Uma lua pairava nos céus, expulsando a escuridão e dominando o mundo com sua luz prateada. Ela iluminava uma floresta exuberante, repleta de árvores imensas, vegetação abundante e um belo lago no centro.

    Um jovem de pele morena e olhos verdes caminhava sob a luz lunar. Vestia um moletom branco, calças jeans cinza e carregava uma mochila grande e pesada nas costas. Seu porte era atlético — forte e belo, como alguém moldado pela própria vontade de sobreviver.

    Laab pegou o celular do bolso e verificou as horas.

    “Ele está atrasado…”

    — Desculpe o atraso.

    A voz soou como um enxame de milhões de moscas imundas sussurrando em uníssono direto em seus ouvidos.

    Laab se arrepiou. Deu um salto para trás, virando-se instintivamente para encarar quem estava atrás dele. Seu coração disparou.

    Diante dele estava um homem de cabelos loiros, curtos e bem penteados. Um cavanhaque alinhado emoldurava o sorriso torcido que carregava. Seu corpo era alto e forte, com um porte elegante. Vestia um grande casaco preto sobre uma camisa social cinza e calças de terno escuras.

    Laab engoliu em seco, sentindo um leve constrangimento por ter se assustado tanto. O pior foi quando Beelzebuth começou a rir — não uma risada normal, mas um riso descontrolado, quase animalesco.

    — Hahaha! Você tinha que ver a sua cara! Hahahaha, foi sensacional!

    Laab revirou os olhos, visivelmente irritado.

    — Tá, o que viemos fazer aqui?

    Beelzebuth respirou fundo, ainda rindo, e aos poucos foi se acalmando. Quando sua voz voltou, estava mais relaxada, quase casual:

    — O que você acha… de se tornar um Serafim?

    Serafim.

    O primeiro passo da ascensão.

    Cem anos atrás, quando os demônios desceram — ou ascenderam do inferno — a Terra e o Cataclismo Demoníaco devastaram a humanidade, sete deuses desceram e mostraram aos homens o caminho para superar as imperfeições mortais e se tornar algo perfeito.

    Um deus.

    O caminho da ascensão possuía sete graus, conhecidos como graus divinos: Serafim, Querubim, Amesh, Potestade, Anjo, Santo Anjo e Arcanjo.

    Para se tornar um Serafim, era necessário tomar o sangue divino que a humanidade recebera dos deuses.

    Acontece que esse sangue estava sob a guarda das cinco Igrejas — ou seja, para se tornar um Serafim, era preciso tornar-se um crente oficial de uma delas e ser reconhecido e julgado como digno de receber o sangue divino.

    — Você é um membro da Igreja dos Caídos? Um arcebispo?

    A Igreja dos Caídos glorificava o Cavaleiro dos Caídos, o deus dos mortos. Laab apenas teorizava que, por Beelzebuth ter habilidades relacionadas a moscas, talvez houvesse alguma conexão com o Cavaleiro dos Caídos.

    Beelzebuth franziu as sobrancelhas, intrigado.

    — Não… por quê?

    — Por nada… só achei que você fosse membro dela e, por conta disso, tivesse sangue divino — respondeu Laab, enquanto colocava a mochila no chão, esmagando um pobre inseto.

    Beelzebuth satirizou com um sorriso enviesado:

    — Por que você acha que eu tenho sangue divino?

    — Sério, ele é bem protegido… experiência própria…

    Beelzebuth tremeu um pouco — ou apenas fingiu.

    Laab franziu a testa, cruzou os braços e perguntou com curiosidade:

    — Então como você vai me tornar um Serafim?

    Beelzebuth alargou ainda mais seu sorriso desumano.

    Então fez um gesto com a mão.

    Um enxame de moscas surgiu da floresta e se amontoou sobre sua palma. O som era tão intenso que Laab tapou os ouvidos.

    Algum tempo depois, elas se dispersaram, restando apenas algumas que voavam em volta de Beelzebuth.

    Na mão dele, agora havia uma taça de vidro com detalhes octogonais.

    Dentro, um líquido negro com tons esverdeados tremeluzia de maneira estranha — e causava em Laab uma sensação ainda mais estranha.

    Beelzebuth girou a taça lentamente, observando o conteúdo como se ponderasse o que iria dizer. Então olhou para Laab e estendeu a taça na direção dele.

    O líquido parecia olhar diretamente para Laab. Uma sensação quase auditiva lhe invadiu a mente, como se uma voz profunda e demoníaca murmurasse: Beba.

    — Beba — disse Beelzebuth, com seu típico sorriso satânico.

    — O que é isso? — perguntou Laab, hesitante diante daquele líquido vil.

    Beelzebuth o encarou por alguns segundos antes de perguntar:

    — Confia em mim?

    — Não — respondeu Laab imediatamente.

    Beelzebuth soltou uma risada curta.

    — Eu entendo. Não tem por que confiar em mim… mas acredite, só desta vez.

    Ele inclinou a cabeça, o sorriso mais contido.

    — Afinal… o que de ruim poderia acontecer?

    Beelzebuth empurrou a taça mais uma vez.

    Hesitante, Laab a pegou.

    A taça estava quente, como se o líquido dentro dela emanasse calor.

    Ele olhou fixamente para o conteúdo… e o conteúdo olhou de volta para ele.

    “Beba.”

    Laab tinha duas escolhas agora.

    A primeira: ir embora, entrar para uma das igrejas e torcer para um dia ser digno de se tornar um Serafim.

    A segunda: confiar em Beelzebuth.

    “Beba.”

    Ele ergueu os olhos para Beelzebuth. Sua silhueta era reluzida pela luz do luar.

    O que ele realmente sabia sobre aquele homem de olhos brancos?

    Absolutamente nada.

    Laab não confiava em Beelzebuth.

    Mas precisava.

    E ele estava pronto para os riscos.

    Ou não.

    Mas… quem liga?

    Laab engoliu em seco.

    ‘O que poderia dar errado, não é mesmo?’

    Levantou a taça até os lábios e, sem hesitar mais, tomou o líquido negro-esverdeado de uma só vez.

    — AAAAAAHA!!! — Um grito bestial, nada humano, explodiu de suas cordas vocais.

    A dor foi imediata.

    Era como se o próprio sangue de Laab estivesse se contorcendo dentro de suas veias, se moldando em agulhas cada vez mais longas… até perfurarem seu corpo por dentro.

    Ele se debateu no chão, arquejando, os músculos se contraindo de forma violenta e descontrolada.

    Beelzebuth observava, diabolicamente encantado, um sorriso insano estampado no rosto, como um maestro admirando a sinfonia do sofrimento.

    “Veneno? Não… deve ser algo pior…”

    A mente de Laab se apagou.

    Tudo o que restava era dor.

    Dor.

    Tanta dor.

    Então ele ouviu.

    Era uma conversa. Laab não via nada, mas sentia a presença de oito entidades.

    Elas falavam em uma língua que ele nunca havia aprendido, mas entendia… como se estivesse gravada dentro dele.

    Uma voz falou primeiro.

    Carregava uma vontade tirânica, uma presença tão antiga quanto o próprio universo, e uma autoridade ilimitada.

    — Parem.

    Outra voz respondeu.

    Desta vez, Laab sentiu como se ela saísse de dentro dele.

    Era silenciosa… mas impossível de ignorar.

    — Por quê? Eles merecem?

    — Não me teste, Baal.

    Então a mente de laab ficou em branco.

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