Capítulo 9- Relíquias
— Esse método tem uma chance de sucesso de 0,1%. Se falhar… você se tornará um demônio.
Laab ficou de boca aberta, paralisado de choque.
As informações que acabara de ouvir mudavam completamente sua visão de mundo.
Agora fazia sentido haver tantos divinos que não pertenciam a nenhuma igreja.
Ele franziu a testa, os dentes cerrados de raiva.
— Então por que você me fez beber sangue de demônio, seu desgraçado?!
— E se eu virasse um demônio?! — bufou Laab, quase gritando.
Beelzebuth o observou em silêncio por alguns instantes.
Então, mais uma vez, aquele maldito sorriso diabólico surgiu em seu rosto.
— Garoto… você quer destruir a morte, uma das leis absolutas do universo. Se quer realizar sonhos impossíveis… precisa ser destinado.
Ele deu um passo adiante.
— Mas você não é destinado. Ninguém que está vivo é.
— Então force o destino a torná-lo especial.
— Eu apenas te ajudei a forçar o destino.
Laab bufou.
— E como isso faz sentido, seu lunático do caralho?!
Beelzebuth apenas deu de ombros.
— Você está vivo, não está? Então por que está tão irritado?
“Como eu te odeio…”
— Enfim, agora você é um serafim. O segundo passo é se tornar um querubim.
— É claro que você precisa “digerir” sua divindade. Isso levaria alguns meses, mas, se for exposto à essência divina e à corrupção, você a digerirá muito mais rápido — explicou Beelzebuth.
— Ou seja: você precisa lutar contra demônios — disse ele, sorrindo.
Laab tremeu um pouco.
Ele sabia que teria que lutar contra demônios — afinal, esse é o trabalho dos divinos.
Mas ainda estava traumatizado pela última experiência que teve com eles.
O rosto de Laab escureceu, estampado com um tom sóbrio de raiva.
— Eu vou amar matar demônios — disse ele, com um sorriso de canto.
“Irei te vingar, Omar…”
Beelzebuth sorriu ainda mais.
— Gosto da sua determinação, garoto. Mas posso te perguntar uma coisa?
Ele pausou por alguns instantes, mas antes mesmo que Laab respondesse, continuou:
— Como você vai matar um demônio? Tem alguma arma? Você sequer sabe lutar?
Laab deu de ombros e sorriu um pouco.
— Meus dentes são bem fortes… e eu até que gosto de carne de demônio.
A carne de demônio tinha um gosto estranho, mas, se preparada corretamente, podia ter um sabor profanamente perfeito. Era uma prática comum nos dias de hoje.
Beelzebuth franziu a testa — e então começou a rir descontroladamente.
— Hahaha! Até que você tem um bom senso de humor, Laab! Hahaha!
Ele riu por uns dois minutos, sem parar, até ficar ofegante.
— Mas já que sou um ótimo amigo — e alguém que se preocupa com a sua segurança — vou lhe dar um presente.
“Desde quando viramos amigos? Quando foi que ele se preocupou com a minha segurança? Ele acabou de me dar sangue de demônio que poderia me matar!”
Beelzebuth fez um gesto com a mão, e um enxame de moscas saiu da floresta — da mesma forma como quando ele “conjurou” a taça com sangue de demônio.
Mas agora pareciam haver dez vezes mais moscas. Elas se juntaram, zumbindo em uníssono.
Laab gritou de dor, caindo de joelhos no chão enquanto tapava os ouvidos.
“Que droga!”
O som parecia prestes a estourar seus tímpanos. Era como se agulhas fossem enfiadas dentro de seus ouvidos, emitindo um chiado agudo e penetrante.
O enxame de moscas se aglutinou diante do lago azul cristalino. Então, como se guiadas por alguma inteligência coletiva, dividiram-se em três grupos, lado a lado.
Quando as moscas finalmente se dispersaram, três itens brilhavam no lugar onde elas estiveram.
Laab permaneceu alguns minutos tentando se recuperar, ofegante, mas logo se recompôs.
“Não chega nem perto da dor de beber sangue de demônio…”
— Escolha uma delas. — Beelzebuth olhou para Laab, e em seguida para os três itens diante do lago.
— São relíquias?
As relíquias eram itens deixados pelas civilizações que habitaram a Terra milhares de anos atrás.
Há éons, existiram nove reinos que viviam em paz e harmonia, mas cada um deles foi erradicado — dizimado por seres demoníacos infinitamente mais poderosos do que os demônios da era atual.
Até hoje, estruturas vindas de milhões de anos atrás ainda eram encontradas. Por isso, antes da Segunda Chegada dos Demônios, a humanidade acreditava em duas grandes teorias:
A primeira, de que a humanidade era infinitamente mais antiga do que se imaginava.
A segunda, de que outras raças dominaram a Terra muito antes dos humanos.
Após a chegada dos demônios e a formação das igrejas, a Igreja do Discernimento — que glorificava a Fonte do Conhecimento, um dos Sete Deuses — fez uma descoberta decisiva: havia nove reinos muito antes do nascimento do primeiro humano.
Assim, a segunda teoria foi confirmada.
Essas civilizações haviam deixado relíquias para trás — artefatos que continham poderosos encantamentos. Essas relíquias variavam de espadas, lanças, escudos, arcos e flechas, armaduras… até mesmo uma simples caneta.
Podiam ser, literalmente, qualquer coisa — cada uma com um efeito único e diferente das demais.
Porém, cada relíquia também carregava defeitos. Talvez fossem falhas que surgiram após milhões de anos acumulando poeira… ou talvez tivessem sido criadas assim de propósito, como um tipo de equilíbrio.
Esses defeitos eram tão diversos quanto as próprias relíquias. Alguns eram relativamente inofensivos — Laab já ouvira falar de uma relíquia que fazia seu portador precisar beber dez vezes mais água do que um humano comum.
Mas outras eram simplesmente brutais.
Como o que aconteceu em Blackwood, na Inglaterra.
“Me faz tremer um pouco ao pensar naquilo…”
Mas também existiam as chamadas relíquias dos Valtross.
O clã Valtross possuía a habilidade de criar uma espécie de cópia das relíquias antigas. Não eram tão poderosas quanto as criadas pelos reinos ancestrais, mas, em compensação, não carregavam nenhum defeito.
— Sim, são relíquias. — respondeu Beelzebuth.
Laab se levantou, aproximando-se das três relíquias.
A primeira era uma Geom com lâmina vermelho-escura e detalhes flamejantes no cabo. No início da lâmina, havia um símbolo.
Um martelo e uma agulha entrelaçados um no outro.
“O símbolo da família Valtross.”
A segunda era um arco e flecha, com várias meias-luas esculpidas ao longo da madeira curva.
Laab voltou seu olhar para a terceira.
Um anel de ônix que parecia devorar toda a luz ao redor, formando uma sombra caótica ao seu redor.
— Então… qual vai escolher? — repetiu Beelzebuth.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.