Capitulo 2- Depois da morte…
Laab havia arrumado a última mesa da cafeteria quando os primeiros clientes começaram a chegar.
— Olá, senhor Nakara.
Um senhor calvo de meia-idade, com olhos cinzentos e profundos, e um sorriso simples e simpático no rosto, vestindo roupas modestas, respondeu com gentileza:
— Bom dia, jovem. Aquela flor de que você me falou… ela está bem? Depois das minhas recomendações?
Laab tinha um pequeno canteiro de flores na sacada de casa, onde cultivava algumas plantas e flores. Ele sorriu com orgulho.
— Ela está ótima, e ainda mais bela do que antes. Veja.
Laab pegou o celular e mostrou a foto de uma flor vermelha vibrante — um lírio-da-aranha-vermelho.
— Que fascinante… Poderia me trazer uma xícara de café preto e um pão branco?
— É pra já, senhor Nakara.
Enquanto preparava o pedido do cliente de meia-idade, Laab percebeu que uma jovem entrou na cafeteria. Ela tinha cabelos longos e negros com as pontas amarelas, pele clara salpicada de sardas, e usava um moletom bege com uma saia azul escuro.
Laab sorriu, se aproximando de Omar:
— Ela chegou.
Omar olhou para Laab e depois para a jovem, que estava sentada sozinha, escrevendo em seu caderno. Seus olhos brilharam, e um sorriso discreto surgiu em seu rosto.
— Eu vou entregar o pedido agora.
Cibele, que estava ali perto, deu uma risadinha. Ela preparou o pedido do senhor Nakara enquanto Omar se dirigia até a mesa da jovem para entregar o café e, quem sabe, começar uma conversa.
— Eu acho eles fofos. Como está o Vance? — perguntou Laab a Cibele, enquanto lavava a louça. — E por que, mocinha, você chegou tão cedo e parece tão cansada?
O rosto dela ficou vermelho, e um sorriso envergonhado apareceu.
— Cala a boca…
Laab a olhou com o sorriso típico de um irmão mais velho.
— Eu gosto do Vance. Ele é bom pra você. Mas se ele fizer merda—
— Eu sei, eu sei — ela o interrompeu, rindo —, você vai quebrar a perna dele se ele me machucar… Não se preocupe, foi você que me ensinou a me defender.
Ela pausou por uns cinco segundos e, com um tom sarcástico, acrescentou:
— Não confia no que me ensinou?
Laab riu.
Ele tinha um talento natural para lutas. Aos dezoito anos, venceu um torneio de MMA. Agora, no entanto, estava focado em entrar para a faculdade de História Antiga. Por causa disso, havia deixado os treinos de lado para se concentrar nos estudos.
Depois de terminar a louça, Laab pegou alguns limões e os espremeu em um jarro para fazer limonada.
Enquanto preparava a bebida, Laab ouviu um som alto — mas ao mesmo tempo silencioso. Ele não sabia dizer exatamente como descrever, mas sentia aquilo dentro da própria cabeça. E o som… só se intensificava.
Parecia um prelúdio da morte.
Algumas horas se passaram, e a lua estava próxima de seu zênite. Laab ainda escutava aquele som estranho. Tentou ignorá-lo quando um cliente entrou na cafeteria.
Era um homem de cerca de quarenta anos, cabelos loiros curtos e cavanhaque. Seu porte era médio, mas forte, e ele era bem alto. Vestia um grande casaco preto. Por baixo, uma camisa social cinza e calça de terno escuro.
Laab se aproximou dele, mas não sorriu como de costume ao anotar o pedido dos clientes. Não só por causa do som, mas também por causa da presença inquietante daquele homem. Havia algo… errado.
— Bom dia, senhor. O que gostaria de pedir?
O homem o encarou com um sorriso simples — comum — mas Laab teve a clara impressão de que era falso.
“Que cara estranho…”
— Eu gostaria de um cappuccino e um pedaço de bolo de limão.
Laab anotou o pedido e, ao virar de costas, o homem falou novamente:
— Você está ouvindo isso? Esse som?
— O quê?
“Ele ouve isso?”
— Esse som agudo… mas tão silencioso.
Laab hesitou, intrigado, e assentiu lentamente.
— Sabe… — o homem fez uma pausa. Seu sorriso falso se desfez, dando lugar a uma expressão caótica, quase demoníaca — a morte é barulhenta e caótica, mas no fim… só resta um silêncio insondável.
Laab o encarou com seriedade por alguns segundos, sem dizer nada, e então virou-se para preparar o pedido.
“Louco… é só um louco.”
Era isso que Laab achava, mas por algum motivo aquelas palavras soaram como um déjà-vu, fazendo-o sentir uma pontada estranha e dolorida na cabeça.
O som ficou ainda mais agudo — agora estrondoso como um trovão em seus ouvidos, mas incompreensivelmente silencioso.
Laab tentou ignorar, mas sentia que não conseguiria por muito tempo. Aquilo era como um presságio — um sinal da própria morte.
Ele finalmente terminou o pedido do homem e pediu para Cibele entregá-lo.
— Ele falou algo pra você? — perguntou Laab.
— Não. Ele só agradeceu. Por quê? — Cibele inclinou levemente a cabeça para o lado, do jeito que sempre fazia quando estava curiosa.
— Por nada… — Laab desviou o olhar e, tentando mudar de assunto, encarou Omar. — O que você vai fazer no encontro com o amor da sua vida? Na verdade, qual era o nome dela mesmo?
Omar revirou os olhos.
— Ester… Ester Wilcox. — Ele pausou por um momento. — Bem, ela disse que queria ver um filme nos cinemas. Acho que vou com uma roupa casual.
Ele olhou para Laab por alguns segundos, depois virou levemente a cabeça de um lado para o outro. Então olhou para Cibele.
“Ele está insinuando que eu não tenho senso de moda?”
— Cibele, pode me ajudar nisso?
Cibele sorriu.
— Claro. Eu vou até a casa de vocês e escolho uma para vo—
BOOM! BOOM! BOOM!
AAAAAAHHHH!
Um estrondo ensurdecedor sacudiu a cafeteria, seguido por gritos tão altos que pareciam cortar o ar. O chão tremeu, as janelas estremeceram e, por um momento, tudo foi puro caos.
Laab instintivamente olhou para onde o homem de casaco preto estava.
Ele sumiu?
O som que apitava em seus ouvidos, como um prelúdio constante, cessou de repente.
Silêncio absoluto.
Como se o aviso tivesse se cumprido. Como se aquilo que o som tentava alertar… finalmente tivesse acontecido.
Omar e Cibele estavam pálidos, tremendo. Eles olharam para fora, depois para Laab, o coração disparado e o suor escorrendo frio.
Laab também estava em pânico, mas não se permitiu desesperar.
Afinal, ele era o irmão mais velho. Precisava protegê-los.
Ele apontou para os fundos da cafeteria e gritou, com firmeza:
— ENTREM LÁ, AGORA!
Cibele tremia tanto que mal conseguia andar, começando a choramingar. Omar, mesmo trêmulo, se controlou e empurrou Cibele para os fundos.
Laab correu até a parte de trás do balcão. Abaixou-se atrás da caixa registradora e puxou um revólver velho. Pegou também uma caixa com dez balas, carregando seis no tambor e guardando as restantes no bolso.
Com o coração disparado, saiu e olhou pela porta da cafeteria.
E então viu.
Uma criatura com cabeça polposa, corpo humanoide coberto de escamas de peixe e, no lugar dos braços e pernas, longos tentáculos que se contorciam de forma grotesca.
Laab tremeu.
“Um… um demônio!”
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