Capítulo 15- Verdadeira Alexandria
— Eu realmente odeio esse cara.
— Toma cuidado. E se ele ouvir? — Jito disse, preocupado.
Laab apenas ignorou e caminhou até a entrada nas ruínas de Alexandria.
O prédio já havia sido abandonado há mais de dois mil anos, mas, por algum motivo inexplicável, nunca caiu — apenas algumas partes.
A Biblioteca de Alexandria deveria ser o local mais famoso entre os estudiosos. Laab conseguia ouvir o farfalhar das páginas sendo viradas, como se aquele som tivesse sido gravado eternamente na biblioteca.
Quando entrou nela, em vez de ver inúmeras pessoas estudando, ele apenas viu ruínas e escombros.
Laab tremeu um pouco e sentiu uma dor latejante na cabeça.
Jito, que estava ao lado dele, parecia sentir a mesma coisa.
— Vou ver esse lado e tentar achar algo — Jito, que estava com a postura sempre ereta, quase como se fosse algum tipo de doença na coluna, disse, curvando um pouco sua coluna.
— Mas procurar o quê? Aquele desgraçado nem nos dá algum tipo de dica! — Laab disse, com irritação.
Jito apenas deu de ombros, fazendo Laab revirar os olhos.
Ele se aproximou dos escombros de algum tipo de estante de livros que havia sido queimada há milhares de anos.
Laab passou o dedo e viu apenas poeira em seu dedo. Então ele viu um caractere na estante.
Havia alguma gravura na estante!
Ele soprou a poeira da madeira. A gravura parecia ter sido feita por alguém desesperado, que nem sequer teve tempo de escrever corretamente, e começou a ler:
“Discernimento. Nem que seja um pouco. Não entre aqui. Caso saiba. Saber é o maior dos pecados.”
Laab franziu a testa.
“Quem escreveu isso? Parece um louco… Saber é o maior dos pecados… Não entre aqui caso saiba. Mas saber o quê?”
Muitas coisas passaram pela cabeça de Laab.
— QUE?! — Jito gritou.
Laab deu um pulo, expulsando todos os pensamentos da mente. Virou-se para Jito, que estava olhando fixamente para onde eles haviam vindo.
Então estalou os dedos, fazendo o Arauto Silencioso formar o gládio de sombras, enquanto se virava e olhava na mesma direção que Jito.
— MAS QUE PORRA É ESSA?! — Laab também gritou.
A saída havia sumido.
Parecia que eles estavam em outro mundo.
Um corredor enorme havia aparecido.
Ele se estendia por centenas de metros — tão alto e longo que Laab, mesmo com sua visão quase perfeita após se tornar um Serafim, não conseguia sequer imaginar onde terminava.
Mas o que mais chocou Laab foram as paredes.
Livros.
Estandes infinitas de livros.
Era como se o mundo inteiro fosse aquilo.
Corredores ilimitados de estantes.
Laab também percebeu algo ainda mais perturbador: as estantes, além de conterem livros, eram feitas de massa encefálica!
Era como se estivessem dentro de um cérebro — e todo o conhecimento estivesse armazenado naqueles livros.
Laab começou a ficar ofegante.
“Não entre aqui caso saiba… Pelo que parece, eu e Jito sabemos. Mas sabemos o quê?”
— Onde estamos? — Laab virou-se para Jito, tentando entender se ele sabia algo que ele próprio não sabia.
Jito fez uma expressão estranha, como se tivesse compreendido alguma coisa… mas logo ela foi substituída por uma expressão de dúvida.
— Você sabe de alguma coisa? — Laab perguntou novamente.
Jito se virou e voltou para onde estava investigando. Fez um gesto com a mão, chamando Laab para segui-lo.
Jito se agachou e apontou com o dedo.
— Olha.
Laab, já ao lado dele, se curvou um pouco. Viu uma gravura parecida com a que encontrara antes — mas esta parecia mais antiga.
“A biblioteca nunca foi queimada. Nenhum tolo seria capaz de queimar o conhecimento infinito da Verdadeira Biblioteca de Alexandria.”
“Verdadeira Biblioteca de Alexandria…”
Laab se virou e observou novamente as enormes estantes feitas de massa encefálica. Aparentemente, aquela era a verdadeira Biblioteca de Alexandria. E quem havia escrito as duas inscrições parecia ser a mesma pessoa — as letras nas gravuras eram quase idênticas.
A maior diferença era o tom.
A que Laab encontrara parecia ter sido escrita por alguém desesperado — mas não por medo, e sim como se estivesse avisando alguém. Avisando que saber era o maior dos pecados.
Já a inscrição que Jito havia descoberto parecia mais calma, como uma anotação para que alguém nunca esquecesse.
— O que fazemos? — Jito, já de pé, perguntou, colocando a mão no ombro de Laab.
Laab respirou fundo.
O que eles poderiam fazer?
Estavam em algum tipo de dimensão antiga, onde a maior e mais enigmática biblioteca da história residia.
A biblioteca com o maior acúmulo de conhecimento e segredos já registrados.
O que dois jovens Serafins, em busca de sonhos impossíveis, e que precisavam de um poder colossal para realizá-los, fariam em um lugar como aquele?
Um lugar onde todos os livros antigos sobre artes marciais, técnicas de esgrima, instruções para sobreviver às situações mais perigosas e até segredos para avançar mais rápido pelos graus divinos… estavam ao alcance das mãos.
Os olhos de Laab brilharam.
Ele poderia pensar em uma maneira de sair depois.
— Vamos ler. Tem outra coisa além disso? — Laab sorriu de canto, olhando para Jito.
“Curiosidades sobre os Graus Divinos — Primeira Edição.
Um Serafim pode ficar, em média, de 60 a 90 dias sem comer, e de 5 a 7 dias sem beber água, enquanto um humano normal resiste entre 30 a 60 dias sem comida e de 3 a 5 dias sem água.”
Laab estava lendo muitos livros e já havia empilhado vários deles. Entre os títulos, estavam:
“Técnicas de Espadas para Iniciantes — Volume Único”
“Como Cozinhar com Qualquer Coisa — 2ª Edição”
“Enciclopédia de Criaturas — Edição Definitiva”
Jito, que estava próximo dele, ficou encarregado de montar algum tipo de base para os dois — depois de perder no jokenpô para Laab.
“Existem três métodos para se tornar um Serafim: Beber o sangue concedido por uma Divindade, Beber o sangue de um demônio, Ritual de purificação de sangue demoníaco.”
“Então é verdade mesmo…” — pensou Laab, encarando a página.
— Podemos fazer esse treinamento. — Laab mostrava a página do livro “Técnicas de Espadas para Iniciantes — Volume Único.”
— Acho que si— Jito foi interrompido por um barulho agudo e extremamente alto, fazendo Laab se ajoelhar imediatamente.
O som parecia o grito de mil crianças, todas berrando ao mesmo tempo com o máximo de força. Laab sentiu como se seu cérebro fosse começar a sangrar.
Então ele viu de onde o som vinha.
Parecia ser um homem — ou pelo menos deveria ser.
Ele possuía todas as características de uma pessoa normal do pescoço para baixo. Mas sua cabeça não existia.
No lugar dela havia um cérebro enorme, com formato semelhante a uma couve-flor grotesca.
Olhos.
Centenas de olhos.
Olhos pulsando pus espalhados pela superfície do cérebro demoníaco, como se a própria pele cerebral fosse composta por globos oculares infeccionados.
E todos eles estavam olhando para Laab e Jito.
O olhar da criatura fez ambos estremecerem.
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