Capitulo 6- O Silêncio Final da Morte
— Eu quero criar um mundo onde a morte não exista.
Beelzebuth franziu a testa e entreabriu os lábios, surpreso. Seu olhar se fixou ainda mais em Laab — mas havia algo diferente nos dois agora.
Os olhos de Beelzebuth, antes quase completamente brancos, tornaram-se totalmente opacos, como se abrigassem uma tempestade contida nas profundezas do caos. Havia algo demoníaco ali, algo antigo… estranho.
Ele olhava para Laab, mas já não parecia enxergar apenas o corpo. Não apenas as feições. Não apenas a mente.
Era como se Beelzebuth estivesse vendo algo além.
Se isso tivesse acontecido minutos antes, Laab estaria tremendo de medo. Afinal, aquele homem — ou o que quer que fosse — poderia matá-lo com um estalar de dedos e varrer os restos com seu enxame profano.
Mas o medo… havia sumido.
No lugar dele, uma náusea tomou conta. Um nojo profundo, físico, quase instintivo. Um cheiro podre invadiu suas narinas, como se Beelzebuth vivesse entre porcos mortos e nunca tivesse tomado banho em toda a eternidade.
Laab levou a mão ao nariz, tentando bloquear o fedor, mas outra sensação veio à tona — algo mais estranho ainda.
Era como se ele já conhecesse aquele homem.
Não de ontem. Não de anos. Mas de séculos.
E sempre, sempre o desprezou.
— Beelzebuth, por que me ajudou?
Dessa vez, a voz de Laab não carregava medo diante do homem demoníaco à sua frente. Soava casual, como se falasse com alguém comum.
Beelzebuth, que já havia voltado ao seu estado normal, olhou para Laab com uma expressão pensativa.
— Laab… você sabe quais são as leis absolutas que regem o universo?
“O quê? Por que ele tá perguntando isso agora?”
Laab respondeu, confuso:
— Pelo que me lembro, são treze: lei da ação e reação, lei da relativida—
Beelzebuth o interrompeu com uma risada.
— Não, não. Essas são apenas teorias humanas, tentativas patéticas de explicar as verdadeiras leis absolutas.
Laab o encarou, perdido.
“Eu só queria saber por que você me salvou, não uma aula de ciências…”
De repente, Beelzebuth ficou sombrio. Seu sorriso desapareceu, a atmosfera da sala pesou. Um cheiro pútrido e antigo tomou o ar, fazendo Laab quase engasgar.
— As leis… são Tempo, Destino, Morte…
Ele pausou. Um sorriso etéreo se formou em seu rosto. Quando voltou a falar, sua voz já não era apenas dele — era múltipla, reverberante, como um enxame de moscas sussurrando em uníssono.
— A última é a Entropia… ou Mudança. Mas eu prefiro chamá-la de outro jeito: Caos.
— Fora da existência, o Caos reinava. Mas, quando tudo começou, ele foi esquecido… até ser lembrado. E, então, esquecido novamente.
Beelzebuth encarou Laab com olhos vazios, profundos como o próprio abismo.
— Eu só quero mudar isso.
Ele então se aproximou levemente e disse com calma:
— Garoto… eu vejo em você alguém que será de grande ajuda para os meus planos no futuro. Apenas isso.
“Que charlatão…”
— Então vamos fazer um acordo, Sr. Beelzebuth.
Laab, que estava deitado na cama, se sentou e ficou cara a cara com Beelzebuth, que permanecia sentado ao lado. Ele entrelaçou os dedos, unindo as mãos e apoiando os cotovelos sobre as coxas.
Era como se o mundo inteiro tivesse mergulhado em um silêncio eterno. Laab falou com um tom gélido, carregado de decisão:
— Você me ajuda a ficar mais forte para destruir a morte… e eu te ajudo com seja lá o que você quer.
Ele estendeu a mão.
Beelzebuth, com seus olhos brancos como a neve, fitou Laab por um momento, depois estendeu sua própria mão e apertou a dele.
— Fechado, jovem Laab…
Algumas horas se passaram, e Laab recebeu alta do hospital.
A conversa com Beelzebuth não se prolongou após o aperto de mãos. Ele apenas disse a Laab para ir até uma floresta próxima de Nova Osíris.
Beelzebuth era estranho — uma existência única, difícil de compreender. Laab acreditava que ele era, no mínimo, alguém no grau Potestade. Um dos poderosos.
Laab caminhava pelas ruas de Nova Osíris, pensativo. Estava indo para casa.
A casa que antes era dele e de Omar.
No caminho, passou por um enorme lago que brilhava sob a luz do luar. Quantas vezes ele, Omar e Cibele haviam estado ali, apenas para brincar ou admirar a beleza das águas?
Mas, naquela noite, Laab olhava para o lago pela última vez.
A cada rua percorrida, era como se Omar caminhasse ao seu lado. Ele via os três — crianças — correndo e rindo pelas ruas da cidade.
A nostalgia pesava sobre seus ombros.
Quando chegou ao edifício onde morava, cada degrau que subia parecia uma tortura.
“Isso vale a pena?”
Abriu a porta.
A sala e a cozinha dividiam o mesmo espaço, separadas apenas por uma divisória de mármore. O lugar estava exatamente como ele se lembrava. Mas, ao mesmo tempo, parecia diferente.
Caminhou até o quarto e pegou algumas roupas e itens essenciais.
Então foi até a cozinha.
Pegou uma folha de papel, escreveu algumas palavras e a deixou sobre a divisória.
Laab estava pronto.
Ele saiu de casa.
E partiu de Nova Osíris.
Laab deixou sua casa.
Deixou Nova Osíris.
Deixou Cibele.
Deixou sua vida.
Tudo… para criar um mundo novo.
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