Este bioma é diferente da floresta negra onde eu costumava caçar com meu pai.

    Os galhos úmidos, ao invés de quebrar, se amassam quando pisamos e a falta de folhagem reduz o balanço dos galhos com o vento. Nossas armaduras e os corvos são as coisas mais barulhentas aqui.

    A neblina encurta nossa visão, nos deixando mais expostos a ataques de predadores com faro aguçado. 

    Definitivamente, este é o lugar que meu pai chamaria de “fim da linha”.

    — Esperem — sussurrou Darius, enquanto mirava entre as árvores.

    Ele encontrou alguma coisa?

    Ela tentou forçar a visão através da neblina, mas sem sucesso.

    O nevoeiro está muito denso. Se eu não me engano, é…

    Zah Enh Oculi Acta — sussurrou Elise.

    Num instante, sua visão clareou e ela pôde ver uma nuvem de pequenos seres, similares a moscas, se dispersando e revelando uma criatura humanoide, que emergia cambaleante entre as árvores.

    Seus olhos eram grandes e negros, e sua pele necrosada exalava um odor asqueroso.

    Darius desembainhou sua espada, enquanto Liam e Nord o seguiram.

    — É um pútrido! — exclamou Nord.

    — Este é meu.

    Liam avançou em direção ao monstro, empalando-o pelo pescoço em uma árvore e o decapitando.

    A cabeça rolou para perto de Darius e ele a esmagou imediatamente com o pé.

    — Não saiam da formação — resmungou Darius, encarando Liam com um sorriso de desdém.

    — Foi mal, foi mal…

    Eles continuaram avançando.

    Somos quatro, e o capitão optou por uma formação de diamante, com eles três na frente e eu na retaguarda.

    Elise abaixou a cabeça.

    Isso é apenas o que foi combinado, então por que me sinto um pouco inútil?

    Darius, percebendo sua novata um pouco inquieta atrás dele, tentou puxar assunto para distraí-la.

    — Ouvi dizer que você se saiu bem nas aulas de manifestação espiritual na academia — disse, sem desviar o seu olhar do caminho.

    — Ahn?! — Elise deu um pulo. — Ah, sim! Mas só as de aprimoramento. Como minha família vivia no campo, tínhamos o costume de caçar nossa comida, então essas habilidades calharam.

    — Humm, é mesmo? Ainda assim, é muito útil. Nós não temos nenhuma habilidade desse tipo.

    — Koen tinha afinidade com elemental — interveio Liam.

    — Ah, é verdade! — disse Darius. — Koen, o antigo membro do grupo, utilizava manifestações de fogo com o arco e flecha. Mas ele foi chamado para a guarda interna.

    — Oh… Isso é de se esperar — exclamou Elise. — Geralmente, manifestações elementais são mais difíceis de acontecer, exigindo uma maior quantidade de energia vital para imbuir a manifestação. Então, mesmo que alguém tenha essa capacidade inerente, não é algo que possa ser usado sempre e continua… Ah~

    Elise colocou a mão na cabeça, sentindo uma leve enxaqueca.

    — Você está bem? — indagou Darius.

    — Uhm, sim! Eu só preciso fazer isso… Zah Enh Oculi Finis

    — Humm? O que você fez? — perguntou Darius, desconhecendo as suas palavras.

    — Eu havia usado um aprimoramento de visão, mas não consigo usar por muito tempo sem sentir dor de cabeça.

    — Ah, então tem algumas desvantagens.

    — Sim — assentiu, voltando a se sentir um pouco inútil.

    — Vamos estudar para ver como podemos explorar suas habilidades da melhor forma — disse Darius, encorajador.

    — Certo! — respondeu sorrindo por trás do elmo.

    ***

    Já haviam se passado quase duas horas desde que eles adentraram o pântano e o esquadrão eliminou cerca de sete aparições.

    Era uma noite mais movimentada do que o normal, mas ainda não alcançava os níveis mais agitados.

    Darius, sempre atento, mesmo ao puxar assunto para quebrar a tensão, mantinha seu olhar alerta ao redor. Posicionado na frente do esquadrão, equipado com uma armadura de corpo todo e uma espada bastarda, ele detinha a maior experiência e força bruta dos quatro.

