Capitulo 5- Onde a Morte Não Existe
“Mas que porra foi essa!”
Laab encarava o homem loiro com os olhos arregalados, um sorriso nervoso se formando no canto dos lábios. Sua mente ainda tentava processar o que acabara de acontecer.
Aquele homem havia acabado de emergir de uma miríade de moscas nojentas.
— Q-quem é você?! — perguntou Laab, com a voz trêmula de puro pavor.
O homem loiro o encarou com olhos completamente brancos, como se fosse cego — mas havia algo neles. Uma sensação estranha… paz? Ou seria caos?
— Meu nome é Beelzebuth. E o seu, qual é? — A voz dele permeou Laab como uma névoa espessa, e por dez segundos ele simplesmente… esqueceu o próprio nome.
O homem que se autodenominava Beelzebuth soltou uma risada baixa, divertida.
“Na verdade, isso é realmente engraçado… como alguém pode esquecer seu próprio nome?”
— Eu sou Laab.
Beelzebuth, ainda o encarando, franziu levemente a testa.
— Prazer em te conhecer, Laab.
Então, o silêncio caiu.
Por cinco minutos inteiros, nenhum dos dois disse uma palavra. Laab começou a suar. O homem de meia-idade o fitava fixamente, como se analisasse cada fragmento de sua alma. Procurando algo… ou esperando?
Laab engoliu em seco.
— O-o q-que o senhor quer?
Beelzebuth permaneceu em silêncio por trinta segundos, até responder com um sorriso enigmático:
— Na verdade… o que você quer, Laab?
“Eu quero que você vá embora…”
Vendo que Laab não responderia, Beelzebuth continuou:
— Primeiramente, meus pêsames. Eu não consegui chegar a tempo para salvar o outro garoto.
“Ele me salvou?”
Aquilo soava absurdo. Mas, por mais que Laab não quisesse acreditar em nada do que aquele homem dizia, algo dentro dele dizia que era verdade.
Afinal, ele não teria como derrotar aqueles demônios. Nem mesmo proteger Cibele. E ainda assim, esse homem… esse ser, manteve tudo em segredo. Por quê?
“O que ele quer comigo?”
— Você deve estar furioso, não é? Deve estar com tanta raiva do governo…
— Não. Por que eu estaria com raiva dela? A culpa não foi do governo. Ninguém esperava que um demônio de grau Marques fosse aparecer em uma área relativamente segura.
O homem das moscas olhou para ele com uma expressão de leve surpresa. Depois de alguns segundos, sorriu de canto.
— Então… está com raiva da Arcebispo. Afinal, se ela fosse mais forte, ninguém teria morrido.
— Não… Ela também perdeu pessoas. E mesmo assim, continuou lutando.
“Ela viu seus companheiros morrerem e ainda assim lutou até o fim… Já eu… eu nem consegui ficar de pé quando Omar morreu…”
O homem, que observava cada detalhe de Laab com atenção perturbadora, fez uma breve pausa. Então, falou com uma voz que não parecia pertencer a uma única pessoa — era como se centenas de vozes falassem ao mesmo tempo. Uma cacofonia. Um caos puro. Uma entidade.
— Então por que sinto que está com tanta raiva?
Ele pausou de novo, e seu sorriso se alargou… um sorriso exagerado demais para ser humano. Havia algo profundamente profano naquele gesto. Inumano.
Laab sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Seu corpo não reagia, paralisado. O suor escorria frio por sua testa, e sua respiração ficou trêmula, quase falhando. Em silêncio, uma pergunta se repetia em sua mente:
“Que tipo de ser está na minha frente?”
— Está com raiva de si mesmo, não está?
— Ah, deve ser isso mesmo. Dá pra ver pela sua expressão… acertei de novo.
Beelzebuth inclinou levemente a cabeça, como se admirasse um inseto preso em um pote de vidro.
— E por que está com raiva de si mesmo?
Laab pensou.
“Por que estou com raiva de mim mesmo?”
Laab não tinha o que fazer naquele momento. Ele era só um humano, afinal.
Antes de conhecer Omar e Cibele, Laab se sentia vazio — como se algo essencial faltasse dentro dele. Mas eles lhe ensinaram algo novo. Ensinaram-no a sentir. E, mesmo sem perceber, aquele vazio começou a se preencher.
Ainda assim… havia algo incompleto. Um buraco persistente, um eco dentro de si, como se uma peça faltasse em seu quebra-cabeça.
Quando Omar morreu, e Laab ficou sozinho com seus próprios pensamentos, uma ideia começou a se formar. Talvez fosse isso… a falta de força. Laab sentia que, para se completar, precisava ser forte. Forte o bastante para proteger. Para impedir que aquilo acontecesse de novo.
Ele ia abrir a boca. Ia falar. Mas então algo dentro dele mudou.
Uma pequena faísca brilhou — não de raiva, não de desespero. Era algo mais profundo. Mais antigo. Um objetivo começou a surgir. Claro. Simples.
“É… É isso que eu quero.”
Então Laab falou. Mas sua voz já não era a mesma. Seus olhos brilhavam como brasas acesas pelo destino.
— Eu quero criar um mundo onde a morte não exista.
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