O Rei Tolo

    “Era uma vez, em um reino distante, um rei chamado Zarek que tinha tudo: riquezas sem fim, um castelo grandioso e uma família amorosa. Mas, apesar de todo o luxo que o cercava, ele se sentia vazio. Seus olhos podiam ver as mais belas joias, mas seu coração não batia por elas. Seu reino era vasto, mas ele se sentia solitário. Nada parecia saciar a fome que ele sentia por algo que não sabia nomear.

    Certa manhã, enquanto passeava pelos corredores de seu castelo, ouviu murmúrios entre seus empregados que diziam:

    “Senhor, o Duque Olfran, possui uma espada de obsidiana que é passada a gerações em sua família. Dizem que ele nunca perdeu uma batalha com aquela espada”, disseram os servos. “Com aquela lâmina, ele com certeza é feliz.”

    Intrigado, o rei mandou chamar o Duque, e ao encontrá-lo, o rei o questionou:

    — O que você tem, homem, que te faz tão feliz?

    Olfran, com um sorriso satisfeito, olhou o rei e disse:

    — Majestade, minha espada me traz felicidade. Vivo em paz pois sei que com ela nunca serei derrotado.

    Então o rei, sem hesitar, ofereceu riquezas imensuráveis para comprar aquela espada, acreditando que ela poderia preencher o vazio em seu coração. Olfran aceitou, e o rei tomou a lâmina com grande entusiasmo. Mas, por mais que a admirasse e usasse, a felicidade não veio. 

    Pelo contrário, o vazio cresceu ainda mais.

    Alguns dias depois, ouviu falar de um comerciante que possuía uma joia mágica, que dizia trazer felicidade a quem a possuísse:

     “Senhor, o comerciante Petrus tem uma gema que brilha como o sol. Ele é o homem mais feliz de todos”, disseram os empregados.

    O rei, intrigado, foi até o comerciante e, com grande interesse, perguntou:

    — O que você tem, comerciante, que te faz tão feliz?

    Petrus sorriu e respondeu:

    — Ah, majestade, esta gema me enfeitiça todos os dias. É graças a ela que sou feliz.

    E o rei, determinado a preencher sua alma, ofereceu-lhe montanhas de ouro em troca da gema. Petrus, sem hesitar, aceitou a oferta, e o rei tomou a joia para si. Contudo, assim como a espada, a gema não trouxe a paz que ele tanto desejava.

    Foi então que, certa noite, ele ouviu falar de um homem simples, um humilde camponês que vivia com sua família. “Senhor, esse homem é mais feliz do que qualquer um. Ele vive com sua esposa e filhos adoráveis, vive do seu trabalho no campo sem ter grandes preocupações. Ele com certeza é mais rico do que todos os nobres em felicidade”, disseram os servos.

    O rei, desolado, procurou o camponês, e quando o encontrou, perguntou:

    — O que você tem, homem humilde, que me falta? Como pode ser tão feliz com tão pouco?

    O camponês sorriu, com um olhar sincero e sereno, e respondeu:

    — Majestade, eu tenho a minha terra, a minha família e a paz de viver cada dia como ele vem. Isso, senhor, me faz feliz.

    O rei, desesperado, tentou comprar o que o camponês tinha. Ofereceu-lhe terras, riquezas, e tudo o que ele desejasse. Porém, o camponês, recusou tudo.

    Mas o rei, tomado pela inveja, não aceitou a recusa. Em um ato de fúria cega, mandou matar o camponês, tomando tudo o que possuía: sua terra, sua esposa e até seus filhos.

    Mas, mesmo assim, a felicidade não chegou. O rei se via cercado por riquezas, terras, uma mulher que não amava e crianças que não eram suas, mas ainda sentia o vazio crescer dentro de si.

    Foi então que, numa noite sombria, enquanto ele repousava em seu leito, Tamir apareceu em seu sonho.

    — Quão maldito és tu, homem miserável — sussurrou Tamir com uma voz doce. — Fizeste da tua fome a ruína dos outros. Nada mais te será dado e viverás tua morte eternamente, juntando pó de tudo que tocar. 

    O rei, tomado pelo terror, coçou sua carne, como se algo estivesse se movendo dentro dela. Ele sentiu uma dor profunda, como se sua alma estivesse sendo consumida, e ao acordar, ele se olhou no espelho.

    Mas o que viu não era mais um homem. Seus olhos estavam vazios, suas escamas negras e sua carne desfigurada. Ele havia se transformado em um monstro, um dragão morto-vivo, uma caricatura de sua própria alma corrompida. 

    Fim.”

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