    Liam, ao lado esquerdo da formação, soltava suas piadas ocasionalmente, enquanto sua espada reagia tão rápido quanto sua língua. Sua armadura era um pouco mais leve que a de seu capitão, focando em proteger suas articulações e dorso com placas de ferro, e sua espada era uma simples espada longa.

    Nord, do lado direito, muitas vezes eliminava os monstros antes mesmo dos outros dois perceberem. Equipando a armadura de brigantina, seu único foco era proteger seu dorso, sendo o mais ágil dos quatro, e sua escolha de armamento era duas adagas. Ele foi responsável pela eliminação de quatro das sete criaturas.

    E Elise mantinha a calma, mesmo em sua primeira missão, graças à confiança que depositava em seus companheiros veteranos. Ela usava uma armadura similar à de Nord, e em sua bainha, também levava uma espada longa.

    O pântano de Noin era conhecido por sua grande árvore no centro, considerada sagrada no folclore local.

    A rota do esquadrão era atravessar o pântano da região oeste até a árvore central, onde aguardariam algumas horas antes de retornar pela região sul.

    Não era necessário vasculhar todo o pântano, pois as aparições tendiam a se aproximar das pessoas mais próximas e eles basicamente funcionavam como iscas.

    Ao se aproximarem da árvore sagrada, Darius parou novamente e sinalizou para os outros fazerem o mesmo.

    Após a interrupção repentina, Elise se inclinou para frente, tentando identificar qual monstro estavam enfrentando desta vez. Mas tudo o que conseguiu ver foram duas fagulhas brilhantes no meio da escuridão, como duas orbes de fogo esverdeado flutuando na penumbra.

    — Darius… — chamou Nord, esperando um comando.

    — Ainda não — respondeu Darius, desembainhando sua espada lentamente.

    Elise sentiu uma tensão no ar.

    Algo não estava certo na atitude deles e, conforme as duas orbes se aproximavam, podiam ouvir o som como o de ossos secos, estalando.

    — Elise — chamou Darius — me ajude a ver.

    — Certo!

    Elise avançou para trás de Darius e tocou seu ombro.

     — Zah Enh Oculi Al Acta.

    Quando terminou de aprimorar a visão de Darius, olhou para seu rosto, que estava mais sombrio do que antes.

    O olhar desconfiado havia se transformado em confusão.

    — Mas o que é aquilo? — exclamou.

    — Senhor? — sussurrou Elise, preocupada.

    — O que o senhor está vendo? — perguntou Liam.

    Darius balançou a cabeça em negação, enquanto encarava a criatura se aproximando pelas sombras.

    — Elise, aprimore os olhos do Nord em vez dos meus. Nord, Liam, formação de lança.

    — Sim! — responderam em uníssono.

    Nord se colocou à frente da formação, com Darius e Liam logo atrás, enquanto Elise aplicava o aprimoramento em Nord, que tremia ao ver o que Darius havia visto.

    — Você conhece isso? — perguntou Darius.

    — Nunca vi nada assim.

    O coração de Elise começou a bater mais forte vendo a movimentação da equipe, mas por algum motivo, sentia-se confiante.

    O nevoeiro que camuflava a criatura ia ficando para trás e, aos poucos, a criatura se aproximou do grupo, revelando sua face.

    Ela já havia visto muitas coisas como caçadora, ouvido muitas histórias e lido sobre criaturas na academia, mas não se lembrava de nada parecido com aquilo.

    As duas esferas fantasmagóricas que flutuavam no lugar dos olhos do monstro, seu corpo esquelético que parecia estar coberto por uma espécie de fibra esverdeada e o seu crânio totalmente exposto, similar ao de um dragão.

    Ele emanava uma aura de perigo.

    — Elise, o que você tem? — chamou Darius.

    — Eu nunca vi nada parecido — respondeu, assustada.

    — De aprimoramento — retrucou.

    — Ah… agilidade, força, recuperação. 

    — Consegue usar quantos por vez?

    — Todos, mas por menos tempo.

    — Em quantas pessoas?

    — Duas!

    — Vai servir! Eu nunca vi isso aí, nós não sabemos o quão forte ele é, e ele pode ter algum truque que não conhecemos. Mantenham a formação e observem.

    — Sim, senhor! — bradaram.

    — Elise, libera o Nord, agilidade em mim e no Liam.

