade.
Logo, o som do choro da menina sumiu dos ouvidos aguçados de Laab.
Diante deles surgiu um prédio com um letreiro: Motel Nefraja.
Beelzebuth olhou para Laab e Jito.
— É aqui.
Laab e Beelzebuth deram um passo à frente, mas Jito hesitou, com um olhar de nojo e repulsa. Balançou a cabeça, como se afastasse o mau pressentimento, e os seguiu.
No saguão do motel, Laab avistou uma jovem loira de olhos castanhos, vestindo um uniforme preto.
Ela olhou para Laab. Jito desviou o olhar, corando um pouco. Beelzebuth se aproximou e, após alguns minutos, voltou girando três chaves no dedo indicador.
— Você fica no quarto 303 — disse, olhando para Laab. Depois se voltou para Jito: — Você, no 304.
— Eu fico no 305.
Laab entrou no quarto.
Era simples: uma cama, uma televisão e um banheiro. Sentou-se na cama e ligou a TV. Foi trocando de canal até parar no canal de cidadela local.
— Em três semanas, três pessoas diferentes foram mortas em Gévaudan, na França; Zardak, no Afeganistão; e Nova Osíris, aqui no Egito. Todos estavam em algum tipo de ritual sangrento desconhecido. As igrejas já estão investigando. O mais provável é que um novo culto tenha surgido.
“Foi um culto, então…”
Na era dos deuses e demônios, ainda havia humanos que adoravam entidades malignas — deuses antigos que, segundo as pesquisas, quase levaram a humanidade à extinção há milhares de anos, durante a guerra contra os deuses atuais.
Um dos mais conhecidos era o culto dos Sábios da Loucura, adoradores do Sábio Louco.
“Quando eu ficar mais poderoso eu mesmo irei investigar…”
Laab assistiu por mais alguns minutos, depois desligou a TV e foi tomar um banho quente. Após se secar, vestiu uma calça de moletom e uma camiseta regata. Deitou-se e, pouco depois, adormeceu.
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