    — Certo!

    Ela cravou sua tocha no chão e entoou enquanto tocava nos ombros de ambos.

    Zah Enh Agili Al Acta.

    Eles aguardaram uma reação da criatura. No entanto, ela permanecia imóvel, encarando-os.

    Era como se estivesse lendo suas almas.

    — Ele parece estar nos estudando — observou Liam.

    — Se ele não vai atacar, nós teremos que agir. Nord, venha comigo. Liam, proteja a novata.

    Conforme começaram a se mover, um braço adicional surgiu das costas da criatura e avançou em direção a Nord, que prontamente o interceptou, amputando-o com facilidade.

    — Maldito nojento — praguejou Nord.

    — Não abaixem a guarda, continuem! — rugiu Darius.

    A criatura continuou lançando seus braços, tentando impedir o avanço do esquadrão, mas eles cortavam cada investida. Darius percebeu seu corpo pesar repentinamente e, ao olhar para trás, viu Elise abaixada, como se estivesse sentindo dor.

    — Elise! Libere! — ordenou Darius.

    — Eu consigo! — ela respondeu.

    Darius sorriu e assentiu com a cabeça, continuando a avançar enquanto respondia aos ataques da criatura.

    Juntos, eles encurtaram a distância entre eles e a criatura, que começou a se mover para se esquivar dos ataques.

    — Agora, Nord! — gritou Darius, enquanto se abaixava para atingir as pernas da criatura.

    Nord rolou por cima de Darius e desferiu um golpe fatal, cortando a criatura do pescoço até a costela e fincando uma de suas adagas em seu peito.

    — Isso! — exultou Elise.

    A sincronia entre eles era excepcional, cada movimento calculado e coordenado. Não havia espaço para erros. 

    Darius, com sua espada bastarda, proporcionava alcance, enquanto Nord, com suas adagas, garantia agilidade.

    Juntos, pareciam imbatíveis, demonstrando não apenas suas habilidades individuais, mas também sua capacidade de trabalhar em equipe.

    Mas algo não parecia certo.

    Nord deu um salto para trás quando teve um mau pressentimento.

    Os olhos da criatura ainda brilhavam e agora se moviam nervosamente por cada um dos quatro soldados.

    Foi quando, de algo parecido com uma penugem em seu pescoço, surgiram vários ataques consecutivos em direção a Darius.

    Ele defendeu-se de alguns, porém um dos tentáculos perfurou o seu ombro esquerdo, o arremessando para longe enquanto os outros gritavam espantados.

    — Darius! — o grito ecoou pelo pântano.

    Elise correu em direção a Darius.

    — Espera! — gritou Liam.

    — Eu posso manter ele vivo! — ela retrucou sem pestanejar.

    O monstro aproveitou a comoção para atacar Nord, mas ele respondeu rapidamente, cortando os seus tentáculos.

    Todavia, algo estava diferente.

    A besta não estava mais rápida, mas os seus ataques estavam mais abertos.

    Ela estava mandando mais ataques do que antes e em todas as direções.

    Enquanto ele defendia de um braço que vinha da esquerda, outro já estava vindo da direita.

    Enquanto ele defendia de cima, outro vinha de baixo.

    Ele estava ficando para trás.

    Quando Elise chegou em Darius, ela foi verificar o ferimento, mas Darius a deteve, segurando a sua mão e recusando ajuda para seu ombro gravemente ferido.

    — Isso já não serve pra nada — disse resignado, referindo-se ao seu braço esquerdo.

    Ela engoliu o choro e concentrou-se em ajudá-lo da melhor maneira que pôde, entoando outro encantamento.

    Zah Enh Vitae Al Acta

    Mas, em questão de instantes, ela escuta um grito de Liam.

    Ao virar-se instintivamente para ver o que estava acontecendo, presenciou Nord suspenso no ar por tentáculos que emergiram do chão, enquanto Liam tentava desesperadamente alcançá-lo, enfrentando os ataques da criatura.

    Ela não acreditou nem por um instante.

    Ah… quando foi que começou a dar errado?

    Paralisada, ela observou horrorizada enquanto Nord foi partido ao meio e empalado pela mesma adaga que ele havia cravado no peito da fera.

    Seu dorso voou até ficar preso no tronco de uma árvore.

    Liam, tomado pela fúria, avançou com sua espada, cortando tudo à sua frente. Seu único objetivo agora era o monstro.

    — Elise, fuja! — gritou enquanto se defendia dos ataques.

    Apesar de não ser o mais ágil ou forte, Liam era sem dúvida o melhor espadachim do grupo.

    Elise hesitou por um momento, olhando para Liam e depois para Darius, já desacordado devido à perda de sangue.

    — Vá embora! — insistiu Liam.

    Ele gritava, mas o som de sua voz parecia abafado em sua audição. Lembrava até mesmo uma voz familiar.

    “Dá o fora daqui, Eli.” Esse grito começou a ecoar em sua cabeça.

    Ela ficou presa naquele instante, como se o tempo tivesse parado diante dela.

    Foi quando aquela mesma voz familiar pareceu se unir à voz de Liam, que urraram em conjunto.

    — VAAAAAAI!

    Elise deu um pulo e se levantou para fugir.

    Abandonar a coragem e se concentrar apenas em correr. É tudo o que ela precisava fazer.

    Mas antes que ela pudesse dar três passos, algo foi arremessado à sua frente, a fazendo parar no mesmo instante.

    Liam estava morto. Sua cabeça foi esmagada.

    Por quê?”, se perguntou enquanto encarava o corpo de seu último companheiro.

    O terror começou a fazer sua moral falhar.

    Todos os seus veteranos haviam sido derrotados em instantes na sua frente. Ela estava imersa em desespero.

    Eu não consigo me mover… Ah, sim… foi que nem daquela vez.

    Elise olhou para trás e avistou a criatura, que havia retornado ao seu estado estático, encarando-a com atenção.

    O papai ainda disse que era pra eu escolher algo mais seguro. Mas eu disse que queria trabalhar com ele…

    — Que aberração é você?! — gritou Elise, com raiva e confusão evidentes em sua voz.

    Mas a criatura permaneceu sem esboçar nenhuma reação.

    Depois que ele morreu, eu ainda entrei na academia militar para ficar mais forte. Só pra não conseguir fazer nada de novo.

    Enquanto Elise permanecia paralisada, aguardando sua morte iminente, Darius tossiu, trazendo-a de volta à realidade.

    O encantamento havia preservado a vida dele até o momento. Ao menos isso havia dado certo.

    Seus lábios se curvaram discretamente, dando um sorriso sincero.

    Ela não acreditava que conseguiria fugir e o fato de Darius ainda estar vivo só pesou mais na sua consciência.

    Mas lutar parecia suicídio.

    Enquanto a criatura permanecia parada, Elise passou os seus olhos em cada uma de suas extremidades, procurando qualquer sinal de fragilidade, um ponto fraco…

    Após o corte que Nord a infligiu, seu corpo pareceu mudar de forma para uma massa disforme de fibras e tentáculos.

    A criatura não aparentava estar ferida, nem cansada e seus membros pareciam se regenerar facilmente, assim que amputados.

    Naquele momento, o seu medo e frustração estavam dando origem a outro sentimento. Ela estava com raiva… Tanta raiva que nem raciocinava direito.

    Tem que haver alguma maneira”, pensava insistentemente.

    Foi quando seus olhos pararam no rosto dele.

    Na região da têmpora, perto da base do chifre direito, havia uma pequena fissura.

    Aquilo… não estava ali.

    Será que foi o Nord… ou o Liam? 

    Ainda não regenerou?

    E se eu quebrar aquele crânio…?

    Ela já havia concluído que precisaria lutar.

    Seus belos olhos castanhos se contraíram até quase fechar e, em um sussurro áspero, ela entoou o encantamento enquanto sacava a sua espada lentamente.

    Zah Enh Fortu Agili Oculi Acta

    Em um estouro, ela lançou-se em movimento ao redor da aberração.

    Enquanto Elise rodeava a criatura, seus movimentos eram fluidos e precisos.

    O corpo da aberração se retorcia, tentando mantê-la sob vigilância, mas ela continuava a avançar, procurando uma abertura.

    Você vai me esperar atacar ou fugir, mas eu também não tenho muito tempo.

    Ela mudou sua trajetória abruptamente, correndo em direção à criatura.

    Com um movimento rápido, agarrou a espada de Liam que estava jogada ao chão e avançou com uma lâmina em cada mão.

    O chão tremeu aos seus pés e ela se esquivou de um ataque que vinha de baixo, mas os tentáculos, ágeis como serpentes, arrancaram-lhe o capacete.

    Eles tentavam alcançá-la, mas ela os cortava e a cada corte ela se aproximava mais alguns metros em direção a uma oportunidade incerta.

    Após chegar a três metros da criatura, os tentáculos pareciam ter fechado um cerco.

    Ela não tinha mais opção de recuar e aquilo era o seu limite, o mais próximo que ela poderia chegar.

    Seu corpo estava cansado, mas sua determinação gritava mais alto.

    Ela arremessou uma de suas espadas em direção ao crânio da criatura e os tentáculos dele se contraíram, protegendo-o de forma instintiva. 

    — Agora! — gritou.

    Com um salto ousado, Elise mirou a cabeça da criatura com suas últimas forças.

    Ela estava exausta, seus músculos gritavam de dor, mas a velocidade do balanço e o peso da espada eram suficientes para esmagar o crânio.

    Mas ainda assim, ela pôs toda sua atenção na força de suas mãos, para acertá-lo com tudo o que tinha.

    A passo disso, o movimento dos tentáculos enrolando-se sobre si, trouxe outra lembrança à Elise. Como se quase pudesse sentir um aroma delicado fluindo em sua mente.

    “Papai, que flor é essa?”, perguntava ela, com a voz suave e curiosa.

    “São lírios, meu amor”, respondeu, com um sorriso carinhoso. “Eles simbolizam pureza e renascimento. Quando estão fechados, se enrolam, protegendo o seu interior. Mas quando desabrocham, se abrem lindamente para o mundo.”

    Enquanto os tentáculos da criatura repetiam aquele movimento, mas de uma maneira grotesca. Antes que pudesse reagir, os tentáculos se desabrocharam rapidamente.

    ***

    Elise despertou com o corpo dolorido e caída no chão úmido do pântano.

    Suas articulações latejavam e a exaustão a dominava totalmente.

    Ao olhar em volta, viu Darius próximo, semi-morto e o demônio observando-os no campo de batalha.

    — O que aconteceu? Cof~cof~ — tossiu sangue — eu achei que ia cortar ele. Mas por quê?

    Seu lamento ressoou pelo pântano, enquanto os corvos pareciam compartilhar de sua angústia.

    Ela se arrastou até Darius, agarrou a tocha que havia fincado no solo e deitou-se sobre o corpo de seu capitão, erguendo a tocha com as mãos trêmulas em direção à criatura, como se tentasse afastar uma besta voraz com uma única luz vacilante.

    Começou a se recordar dos animais, em seu tempo de caçadora, que revelavam sua força mais selvagem, impulsionados pelo instinto desesperado de sobrevivência. E agora, no momento em que via a si própria como presa, seu ímpeto parecia insignificante.

    Seus olhos selvagens, provenientes de sua indignação, mostravam a raiva que a consumia, e sua mente clamava por qualquer chance de sobrevivência em meio ao caos.

    A aberração, pela primeira vez, começou a avançar em direção a eles, em passos lentos, como se não mais visse ameaça em sua presença, ou talvez, como se contemplasse suas almas se esvaírem.

    Seu corpo, outrora imponente, pareceu murchar diante deles e os seus tentáculos recuaram de volta para o seu pescoço.

    Quando alcançou os pés de Elise, estendeu a mão, cujo tamanho crescia descomunalmente como se estivesse prestes a engoli-los, e a jovem, no seu último ato desesperado, lançou a tocha em sua direção.

    Foi como se os deuses tivessem atingido a criatura com um raio.

    O fogo castigou o corpo do monstro, consumindo-o com voracidade.

    Como se num capricho do destino, a mão da criatura se incendiou ao tocar o fogo e um grito gutural ecoou pelo pântano.

    O clarão alaranjado revelou os contornos distorcidos do monstro, contorcendo-se em agonia.

    Em meio à fúria e ao tormento, a criatura agarrou a tocha e a arremessou de volta com violência, perfurando a clavícula de Elise, que desabou em agonia.

    A última coisa que seus olhos viram foi o monstro recuando, coberto por chamas, retornando ao centro do pântano.

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